Capítulo 17

"Amigos não deveriam me beijar como você me beija." - Friends, Ed Sheeran.

ㅡ Blackwell!

Dei um pulo de susto ao ouvir Carter gritar meu sobrenome. O meu chefe me olhava com um olhar irritado e eu engoli o seco já pensando na bronca que levaria.

ㅡ Estou lhe chamando há quase... ㅡ ele checou o relógio ㅡ ... dois minutos e você não me atendeu. O que anda acontecendo com a senhorita? Nunca foi de ser distraída.

ㅡ Não vai acontecer de novo. ㅡ Falei, apesar de achar difícil de cumprir a promessa ㅡ O que o senhor deseja?

- Há algum recado para mim?

Mexi o mouse do notebook e abri a área de trabalho.

- Sim, sua esposa o aguarda às 14 horas para o acompanhamento do exame, porém o senhor tem que estar na fábrica às 15 horas. - Expliquei - Quer que eu deixe para o outro dia?

- Não, alguém tem que ir à fábrica. - Disse ele ponderando - Ligue para Daniel e peça-o para ir até lá em meu lugar.

Assenti digitando rapidamente as informações necessárias para que lembrasse o que fazer.

- Seus advogados estão disponíveis para conversar às 17 horas. - Ele balançou a cabeça concordando - Cassandra deseja vê-lo ainda essa manhã.

Ele fez uma careta.

- O que essa mulher quer agora? - Indagou.

- É algo sobre as canetas vermelhas que ficaram rosa no mês passado. - Resumi.

Albert balançou a cabeça mais uma vez concordando.

- Chame Garry Fordnelly para nossa conversa. - Pediu e eu assenti já antecipando a dor de cabeça que teria para conseguir contatá-lo.

Ainda não entendia porque ele vivia naquela bolha e era considerado um bom profissional. Eu nunca o vi trabalhando, então não podia dizer muita coisa. Por que a Coral o mantinha em seu time? Só Deus sabe.

- Vai precisar que o acompanhe nesses compromissos? - Indaguei.

Ele negou com a cabeça e sem se despedir do meu campo de visão.

Observei meu chefe sair com uma pulga atrás da orelha. Depois das revelações que Thomas me ofereceu no dia anterior, não consegui parar de pensar na Shadow e como toda a Ala A estava envolvida com isso.

Foi quando abri o arquivo com o projeto pedido por Carter que recebi uma mensagem de Thomas. Mordi os lábios tentando conter em vão o sorriso que tomava meu rosto. Aconcheguei-me na cadeira e li a mensagem de meu destinado.

Thomas Hoyer: "Acabei de descobri que sou um meme. Isso é bom ou ruim?"

E, junto com seu recado, havia três imagens em que tinha o recorte de Thomas com uma expressão de desagrado com a bata de juiz em plena audiência judicial. Não pude evitar rir de cada uma das piadas e mandar risadas exageradas para ele.

Lydia Blackwell: "Não se preocupe, isso é bom!"

Ponderei um pouco antes de mandar outra resposta. Eu me sentia nervosa em falar com ele, já que não fazia ideia do que éramos um do outro. Nunca tive certeza na verdade, mas agora a insegurança parecia maior.

Lydia Blackwell: "Que tal a gente almoçar juntos hoje? Tem um restaurante legal aqui perto..."

Thomas demorou um pouco para responder e fingi ler algo que tinha escrito como base para o produto que tinha feito. Minutos depois meu celular vibrou e fiquei desapontada com sua resposta.

Thomas Hoyer: "Não vou poder :( Tenho um almoço importante hoje. Te vejo à noite?"

Mandei uma mensagem positiva, embora estivesse com uma dorzinha no peito.

Após nos beijarmos na noite anterior passamos a trocar olhadelas e risos típicos de casal de quarta série. Ele parecia mais bonito, sedutor e principalmente encantador. Não lembro o teor da conversa, mas sei que antes de nos despedirmos, ele me beijou tirando me o fôlego - uma ótima forma de desejar boa noite.

Demorei para conseguir dormir. Meu cérebro teve bastante dificuldade de digerir tudo que Thomas tinha dito, pois ainda tinha uma desconfiança no fundo dizendo que ele não me contou tudo. Apesar disso adormeci suspirando, almejando sentir mais uma vez o gosto dos lábios do meu destinado.

De manhã apenas trocamos um bom dia, pois ele parecia estar super atrasado, embora fosse o mesmo horário de sempre.

No almoço mal pude prestar atenção no que minhas amigas falavam. Fiquei rabiscando um caça-palavras antigo, sem muita pretensão em terminá-lo, quando aumentaram mais uma vez o som da TV no refeitório. Muitos grupos pararam de conversar para assistir enquanto outros aumentavam o som das vozes para serem ouvidos; todavia a cacofonia não impediu que eu escutasse com clareza a repórter comentar sobre o Escândalo das Casas Mais Baixas.

Um nome horrível, tenho que admitir, mas fazia jus ao caso. Ela dava mais informações sobre o processo e divulgava a nota para imprensa feito pelos advogados da P.A.F.E.R.

- Pra mim essa história está muito estranha. - disse Mary olhando para a televisão. - Vocês viram que o advogado da "vítima" é o Specter? Ele não é muito caro para alguém da Ala baixa? Nem eu poderia pagá-lo.

- Pode ser um caso pró-bono. - argumentou Stella.

- Acho muito difícil. - continuou ela - Na época que eu era da Ala P, nunca tive problemas com essa empresa.

Levantei a sobrancelha, mas mordi minha língua para não puxar briga.

- Só porque eles foram honestos com você, não significa que serão com os outros. - disse Daisy como se fosse óbvio.

Mary deu os ombros.

- Eu só acho estranho. - resmungou voltando-se para sua comida intocada.

Durante a conversa percebi que Mary estava mais quieta, algo totalmente atípico. Até mesmo Franz, que costumava ser um túmulo, comentou alguma coisa quando o assunto mudou para celulares. Ao voltar para o trabalho, interceptei minha amiga perguntando se estava tudo bem e ela me deu uma resposta afirmativa. Mesmo querendo insistir, deixei que Mary voltasse para recepção, deixando claro que estava disponível para ouvi-la.

A tarde passou devagar e soltei um suspiro aliviada quando vi que meu expediente tinha acabado. Fiquei surpresa quando percebi que Carlos veio me buscar, ao invés do Bälmer.

- Senhor Hoyer pediu para que eu a buscasse hoje, pois a mulher de seu motorista está em trabalho de parto. - justificou ele misturando o inglês com espanhol.

- Oh, muito bem. - respondi em espanhol - Há quanto tempo mora aqui no país, Carlos?

- Oito anos. - disse em sua língua materna - Não sabia que falava espanhol.

Dei os ombros e pelo retrovisor o vi sorrir.

- Trabalho para os Hoyers desde os trinta. - disse ele - Chaia Hoyer me contratou assim que se mudou para o país e passei a trabalhar para Thomas quando ela morreu.

Enquanto conversávamos, descobri que a matriarca veio a falecer há cinco anos de uma parada cardíaca. Embora fosse de bom coração, tinha problemas com ele, disse Carlos. Rose estudava engenharia civil quando a conheceu e os pais dela não aceitaram muito a ideia de ter um genro dez anos mais velho que sua filha, motorista e mexicano, porém aqueles "defeitos" eram indiferentes para Rose.

Não demorou muito para que ela saísse do curso e começasse a fazer gastronomia. Seus pais ficaram loucos quando perceberam que não podiam a controlar, mas aceitaram suas mudanças com o passar do tempo. Apesar de Rose ser uma ótima cozinheira, ela não se encaixava em um restaurante, de acordo com seu marido. Trabalhar quase como chefe da casa de Thomas era muito mais gratificante para ela.

ㅡ Temos um menino de 7 anos, Jorge é o nome dele. ㅡ Comentou ele assim que chegamos em casa ㅡ Ele passa as tardes aqui com Rose, mas nesse horário está fazendo judô com o tio.

Sorri para ele.

ㅡ Espero poder conhecê-lo qualquer dia desse.

Ao entrar na cozinha, deparei-me com Rose perguntando o que eu queria para jantar, no entanto pedi para cozinhar naquele dia, pois sentia falta de fazê-lo. Ela me olhou desconfiada em resposta, com um sorrisinho de lado que sugeria segundas intenções.

ㅡ Tá querendo conquistar o chefinho pela barriga, hein? Muito inteligente da sua parte.

Neguei veemente mesmo com meu rosto esquentando e denunciando minha façanha.

Depois de me ensinar onde estava cada coisa, comecei a pegar os ingredientes para fazer um Risotto. Rose avisou-me que Thomas estava trancado há três horas em seu escritório trabalhando e provavelmente ia estar morto de fome quando saísse.

Quando fui até seu escritório já se passara uma hora e meia em que tinha chegado em casa; tinha me banhado e vestido um casaco e calça jeans.

Abri a porta devagar e ela não fez ruído algum. Por um minuto analisei Thomas com um olhar perdido, sentado em sua cadeira estofada.

Seu escritório tinha uma decoração amadeirada e escura, com coleções de livros suficientes para uma biblioteca privada. Atrás de sua mesa havia uma grande janela de vidro que dava para o jardim.

Thomas mexia as mãos cautelosamente e falava algo em alemão, como se tentasse entrar em consenso com sua mente. Ele puxou os cabelos para trás e começou a batucar os dedos em sua testa, como tentasse lembrar de alguma coisa. Suas roupas estavam amassadas e a gravata já se encontrava jogada em cima de uma das cadeiras da frente.

Bati levemente a porta para chamar sua atenção e ele ergueu a cabeça alarmado e com os olhos esbugalhados.

- Desculpa, não quis lhe assustar.

- Não há nenhum problema, eu que estou distraído demais. - Disse voltando a pilha que estava sobre a mesa.

Fitei a bandeja em cima de uma cadeira cheia de biscoitos basicamente intocada.

- Está com fome?

Ele balançou a cabeça negando sem me olhar.

Cruzei os braços não entendendo sua atitude tão distante. Meu estômago se embrulhou em ver minhas expectativas por aquela noite murchar aos poucos. O que eu esperava, afinal?

Abri a boca para pedir - quase ordenar - que ele descesse e comesse algo quando Thomas soltou um suspiro de frustração.

- Qual é o problema? - indaguei me aproximando.

- Faz quatro malditas horas que tento ler isso e não consigo entender absolutamente nada.

- Talvez você devesse dar uma pausa - sugeri gentilmente - Fiz risotto e tá com uma cara tão boa...

Ele franziu o cenho.

- Você fez? Não a Rose?

Dei os ombros.

- Gosto de cozinhar.

Meu destinado olhou mais uma vez para sua mesa em dúvida.

- Quero terminar isso hoje.

Me posicionei atrás de sua cadeira e massageie seus ombros. Senti seus músculos tensos relaxarem devagar.

- O que há de errado em fazer uma pausa? - perguntei beijando sua bochecha.

Thomas agarrou minha mão direita e beijou a palma lentamente. Estremeci no íntimo quando ele roçou o nariz na minha pele e fiquei feliz por saber que o outro sabonete artesanal de Daisy também surtia efeito.

- Vem, você come e depois volta pra o trabalho - falei dando tapinhas encorajadoras em seu ombro.

- Estou meio enjoado. - Disse ao se levantar de supetão.

Como para confirmar seu pensamento, Thomas desequilibrou-se por alguns segundos e se segurou na mesa.

Meu sangue gelou quando o vi arregalar os olhos e balançar a cabeça tentando voltar a órbita. Pus a mão em sua cintura com o coração na mão.

- Thomas, está tudo bem?

- Só uma tontura. - Comentou ele piscando repetidamente.

- Quando foi a última vez que você comeu? - perguntei com tom acusatório.

- Sei lá. - Respondeu - No almoço? Hm... É, foi no almoço.

- Não me surpreende que você esteja sem conseguir se concentrar. - resmunguei - Você precisa cuidar de sua saúde, Thomas. É a primeira vez que sente tontura?

Ele balança a cabeça negando.

- Não precisa se preocupar, vou comer o Risotto e estarei novinho em folha. - disse com um sorriso encantador.

Hoyer me colocou em sua frente e aproximou-se para beijar-me. Mesmo o desejando - e muito - não cairia naquele jogo. Cruzei os braços e dei um passo para trás.

- Sabe o que eu acho? Acho que você deveria ir ao médico - afirmei sem cerimônia.

- Eu vou amanhã - falou dando um passo para frente e segurando meus braços devagar até que eles ficassem livres ao lado do meu corpo.

- De verdade? Mesmo sendo um sábado?

Thomas concorda com a cabeça.

- Tenho consulta marcada. - disse ele concentrado em mirar meus lábios - Você vai ver que estou perfeitamente saudável.

Bufei.

- Espero que sim. - eu disse descontente.

- Provavelmente meu mal estar vem da minha má alimentação, só isso. - garantiu ele - Eu vou me cuidar, prometo.

Mirei-o desconfiada por um tempo e Thomas fez questão de fazer sua melhor cara de inocência.

ㅡ Tudo bem. ㅡ eu falei por fim deixando meus ombros caírem ㅡ Você sabe que só falo isso porque me preocupo, não é?

Ele me dá um sorriso genuíno, aquele que faz meu estômago congelar. Thomas toca em meu queixo e inclina-o em sua direção. Apoio-me em seu peito, segurando-o pela camisa que usava.

ㅡ Eu sei que sim. ㅡ falou Hoyer em um sussurro. ㅡ Obrigado por se preocupar comigo.

ㅡ É um trabalho pesado, Excelência. Mereço um salário. ㅡ respondi sorrindo para ele e com o olhar recaído em sua boca.

O calor da novidade de beijar Thomas era deslumbrante. Grudei-me em seu corpo e ele mordeu meu lábio inferior com avidez. Suas mãos abraçavam meu corpo delicadamente antes de roçar a boca em meu queixo, provocando-me. Ao ver minha pele arrepiada, meu destinado riu e se afastou.

ㅡ Vamos comer! ㅡ exclamou ele me arrastando para fora do escritório.

Porém a essa altura minha fome era de outra coisa.

Enquanto comíamos eu e o projeto para Coral se tornou o foco da conversa. Thomas se mostrava bastante interessado no meu trabalho, mesmo eu percebendo que aquele número de perguntas era apenas para disfarçar o fato de que ele mal tocou na comida.

Apesar de saber que ele não comia por causa de seu mal estar, me senti um pouco mal em não vê-lo desfrutar da minha comida. Eu gostava de cozinhar e até mesmo inventei pratos com os poucos ingredientes que possuía em casa e sempre recebi vários elogios. Aquilo era uma das poucas coisas que fazia questão de ser pomposa sobre.

ㅡ Está muito bom. ㅡ elogiou ele ao terminar de comer suas quatro garfadas.

Sustentei o olhar para ele por alguns segundos e me virei para a lavadora de pratos e guardei a louça suja.

ㅡ Obrigada. ㅡ murmurei sentindo uma inquietação estranha.

Thomas foi até a mim e pôs as mãos nos meus ombros.

ㅡ O que foi? ㅡ Indagou.

ㅡ Nada, eu só... ㅡ suspirei e virei-me de frente a ele ㅡ Você nunca me falou o motivo de usar remédio controlado ㅡ lembrei repentinamente.

Ele apertou os lábios e me analisou por um tempo. Aquela atitude era parecida com a que Hoyer tinha no dia anterior ㅡ uma luta interna para não se fechar em seu casulo e me deixar na escuridão. Podia até vê-lo se afastar de mim.

ㅡ "Quero que você me conheça por inteiro" ㅡ repeti a sua frase com mágoa e levantei a sobrancelha.

Demorou alguns segundos até que ele soltou a respiração cansada e desviou o olhar ao dizer:

ㅡ São antidepressivos.

Fiquei em silêncio, sem saber exatamente o que dizer. De todas as coisas que se passaram em minha cabeça, nenhuma delas envolvia depressão. Hoyer era um homem bem de vida, bonito, divertido e cheio de energia ㅡ não que isso evitasse a total existência da doença, mas me fazia questionar se eu prestava atenção o bastante nele.

ㅡ Eu troquei de remédios há três semanas atrás e eles são mais pesados, por isso tenho falta de apetite e diversos efeitos colaterais. ㅡ explicou ele.

Abracei-o forte meio arrependida por ter pressionado daquela forma, mas ao mesmo tempo feliz por finalmente saber o que diabos acontecia com ele.

ㅡ Desculpe ter sido tão insensível com você. Eu não fazia ideia.

ㅡ Você não foi. ㅡ ele disse com um sorriso cansado ㅡ Só não sei como lidar com isso direito, Lydia. Mesmo esses problemas psicológicos sendo antigos, eles estão sempre ali, uma sombra que nunca me deixa ir embora.

ㅡ O que você quer dizer com problemas? No plural?

Ele engoliu o seco. Sua respiração pesou e consegui ver um sofrimento aterrorizante por seus olhos escuros. Meu peito doeu, pois minha intuição diz que há marcas e cicatrizes profundas em lugares que nunca teria acesso. Qual seria a causa da sua depressão?

ㅡ Eu confio em você, Lydia. Juro que confio. ㅡ falou com um tom de súplica ㅡ Mas posso deixar isso para outro momento? Por favor.

ㅡ Sim, meu amor. Sim. ㅡ As palavras escorregam pela minha boca antes que eu pense e o beijo desesperadamente.

Queria aplacar qual seja a dor que Thomas sente com o carinho que possuía por ele. Minhas mãos tremeram ao acariciar seu pescoço e gritei no meu interior as palavras que não tinha coragem de dizer em voz alta.

Eu estou aqui, Thomas. As coisas vão ficar bem, você vai ver.

Meu destinado descansou sua cabeça em meu ombro, uma cena engraçada para quem olhasse de fora, pois ele era mais alto que eu. Thomas fungou meu pescoço e soltou uma risadinha.

ㅡ Mein Gott, amo seu cheiro.

E meu coração se encheu de ternura que só aquele homem podia me proporcionar.

...

Na manhã de sábado acordei mais cedo do que pretendia. Não havia ninguém pela casa, nem mesmo os empregados; lá fora pude ver todo o jardim coberto de neve. Fiquei na sala vendo um programa qualquer de culinária enquanto checava pelo celular as ruas que estavam fechadas por causa da tempestade que houve de madrugada.

Eu havia conversado com Jean antes de ir à Ala A e marcado para encontrá-la na Clínica ainda antes do almoço. Mal podia esperar para contar para ela e Ivanna o que aconteceu naquela semana, embora tivesse que ir carregando a notícia de que boa parte das roupas que Ivanna fez com tanto carinho foram destruídas.

Quando ouvi um barulho vindo da cozinha deduzi que era Rose e fui em sua direção, no entanto o som da campainha, alto o suficiente para acordar todo o primeiro andar, me fez hesitar.

Não havia TV alguma no corredor em que estava, por isso não fazia ideia quem era. Demorou alguns segundos para que um estrondo das grandes portas principais fosse ouvido e passos ligeiros chamaram minha atenção.

Assim que cheguei na cozinha, fui atropelada por trás por duas crianças. Desequilibrada, agarrei​-me na parede para não cair de vez.

- Thomas, hora de trabalhar! - uma voz masculina gritou - Pirralhos, parem de correr! Tem comida para... oh!

Se interrompeu ao me ver agarrada à parede com uma expressão confusa e eufórica.

- Olá! Desculpe o transtorno, só estamos à procura do Senhor Hoyer. Sabe onde ele está? - Perguntou educadamente.

O rapaz aparentava estar na faixa etária de 19-22 anos e era muito alto. Continha alguns traços parecido com Thomas, mas nada muito gritante. Os cabelos, por exemplo, eram escuros enquanto os olhos eram azuis como o céu.

- Acho que ele está dormindo ainda. Quer que eu suba e o chame? - Me ofereci solícita.

- Senhorita Blackwell?

Virei-me para trás e só então observei que as duas crianças que me atropelaram eram as filhas de meu chefe. As duas tinham cabelos loiros, olhos claros e um nariz meio arrebitado de Carol Carter. A mais nova, que se chamava Rowe, no entanto, tinha um ar mais inocente e confuso que a irmã.

- Oi, meninas. - Falei nervosa.

- A senhora é secretária do Thomas também? Assim como do papai? ㅡ Indagou Presley Carter, a mais velha.

Olhei para os lados procurando uma resposta para aquilo sem que me comprometesse. Felizmente não tive tempo para dizer alguma coisa, pois uma adolescente morena, com a idade de Jack, apareceu de repente. A mesma segurava um menino com a capa de um trompete na mão.

ㅡ Thomas está lá em cima dormindo. ㅡ disse ela cheia de segundas intenções.

Os visitantes se entre olharam compartilhando um sorriso maléfico e um plano que ia além da minha imaginação. Esquecendo-se de mim, o grupo saiu em passos apressados. Olhei para o fogão e encontrei Rose com uma expressão tão confusa que eu.

Fui cuidadosamente ao andar de cima e cheguei a tempo de vê-los entrar no quarto de Thomas com risinhos graduais. Quando alcancei a porta, vi o rapaz mais velho segurando um trompete no ouvido de meu destinado e as três crianças prontas para pular em cima da cama de casal. Deitado, sem saber o que lhe aguardava, Hoyer dormia como um bebê.

A adolescente contou em alemão.

Eins, zwei, drei.

O som do instrumento soou com o despertador mais insuportável de todos os tempos; para piorar, as crianças subiram na cama e começaram a pular na cama como se fosse um pula-pula recém montado. A cena se completou com Thomas levantando-se em um solavanco assustado e desesperado; um grito de terror enterrado na garganta. Pus a mão na boca para segurar a risada, contudo o grupo não teve o mesmo pudor e caiu em gargalhadas.

Sai do caminho quando vi meu destinado ficar vermelho de raiva e trincar os dentes. Os gritos em alemão vieram depois e o grupo correu entre gritos histéricos e risos afetados; Thomas bateu a porta com fúria e por um segundo acreditei que a mesma seria destroçada pela sua força.

ㅡ Eu avisei, Prince. ㅡ afirmou a morena com um ar de riso. ㅡ Sou Luna Hoyer-Smith, prazer. ㅡ falou ao perceber-me ao seu lado assistindo toda a cena.

ㅡ Sou Lydia Blackwell e uau acho que vocês acordaram uma fera que eu não conhecia. ㅡ comentei assistindo-os voltarem à escada, provavelmente em direção à cozinha.

Minutos mais tarde enquanto atacavam um bolo feito no dia anterior por Rose, descobri que os visitantes não eram estranhos naquela casa, na verdade, eles eram os primos que costumavam visitar ao Thomas periodicamente. O rapaz mais velho era Spencer Hoyer, estudante de teatro e música na Universidade de Columbia e meio irmão de Luna, que ia entrar na faculdade de música no próximo semestre; o menino mais novo era Jason Ruthford, também primo deles.

De acordo com o que me falaram, meu destinado havia marcado para ensaiar as apresentações de Natal aquele final de semana e prometeu acordar cedo. Sabendo que seu primo nunca o fazia, Spencer e Luna ameaçaram acordá-lo com muito barulho se ele não cumprisse o horário.

Dito e feito.

Em meio a piadas e histórias de reuniões de família, acabei não vendo o tempo passar e quase me esquecia que ainda ia para Clínica. Foi só quando Nelson Balmër, meu motorista e guarda-costas, apareceu dizendo que não podia me autorizar sair sozinha sem o aval de Hoyer que Luna fez uma pergunta sobre mim.

ㅡ Você e Thomas são amigos?

Eu percebi onde ela queria chegar apenas pelo tom da sua voz. Até mesmo as meninas que discutiam sobre qual princesa era mais legal pararam um segundo para ouvir minha resposta.

Além de não saber como responder essa pergunta, não podia dizer simplesmente que èramos destinados, pois sei que corria o risco de uma das meninas falar alguma coisa para os pais e a última coisa que eu queria no momento era que Albert Carter soubesse pela suas duas filhas pequenas.

ㅡ Eu e ele somos só amigos.

ㅡ Só amigos? ㅡ Indagou mais uma vez Spencer sem acreditar.

ㅡ Só ㅡ reafirmei.

Mas assim que falei percebi que foi um erro.

Thomas havia acabado de entrar na cozinha apressado e parou rapidamente ao ouvir o teor da conversa. Ainda carregava uma cara amassada de quem acordou há pouco tempo e vestia um casaco pesado de inverno e segurava um par de luvas, touca e um cachecol verde.

Sua expressão era de decepcionado, mas logo se transformou em uma carranca fofa e meu estômago embrulhou de antecipação. Ele era lindo sorrindo, sério ou mesmo desconcentrado, mas com raiva ele era simplesmente...

Engoli um suspiro.

ㅡ Vejo que já conheceu os pirralhos. ㅡ disse ele tentando soar brando e falhando miseravelmente.

ㅡ Eles são uns amores. ㅡ respondi em contrapartida.

ㅡ Não hoje ㅡ resmungou lançando um olhar severo para eles.

As crianças deram um sorriso inocente e quase pude ver as auréolas em cima de suas cabeças.

ㅡ Posso pegar um dos seus carros? Marquei de encontrar Jean na Clínica agora de manhã. ㅡ pedi ㅡ Quero ir só dessa vez.

Ele abriu a boca para responder, mas hesitou. Tirou a chave que estava dentro do bolso da calça jeans e jogou em minha direção.

ㅡ Diga ao Balmër que você não precisa de escolta ㅡ avisou enquanto atravessava a cozinha até a porta para o estacionamento ㅡ Afinal, eu não mando guarda-costas para cada um dos meus amigos, não é verdade?

Aí.

Ok, eu mereci isso.

ㅡ Onde você vai? ㅡ indagou Luna a ele.

ㅡ Tenho uma consulta agora de manhã. Volto mais tarde.ㅡ Respondeu Thomas e sumiu do nosso campo de visão.

Presley virou para Spencer parecendo desolada.

ㅡ Prince ficou muito chateado, eu não queria que ele ficasse assim ㅡ disse ela com um bico.

ㅡ Não se preocupe, ele vai ficar bem ㅡ falou Luna fazendo carinho em seus cabelos ㅡ Ele vai voltar melhor, você vai ver.

ㅡ Por que Prince? ㅡ perguntei curiosa.

ㅡ Teve uma vez que ele cantou duas músicas de Prince nas apresentações de Natal e o apelido acabou ficando. ㅡ Spencer disse me com um dar de ombros.

Ao entrar no estacionamento mexi no controle do alarme do carro para saber de qual automóvel era a chave. Passei cinco minutos babando a moto de Thomas, mas o porsche que ele me emprestara era bom demais para ser deixado de lado.

O carro tinha cheirinho de novo e estava com o tanque cheio. Saí em uma velocidade pequena, já que as ruas estavam escorregadias. Cheguei na Clínica perto da hora do almoço arrependida de não ter trazido as luvas comigo.

Encontrei Jean tremendo de frio e com os lábios brancos esperando-me do lado de fora. Depois de lhe dar uma bronca por correr o risco de ter hipotermia, entramos no prédio onde

Ivanna vivia.

Por ser das Alas mais privilegiadas, minha amiga desfrutava de um lugar maior do que a maioria dos pacientes. Havia espaço para sua máquina de costura, um banheiro e um quarto; além do mais, seu quarto era perto do refeitório, onde ficamos a maior parte do tempo do nosso encontro.

Foi difícil contar a Ivanna sobre o que aconteceu com as roupas que ela um dia fez para mim. Com o coração pequeno no peito, vi seu rotineiro sorriso de deboche murchar quando dei a notícia. Percebendo o que acontecia, Jean contou um mico que tivera no seu primeiro dia de estágio para mudar o clima.

ㅡ Eu paquerei meu chefe, Ly ㅡ disse cobrindo o rosto com as mãos ㅡ Que vergonha!

ㅡ Normal, criança. ㅡ falou Ivanna empurrando um copo de chocolate quente para ela ㅡ Isso acontece o tempo todo nos filmes.

Soltei uma risada com a cara de "sério?" que Grey fez para a mais velha.

ㅡ Que saia justa! ㅡ comentei a fitando tomar um gole de sua bebida. ㅡ Mas nada comparado ao banho de suco que dei em Thomas quando nos conhecemos.

Jean engasgou e ficou entre tosses e risadas. Dei tapinhas nas costas dela enquanto Ivanna ria da situação.

ㅡ Se o fato dele ainda ir atrás de você depois dessa amorosa recepção não é uma prova de amor, não sei o que é ㅡ falou Ivanna. ㅡ Aliás, você ainda está se fazendo de difícil para ele? Mesmo morando juntos?

ㅡ Já beijou ele? ㅡ Indagou Jean interessada.

ㅡ Ah, minha filha. ㅡ Respondeu Ivanna ㅡ A essa altura eles com certeza fizeram algo além de beijar...

Senti todo meu corpo esquentar de vergonha e soltei um grito para que ela parasse.

ㅡ E eu falei alguma mentira?

Jean soltou um gritinho animado.

ㅡ Quero saber todos os detalhes ㅡ disse Grey.

ㅡ Nós apenas nos beijamos, apenas isso! ㅡ repliquei.

ㅡ Ele beija bem?

ㅡ Você tem quantos anos, Jean? Doze? Que tipo de pergunta é essa? ㅡ Resmungou Ivanna.

Sentindo uma vergonha enorme, contei que estava conhecendo melhor meu destinado e cada vez mais via que ele era uma pessoa muito interessante. Escolhi as palavras com cuidado, tentando parecer mais racional possível e enganando a mim mesma falando que não estava levando para o lado emocional.

Ainda não conseguia organizar meus sentimentos.

Já havia me apaixonado antes. Quando estive com Caio fui impulsiva e passei por cima até da promessa que um dia fiz a minha mãe e apesar de sair machucada no final, foi algo que eu precisava fazer.

No entanto Hoyer me despertava um paradoxo de sentimentos intensos e ao mesmo tempo simples. Não tinha como ser prática com ele.

ㅡ OK, já entendi a parte técnica da coisa. ㅡ interrompeu Ivanna ㅡ Agora quero saber se você gosta dele.

Parei um segundo para pensar e captei a imagem de Thomas na última semana. O sorriso desenhou-se em meus lábios de forma involuntária.

ㅡ Eu gosto dele sim. Seria maluca se não gostasse.

Ainda pensava nisso enquanto voltava para casa no final da tarde. Jean estava estranhamente quieta ao meu lado enquanto íamos à Ala O. Fiz menção de ligar o rádio quando ela resolveu dizer o que a incomodava.

ㅡ Sei que não quer saber de Caio, mas me preocupo muito com ele ㅡ desembuchou ㅡ Nos últimos dias percebi que ele tem andado alarmado e se assustando com facilidade. Será que seu destinado tem a ver com isso?

ㅡ Claro que não. ㅡ parti em sua defesa ㅡ Thomas tem mais coisas para se ocupar do que meu ex-namorado.

Ela levantou as mãos em rendição.

ㅡ OK, não está mais aqui quem falou.

Soltei um suspiro.

ㅡ Jean, com certeza seu irmão está bem. Ele é um homem adulto e embora seja levemente perturbado, é esperto. ㅡ Afirmei fazendo-a rir. ㅡ Além disso Thomas já disse o que queria dizer naquele dia, não tem porque fazer algo contra ele. Duvido que se lembre ainda da existência de Caio.

ㅡ Tem razão ㅡ ela confirmou ㅡ Até porque qualquer um pode ver que você está caidinha por ele.

ㅡ Não é bem assim. ㅡ repliquei.

Minha amiga não disse nada, mas manteve um sorriso que dizia muito mais do que qualquer resposta.

Depois de me despedir dela, demorei alguns segundos olhando para porta de casa interditada pela polícia no começo da semana. Minha casa na Ala O continha minha infância, adolescência e parte da vida adulta; carregava lembranças de uma família simples e feliz e como ela foi reduzida com o tempo.

Eu estava ali na frente de casa quando a notícia de que meu pai tinha morrido chegou aos nossos ouvidos.

De repente me senti muito sozinha.

A cozinha da casa de Thomas estava repleta de bandejas com quitutes para os visitantes. Ofereci minha ajuda e junto com mais duas empregadas ㅡ que eu não conhecia ㅡ subi até o salão de música do segundo andar.

Eles estavam no final de uma cantiga natalina em alemão quando chegamos com a comida; Luna era quem cantava soprano belíssimo, Presley tocava seu violino desajeitadamente, Spencer usava seu trompete, Jason e Rowe, por ser os menores, tocavam tambores; e, claro, havia meu destinado com seu saxofone. Ao terminar a música, as crianças deixaram seus instrumentos de lado vorazmente; Spencer os acompanhou, mas Luna pediu para Thomas tocar no violão a canção que haviam ensaiado mais cedo.

Sentei-me no sofá mirando meu destinado com cuidado. Ele aparentava estar mais calmo, embora tivesse seu rosto claramente cansado. Hoyer trocou o saxofone pelo violão e começou a tocar uma melodia lenta e romântica; me surpreendendo, meu destinado cantou a primeira parte da letra.

Sua voz era um tenor morno, afável e doce para meus ouvidos. Era como estar rodeada de conforto e de calor apenas pelo som da suas palavras. O eu-lírico da composição fazia promessas para pessoa amada, dizia que iria amá-la como nunca ninguém o fizera. Dizia que não importava onde eles estivessem, ele só precisava estar com ela.

A voz de Luna era a que mais se destacava; ela tinha uma técnica vocal esplêndida e rara em mocinhas tão jovens como ela. Se fosse em um programa de talentos ela seria aquela artista promissora que todos se perguntavam o motivo de não ser mais famosa.

Ainda assim minha atenção estava em Thomas. Ele parecia mais acanhado do que quando tocava saxofone. Todos olhavam para Luna, mas eu apenas via meu destinado.

A música se tornou cada vez mais romântica e sensual. A harmonia entre as vozes era instável, mas me ajudou a fitar Hoyer com mais afinco. Sentia estar sozinha naquele cômodo com ele, como na noite em que curtimos jazz; havia mais intimidade no entanto.

Então ele olhou para mim e algo dentro de mim derreteu. Quase podia escutar o som dos meus batimentos ao perceber que um brilho prateado que cruzava seu olhar era direcionado a mim.

Sua expressão não mudou, embora Luna tenha alcançado uma nota alta e surpreendido todos que assistiam o show particular.

Mesmo encantada com o talento de sua prima, não tive muito tempo para pensar nela. Como se clamasse pela minha atenção, Thomas cantou uma estrofe em francês. Minhas pernas ficaram bambas e fiquei feliz em ter sentado antecipadamente. Já havia ouvido meu destinado falar em alemão e espanhol, mas nada se comparava ao seu jeito convidativo de sussurrar na língua francesa. Seus lábios pareceram mais vermelhos e experimentei uma sensação arrebatadora que me consumia por inteira.

Eu deveria estar babando descaradamente, pois ao terminar a música ele me deu um sorriso que dizia "eu sei o que você está pensando e sim, eu faço de propósito".

...

Apesar de não ter passado a maior parte do tempo com eles, os primos de Hoyer foram bastante simpáticos ao se despedir. Parabenizei-os pelo trabalho, principalmente Luna, que se mostrou muito tímida com meus elogios. Com eles indo embora e os empregados também, a casa parecia exageradamente vazia.

Estranhei quando vi Thomas sair da cozinha à passos apressados e devorando macarrão instantâneo como se fosse um manjar. Acompanhei-o com o olhar e gritei:

ㅡ Como foi a consulta?

Ele parou de súbito na escada e virou-se para mim. Com a boca cheia disse-me:

ㅡ Foi bem, inclusive tenho uma consulta com um nutricionista na terça. ㅡ respondeu e engoliu a comida ㅡ Se precisar de mim estarei no escritório.

ㅡ Hm, posso pegar um livro na sua biblioteca? ㅡ indaguei acompanhando seu passo.

ㅡ Não sei ㅡ disse levantando as sobrancelhas ㅡ Somos amigos suficientes para isso?

E ali estava: o ponto que deveríamos discutir. Ao contrário do que ele pensava, sorri dócil para ele.

ㅡ Sim, nós somos. ㅡ Respondi ㅡ Inclusive tivemos uma longa conversa para estabelecer que dois beijos roubados me faz querer dizer a todo mundo, inclusive as filhas do meu chefe, que sou sua destinada, não é?

Ele ficou calado e deduzi que Thomas sabia que eu tinha razão.

ㅡ Foi o que eu pensei.

Entrei em seu escritório que já estava aberto e fui em direção a parte em que eu imaginava ser o lugar dos livros de ficção.

ㅡ Lydia, ainda assim acho que não... ㅡ Thomas disparou em falar mostrando-se impaciente atrás de mim.

ㅡ Amanhã nós conversamos com mais calma, Hoyer. ㅡ falei sem olhá-lo ㅡ Você está estressado e eu entendo o porquê, mas não sou obrigada a ser bode expiatório.

Puxei um livro rosa quando eu vi o nome Natashia e Evie Hoyer na capa. A capa era bonita; tinha detalhes lilás e o desenho mostrava uma menina acima do peso. O nome era "O Corpo Que Pedi A Deus". Franzi o cenho e virei-me para meu destinado.

ㅡ Nunca imaginaria que você gostasse de chicklit.

ㅡ É um dos livros da minha mãe com tia Evie. ㅡ Respondeu. ㅡ Não gosto desse gênero, mas Natashia Hoyer ainda é a minha progenitora.

ㅡ Ela tem algum livro que dedicou a você?

Thomas esticou o braço e pegou um de capa verde chamado "A Lei do Sr. Cohrigam" com o design parecido com o outro e o desenho de um advogado loiro. Nas primeiras páginas havia a dedicatória: Para meu filho Thomas.

ㅡ Vai me dizer que ela inspirou-se em você para fazer o Cohrigam. ㅡ Comentei com um ar de riso.

ㅡ Eu não sou tão arrogante assim. ㅡ Reclamou ㅡ Nem ambicioso.

Guardei o primeiro livro e fiquei com o que Natashia dedicou para meu destinado. Thomas estava atrás de mim e quando virei para partir esbarrei nele.

ㅡ Vamos ver se minha sogrinha é uma boa escritora mesmo. ㅡ Fiz graça e dei um beijo em sua bochecha ㅡ Boa noite.

Mas antes de sair, Hoyer agarrou meu braço e puxou-me contra seu corpo. Senti os músculos do seu tronco rígidos e embora não estivesse mais carrancudo, eu sabia que seu mal humor não tinha morrido de vez.

E eu o entendia completamente. O dia foi longo e se eu tivesse sido acordada da mesma maneira que ele, era bem provável que uma das crianças morreria estrangulada.

ㅡ Mereço um beijo de verdade antes de dormir.

Olhei para ele cética, apesar de manter-me tentada a fazê-lo. Apertei os lábios um contra o outro analisando-o.

ㅡ Hoje você vai ter que beijar seu trabalho.

Escapei de seus braços e corri para meu quarto. Felizmente ele não me seguiu, já que dificilmente conseguiria resistir mais uma vez. Thomas precisava de um tempo à sós e eu precisava confessar a mim mesma que queria tentar um relacionamento com ele.

...

Acordei mais tarde do que pretendi no domingo por causa do livro A Lei de Sr. Cohrigam. Bruce Cohrigam era uma advogado bem sucedido que defendia os piores tipos de criminosos e costumava sempre ganhar os casos ㅡ mesmo que a vitória fosse a redução da pena. Ele pegou um caso particularmente fácil: o chefe de uma empresa de bebidas estava assediando uma das suas executivas e ele precisava defendê-lo. Tudo mudou quando ele descobriu que aquela executiva era sua ex-noiva, a única mulher que um dia tinha balançado seu coração.

A escrita era gostosa e fluia com facilidade. Mesmo não sendo uma leitora voraz e ter lido no máximo seis livros de ficção na minha vida, me vi tentada a passar a madrugada lendo aquela história.

Havia uma mulher diferente na cozinha de manhã e descobri que Rose tinha um dia de folga escolhido por ela toda semana. A cozinheira se chamava Clarie era bem mais calada e parecia temerosa quando me viu procurando algo para comer nos armários.

Depois de desfrutar algumas torradas feita pela cozinheira substituta, fui de elevador até o terceiro andar da mansão de Thomas, pois ela me avisou que o mesmo estava lá. Eu ainda não conhecia aquela parte da propriedade e me peguei pensando o porquê de tanto espaço para uma casa que vivia apena suma pessoa.

O terceiro andar se constituía praticamente em um salão de festas para churrascos ou qualquer reunião de família. A parede lateral era feita de vidro e podia se ver todo o terreno coberto de neve; o aquecedor, no entanto, não tinha tanta força naquele andar.

Thomas estava deitado com uma coberta em uma das espreguiçadeiras com um notebook no colo e segurando uma maçã mordida. Ele olhava para fruta como se fosse uma espécie de alien e não pude evitar sorrir com isso.

ㅡ Ela não está envenenada, Branca de Neve. ㅡ Brinquei ao chegar no seu lado.

ㅡ Saiba que só estou comendo isso porque você me pediu para cuidar da saúde. ㅡ replicou ele ㅡ Não estou com fome.

Olhei para uma mesinha cinza perto dele e vi uma bandeja com o café da manhã intocado.

ㅡ Me sinto honrada de saber que me escutou finalmente.

Deixando a fruta de lado, Thomas fechou o notebook e o deixou no chão com displicência.

ㅡ Vem aqui ㅡ pediu ele abrindo espaço em seu cobertor.

Ao ver que a esbreguiçadeira era forte o suficiente para nós dois e que meu corpo perdeu o calor habitual, me meti nos lençois abrançando-o com firmeza.

Com a cabeça apoiada em seu peito, senti uma pulsação diferente ao ter o corpo de Thomas tão colado ao meu. Estremeci, mas não de frio, e sim de desejo quando seus lábios beijaram minha orelha.

ㅡ Vejo que acordou com bom humor hoje. ㅡ eu disse.

ㅡ Sobre ontem, peço desculpas. ㅡ Sussurrou ele incapaz de falar alto quando estava tão perto de mim ㅡ Você tinha razão, é muito melhor conversar agora que estou com a cabeça fria.

Levantei os olhos para ele e me defendi:

ㅡ Não fiz nada de errado quando falei que éramos só amigos.

Hoyer não pareceu me ouvi e afundou seus dedos em meu cabelo macio fazendo um pequeno cafuné. Meu corpo se arrepiou quando ele inclinou-se e beijou-me invadindo minha boca com o desespero de quem não me via há dias. Sua língua experimentava minha boca como se fosse o doce que ele mais desejava no mundo e uma névoa se apoderou da minha mente. Só Deus sabia o quanto o quis naquele momento. Não consegui pensar direito e demorei alguns segundos a mais quando subitamente Thomas se afastou e sussurrou:

ㅡ Nós não somos só amigos.

Perdi o raciocínio quando vi seu olhar intenso fazendo-me formigar, mas formulei a frase:

ㅡ Então eu estava errada em não querer que Presley saísse correndo para contar sobre nós a Carter?

Ele balançou a cabeça negando.

ㅡ Você estava certa, quero que ele saiba por nós e não por terceiros. ㅡ ele sorriu ㅡ Só desejo que se lembre desse momento toda vez que disser que somos apenas amigos.

Como se em algum momento eu fosse capaz de esquecer, quis replicar, porém apenas assenti.

Estava adorando conhecer aquela nova faceta do Thomas.

ㅡ Se não somos só amigos, o que somos? ㅡ indaguei curiosa.

ㅡ Somos destinados, oras. ㅡ Respondeu com seu sorriso "eu sei de tudo, bobinha".

Abri a boca para replicar alguma coisa, mas seu celular começou a vibrar entre os lençóis. Ele ficou sério ao ler quem era e se levantou para atender.

ㅡ Thomas Hoyer falando.

Cada vez mais que os segundos se passavam mais seu rosto ficava duro como mármore e o nosso momento de diversão parecia nunca ter acontecido.

ㅡ Thomas, o que houve? Aconteceu alguma...

Parei de falar assim que ele ligou a telvisão esquecida no canto e colocou no canal de notícias. Mais uma vez meu corpo ficou todo gelado e uma sensação de pânico me invadiu quando li o assunto daquela manhã de domingo na CNN e vi uma foto minha na TV:

"Escândalo das Casas Mais Baixas:

Destinada do Desembargador Thomas Hoyer é quem processa a P.A.F.E.R, colocando o verdadeiro motivo em xeque."

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n/a:

Alguém esperava por essa? Com certeza sim!

O que acham que vai acontecer agora que Lydia foi exposta? E com Thomas vai lidar com isso?

E a saúde de Thomas? Por essa eu sei que ninguém esperava (risos)

Até a próxima, meus amores. Obrigada pelo apoio e as mensagens. Elas significam muito por mim. <3

Quer fazer uma pergunta ao Thomas? O Ask é askfm/thomashoyer

E a Lydia? ask.fm/lydiatb

Mais informações no grupo do FB: "Maraíza Santos - Fanfics"

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