"O Mais F*dão"
A penúltima aula, a de literatura, estava para começar. E Heather havia chegado a tempo para assistir outras duas além desta que era a única de segunda-feira a qual todos os seus amigos participavam. Todos os seus amigos e, claro, um certo garoto de cabelos à altura do pescoço. Até agora, mesmo encontrando-o no corredor algumas vezes e em algumas salas — por descobrir ter mais duas aulas com ele nesse dia da semana —, não trocaram uma palavra.
Junto de suas irmãs e de seu melhor amigo Victor, ela entrou na grande e um pouco cheia sala amarronzada. Esta possuía algumas mesas amplas e redondas as quais continham cinco cadeiras em volta de cada. Na que estava à frente da longa janela de vidro pouco coberta pela persiana laranja, se encontrava uma bela garota de grandes cabelos castanhos-claro e olhos azuis contando sobre alguma de suas aventuras amorosas enquanto Thomas e Derek riam, sentados nas cadeiras à sua frente. Harry era o único de pé entre eles e observava aquilo com um sorriso nos lábios e os braços cruzados, de costas para os quatro adolescentes que haviam acabado de entrar.
— Victoria já está se aproveitando do novato — a voz de Kate misturou-se às dos alunos tagarelantes presentes naquela sala. — Fala sério, ele nem é o tipo dela. — E franziu o cenho ao mesmo tempo em que arqueou uma sobrancelha, caminhando até a mesa vazia mais próxima antes de colocar seu caderno e estojo acima da mesma.
— Acho que eles estão apenas conversando — rebateu Claire, logo se juntando à irmã com os outros dois. As conversas dos outros alunos não estavam tão altas, o que permitia os quatro adolescentes de conversarem tranquilamente.
— Fala sério. Conversando? — apontou na direção com uma mão e a abaixou no mesmo segundo. — Olha como essa sirigaita está se oferecendo pra ele — Voltou a encarar a loira mais baixa, mantendo a mesma expressão. Heather revirou os olhos e disse entre um suspiro:
— Tá, dá para calar a boca? Sua voz está piorando a minha dor de cabeça — e puxou a cadeira, sentando-se na mesma, descontando sua raiva no material ao jogá-lo sobre a mesa. Claire e Victor franziram o cenho ao acharem a atitude da garota desnecessária.
Bom, considerando que ela teve um fim de semana péssimo e sem falar que ela vive se irritando com Kate por qualquer coisinha...
De qualquer forma, Heather Blake tinha uma certa facilidade em se irritar.
— Acalme-se Heath, o caderno não fez nada para você agredi-lo dessa forma — disse Reincke.
— Vai deixar ela roubar seu herói? — após a garota de pele escura dizer isso, Heather a fuzilou com os olhos e o único garoto do quarteto pigarreou ao sentir o clima um tanto tenso.
— Certo, certo — ele falou, gesticulando com uma mão. —, se forem brigar, me avisem, pois eu preciso dar um jeito de arrumar um balde de pipoca. — Se sentou. Claire juntou-se.
— Alunos, sentados! — a voz do professor Brauner ecoou pela sala no momento em que ele entrou pela porta. Empurrando o meio de seus óculos quadrados para trás, arqueou as sobrancelhas e apontou para a garota sentada acima da mesa. — Becker! — Harry o olhou antes de se sentar, pensado ter sido com ele, mas logo desviou o olhar ao notar que havia sido com a sua prima. — A mesa não é lugar para se sentar, portanto, saia daí.
— Me desculpe, professor! — Victoria falou e saltou para o chão. Assim pegou seu caderno sobre a superfície e o abraçou com um braço, usando a mão do outro para acenar aos garotos com um sorriso nos lábios. Os três retribuíram o sorriso, porém, diferente dos outros, Derek a olhou de cima a baixo com suas sobrancelhas arqueadas.
Ao caminhar até Heather, Victor, Kate e Claire, ainda com os dentes à mostra, ela indagou, aproveitando que o resto da classe ainda não havia parado de falar:
— Já conheceram o garoto novo? — e puxou a cadeira que sobrara para se sentar. — Ele é muito legal. Ah, Heather e Vic nem precisam me responder, eu já sei o que aconteceu... A propósito, você está bem, Heath?
— É... Sim, estou ótima — a loira arqueou as sobrancelhas, afirmando com a cabeça. — A dor no meu pescoço não é nada comparada à dor de cabeça que a Kate me dá toda vez em que ela abre a boca. — Continuou em um tom sarcástico.
— Deixa de ser enfezada, garota! Está assim porque a Vicky está dando em cima do seu herói? — Kate perguntou e entrelaçou os braços à frente do peito, sorrindo de canto. Sua irmã sentiu o sangue ferver mais uma vez e tomou uma respiração profunda, ignorando-a ao mesmo tempo em que a Becker gargalhava e arqueava uma sobrancelha.
— O quê? Está afim do Derek? Fala sério, ele nem é tão bonito.
— Como assim “ele nem é tão bonito”?! — Reincke entrou na conversa, mas nem teve tempo de ser respondido. O professor bateu duas palmas na tentativa de chamar a atenção e em seguida pediu para que todos fizessem silêncio. E assim os alunos fizeram.
— Um bom dia a todos — começou a dizer calmamente e sem expressão. — Aos novatos, sejam bem vindos à Heaven Hills High School, vocês serão muito bem recebidos aqui. Eu sou Kaio Brauner, seu professor de literatura e desejo a vocês um ótimo ano letivo... Bom, começaremos falando sobre o autor contista e romancista Charles Bukowski. Alguém pode me citar alguma obra dele?
Embora poucos gostassem do Sr.Brauner, para a maioria dos alunos ele era visto como um professor indiferente. Era sério, não brincava, não costumava a se enturmar com seus alunos e nem a mudar seu semblante, mas explicava muito bem e de vez em quando ajudava os alunos que possuíam mais dificuldades, passando alguns trabalhos para ajudar nas notas. Um boato que circulava no colégio dizia que alguns alunos e alunas não precisaram fazer trabalho algum para ter a nota elevada. Bastaram ter feito outra coisa com o Sr.Brauner, algo íntimo e errado... porém ninguém sabia se aquilo era verdade ou não.
Bom, toda escola possui boatos. Se aquilo era real ou não, não havia como saber, tudo o que ouviam vinha da boca dos outros e sabe-se lá se aumentaram a história. Nenhum aluno que tenha de fato “dormido” com o professor deu esse relato, mas alguns eram acusados e a maioria destes não negaram.
Sr.Brauner estalou os dedos e apontou para Victor Reincke após ele ter sido o primeiro a levantar a mão.
— “Cartas na Rua” — falou. — É um de seus romances autobiográficos, ele utiliza um pseudônimo para narrar a história. Este chama-se Chinaski.
— Excelente, Reincke. Mais alguém? Harper — apontou para a garota que levantava a mão. Ela estava sentada à frente de uma mesa presente no canto e no fundo da sala junto de três meninas calouras. Quando abriu a boca para citar alguma obra, a porta da sala foi aberta, tirando a atenção de todos, até mesmo do professor.
Assobiando, um garoto de cabelos ondulados e pintados de algum tom de vinho entrou na sala. Heather e Victor foram os primeiros a revirar os olhos.
— Céus, eu quase me atrasei para a aula do meu professor favorito! — o garoto falou enquanto exibia um sorriso nos lábios. Em seguida, envolveu o Sr.Brauner em um abraço — Estava com tantas saudades...
— Certo, Husky. Ao seu lugar.
— Espera, espera, onde está o meu “boas vindas”? — o soltou. — E os meus parabéns por não ter reprovado em nenhuma matéria?
— Não fez mais do que a sua obrigação. Agora sente-se, por favor.
— Fique calmo, deixe-me falar com as pessoas... — e olhou para cada aluno, ainda exibindo seu sorriso, sabendo perfeitamente que lá haviam seis pessoas que não o suportavam.
— Realmente... foi um milagre ele não ter reprovado em alguma matéria — Victoria disse em baixo tom enquanto encarava aquele pálido e esguio garoto de olhos azuis cujo possuía uma barba cerrada castanha a qual não contrastava bem com seus cabelos cor de vinho.
— Ele não deveria estar aqui, ainda mais na nossa turma de literatura — Heather retrucou na mesma entonação. Estava começando a perguntar a si mesma o porquê de seu mês ter começado de uma forma tão ruim.
— Fique calma, amiga. Ele não vai incomodar.
— Olá, galera. Para os novatos, meu nome é Bernarde Husky e eu sou o neto do diretor Albert Husky. Antes de tudo, me sigam no Instagram e no Twitter. Meu usuário é arroba B, underline O, sinal de “mais” e fodão. B, o mais fodão. Se o professor me permitir, eu escrevo no quadro para vocês.
— Já está incomodando... — Heather resmungou e abaixou a cabeça contra seus braços cruzados sobre o caderno ao mesmo tempo em que o professor negava o pedido de Bernarde. Do outro lado da sala, Derek arqueou as sobrancelhas e em seguida deixou um riso escapar por ter achado aquele garoto um completo idiota. Seus dois amigos o encararam sem expressão após isso, o que o deixou um tanto confuso.
— Ah, de qualquer forma, vocês entenderam — continuou Husky. — Gatinhas novatas, caso queiram o meu número também... é só pedirem. — Levantou a mão à altura do maxilar e abaixou os três dedos entre o polegar e o mindinho antes de piscar com o olho direito para o grupo composto por novatas e pela garota veterana Julie Harper. Todas riram com aquilo, até mesmo ela, e Daniel dessa vez comprimiu os lábios para conter outro riso, em seguida abaixando a cabeça e balançando-a negativamente.
— Certo, Husky. Já fez a sua apresentação... Agora vá se sentar — ordenou o professor, empurrando levemente as costas do aluno que caminhou na direção daquele grupo de garotas. Quando se sentou, ele olhou para Victoria e lhe lançou um sorriso seguido de uma piscadela. A garota também sorriu e logo acenou para ele, o que fez sua amiga Heather se sentir traída e os outros três estranharem embora soubessem que, por ser popular e a chefe das líderes de torcida, Victoria era amiga de grande parte do colégio.
— Como ainda consegue falar com ele? — indagou Reincke em baixo tom. — O que ele tem de gostoso, tem de ridículo. E agora aquele cabelo combinou com a personalidade...
— Só estou sendo educada, eu falo com todos aqui — ela retrucou ao sorrir para o amigo à sua frente. — E não achei o cabelo ruim... talvez se ele tirasse a barba...
— Bom — disse o professor Brauner antes de bater uma palma. —, já que o Sr. “O mais fodão” — Fez aspas com os dedos. — terminou a sua apresentação, vamos continuar a aula. Onde paramos mesmo? Oh, sim, Charles Bukowski...
Bernarde Husky havia sido a causa do “Ritual Anual” do ano passado ter sido péssimo. O que ele fez com Heather e, possivelmente com a falecida namorada de Andrew — que estava viva naquele tempo — foi imperdoável. O próprio afirma que Stephanie Carter e Heather Blake queriam beijá-lo naquela noite, estavam pedindo. A primeira, Stephanie, reagiu apenas quando Claire flagrou o garoto segurando os braços dela contra a parede detrás da casa ao mesmo tempo em que os lábios dele roçavam em seu pescoço. Ela conseguiu empurrá-lo e o chamou de idiota antes de passar pela loira que observou tudo estática e confusa. Resolveu não dizer nada, nem ao menos perguntar, apenas ouviu o garoto dizer um “Essa garota só pode ser maluca” e andou de volta para a casa.
Seria coincidência Stephanie Carter ter sido encontrada morta após um mês deste ocorrido?
Já a segunda, Heather, o desespero foi evidente. Todos escutaram-na gritar dentro do banheiro que ficava no segundo andar e pedi-lo para parar enquanto o chamava por um nome bem diferente de “Bernarde” ou “Husky”. Ele nem chegou a beijar ou ousar a tirar um peça de roupa da garota, apenas tinha a agarrado pela cintura, e tentou fugir quando ela se desesperou, mas foi tarde demais, pois dera de cara com Victor e Thomas no corredor. Suas desculpas? “Ela que veio para cima de mim.” e “Acho que eu bebi demais.”
***
Após suas últimas aulas terminarem, Thomas, Harry e Derek se encontraram no final do corredor das diversas salas que ficavam no segundo andar. E mesmo já tendo confirmado a sua presença, o Becker continuava a insistir para que Daniel fosse à pequena reunião na casa dos Reinckes, perguntando-o coisas do tipo:
“Você vai mesmo na festa, né?”
“Você jura? Eu não quero que você fure.”
“Mas você vai, né?”
Derek sempre confirmava, mas já estava ficando irritado com aquelas perguntas repetitivas. Seriamente irritado. E elas eram feitas a cada pequeno intervalo de conversa que os três garotos tinham enquanto andavam pelo caminho extenso, em direção às escadas de mármore. Thomas e Harry não chegaram a contar sobre o porquê de não gostarem do Bernarde Husky, mas também, o outro não se interessou em saber.
Uma baixa melodia começou a ser ouvida por eles e ficava alta a cada passo que davam. O som era bem suave, parecia vir de um piano e quem quer que estivesse martelando as teclas deste, estava dando uma certa leveza a música, mas sabia alavancar o som no momento certo. Harry e Derek ignoraram aquilo e continuaram a caminhar, já começando a descer os degraus, mas Thomas resolveu parar em frente à porta da onde vinha aquele som. E assim que seus amigos notaram o fato dele não estar mais com eles, os mesmos pararam onde estavam, passando a olhar o terceiro por cima de seus ombros.
Pela janela quadrada, a qual ficava um pouco abaixo da parte superior daquela porta amadeirada, o latino avistou uma linda garota loira e pálida como a neve sentada em um pequeno banquinho acolchoado, dedilhando as teclas do piano e fazendo com que o ar vibrasse com o que parecia ser uma versão de alguma música pop. Especificamente da música “Sober” pertencente à cantora Pink.
Ao lado dela, de braços cruzados, se encontrava um garoto que possuía os cabelos castanhos em um bagunçado e pequeno topete. Ele fitava a garota, concentrado naquela bela melodia a qual pela primeira vez, vinda dela, havia ouvido com perfeição.
— Achei o Tico e o Teco — disse Ramírez em um sorriso ladino enquanto encarava aquela cena por detrás da pequena janela. Seus amigos se entreolharam e logo subiram os degraus novamente, dando três passos para que ficassem próximos a ele.
Harry sorriu ao ver aquilo e sua primeira reação foi fechar a própria mão e bater na porta quatro vezes com a mesma, fazendo com que Victor olhasse naquela direção e com que Heather parasse de tocar o instrumento. Reincke trocou um olhar com sua melhor amiga antes de voltar a visar os garotos por trás daquele vidro e logo fez um sinal para que eles entrassem, assim levando sua outra mão ao quadril. O de cabelos ondulados abriu a porta e logo passou por ela, sendo seguido por Thomas e depois por Derek.
— Hey, platéia — disse Victor entre um suspiro, arqueando as sobrancelhas. Diferente de Heather, ele não se sentia nem um pouco incomodado pelos garotos terem interrompido. Tinha a visto ensaiar aquela música milhares de vezes, já estava enjoando daquela melodia, mas essa vez foi a única em que a garota tocou com perfeição, sem errar uma nota. — Obrigado por virem apreciar o show. — Havia uma pitada de sarcasmo em seu tom de voz, e ao acabar de dizer a frase, ele sorriu em uma linha reta.
— Por que parou, Heath? — perguntou Harry com uma sobrancelha arqueada e o mesmo sorriso estampado nos lábios. — Continua, vai... — E logo caminhou em direção às três fileiras de cadeiras presentes naquela sala. Estas eram utilizadas para ensaiar orquestras e cada uma possuía uma estante para partitura à frente.
— Não — a loira retrucou com os olhos fixos nas teclas daquele instrumento enquanto Becker se sentava em uma das cadeiras metálicas. — Acho que vou parar por hoje. — E logo levantou o olhar, encarando o garoto sério de cabelos à altura do pescoço que segurava a alça de sua mochila. Ela ainda se sentia envergonhada por não ter agradecido a ele, e agora, não sabia como dizer.
— Está tímida porque eu estou aqui? — Derek indagou antes de arquear as sobrancelhas e sorrir de canto. — Tudo bem, eu posso sair. — A garota tentou dizer um “não”, porém ele continuou: — Vai me agradecer por isso? — E no mesmo momento, ela sentiu as bochechas queimarem. Ele está brincando comigo... pensou.
— Eu só não quero mais tocar — agora foi ela quem arqueou as sobrancelhas. Se levantou e pegou ao lado de seu banquinho sua grande bolsa cor de vinho pela extensa alça. — Vic, as meninas foram assistir o treino... se quiser pode ficar com elas. — Suspirou antes de passar a fina alça de couro sintético pela cabeça. — Eu espero o ônibus ou peço para o James me buscar.
— Tenho que esperar o Andy para ir embora — Reincke respondeu. Andy era o apelido pelo qual alguns chamavam Andrew. — Ele está com o carro.
— Oh... eu me esqueci disso...— ela forçou um sorriso fechado e deu dois passos para trás. — Certo, a gente se vê mais tarde, então... — Levantou a mão em um aceno antes de voltar a segurar o cabo de sua bolsa e se virou, andando em direção à porta. — Até, meninos. — E a puxou pela maçaneta, escutando Victor, Harry e Thomas dizerem um “até” em uníssono.
— Okay — Victor falou assim que ela saiu, começando a gesticular com uma mão. — Vocês sabem o quanto ela é insegura. Por que atrapalharam?
— Como assim? — o latino com o cenho franzido. — Ela tinha tocado uma música para a gente no natal, naquele teclado do amigo do James. — Becker afirmou com um “é” e Victor revirou os olhos.
— É diferente... — e olhou para o garoto ao lado de Thomas.
— Eu poderia ter saído sem problema algum — Derek falou e deu de ombros. — Você trouxe o dinheiro?
Reincke suspirou e enfiou a mão no bolso detrás da calça, assim pegando sua carteira.
— Sim, eu trouxe — e acabou por deixá-la cair ao estremecer junto a Derek e Thomas devido ao susto causado pelo som alto, agudo e desafinado, pouco semelhante ao de uma buzina. Os três olharam em direção a Harry que ainda estava sentado na cadeira, com um pé apoiado na estante para partitura e o outro no chão enquanto desencostava o trompete dourado de sua boca.
— Me desculpem, eu não sei como isso funciona.
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Olá, meus amores! Como estão? Espero que bem. Queria agradecer ao ViniDavid que me ajudou com esse capítulo e também vem me ajudado com o livro. A propósito, dêem uma olhada nas obras dele se puderem.❤
Obrigada por lerem até aqui, espero que estejam gostando da história! Um beijo e até!😘
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