Twenty six


 Peguei minha arma dentro do carro a colocando em punho vendo que algumas pessoas começavam a olhar pela janela de casa, o barulho de tiro era o bastante para que a curiosidade dos outros se elevasse. Duane continuava me olhando e me segurando enquanto guardava o celular. Ele sabia que por mim, entrar ali era crucial, e eu não podia esperar.

- Eles pediram para que não entremos sozinhos, é um grande caso ele tem sua irmã e Ravenna lá dentro, Richard é louco. Precisa pensar no bem-estar de ambas. – Soltei todo o ar que estava dentro dos meus pulmões tentando entender como ele parecia tão calmo. – Olha, eu não sei como é viver assombrado por um caso que levou sua irmã a uma cadeira de rodas, e agora a coloca como cumplice da morte de pessoas pela qual Ravenna a mulher pela qual você se apaixonou está pagando o preço. De verdade, isso tudo é uma bagunça, mas se você quer pegá-lo tem que fazer do jeito certo.

Abaixei um pouco a arma massageando as têmporas, calma, eu precisava manter a porra da calma, no entanto, só Deus sabe o que se passava pela minha cabeça; Richard podia estar abusando de todas as maneiras possíveis de Ravenna e eu não podia fazer nada para impedir. Concordei com a cabeça encarando Duane e paramos os dois em cada extremidade do grande portão empunhando as armas e encarando a casa como se a qualquer momento a moça de cabelos roxos conseguisse fugir por algum buraco.

A porta se abriu de supetão e a primeira coisa que vi fez minha consciência balançar um pouco. Richard saiu da casa com uma arma apontada para a cabeça de Ravenna enquanto ria para nós. A moça tinha o rosto impassível como se estivesse em um transe, e as roupas estavam todas amassadas e bagunçadas. Havia um corte em seu lábio e o cabelo estava pior do que eu jamais poderia imaginar. A calça que lhe cobria as pernas estava torta e o sutiã que ainda cobria seus seios estava da mesma maneira quase que expondo o bico de seu peito direito. O delinquente segurou o cabelo dela com força o puxando para trás enquanto Ravenna não demonstrava nenhuma expressão de dor, ela parecia em choque e tudo o que eu queria poder era correr até ela e salvar o que lhe tinha restado de esperança.

Sei que Duane estava me encarando enquanto minha mão parecia tremer empunhando a arma e tudo o que Richard fazia era dar risada, ele sabia do procedimento padrão.

- O que foi detetive?! – A voz do canalha soou alta, poderia atrair a atenção de todos, e vários vizinhos já viam o espetáculo que era Ravenna sendo apresentada daquela maneira. – Covarde demais para salvar sua garota? – Ele deu risada enquanto deslizava o cano da arma pela lateral do rosto da moça me causando agonia, se ele por acaso atirasse ali seria o fim. – Sua garota não né? Minha garota! Ravenna sempre foi minha! – A arma havia descido para o peito dela e agora ele passava o nariz por onde o cano da arma já havia passado. Eu poderia vomitar vendo aquela cena. – E ela vai ser para sempre minha! Eu destruí toda a minha vida por causa dessa puta. Eu sei que ela abriu as pernas para você também, Elliot Green! É a especialidade dela. – A cada frase o puxão nos cabelos dela parecia ficar mais forte, e mesmo assim, os olhos da moça eram baixos, o rosto continuava sem expressão. – Como resistir, não é? – A mão que estava nos cabelos dela desceu por suas costas e quando percebi o sutiã tinha ficado frouxo, exibindo o completo tronco da moça como se fosse uma peça rara. Ela tentou cobrir os seios, mas ele empurrou seus braços com a pistola e colocou o cano no queixo dela fazendo meu estomago revirar. – Deixe que todos vejam! Enquanto eu ainda não fiz nada. Porque quando saímos daqui esse corpo estará com tantas marcas que vai parecer mais uma puta barata que foi usada do que a grande artista e filha de grandiosos que era Ravenna Tucker.

Pelo cabelo ele a puxou de volta para dentro da casa e eu podia sentir todo o meu corpo tremendo ansioso e nervoso, pronto para explodir a cabeça de Richard com todas as balas dentro do meu revolver.

− Os vizinhos logo vão começar a ligar para a polícia também. – Duane comentou ao meu lado. – Vou fechar a rua. – Sua mão tocou meu ombro e eu o encarei tremulo com a adrenalina quase me fazendo cometer uma atrocidade. – Ele vai pagar por tudo isso, nós vamos tirar sua garota de lá.

− Eu sei que ele vai pagar. – Soltei um suspiro pesado. Eu estava preocupado mesmo com a maneira como Ravenna lidaria com tudo depois daquilo. – Mas, e ela? Quais as sequelas que isso vai deixar? E Rose?

− Parece que você vai ter que ser forte pelas duas.

Revire os olhos enquanto observava Duane se afastando para fechar a rua com alguns cones que ele trazia no porta-malas. Curioso, mas não era um bom momento para perguntar, talvez ele só andasse com aquilo por precaução. A minha arma continuava apontada para a entrada como se a qualquer momento eu esperasse que o delinquente do Richard aparecesse de novo na porta e eu pudesse finalmente meter uma bala na cabeça dele. Meu sangue estava fervendo, eu mal estava conseguindo pensar direito.

− Elliot. – Olhei para o lado vendo meu amigo voltar a ficar próximo de mim, agora usando um colete a prova de balas. – A porta dos fundos. – Um estralo bateu em minha cabeça e eu estava pronto para correr até lá. – Escute, eu vou. O reforço está chegando, você está comandando essa investigação, não pode se colocar em risco. – Ele me estendeu a mão com um colete e assumiu a minha posição enquanto eu colocava a peça em meu corpo. – Vamos tentar não matar ninguém tudo bem? Já deu para entender que Ravenna é realmente inocente como você pensava.

Assenti sabendo que ele estava certo, não tinha como entrar na casa e ainda assim esperar que todos saíssem vivos. Meu maior medo era que Richard fizesse mal a Ravenna, do tipo, que a assediasse e a estuprasse e eu não queria nem pensar nesse tipo de coisa mesmo sendo uma possibilidade. Não conseguia entender como Rose conseguia compactuar com aquele tipo de atrocidade, ela o amava loucamente, ou pelo menos acreditava que o que sentia era amor, no mínimo ela não deveria deixar que ele olhasse para nenhuma outra mulher que não fosse ela. Isso porque Ravenna sabia que minha irmã era o pecado da inveja.

A porta voltou a abrir e dessa vez quem estava saindo de lá era Rose. Ela andava. Mesmo que fosse difícil por conta da prótese, ela estava andando de verdade. Eu realmente queria poder ficar feliz por minha irmã, mas tudo aconteceu de um jeito errado, eu só conseguia pensar que ela seria indiciada como cumplice, e eu não poderia a proteger porque a verdade é que ela havia se tornado uma criminosa também.

− Você deveria ir embora irmãozinho. – Ela tinha uma arma também, uma pistola pequena que eu não conseguia identificar por estar muito longe. – Desculpe, é detetive Green quando está trabalhando, não é? Eu não posso te chamar de irmãozinho porque as pessoas vão achar que você tem um conflito de interesses nesse caso. Se bem que... – Ela coçou a nuca dando risada. – Você tem. Ravenna é o conflito disso tudo, e quando Richard acabar com aquela vadia lá em cima, eu vou estourar os miolos da cabeça dela.

− Não! – Eu gritei dando um passo a frente e dessa vez Rose me apontou a arma. Eu nunca imaginei que minha irmã fosse capaz de apontar uma arma para mim. – Rose, ainda dá tempo de você mudar de lado ok? Eu sou seu irmão, sou seu amigo, vou te ajudar.

− Me ajudar? – Sua risada ecoou por toda a rua e eu me senti mal pela pessoa que Rose estava se transformando ali na minha frente. – Você teve anos para me ajudar, e sabe o que você fez? Você foi atrás da senhorita Tucker. Você se tornou amigo da mulher pela qual Richard me trocou. Porque ela tinha dinheiro. – Seu rosto vermelho de nervoso demonstrava até mesmo lágrimas de raiva. – Eu acabei em uma cadeira de rodas enquanto eles dois se deliciavam no corpo um do outro por causa do dinheiro, amor e dinheiro não deveriam se misturar, Elliot. Nunca.

Duane ainda estava afastado as pessoas para colocar os cones do outro lado da rua. Mas a minha surpresa foi maior quando eu o vi escalar a parte mais baixa do portão para entrar na casa. Eu precisava distrair Rose.

− Não foi por causa do dinheiro Rose, por favor não culpe Ravenna. Ela é tão vitima nisso do que você. Lembra quando liámos sobre os relacionamentos abusivos, e o que eles fazem com as pessoas? Aonde acha que você e ela se encaixam depois disso? Richard é o culpado, precisamos detê−lo antes que ele faça mal a ela, e a você de novo, por favor. Me deixei ser o irmão que eu não pude ser para você antes.

Óbvio que as palavras eram apenas para ganhar tempo, mas de alguma forma o rosto de minha irmã pareceu suavizar, e pelo menos as lágrimas raivosas que desciam por suas bochechas haviam cessado por alguns minutos. Ela parecia pensar nas coisas que eu dizia, mas eu não conseguia confiar que ia funcionar. Porque parecia que ela já tinha sofrido uma lavagem cerebral a favor de outra pessoa, e seria difícil reverter a situação.

Duane pulou uma das janelas e depois disso eu mesmo empunhei minha arma, o que fez com que Rose desse um pequeno sobressalto.

− Entre na casa, Rose. – Eu falei com firmeza, e ela também começou a apontar a arma diretamente para mim. – Minha pontaria é muito melhor que a sua. Não compita.

Trocávamos olhares ardentes sem saber exatamente quem cederia primeiro. Finalmente ela deixou que a arma caísse sobre a grama e eu atravessei os portões passando os olhos pela janela também, precisava confirmar que Richard não estava vendo nada, do contrário ele mesmo poderia atirar em mim, e eu sabia que a pontaria dele era bem melhor que a minha.

Fiquei cara a cara com minha irmã e sem dizer nada, ela entender que era para me levar até Ravenna. O que a fez soltar um riso de canto e se virar andando na frente. O cano da minha arma estava apontado para suas costas, e só Deus sabe de onde eu estava tirando forças para ficar assim. Eu apontava arma para as pessoas todos os dias no serviço, mas é muito diferente colocar uma arma nas costas da sua irmã, para que ela te leve até o verdadeiro criminoso. Eu tinha vontade de chorar, e perguntar porque ela tinha feito aquilo comigo.

No meu trabalho, quando não se consegue atingir a própria polícia, os criminosos começam a procurar a família dos policiais. Batalhei dia e noite para que Rose nunca fosse identificada como minha irmã, e sim uma amiga, deixei que as pessoas pensassem que eu estava sozinho no mundo. Agora fico me perguntando o que será que o resto da família vai pensar sobre um irmão apontar uma arma para o outro por causa de um sequestro.

Subimos os degraus da entrada enquanto eu prestava atenção em tudo, e finalmente quando a porta atrás de mim fechou eu joguei o corpo de Rose contra a parede passando uma algema por seus pulsos. Ela começou a chorar compulsivamente, mas eu não poderia dar uma só palavra com ela agora, porque agora não tínhamos um vinculo familiar, éramos apenas dois estranhos. Um policial e uma criminosa que precisava ser detida, e essa missão cabia a mim, e apenas a mim.

− Desculpe. – Sussurrei para minha irmã a colocando sentada no chão, próximo a porta.

Dei alguns passos até o centro do hall de entrada e logo avistei Richard com uma arma no topo da escada dando risada e falando:

− É por isso que falam, nunca deixe uma cadela fazer o serviço de um homem. 

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