Capítulo 43
John
-Luke, não faça isso! -Cecília tenta intervir.
Levantando minha mão, dispenso seus protestos em meu favor. Após alguns dias de reflexão, decidi encarar uma conversa com meu futuro cunhado naquela noite, ele merecia explicações depois do ocorrido no castelo.
O que eu não esperava era sua reação de desferir alguns socos certeiros de forma inesperada em meu abdômen e outro abaixo do meu olho esquerdo, sem chance de defesa. Luke havia escutado pacientemente e em silêncio todas as minhas palavras sem interrupções, o que tornou sua atitude ainda mais surpreendente.
Cambaleando, afastei-me do lupino e controlei meu próprio instinto de revidar. Apesar da raiva em seus olhos, pude ver que ele acreditou em minha versão da história.
-Acho que mereci isso. -Afirmo, tentando esconder a dor e limpando a linha de sangue escorrendo por minha face na manga da minha camisa.
-Você estragou a vida da Scarlett. Despedaçou o coração dela. -Luke acusa com indignação. -É melhorar consertar isso, principezinho. Se não fosse por Cecília, essa conversa não seria tão respeitosa. -Ele adiciona e sai do alojamento intempestivamente.
Cecília se assusta com a explosão do noivo, mas não tenta impedi-lo. Nós dois sabemos que Luke possuiu motivos plausíveis para justificar sua ira. Tanto Scarlett quanto ele sofreram por conta das ações de Arthur e, indiretamente, das minhas.
Sem dúvidas, aproximar-me de Scarlett é o que mais desejo no momento. Entretanto, ela está me evitando de forma eficaz, anulando meus esforços. Sendo um Elemental, não posso peregrinar pelo território lupino atrás dela. Apesar da hospitalidade dos cidadãos em geral, percebo seus olhares enviesados para a rainha e a mim, a realeza possivelmente opressora.
-Dê um tempo a ele, tenho certeza de que vocês se darão bem em pouco tempo. Luke é teimoso, mas possui um coração muito generoso. -Cecília diz, oferecendo-me uma cadeira ao seu lado.
Depois de nosso julgamento pelo Comando de Canys, fomos alojados em quartos pequenos contendo uma cama, duas cadeiras e um armário na ala militar da aldeia. Sem janelas ou regalias, ainda assim, esse lugar parece muito mais um lar do que o palácio. As pessoas parecem realmente alegres em fazer parte dessa sociedade, o que não pode ser dito em Pélagus.
-Estou ansioso por isso. Quem sabe em um futuro próximo, não é? Esses socos provavelmente indicam que ele deseja isso tanto quanto eu. -Satirizo, recebendo de Cecília um tapinha repreensor em meu ombro.
-Nossa mãe não aceitou completamente a ideia do meu casamento. Ela parece não confiar em lupinos. -Minha irmã divaga, parecendo nervosa.
-A recíproca é verdadeira. -Declaro zombeteiramente, tentando aliviar a tensão em seus ombros.
-Tenho receio de que ela se negue a comparecer à cerimônia. -Cecília confidencia com um olhar triste.
-Ela irá, ainda que apenas para fazer você feliz. -Asseguro, pegando uma de suas mãos para lhe transferir confiança.
Eleonor havia compartilhado comigo suas reservas em relação ao relacionamento de sua única filha com um "lobo feroz", colocando em sua exata sentença. Pela vontade da rainha, nossa partida do Bosque dos Álamos já deveria ter ocorrido, entretanto, Morgana a convenceu de que esse é o lugar mais seguro para todos por enquanto.
-Estou com medo do futuro, John. Tudo aconteceu tão rapidamente, temo as consequências que virão. -Cecília confessa, colocando a mão livre por reflexo sobre o ventre reto, sem parecer consciente de tal atitude.
Minha mente dispara ao observar seu movimento, como se desejasse proteger algo que dentro de si. A ideia a se formar me deixa levemente desestabilizado. Ao que tudo indica, a relação entre Luke e minha irmã é realmente muito mais profunda do eu supunha.
-Você está grávida. -Digo, sem nenhuma dúvida.
As pupilas de Cecília se dilatam em surpresa ao me encarar e suas bochechas enrubescem. Ligeiramente, sua expressão passa do choque à determinação.
-Sim e farei o que for necessário para proteger o meu filho. -Ela anuncia, empinando o queixo em teimosia. Aparentemente, Cecília esperava uma resposta negativa da minha parte.
Fitando seu rosto, percebo que minha irmã não se resume mais à princesa frágil e tímida que abandonou Aurora Negra. Essa viagem também a transformou, despertando uma mulher forte e decidida. Ela havia rompido seus laços com o passado e toda a dor que as lembranças lhe traziam.
-Não duvido disso, mas essa responsabilidade não cabe somente a você. -Indico significativamente.
-Luke ainda não sabe. -Cecília fala, desviando o olhar. -Estou esperando o momento certo para contar. -Ela garante.
-Estarei ao seu lado para o que precisar. Vou ser o melhor tio que essa criança terá. -Digo, abismado e, ao mesmo tempo, animado com a perspectiva.
-Você será terá de disputar com Davi, então se prepare para perder. -Ela graceja e pega algo em seu bolso, colocando em minha palma. -Recupere aquela garota cabeça-dura, John! Confio em você e preciso dos dois para serem padrinhos do meu bebê! -Cecília declara com uma piscadela e sai do meu quarto.
Dois círculos, um de metal e o outro de ouro, cintilam na pouca iluminação do cômodo. No dia seguinte, tanto o anel de noivado quanto a aliança de Scarlett deverão estar em seus locais de direito. Isso não é somente uma promessa.
Quando Cecília bateu em minha porta pela manhã com a proposta de conhecer a aldeia, declinei em acompanhá-la. Possivelmente, Scarlett fugiria assim que escutasse meu nome ser pronunciado. Usar o inesperado como minha arma secreta seria muito mais efetivo.
Todavia, não esperava que ela seguisse tão fielmente o sentido da palavra "fugir", já que saiu correndo no instante em que ouviu a minha voz. Persegui-la pela mata fechada não foi uma tarefa fácil, utilizei todos os meus conhecimentos como soldado para rastrear seus passos e localizá-la.
Assim que a encontrei, meu coração acelerou descontroladamente, como em todas as outras vezes em que estive em sua presença. Scarlett havia tirado meu mundo do eixo desde a primeira vez em que fitei seu rosto.
No dia em que nós conhecemos em Marina Azul, meus olhos não conseguiram se afastar dela antes mesmo do episódio envolvendo os soldados e o despertar dos seus dons no pátio do quartel. Sua presença foi como um imã para mim e, no instante em que eu a toquei, um vazio em meu peito foi preenchido.
Agora, depois de tudo o que aconteceu entre nós, sinto a mesma sensação de atração irrefreável como naquele dia. Um caminho sem chance de retorno.
Desvendar todos os meus segredos e permanecer completamente vulnerável diante dela não foi fácil, porém, necessário. Sabia que para alcançar sua confiança novamente, precisaria acabar com os segredos.
Nesse momento, mesmo depois de escutar sua afirmação de que matará Arthur com uma determinação assustadora em seu olhar amarelo, permaneço diante Scarlett aguardando sua reação ao meu pedido de perdão. Capturo uma de suas mãos entre as minhas somente para satisfazer a necessidade de tocá-la.
-Estarei ao seu lado quando isso acontecer. -Declaro com firmeza, surpreendendo-a momentaneamente.
Para ser justo, diante de todos os seus crimes, Arthur merece algo pior do que a morte, merece ser punido por todas as suas transgressões. Não há em mim mais nenhum sentimento de compaixão dedicado ao meu pai.
-Eu perdoo você. -Scarlett informa, desencadeando emoções inomináveis em meu corpo.
Arriscando mais um passo, praticamente acabo com o espaço entre nós. As fantasias que conjurei dessa ocasião não são nada comparadas à realidade. Fitando seus olhos, tenho a impressão de mergulhar em um mar de águas douradas.
Lentamente, aproximo meu rosto do de Scarlett, mirando seus lábios e memorizando seus traços uma vez mais. Vagarosamente, acompanho o contorno de sua face com as pontas dos dedos. Ela treme quase imperceptivelmente em decorrência do contato.
O tempo estagna quando Scarlett cerra suas pálpebras e parece se entregar ao meu toque, como se todas as suas defesas contra mim ruíssem. Contudo, antes que eu alcance êxito em meu objetivo, ela espalma suas mãos em meu peito e me afasta.
-Perdoar você não significa que esquecerei o que aconteceu. Compreendo o motivo de suas ações no passado, entretanto, não sei se consigo confiar em você de novo. -Ela decreta, seus olhos revestidos de frieza incomum, transferindo-me do céu para o inferno em segundos.
Dando-me as costas, Scarlett se afasta sem olhar para trás. Observo enquanto ela se aparta cada vez mais de mim, odiando a distância se instalando entre nós.
Sorrindo, reparo na ausência dos anéis que estavam sob minha posse. É apenas uma questão de tempo a partir de agora para quebrar a casca dura revestindo o coração de Scarlett e eu não estou com pressa alguma.
Oláááá! Como vão, pessoas?
Mais um capítulo saindo pra vocês! Gostaram? Espero que sim. Assim que possível, postarei mais!
Beijo grande!
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