Verdade ou Desafio
James e Anya continuavam a conversar com as mães de Thomas e os pais de Luke e Victoria no andar de baixo enquanto os jovens se encontravam no quarto de Harry, no andar de cima.
Os Beckers tinham uma casa grande, com três andares contando com o sótão, quatro quartos sendo o de Harry o único que não era uma suíte, uma cozinha, quintal com piscina e uma sala a qual era dividida em de jantar e de estar.
A música “Couting Stars” do grupo “OneRepublic” ecoava pelo quarto enquanto os jovens conversavam, se lembrando de cada momento do incrível jogo que haviam visto.
— É uma pena não termos invadido a festa do Husky, eu ia me encontrar com a Diane lá — disse Harry de pé.
— Quem caralhos é Diane? — indagou Thomas com o cenho franzido, sentado na cadeira giratória, acariciando o gato laranja e branco dos Beckers adormecido em seu colo. Seu nome era Thor, e além dele, havia mais um macho cujo o nome era Loki, mas ele não se encontrava ali no quarto.
— Ah, deve ser do primeiro ano, eu não sei, nos conhecemos no final do jogo.
— De qualquer forma, sinto em te dizer, mas a farra deles vai acabar. Ou talvez nem mesmo role — proferiu Heather em seu sotaque britânico, sentada na cama do anfitrião junto à Claire, que se encontrava mexendo em seu celular. — Não viu a cara do diretor Husky quando ele fez aquela estupidez? Bernarde vai se ferrar feio. E eu vou adorar ficar sabendo disso.
— Nah… ele faz diversas festas e nunca se encrenca por conta disso.
— É diferente. Você viu o que ele fez?
— Oh, de qualquer forma, consegui o número dela — sorriu. — Mais tarde dou um toque. — Olhou para Claire. — Hey! Cheerleader! Trate de interagir!
A garota desviou o olhar da mensagem que estava enviando para encarar o garoto por um momento, mas logo voltou seu foco ao ecrã.
— É importante.
— Um garoto?! — Kate logo se levantou do puff em que estava sentada e Victor e Victoria fizeram o mesmo do chão, todos caminhando até ela junto a Harry, o que acabou por também tomar a atenção de Thomas e Andrew e interromper a conversa a qual Derek e Luke estavam tendo, sentados também no chão, porém encostados na parede azul escura.
Claire bloqueou o celular, mas não rápido o suficiente para que Heather não visse o nome da pessoa para qual a jovem estava escrevendo e uma pequena parte da mensagem. Ela manteve seu cenho franzido, se perguntando o que ela estava fazendo, mas ficou calada.
— Claire, você? — Harry, de pé e sorrindo de canto — Sério? Quem era?
— Conte-nos, vai… — Kate pediu, se sentando do outro lado da garota. — É da escola?
— Talvez um dos garotos do time? — agora foi Victoria, tentando controlar seu sarcasmo. — Muitos te elogiaram pelo que eu fiquei sabendo…
— Não! — não foi a intenção da garota elevar o tom de voz, mas ela não conseguiu controlar. Aquela série de perguntas havia a irritado um pouco. — Não, há tantas coisas que dá para fazer no celular… por que eu estaria falando com um garoto? — Forçou um riso.
— Oh, Claire, você nunca fica vidrada no celular, é um pouco estranho… — disse Kate. — Mas só estávamos brincando, relaxa. — Riu. — O que era, então?
A garota olhou para Andrew por um momento. Ele estava com o cenho franzido. Logo ela voltou o olhar a irmã e depois para os três amigos de pé.
— Nada demais, eu resolvo depois — se levantou um pouco para pôr o aparelho no bolso detrás de seu jeans. — Sobre o que estavam falando?
— Isso me deu uma ideia — falou Victoria. — Verdade ou desafio, o que acham? — Olhou em volta, exibindo seu mesmo sorriso simpático de sempre antes de voltar a encarar a garota. — Somos melhores amigos, mas muitos não se conhecem muito aqui, se é que me entendem… e também, faz um tempinho desde que brincamos disso. Então? Claro, não pegaremos pesado.
Claire e Andrew se entreolharam de novo e no mesmo momento, souberam que haviam pensado a mesma coisa, como se um tivesse conseguido ler a mente do outro.
O que ela está fazendo?
— Eu acho que não... — Heather.
— Relaxa, Heath, como eu disse, não vamos pegar pesado.
— Fechou — afirmou Harry. — Espere, vou pegar uma garrafa.
— Não, não precisa. Vamos escolhendo um ao outro, tipo assim: Derek — olhou para o garoto por cima do ombro. — Verdade ou desafio?
— Pode ser verdade, eu acho — ele retrucou com o cenho franzido e uma sobrancelha arqueada.
— Certo. É verdade que já teve uma namorada?
— Sim — deu de ombros. — É.
— Viram? — voltou o olhar aos outros e deu de ombros, mantendo seu sorriso. — Fácil. Agora ele escolhe alguém.
Derek não pôde deixar de lembrar do encontro que teve com Heather, onde jogaram esse mesmo jogo. Eram memórias preciosas para ele, um dia que ele tinha saudades… em partes…
...Afinal, se não fosse por aquele último evento da noite, ela poderia ter sido perfeita...
— Certo... — olhou para baixo, pensou um pouco e umedeceu seus lábios antes de encarar seu amigo na cadeira giratória. — Tom. Verdade ou desafio?
— Verdade. Até pediria desafio, mas… — riu anasalado ao desviar o olhar para o gato em seu colo e voltá-lo para seu amigo em seguida. — Meio que não posso levantar.
— Certo — sorriu. — Há alguém nesta sala que você gostaria de beijar?
— Hm, interessante — disse Harry. — Se fosse comigo, a pergunta difícil seria quem eu não beijaria, porque meu Deus, olhem só para vocês.
Todos deixaram um riso escapar. O movimento do abdômen de Thomas devido a isso, fez com que o bichinho em seu colo levantasse a cabeça, não demorando para receber uma carícia na mesma.
— Okay, enfim, acho que a resposta seria… já houve, talvez?
— Agora você conta, Tom — disse Victor. Kate concordou e se levantou para ir até o computador mudar a música, já que havia começado uma não muito agradável, pelo menos para ela.
— Uma pergunta de cada vez — ele arqueou as sobrancelhas.
— Oh, conta, agora também fiquei curiosa... — Victoria.
— Eu… tenho de ir ao banheiro — Claire afirmou antes de se levantar e caminhar em passos rápidos até a porta, abrindo-a e saindo sem ao menos deixar que alguém falasse algo. Todos encararam a porta por um momento, mas logo voltaram a atenção ao jogo.
— Certo… Vou escolher alguém — o latino sorriu envergonhado ao ouvir Kate dizer que na próxima pergunta ele estaria ferrado. — Heather, verdade ou desafio?
— Verdade.
— Okay... — procurou não pegar pesado, sabia que a garota não gostava de falar sobre diversas coisas e a respeitava por isso. — Conte um desejo de infância que você queria ter realizado, mas desistiu ou… não conseguiu.
A loira umedeceu os lábios e desviou o olhar para baixo, pensando no que falaria. Ou melhor, no que poderia falar, já que muitos de seus desejos antigos não realizados não poderiam ser ditos ali naquela roda.
Mas afinal, nos desejos de quem ela deveria pensar? Nos de Samantha? Ou nos de Heather? Embora Sam tenha morrido aos seus treze anos, seus sonhos destruídos ainda estavam guardados na cabeça e no coração de Heather, mas não poderiam ser expostos sem que tivesse de dar uma explicação e acabar por contar o seu segredo mais profundo: a verdade sobre quem realmente era.
— Claire está demorando... — disse Victoria, olhando para a porta com o cenho franzido, não recebendo resposta alguma das pessoas naquele quarto que a encararam por um momento antes de voltar a atenção a Heather que agora tomara uma respiração profunda, finalmente se lembrando de algo que poderia dizer. Ela sorriu, sem desviar o olhar de suas pernas finas cobertas pelo jeans skinny.
— Pode ser meio bobo e… eu sei que tive uma comemoraçãozinha de dezesseis anos esse ano, mas desde mais nova eu sonhava com aquela festa. Com a valsa… o vestido de princesa… meu pai trocando minhas sapatilhas por saltos altos... — riu, tentando disfarçar a pontinha de tristeza que tomara conta de si naquele momento. Sabia que, mesmo que tivesse com sua família biológica agora, seu pai nunca faria algo do tipo. Nem mesmo se preocuparia em organizar.
— Oh, tipo uma Quinceañera? — perguntou Victor. — Como aquela da prima do Tom?
— Mais ou menos isso... Acho que tá mais para o “Sweet Sixteen”. Não que a festa que vocês prepararam tivesse sido ruim, claro que não, foi perfeita. Era só algo que eu desejava quando mais nova. — suspirou. — Enfim… Andrew… — O olhou. — Verdade ou desafio?
— Verdade.
— Céus, gente, será que ninguém tem culhões o suficiente para pedir desafio?! — Kate.
— Se encontrou com Alycia Carter hoje, certo? O que ela fez dessa vez? — indagou, ignorando a irmã e fazendo com que todos encarassem o ruivo cujo entreabriu a boca por um momento sem dizer nada.
Heather não havia visto a garota no jogo em nenhum momento, mas resolveu dar esse palpite pois não havia outra razão pela qual sua outra irmã tivesse enviando uma mensagem para ela com algo relacionado a “Vi o que fez e não foi nada legal.”
Luke, ao lado de Derek, inspirou o máximo de ar que pôde antes de se levantar e entrelaçar a mão uma na outra um pouco abaixo de seu peito, mexendo dois de seus dedos freneticamente.
— Preciso ir ao banheiro também — soltou junto ao ar, balançou a cabeça positivamente e se dirigiu até a porta, a abrindo e saindo em seguida.
— Então… — Victor falou ao voltar o olhar ao irmão e franzir o cenho. — Andy?
***
Oi Alycia, é a Claire. Sei que mal nos falamos e provavelmente você não se dá muito bem comigo e com meus amigos pelo que aconteceu, mas eu vi o que fez no jogo de hoje e não foi nada legal. Andrew é suspeito, mas não há provas concretas de que ele fez aquilo, sei a dor que sente pela sua irmã e o desejo de vingá-la, mas não pode sair por aí fazendo afirmações sem provas. Fora que ele sofreu pela morte dela tanto quanto você e além de tudo, passou por muita coisa e ainda tem de aguentar essa implicância de vocês. Você nem mesmo pertence mais à essa cidade ou àquela escola, e parece que só aparece lá de vez em quando para dizer coisas ruins a ele. Lembre-se você de como Andrew é, já teve contato com ele e deveria saber que é um garoto bom, com um ótimo coração e que jamais faria uma coisa dessas. Deveria saber tanto quanto eu que essas acusações são ridículas.
10:22 PM
Eu não sei quem é mais estúpido, se é ele ou você e os outros amigos dele. Ninguém tinha motivo para matar Steph, ninguém. Apenas ele e você deveria saber disso. Fora que esse merda foi o último a ser visto com ela na exata noite em que ela sumiu.
10:24 PM
Claire se sentiu realmente uma estúpida por ter mandado aquela mensagem gigante, já esperava que receberia uma resposta ruim, mas se sentiria culpada se ficasse calada após aquela garota fazer uma coisa daquelas com seu melhor amigo. Estava cansada de ficar calada o tempo inteiro diante de diversas situações.
Pensou em várias respostas, digitou e apagou diversas vezes, mas no final, apenas bloqueou o celular e respirou fundo. Se o próprio Andrew não conseguiu pará-la, não seria ela que iria conseguir.
Toc toc toc
— Claire? — soou a voz de Luke por trás da porta. A garota a destrancou e a abriu logo em seguida, vendo o garoto com a respiração um pouco desordenada, mexendo freneticamente os dedos das mãos entrelaçadas.
— Tudo bem? — ela indagou e franziu o cenho.
— Sim, está tudo bem, só preciso ficar um pouco sozinho. Pode… me dar licença?
— Claro… mas… não quer ajuda com algo? Conversar um pouco? — o garoto negou com a cabeça e assim que Blake saiu, ele entrou no banheiro e fechou a porta com um pouco de força.
Luke costumava ter algumas crises de vez em quando, precisava ficar sozinho para se acalmar e não gostava de falar sobre o que lhe incomodava com seus outros amigos pois, afinal, nem mesmo ele conseguia explicar. Muitas coisas passavam pela sua cabeça ao mesmo tempo, era uma bagunça enorme que infelizmente ele não conseguia arrumar. Hora ou outra precisava se isolar para conseguir “voltar ao normal”.
— Pode falar comigo se precisar de algo! — exclamou Claire antes de tomar uma respiração profunda e guardar o seu celular no bolso de seu casaco dos Wolves, se dirigindo de volta para o quarto de Harry.
***
— Me emprestem um carro porque eu vou agora na casa daquela vagabunda encher ela de porrada — Kate disse enquanto gesticulava com a mão direita após Andrew terminar de contar o que acontecera. — Ninguém aguenta mais essa merda!
— Do jeito que ela é, quem vai acabar indo presa vai ser você — retrucou Victor com as sobrancelhas arqueadas.
— Oh, fala sério, não vou bater pra matar, vai ser só pra ela aprender a não se meter mais com a gente. Acho que a polícia deve estar mais preocupada com coisas mais importantes do que uma vadia levando uns tapas de uma outra vadia por ser uma babaca inconveniente.
Harry franziu o cenho e apontou para ela antes de indagar:
— ...Você acabou de se chamar de vadia?
Andrew, ainda sentado no chão com os braços cruzados sobre os joelhos um pouco separados, olhou para a garota e negou com a cabeça.
— Ela é louca, acredite. Vai arrumar um jeito de te encrencar — e arqueou as sobrancelhas enquanto balançava a cabeça positivamente.
— E eu sou mais louca ainda! — apontou para si mesma. Sua irmã apenas revirou os olhos e suspirou, desviando o olhar para a porta onde Claire acabou de entrar, recebendo os olhares de todos os outros sobre ela.
— Vamos continuar o jogo?! — Victoria perguntou em um tom animado, sorrindo de canto a canto. — Andrew, é a sua vez…
— HAROOOLD! — todos se assustaram no momento em que ouviram o grito aparentemente irritado da mãe de Victoria vindo do primeiro andar. Principalmente o próprio Harry, que encolheu os ombros e arregalou os olhos e Thor, que rapidamente saltou do colo de Thomas para o chão e correu.
— Céus, cara, você fez alguma besteira? — indagou o latino vendo o amigo continuar com a mesma expressão, encarando a porta.
— Oh, merda — ele disse.
***
Joanne Tyler Becker queria servir um pouco de vinho para seus convidados. Mas ao notar que uma de suas garrafas havia sumido, ela soube de cara quem tinha causado isso e, sem hesitar, gritou o nome de seu sobrinho, deixando claro que estava bem irritada.
Quando chegou até sua tia, Harry não mentiu e confessou que havia pegado no intuito de beber um pouco, mas, ao tentar tirar a rolha, acabou por deixar a garrafa cair e se estilhaçar no chão. Ainda tentou acalmar a mulher dizendo que tinha limpado tudo e que pelo menos não havia caído vinho no tapete, mas isso não evitou ela de brigar com ele e colocá-lo de castigo, dando um fim na reunião a qual havia organizado em sua casa.
Desculpou-se com os convidados, parabenizou Andrew e Thomas pelo jogo e logo todos se despediram, seguindo o rumo para as suas casas.
Agora, Claire e Heather se encontravam deitadas, cada uma em sua cama, usando seus pijamas e mexendo em seus celulares sem dizer uma palavra. Heather usava uma camiseta preta sem estampa acompanhada de um shorts branco estampado com diversas patinhas de cachorro cor-de-rosa. E Claire vestia uma blusa branca que estampava o desenho de um unicórnio e seu shorts era listrado em branco, azul bebê, verde claro e rosa escuro.
Após um momento, a mais alta olhou para a mais baixa. Queria perguntar sobre o que ela tinha dito à Alycia, era um pouco estranho a garota se meter em algo assim do nada. Se sentou de lado, abriu a boca, inspirou um pouco de ar, mas antes que pudesse dizer o nome dela, ambas as meninas ouviram uma batida na janela.
Toc toc toc toc toc
Seus corações saltaram no mesmo momento e elas se entreolharam com os olhos arregalados.
Que porra é essa? Se perguntou Heather, logo ouvindo as batidas de novo e deixando um arfar escapar antes de pôr a mão sobre o peito. Sua irmã se levantou e andou em passos lentos até a janela, com a mão trêmula pronta para abrir a cortina rósea.
...E por fim, ela abriu.
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