Capítulo 3

John

Passaram-se quatro dias desde que Malvino me prendera no escritório do rei. Meu pai ainda não havia me presenteado com sua ilustre presença; o encontro com meu carrasco se resumiu ao espancamento até agora.

Meus pulsos estão ardendo em decorrência do aperto das algemas e não consigo mais manter meu corpo ereto. Sem água e alimento, a consciência me abandona e retorna periodicamente.

Depois que o mundo explodira ao nosso redor com a invasão do castelo, o rei havia enlouquecido. Na verdade, creio que há mais do que isso, seus olhos mostravam tanta escuridão naquele dia que nenhum dos soldados foi capaz de conter sua ira.

Arthur queimou a ala dos empregados do palácio com a justificativa de que eles haviam auxiliado na fuga de Scarlett. A pior parte de tudo isso: muitas pessoas estavam em seus aposentos naquele momento.

Impotente, escutei o pranto e a angústia de vários inocentes em meio às chamas. Por mais que tentasse, não consegui controlar o fogo, as labaredas negras consumiram a tudo em sua trajetória. Esse é um som que jamais sairá da minha memória.

Meu coração se quebra uma vez mais ao recordar de um par de olhos âmbar em particular, o qual é protagonista de todos os meus devaneios. Sempre o vejo, mas nunca o alcanço.

O soberano de Pélagus havia alcançado seu objetivo: destruir todo e qualquer sentimento que Scarlett poderia nutrir por mim. Empunhando uma faca contra o pescoço da minha mãe, Arthur me obrigou a mentir para a mulher que amo. Não apenas simples inverdades, ele me compeliu a proferir as palavras exatas que a levariam a me odiar para sempre, sem chance de retorno.

Naquele instante, não consegui raciocinar. Não havia dúvidas de que ele seria capaz de machucar a rainha para concretizar sua vontade. De alguma forma, meu pai estava fascinado por Scarlett e não mediria esforços para possuí-la.

Depois de realizar o que me fora ordenado, desesperei-me procurando um plano no qual pudesse salvar a todos que necessitavam de minha proteção, principalmente a Scarlett. Contudo, estava sendo vigiado pelos soldados leais ao rei.

Quando vieram à luz os danos que Arthur havia causado a Scarlett, compreendi seus planos e a vontade de destruí-lo com minhas próprias mãos me dominou. Todavia, isso não seria efetivo, ele possuía uma comitiva de segurança praticamente impenetrável.

Sendo assim, assisti ao julgamento vil e desonesto imposto a duas pessoas inocentes. De certo modo, fiquei aliviado com o resgate de Scarlett daquele palácio de horrores, ainda mais após descobrir que Cecília também havia partido; menos pessoas para aquele monstro ameaçar.

Enquanto Malvino limpa e amola seus instrumentos de tortura, o rei adentra a pequena sala. Sem nenhuma cerimônia, ele para frente a mim e me encara.

-Você está pronto para colaborar? –Ele questiona, arqueando uma sobrancelha.

Não respondo, somente o fito de volta com todo ódio que posso reunir. Desde de meu nascimento, esse homem jamais agiu como um pai de verdade, logo, não havia necessidade de me portar como seu filho.

-Quero que me diga como aquelas pessoas conseguiram levar a garota. –Arthur sentencia.

-Por que eu saberia? –Questiono.

-Porque acredito que você tenha ajudado a arquitetar todo aquele circo. –Ele responde debochadamente.

-E você chegou a essa conclusão sozinho, Majestade? Ou foram seus capachos que raciocinaram por você, Vossa Graça? –Inquiro ironicamente.

O rei não pronuncia mais nenhuma sentença, apenas acena afirmativamente para Malvino e o mesmo dá início ao meu tormento. Ele opta pela boa e velha surra.

Dessa vez, não há reservas quanto ao local no qual sou atingido. Meu rosto, tronco e pernas são golpeados sem pudor.

Quando os sentidos estão prestes a me abandonar novamente, a porta do cômodo é escancarada em um só movimento. A imagem que se desenha em minha frente é como uma injeção de adrenalina: a rainha se ajoelha em frente ao rei e suplica por minha vida.

-Por favor, Arthur, deixo-o ir. –Eleonor implora.

Meu pai a segura pelos braços sem delicadeza e vejo sua face marcada pelas lágrimas. Seu semblante de pura angústia faz minha raiva aumentar.

-A culpa de seu filho estar passando por isso é sua, minha rainha. Se você tivesse o educado de forma mais firme, ele não seria um inconsequente. –Ele diz, praticamente cuspindo cada frase.

-Sim, a responsabilidade é minha. Por isso, puna a mim e não a ele. –Ela pede.

-Mãe, não! Saia daqui! –Digo em agonia.

Malvino desfere mais um soco em meu rosto, o que intensifica o pranto de minha mãe. A vontade de queimar aqueles dois homens arde em cada parte do meu corpo.

-Vou lhe conceder esse desejo, minha cara. Entretanto, se eu desconfiar que esse indolente está desobedecendo uma ordem sequer, não serei tão generoso com vocês. –O rei declara e olha para Malvino. –Solte-o. –Ordena.

Sem gentileza, seu adulador obedece suas ordens e desprende meus braços. Sem forças para me sustentar, choco-me contra o piso frio. Minha mãe corre ao meu encontro e me ampara.

-Vamos, querido. Vou cuidar de você. –Ela sussurra.

A passos lentos, saímos do escritório do rei e partimos para meu quarto. O caminho até lá é doloroso e difícil. Ao deitar em minha cama, sinto como se pudesse dormir por dias.

Minutos depois, minha mãe, juntamente a Suzi, despem-me e cuidam dos meus ferimentos. Porém, as injúrias mais profundas estão perfurando a minha alma e não há cura para isso.

Para minha surpresa, Félix entra em meus aposentos e conversa com minha mãe. Não consigo distinguir seus murmúrios pela dor que nubla minha mente.

A rainha se aconchega ao meu lado no leito e acaricia meu rosto ternamente. O cansaço começa a dominar meu ser e aos poucos a realidade se torna distorcida.

-Descanse, meu menino. Em breve iremos atrás de sua irmã e abandonaremos esse lugar. –Ela cochicha em meu ouvido antes que a lucidez me abandone. 

Oiii :)

Espero que o amor pelo John tenha resistido no coração de vocês! Kkkk

Grandes emoções nos aguardam. 

Gostaram? :D

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