Capítulo 08
Naquela quinta-feira após retornar pra casa depois de ter deixado os gêmeos na escola, a primeira coisa que Grissom fez, foi arranjar outro lugar para aquele armário velho.
Não queria mais aquele móvel acessível aos filhos, pra não acontecer o que aconteceu ontem.
Com dificuldade, ele conseguiu arrastar aquele armário para um 'puxadinho' gradeado que havia no quintal, o qual ficavam guardados coisas velhas e sem serventia.
—Pronto! Aqui eles não vão vir. - Resmungou Grissom passando o cadeado e trancando a grade do lugar.
Seguiu pra dentro de casa e cuidou de fazer os serviços domésticos.
Anos morando sozinho antes de casar com Sara e ele podia dizer que era um bom "dono de casa". Sabia fazer muito bem tarefas domésticas. Arriscaria em dizer que era até um dono de casa melhor que sua própria esposa. Que ela não lhe ouvisse!
Mas a verdade é que ela era um pouco desastrada pra esses serviços e mais ainda, quando se tratava de cozinhar. Se bem que ela já havia melhorado consideravelmente nesse quesito desde que se casaram.
Ele arrumou as camas. Passou aspirador pela casa, cuidou de lavar a louça do café. E depois tratou de preparar o almoço. Tudo feito com a maior rapidez e eficiência possível. E sempre atento ao relógio pra não perder a hora de buscar os filhos.
*****
—Vamos ver se aprenderam mesmo. Mostrem pro papai a vogal A. - Grissom pediu segurando o livro aberto para os filhos.
Os dois apontaram corretamente a vogal correspondente.
—Muito bem! - Ele deu um beijo em cada um de seus pequenos acomodados em seu colo no sofá.
Estava repassando com eles mais uma vez o dever da escola.
—Agora quero a vogal O.
Mais uma vez eles apontaram a vogal correta. E quando o pai pediu pela vogal U, eles também acertaram. Mas erram quando ele pediu pelo E e os pequenos apontaram o I. Eles ainda estavam com certa dificuldade em assimilar qual era qual. Mas Grissom tratou de ensiná-los por mais umas repetidas vezes e logo eles já tinham aprendido.
—Agora os números.
Eles foram falando e apontando no livro os números de 1 à 5 corretamente pra orgulho do pai.
—Gostei de ver. Acertaram tudinho.
Eles sorriram do jeito que deixava o pai todo babão. Na verdade, qualquer coisa que aqueles dois faziam, deixava o pai todo babão. Ele era louco por aquelas coisinhas lindas, espertas e danadas.
—Acho que por hoje já deu de estudar.
Grissom comunicou fechando o livro dos filhos, o qual estava usando pra ensiná-los.
—Quero ver desenho!
—Papai vai deixar vocês vendo desenho aqui, quietinhos. E vai pra cozinha preparar um lanche pra gente, tá bem?
—Tá! - Os dois responderam juntos com um largo sorriso.
Ligando a TV no canal de desenhos, Grissom depositou o livro dos filhos sobre a mesinha de centro da sala e foi pra cozinha preparar um lanche pra eles. Pouco tempo depois já estava de volta com o lanche de seus bebês.
Eles comeram toda a sala de fruta que Grissom preparou.
O resto da tarde passou tranquilo e sem apuros para Gil. Quando foi a noite, Sara ligou pra falar com a família e Grissom podia sentir na voz da esposa o cansaço e certa tristeza. A mesma tristeza que viu nos filhos ao falarem com a mãe. Eles já estavam sentindo bem mais a saudade e ausência de Sara. Assim como o próprio ex-supervisor.
Ainda bem que agora faltava apenas um dia pra sua esposa voltar pra casa e pra eles.
*****
Na tarde de sexta, acomodado no sofá junto com os filhos vendo TV, Grissom deu uma olhada no relógio e notou que já era hora de preparar algo para seus filhotes comerem. Levantou do sofá e avisou aos dois pra ficarem quietinhos e continuarem a ver o filme, que ele ia preparar algo para eles lancharem. Os pequenos assentiram sem desviar os olhos da TV. Estavam mais do que vidrados no desenho sobre os seres que vivem no fundo do mar. Eles adoravam desenhos assim, que tinham peixes, tubarões, baleias e demais seres do fundo do mar.
Grissom já estava pra alcançar a porta que interligava a sala à cozinha, quando ouviu a campainha e estranhou. Não estava esperando ninguém aquele horário.
Foi até a porta e ao abri-la se deparou com sua amiga.
—Cath!
—Oi! - Ela lhe deu um abraço. _Vim fazer uma visita antes de ir trabalhar e trazer esses presentes aos meus afilhados.
A palavra "presente" fez os pequenos imediatamente tirarem os olhos da TV e pularem do sofá pra virem correndo em direção a madrinha. Cath se agachou pra receber o abraço daquelas fofuras que eram seus afilhados queridos. Ela era louca por eles. Mas também era difícil não se encantar e gostar daqueles dois.
—Como estão? Dando muito trabalho pra esse pai de vocês?
Os dois apenas sorriram sapecas e olharam pro pai parado perto da porta já fechada.
—Trouxe isso pra vocês.
Catherine entregou a cada um dos afilhados uma sacola colorida.
Eles pegaram aquilo com a maior alegria.
—Como é que se diz? - Grissom lembrou os filhos já que eles não agradeceram.
—Obrigado! - Noan e Liah disseram juntos e depois correram de volta para o sofá a fim de saber o que ganharam.
—E aí, como está? - Catherine se pôs de pé pra falar melhor com seu amigo.
—Bem.
—Falei com Sara mais cedo. - Ela havia ligado pra amiga a fim de saber como ela estava e pelo tom de voz de Sara, pode perceber que ela não parecia tão contente. De certo, era a saudade da família. E Cath comentou isso com Grissom. _Ela me parecia já cansada e doida pra voltar pra casa.
—Eu devo te confessar que já tô louco pra que minha mulher volte logo pra casa.
Catherine abriu o sorriso do bico que viu seu amigo fazer após suas palavras. Pra ele estar dizendo aquilo tão abertamente é que a saudade da esposa já devia estava doendo demais nele.
—Amanhã ela está em casa já. - Ela tocou carinhosamente o ombro do amigo.
—Olha papai que eu ganhei.
—E eu.
Noan e Liah se aproximaram pra mostrar seus presentes. O do garotinho era um boneco do Superman e o de Liah era uma boneca da Ariel.
—Mas que bonito, meus amores. A dinda merece um beijo, não?
Eles assentiram e Catherine se agachou mais uma vez pra receber um beijo dos afilhados em cada lado de seu rosto.
—Mas que beijos mais gostosos que eu ganhei. Acho que quero mais dois, será que vocês podem me dar outros beijos?
Eles sorriram e deram os beijos pedidos por Catherine. Depois correram de volta para o sofá a fim de continuaram vendo o filme com seus mais recentes brinquedos em mãos.
Grissom convidou a amiga pra vir com ele até a cozinha. Ele ia preparar um lanche aos filhos e também um café pra ela e ele tomarem.
Catherine assentiu e seguiu o amigo.
—E Lindsey? Como está se saindo na Universidade?
—Muito bem. Ela tá adorando. O único problema é a distância e principalmente, ter que lidar com a ausência da minha filha em casa e com a saudade que sinto dela.
A filha de Catherine cursava Artes Cênicas na Julliard School, em Nova York. A garota morava por lá com duas amigas com quem rachava o aluguel de um apê. Mas todo dia ligava pra mãe.
—Não deve ser fácil mesmo.
—Daqui há uns anos você estará no meu lugar e sentirá na pele duplamente o que eu tô sentindo agora.
Ele sorriu. Ainda bem que faltava muitos anos para isso acontecer com ele. E torcia pra seus filhos optarem pela Universidade local pra não ter que ficar longe deles.
Enquanto Grissom preparava um suco de fruta para seus pequenos, ele e Catherine iam conversando sobre o laboratório, o pessoal e alguns casos que a equipe pegou nos últimos dias.
—Se você ainda trabalhasse lá ia fazer a festa com esse caso.
Catherine comentou referindo-se à um caso de ontem, o qual envolvia um corpo encontrado em decomposição e repleto de insetos.
Grissom apenas sorriu. Teria sido um caso que certamente, ele não hesitaria em pegar pra si.
—Nick quem ficou com o caso.
—Sara me contou que ele tem se aprimorado cada vez mais pra resolver casos assim.
—Sim. Ele lê sobre insetos direto e pesquisa bastante sobre o assunto. Greg até brincou recentemente, dizendo que ele estava ficando igual a você com isso de insetos. Até o apelidou de "Grissom 2".
O ex-supervisor não se conteve e riu alto disso. Greg era impossível e ele sentia falta de suas constantes brincadeiras, assim como, sentia falta da convivência com os velhos amigos de trabalho e do local que durante anos ele trabalhou. Aquele lugar meio que virou seu lar durante anos e as pessoas por lá sua família.
Deixá-lo há dois anos pra seguir outros caminhos foi difícil, mas ele decidiu que era hora de sair do laboratório. Seus pupilos já podiam caminhar perfeitamente sem ele.
Sem contar, que aquela rotina maçante do laboratório estava lhe cansando demais. Além disso, havia seus filhos, ele queria estar mais presente na vida deles e passar mais tempo com eles. E por isso optou por sair. E com sua saída, Sara que anteriormente fazia parte do turno intermediário, foi deslocada de volta ao turno da noite para alegria dos velhos companheiros dela que sentiam sua falta.
—Greg sempre com esse espírito brincalhão.
—Sempre!
—Me passa o açúcar que está ali dentro daquela parte do armário, Catherine, por favor. - Ele pediu apontando à amiga o lugar correspondente. Ela foi lá e trouxe o que ele lhe pediu. _Obrigado!
Eles ainda conversaram mais sobre o laboratório e o pessoal. Depois Catherine ajudou Grissom a levar o lanche dos meninos até a sala.
—É pra comer o lanche todinho como sempre fazem. - Grissom instruiu entregando o copo com tampa e canudo a cada um dos filhos pra que eles não derramassem o suco no sofá e o sujassem. Depois apanhou das mãos de Catherine a tigela de plástico com os coockies de chocolate e a depositou entre os pequenos.
Sob o olhar da madrinha e o do pai, os dois pequenos comeram sem tirar os olhos da TV. Em questão de minutos já tinham terminado o lanche todo como o pai tinha pedido.
De volta pra cozinha junto com Catherine, Grissom tratou de passar um café pra ele e sua amiga.
—Sabe que eu te vejo com os meninos e ainda me surpreendo em como paizão, você é com eles. Não imaginava que seria tanto assim.
—Pra falar a verdade, nem eu imaginava que ia ser assim. Tinha medo de não ser um bom pra eles.
—Você é mais do que um bom pai, meu amigo. É um paizão! Eles são loucos por você.
—E eu por eles!
Sentados à mesa tomando café e comendo uns biscoitos, os dois amigos conversavam banalidades. Catherine revelou a seu amigo sobre sua recente descoberta sobre sua mãe, Lilly, está namorando um policial aposentado que ela conheceu num cruzeiro que fez no começo do mês.
—Ela está na maior empolgação com esse namorado. Precisa ver, Gil. Toda noite ela saí com ele.
—Está com ciúmes da Lilly, Cath?
—Não! Claro que não.
—Não é o...
Um barulho alto interrompeu a fala de Grissom.
Imediatamente ele pensou nos filhos. Tinha se distraído com a conversa com Cath que deixou seus pequenos sozinhos tempo demais. Eles devem ter aprontado.
Sem dizer nada, ele levantou da cadeira rapidamente e sua amiga o imitou. Ambos seguiram até a sala e nada dos gêmeos. Foi então que o choro alto de Noan chamou a atenção dos dois e Liah apareceu no topo das escadas.
—Papai o Noan caiu!
Grissom subiu correndo as escadas e Catherine o seguiu logo atrás segurando a mão de Liah ao chegar perto da menina.
Ao chegarem ao quarto Grissom entrou em desespero ao ver o filho chorando caído no chão, com a mão acima dos olhos e o sangue escapando por entre seus dedinhos.
—Santo Deus, Noan! - Apavorado pegou o filho do chão. O menino chorava muito assustado com a queda e o sangue que via. _O que foi que aconteceu Liah?
—Ele subiu na cadeira pra pegar o outro boneco dele e escorregou, batendo a cabeça aqui. - Ela apontou a quina do criado-mudo ao lado da cama.
—Gil, ele precisa ir para o hospital. Abriu o supercílio dele.
O corte era visível e sangrava bastante.
—Mamãe! Eu quero a mamãe! - Noan começou a gritar e chorar apavorado.
Mais apavorado que o menino estava Grissom vendo o desespero do filho e aquele sangue saindo de cima de seus olhos.
—Catherine, você pode me levar, eu...
Ela nem esperou por ele completar e já disse que sim. Ele vestiu uma camisa qualquer no filho, pois o menino estava só com um short. E apanhou uma pequena toalha de rosto, colocando-a sobre o machucado de Noan pra estancar o sangramento.
Eles foram no carro de Grissom por causa das cadeirinha. Liah foi na dela, mas Noan foi no colo do pai mesmo. Ele chorava demais e chamava o caminho todo por Sara.
Em questão de poucos minutos, Catherine já estacionava em frente ao hospital infantil. Com Noan nos braços e Liah com Catherine, Grissom chegou a recepção e informou o ocorrido com seu filho. Imediatamente, ele e o garotinho foram encaminhados para a emergência enquanto Catherine junto com Liah ficaram na sala de espera.
Segurando um Noan que não parava de chorar em seu colo, Grissom observava a enfermeira preparar tudo pra fazer o curativo no seu menino.
—Isso tá com cara de danação, né papai?
Ele apenas assentiu pra enfermeira experiente.
—Essa idade é danada mesmo.
Danada era pouco.
A enfermeira se virou pra ele e Noan, e instruiu Grissom a segurar o filho firme, pois lhe aplicaria uma anestesia pra então depois dar os pontos no ferimento.
Noan ao ver a mulher com uma seringa na mão, começou a espernear no colo do pai e a gritar mais ainda de medo.
—Não, papai... Não quero injeção... Por favor, não!
Ele pedia em desespero e chorando.
—Filho, calma. - Grissom pedia quase chorando junto com seu menino. Vê-lo naquela situação era a pior coisa do mundo. Estava rasgando seu peito. _Você precisa tomar essa injeção.
—NÃO! - Ele gritou esperneando no colo de Grissom. _Eu quero a mamãe. MAMÃE!... SOCORRO!
A enfermeira sorriu de leve da cena. Era corriqueiro aquele acontecimento pra ela.
—Eu vou chamar mais dois enfermeiros pra lhe auxiliar a segurar o seu menino. Porque pelo que vejo, ele não vai ficar quieto somente com o senhor o segurando.
Grissom assentiu e viu a mulher sair da sala da enfermaria.
—Noan, filho. Calma! - Ele passava a mão pelos cabelos de seu menino que não parava um instante de chorar e gritar.
Se ele continuasse a gritar assim amanhã acordaria com dor de garganta.
—Mamãe... Eu quero a mamãe! - Ele pedia soluçando. Seus olhinhos castanhos estavam cheios de lágrimas e o rosto vermelho de tanto se esforçar gritando.
—Noan a mamãe tá longe. Mas o papai tá aqui, filho.
—MAMÃE!
Aquilo parecia um filme de terror pra Grissom. Se soubesse fazer uma mágica para que sua esposa aparecesse ali naquele momento pra acalmar seu menino, ele faria uso disso com certeza.
—Amanhã, ela já tá aqui, meu campeão. - Ele embalava o menino pra acalmá-lo.
A experiente enfermeira voltou com dois outros jovens rapazes que eram também enfermeiros.
Assim que os viu, Noan entrou em pânico e recomeçou sua gritaria.
—Traga seu menino e coloquei-o deitado aqui na maca, papai. - Instruiu a enfermeira.
De maneira mais que obediente o ex-supervisor fez o que lhe foi pedido. Depois a mulher instruiu aos enfermeiros a segurarem cada um nos braços e pernas do menino. Ao lado de Noan, Grissom afagava os cabelos de seu menino e beijava sua testa tentando tranquilizá-lo. Mas ele não parava de chorar e tentar se mexer na maca.
—Segurem-no firme, rapazes. - A enfermeira pediu se aproximando de Noan com a seringa.
Mais em pânico Noan entrou. Tentava se mexer, mas estava muito bem seguro e imobilizado pelos enfermeiros.
O grito dele quando a injeção perfurou seu bracinho foi o som mais desesperador e agoniante que Grissom já ouviu. Ele fechou até os olhos pra não ver a cena daquela agulha furando Noan. Queria que seu pequeno não estivesse passando por isso. No fundo se sentiu o único culpado ali. Se não tivesse deixado seus filhos tanto tempo sozinhos, Noan não teria caído e se machucado assim.
Enquanto isso na sala de espera, Catherine tentava distrair Liah mostrando vídeo de desenho a menina em seu celular. Mas de repente, a foto de Sara tomou a tela do aparelho. Era uma ligação dela.
—É a mamãe!
—Sim. É a sua mãe. Deixa a dinda atender, tá bem? - A menina assentiu vendo Catherine lhe tirar das mãos o celular.
—Oi, Sara!
—Oi, Cath! Você ainda está na minha casa?... É que já liguei pro celular do Gil e ele não atende. E nem o telefone de casa também ele tá atendendo. Tô preocupada. Senti um aperto de repente no peito como se algo tivesse acontecido.
Coração de mãe não se engana. Ele sente quando acontece algo. Catherine bem sabia disso. Era mãe também como sua amiga. E esse pressentimento, ela também sentiu na vez que sua filha se machucou num acampamento de férias. E o coração de Sara estava dando o "alerta" dele a respeito sobre um dos filhos da amiga.
—Catherine está aí?
—Hãm... Oi... Sim... Eu tô aqui. - Sua amiga tinha que saber. E com certeza se fosse o contrário, ela, certamente, lhe contaria o que quer que tivesse acontecido com Lindsey . _Sara realmente aconteceu uma coisa.
—O que foi que houve?
—Primeiro quero que fique calma.
—Se você já tá me pedindo calma antes mesmo de me contar o que houve, é porque foi sério. O que foi que aconteceu?
Como sabia que Sara detestava rodeios, Catherine foi direta no assunto.
—Noan caiu e se machucou. Estamos no hospital agora.
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