Capítulo III: Diário

Tudo aconteceu tão rápido, era macabro saber que ele iria matar mais uma pessoa em prol a bruxa, poderia ser qualquer um, até eu mesma, sua propria filha.

A porta estava rangendo e passos poderiam ser ouvidos, era meu pai, ele estava entrando, rapidamente me deitei e fingi estar dormindo, de jeito nenhum ele poderia saber que eu estava acordada. Eu apenas fechei meus olhos, rezando para não ser morta ali mesmo.

A criatura a qual chamavam de bruxa e que poderia ser a responsável pela doença, não se alimentava apenas de animais, mas também de humanos sequestrados e mortos pelo meu pai e provavelmente por outras pessoas da vila.

O dia ainda estava clareando, era muito cedo, o fato de que pessoas estarem sendo mortas e servidas a bruxa não saía da minha cabeça, mesmo relutante, eu decidi que iria até o riacho para limpar o sangue seco sobre minhas pernas. Levantei e fui até a porta, meu pai estava dormindo na mesa, ele estava sobre um pequeno livro, um diário talvez? Um homem daquele não poderia ter algo assim.

Abri a porta devagar, eu não poderia deixar ele acordar agora. Lá fora estava frio, as nuvens nubladas tomavam conta do local, que parecia ainda mais deprimente. Adentrei a floresta e fui em direção ao riacho, as feridas não eram profundas mas ainda doíam e me marcavam.

Eu precisava de algo para usar como desculpa pra ter saído aquele horário, decidir pegar lenha, ele não desconfiaria.
A lenha fedia a cupim, talvez fisse a moradia de algum, que agora se juntaria ao fogo de uma fogueira. Segui em frente, eu estava com medo, a cena de ontem ainda se repetia várias e várias vezes.

Eu poderia sentir um cheiro estranho, era o mesmo de ontem, o cheiro podre, um calafrio insistente estava sobre mim novamente, me aproximei, e lá estava o amontoado de carcaças se animais e poderia existir até mesmo humanos. Meu estômago revirava mas estava completamente vazio e nada poderia sair de lá. Era ali que a coisa estava se alimentando e ela poderia aparecer a qualquer momento.

Eu corri novamente até chegar em casa, respirei fundo, tentei não demonstrar o meu nervosismo. Meu pai estava escrevendo algo no mesmo caderno de antes e quando notou minha presença rapidamente o guardou em uma gaveta velha, aquilo deveria ter algo importante.

- Lucie, onde estava?
- Eu fui pegar lenha para fogueira.
Eu estava com medo, mal conseguia olhar diretamente para ele.
- E eu pedi pra você? Não preciso da sua ajuda para uma simples coisa.
- Você não tem que ficar reclamando! Eu fiz um favor a você, pai.
- Não interessa, tenho que sair agora, vá para a floresta novamente e se arrependa depois.

Ele saiu, aquilo era uma ameaça? Ele não era assim, meu pai sempre foi ruim, mas tinha piorado.

Aquela era minha chance, eu poderia olhar aquele caderno agora. Estava em uma gaveta na cozinha, a gaveta estava coberta de poeira, o que me fez espirrar, rapidamente tirei o caderno e me sentei para ler o que estava em seu interior.

Rabiscos estavam escritos e riscados na primeira página, e na segunda, os fatos macabros estavam registados.

1:
O pequeno passarinho estava morto, eu o matei, o esforço tinha sido tão pequeno.

O quê? Como ele poderia? Meu pai estava registrando seus assassinatos.

2:
Jogado em uma vala na floresta, não sobrou nada, ninguém iria encontra-lo.

Meu pai, era um louco, talvez aquela saída de agora, ele tinha ido fazer mais vítimas? Eu não poderia ficar mais ali, eu não poderia fazer nada, se eu o fizesse, a situação iria contra mim, eu seria dada como uma bruxa, seria julgada e morta.

Eu tinha decidido, eu iria fugir daquele lugar, aquele homem não era mais o meu pai, ele era um monstro, assim como a bruxa.

Aquele vilarejo era doente, a loucura o tinha possuído, e eu não poderia fazer parte daquilo.

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