Fourteen
Quando nos aproximamos da sala, Amélia pediu que Ravenna entrasse para que um dos assistentes retirassem a tornozeleira. Nesse meio tempo eu e minha superior fomos a sala de vídeo, onde me mostrarem a filmagem apenas do portão da casa, Ravenna chegava em casa as quatro da madrugada, mas a data de morte dos corpos são as duas e quarenta e cinco da manhã, o que a inocentava de alguma forma. Depois disso eu e a juíza ficamos do lado de fora da sala onde a dona do cabelo roxo estava, esperando que tudo terminasse e eu podia sentir meu coração batendo mais rápido em saber que a Tucker estaria com mais liberdade agora.
– Não vou conseguir segurar o caso por tempo demais, uma hora ou outra vão reconhece-la na rua, e mesmo que já tenha se passado seis meses, repórteres são filhos da puta, e você sabe disso.
– Vou tomar conta dela. – Não era exatamente o que eu queria dizer naquele momento, mas qualquer outra frase soaria estranha para o caso.
– Vocês parecem estar se entendendo. – Olhei Amélia que sorria maliciosamente pra mim e virei o rosto, ela não podia estar pensando no que eu acho que ela estava pensando não é mesmo? – Você vai ir ao brinde de natal?
Arregalei os olhos demonstrando que tinha me esquecido totalmente daquele detalhe, o brinde de natal era uma festa que acontecia entre os departamentos da cidade na noite do dia 23 e 24 de Dezembro, era como uma festa temática mas sobre o natal. Haviam comentários sobre esse ano ser um baile de máscaras com tema natalino, eu não era contra, gostava dessas coisas.
– Se Ravenna quiser ir, eu vou adorar ir também. – Respondi dando um sorriso para Amélia que entendeu o recado.
– Então faça o convite. – Um tapa foi depositado em minhas costas e Amélia voltou para dentro da sala.
Ela tinha entendido que eu tinha intenções diferentes com Ravenna. Mas a morena nunca iria me julgar por isso, sabia que eu seria incapaz de tentar algo mesmo que a outra estivesse morando comigo, minha mãe me ensinou muito bem como tratar uma mulher, e eu sabia que não era forçando alguma coisa que eu iria conseguir algo. Richard também tinha sido um exemplo e tanto ao que não seguir, as manchas que ele deixava por onde passava eram grandes demais para serem removidas, e eu tinha horror a isso.
Assim que Ravenna saiu da sala eu sorri para a mesma que tinha um semblante mais animado. Sem dúvida nenhuma a tornozeleira estava a incomodando profundamente, e agora ela parecia melhor.
– Bom, podemos ir agora? – Perguntei para Amélia que estava mais próximo da porta.
– Podem sim, vejo vocês no baile então?
A sobrancelha de Ravenna subiu em dúvida me olhando, e eu apenas sorri sem mostrar os dentes, sério, eu não precisava que a juíza me colocasse naquele mal lençol para que tivesse certeza de que eu iria com a moça do cabelo colorido.
– Quem sabe. – Fiz um aceno com a cabeça para os que ficaria para trás e coloquei a mão no ombro de Ravenna indicando o corredor.
Enquanto caminhávamos eu vi Ravenna abaixar a cabeça e sorrir, um sorriso sincero de quem tinha achado graça de alguma coisa, de verdade.
– Quer dizer que ela já sabe sobre você ter uma queda por mim? – Seu rosto se levantou encarando o meu e eu virei o meu na direção oposta sem querer demonstrar que sua pergunta tinha feito de alguma maneira meu rosto esquentar.
Alguém poderia me salvar desse assunto por favor?
– Green! – A voz aguda da minha irmã invadiu o corredor por onde passávamos e eu apenas agradeci por ela ter aparecido.
Apesar de não ser exatamente o lugar que ela frequentava. Me virei vendo ela deslizar com a cadeira até aonde estávamos, algumas pessoas olhavam mas não era como se Rose se importasse, ela aprendeu a ignorar olhares de pena que sempre a chatearam tanto.
– Soube que Ravenna iria tirar a tornozeleira, e vim ver vocês dois. – A mão dela alcançou a da moça ao meu lado, e meio sem jeito minha companheira de moradia se abaixou cumprimentando Rose com um beijo na bochecha.
Minha irmã era do tipo simpática ao extremo que tratava todos com muito amor. As vezes íamos em lojas e ela começava a puxar assunto com vendedores sobre coisas aleatórias. A troca de agente de campo para comunicações no FBI não foi tão ruim assim no final das contas.
– Eu pensei que estivesse trabalhando. – Comentei tentando saber se ela tinha realmente vindo até ali só para saber sobre Ravenna.
– Eu estou trabalhando. A operação "Os Pecados de Ravenna" é meu novo projeto. – Tucker me encarou com um sorriso e depois se voltou pra minha irmã ainda sorrindo. – Sou responsável pela discrição da operação. Nenhuma informação daqui vai vazar pra imprensa e deixar nossa mocinha desconfortável. E então, você gostou do nome?
Ao meu lado Ravenna só fazia caretas e sorria, mas parecia estar mais alegre.
– Sim, parece o nome de um filme cult, ou algum livro conceitual. – Era ótimo ver a moça se comunicar com mais liberdade.
– Eu também achei. – A felicidade estridente de Rose estava tomando conta do corredor. – Para manter a discrição, acho ótimo mudarmos um pouco seu cabelo. Um corte, e um roxo mais escuro. Você já se chama Ravenna, sabe, podia fazer um cosplay da Ravenna dos Titãs.
– Tudo bem, acho que a conversa já deu o que tinha que dar...
– Não! – Ravenna me interrompeu, rindo, com um brilho diferente nos olhos. – Eu quero ir.
Minha boca se abriu e fechou algumas vezes até que eu pudesse finalmente dar de ombros com um sorriso fraco. Concordei com cabeça e sussurrei um "tudo bem, não demore" antes de ver Rose puxando Ravenna pelo corredor e a levando para Deus sabe onde. Mas eu confiava em minha irmã para saber que a senhorita Tucker voltaria inteira, ou pelo menos com todos os membros já que o cabelo voltaria diferente.
– Bom, – olhei para trás quando ouvi a voz do Leuske – pelo menos agora podemos ir investigar a boate em paz. – Em sua mão tinha um mandado de vistoria. – Sabe, eles não podem deixar o lugar o dia todo abandonado, e só abrir a noite. Vamos até lá.
– Assim que almoçarmos. Acredite, preciso de algo bem reforçado. – Sorri para meu amigo.
O dia não estava indo de tudo ruim afinal de contas.
[...]
Depois do almoço, eu e Duane saímos em direção a boate que já havíamos estado antes. A informação que conseguimos antes, foi essencial para confirmamos que Richard estava na cidade, mas agora com o mandado nós conseguiríamos fazer com que o dono, ou qualquer pessoa que estivesse lá naquele horário, nos desse mais informações sobre o sócio da suíça que mais mantinha o local.
– Ravenna parecia diferente. – Duane comentou enquanto dirigia. – Diferente, para melhor, sabe?
– Você realmente pode dizer isso. – Talvez aquele fosse o melhor momento para perguntar. – Você não tem que mentir para mim Leuske. Você e Ravenna tiveram algo naquela noite?
– Não cara. – A menina tinha aparecido com um chupão e ele ainda tinha coragem de fingir que não fez nada? Éramos amigos, e eu não ia bater na cara dele. De novo. – Foi exatamente como te contei. Na verdade... Ravenna parecia estranha naquela noite. – Encarei meu amigo e esperei sua frase. – Se trancou no quarto como se escondesse alguma coisa. Não deixou nem que eu a cumprimentasse, mal me aproximei dela naquela noite. Estava com cara de culpada.
Cara de culpada é a cara que Ravenna faz sempre, aquilo não mudava o fato de que alguém aqui estava mentindo.
– Tudo bem, ela já tem aquela expressão de culpada psicopata todos os dias...
– Não, ela estava pior. – Duane raramente me interrompe para firmar uma coisa. – Parecia que eu poderia ter descoberto algo ali mas eu não fui.
Aquilo sim era algo para se preocupar. Mas agora eu sabia que ela confiaria mais em mim e descobriria o que aconteceu naquela noite, e na do assassinato também.
Depois de algum tempo nós estacionamos na frente da boate, alguns carros estavam no arredor e eu torci para que algum deles fosse do dono, e que ele estivesse na boate. Duane fez levantou o dedão para mim e depois entrou pela porta frente que estava aberta, sem dúvidas tinha alguém. Quando nos deparamos com a pista de dança e o balcão de bebidas eu percebi porque estava aberto. Era o dia de ensaio das dançarinas, que maravilhoso. Assim que perceberam nossa presença elas pararam de dançar e outros três homens que estavam sentados assistindo também se viraram na nossa direção.
– Eu posso ajudar senhores? É um ensaio particular. – Um mais esguio e alto falou conosco, sua voz era fina e o lenço em seu pescoço era cor de rosa. – Odeio quando alguém bisbilhota as coreografias das minhas meninas. Fico passado.
– Não tem problema nenhum, fique mais passado com isso aqui. – Duane lhe mostrou o mandado judicial para investigarmos o lugar. – O mandado não é para ver as meninas mas eu não ligo se de bom coração você organizar um show particular.
Dei um soco de leve em seu ombro o fazendo olhar para minha cara, reprovando suas palavras. Será que tinha como ele agir com seriedade?
– Eu não lido com essas coisas queridos. – Balançando a mão ele se virou e estralou os dedos.
Um homem mais bem mais velho e com um cigarro nos lábios se levantou. Ele era baixo e calvo, andou na nossa direção com dificuldade, parecia mancar de uma perna.
– Eu posso ajudá-lo cavalheiros?
– Creio que sim. – Tomei a direção da conversa já que Duane estava ocupado olhando as dançarinas dançando. – Estamos atrás de um dos seus maiores sócios, se não o único que ainda mantem o lugar de pé já que o negócio está indo tão mal. Estamos procurando informações sobre Richard Bonet.
– Eu não conheço nenhum Richard Bonet. – O senhor agiu totalmente na defensiva. Deveria se acalmar, ninguém o estava acusando de nada, ainda.
– Talvez algum representante do mesmo, sabe, o nome deve fazer o senhor se lembrar de um caso assombroso de meses passados. Seu sócio da suíça, o que mais dá dinheiro aqui. – Eu não queria ser forçado a citar a dançarina porque sabia exatamente o que acontecia com quem não fica de bico fechado naquele negócio. – O senhor pode contar, ou eu posso descobrir em seu escritório.
O senhorzinho deu de ombros como se estivesse procurando uma desculpa e eu desviei os olhos por um instante para os outros que ainda estavam sentados. Mas só o do lenço cor de rosa estava coordenando as meninas naquele momento, havia outro indo em direção a porta dos fundos, a passos lentos, Duane era um imprestável, estava ocupado em ver as meninas dançando.
Quando o fugitivo percebeu que eu o encarava ele sacou uma arma e atirou no lustre fazendo todas as meninas gritarem e Duane acordar. O lustre por sorte não caiu, mas eu empurrei o senhorzinho a minha frente e acompanhei o Leuske pelo mesmo caminho que o fugitivo tinha ido.
Pulando algumas cadeiras nós chegamos até a saída que ele tinha usado e vimos um extenso corredor, pode onde o homem ainda corria. Ele olhou para trás algumas vezes e atirou mas acertou a parede na maior parte das vezes.
– Errou o caminho da saída de emergência. – Duane apontou para o lado oposto que o fugitivo tinha corrido e eu assenti com a cabeça, aquele homem estava cercado.
Continuamos correndo até que chegamos ao corredor sem saída. O indivíduo que continuava fugindo se virou e disparou algumas vezes mas eu empurrei Duane para o corredor livre e ao acompanha-lo recebi um tiro de raspão no ombro. Não dá para sair ileso na maior parte das vezes em perseguições.
– Tudo bem? – Duane me perguntou assim que viu minha careta.
– Foi de raspão. Mas ele não tem mais balas. – Respondi respirando fundo e ignorando a dor que se instalava no meu braço.
Com apenas um aceno de cabeça o Leuske saiu na minha frente e foi pra cima do fugitivo. O homem ainda tentou atirar algumas vezes mas sem balas e vendo meu amigo se aproximando tão rápido ele começou a se desesperar, assim que um ficou mais próximo do outro, o homem que fugia jogou a arma de lado e ficou em posição de ataque, como se planejasse mesmo lugar com Duane, mas eu podia imaginar que meu amigo apenas sorriu, e logo depois deu um soco no suspeito que eu aposto que tinha doído.
– Precisava ser tão agressivo? – Perguntei verificando meu braço, não parecia ter sido algo muito grave.
– Ele me desafiou, não pude negar.
Olhamos o fugitivo no chão, e só então eu percebi quem era, com o chapéu era meio impossível antes, mas agora seu rosto estava exposto e eu reconhecia aquele cara. Era o advogado que Ravenna recusou no começo de seu julgamento.
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