Capítulo 06

No dia seguinte, uma quarta-feira, Grissom após apanhar os filhos na escola, resolveu levá-los pra almoçar no shopping. Seus pequenos adoravam comer num restaurante que havia lá, o qual tinha um aquário enorme numa das paredes do estabelecimento, com vários peixes coloridos nele.

Chegaram no lugar e deram a sorte de pegar a última mesa vazia que havia no estabelecimento.

—Papai quero ver os peixinhos coloridos!

—Eu também! - Noan completou logo em seguida à irmã.

O aquário ficava do outro lado de onde haviam sido acomodados e Grissom não achou uma boa ideia deixar os dois irem sozinhos até lá. O restaurante se encontrava cheio e facilmente eles poderiam se perder das vistas do pai.

Deus o livre se isso acontecesse!

Ficar com um filho momentaneamente desaparecido já foi um terror, com os dois ia ser um pânico gigantesco. Nem pensar! Seu coração não aguentaria tamanho susto assim. E, certamente, ele partiria dessa pra uma melhor ou pior!

—Depois o papai leva vocês pra verem os peixinhos, tá bem?

—Eu queria ver agora! - Choramingou Liah fazendo um bico emburrado.

—Liah, olha a tolice, filha. Prometo que depois de almoçarmos, levo vocês lá, tá bom?

Nada contente a garotinha e seu irmão concordaram com aquilo.

Um garçom chegou pra tomar nota dos pedidos. Grissom pediu o de sempre para seus pequenos: uma pequena porção de filé de frango empanado, acompanhado de arroz à grega e purê de batata. De sobremesa pediu pudim de leite pra eles. Pra si, o ex-supervisor pediu um salmão com arroz negro e molho de limão siciliano. A sobremesa foi a mesma que pediu para os filhos e que também era a sua preferida.

—Mamãe ia gostar de tá aqui. Liga pra ela, papai, pra dizer que a gente veio no restaurante dos peixinhos. - Pediu Noan.

Aquele horário sua esposa devia estar em aula no curso. Geralmente, ela ligava depois do meio dia que era quando havia uma pausa no curso pra eles almoçarem. E ainda faltava quinze minutos pro meio dia. Ou seja, ela ainda estava na aula.

—Noan a mamãe ainda deve estar ocupada agora e não pode atender o celular, filho. Daqui a pouco a gente liga ou ela vai ligar como sempre faz, e aí a gente conta onde estamos, ok?

O garotinho assentiu.

—Grissom??

Ele e seus filhos viraram o rosto ao chamado do nome do homem e encontraram uma mulher ruiva de pé atrás da cadeira de Grissom.

—Heather!!

—Oi!!

O ex-supervisor se levantou de sua cadeira pra cumprimentar a velha conhecida. Ela lhe abraçou e dois pares de olhos castanhos observavam atentamente aquela estranha com o pai deles.

—Quanto tempo?!

Heather comentou assim que desfizera o abraço dado nele e pondo-se a segurar em suas mãos.

Fazia mais de dois anos que eles não se viam. A última vez que isso aconteceu foi uma mera coincidência. Grissom estava no Parque Municipal passeando com Sara e os gêmeos que na época ainda eram bebês, quando encontrou Heather passeando com a neta no mesmo lugar. Ela os cumprimentou e durante uma troca rápida de conversa, Gil soube por Heather que ela não mais morava em Las Vegas e sim, em Paris. Ela só estava na cidade do pecado só de passagem pra ficar uns dias com a neta.

—Como está Heather?

—Bem. E você?

—Muito bem, obrigado.

Ela olhou para os dois pequenos à mesa.

—Esses dois são seus filhos que eu vi bebês com você e Sara daquela vez?

—Eles mesmo!

—Estão grandes e bonitos.

—Sim! - Ele afirmou todo orgulhoso dos dois pequenos. Ficava todo bobo quando elogiavam seus filhotes.

—Não têm seus olhos.

—Herdaram os olhos da Sara.

—Olá, pequenos.

Somente Noan respondeu. Já sua irmã Liah não falou nada. A garotinha apenas olhava pra Heather de maneira séria. Ela não havia gostado nada daquela estranha ter abraçado seu pai e segurado na mão dele do jeito que via sua mãe segurar.

Ao ver que sua pequena não respondia nada, Grissom chamou sua atenção:

—Filha, não vai responder ao cumprimento da amiga do papai?

—Oi!

Grissom arqueou uma das sobrancelhas ao tom nada amistoso que sua pequena tinha dito aquele cumprimento a Heather. Aquele jeito dela falar fez o ex-supervisor se recordar do modo como sua esposa costumava falar com Heather nas poucas vezes em que se esbarraram com a ruiva.

Parece que a antipatia gratuita que Sara tem de Heather passou pra Liah também!, Pensou Grissom.

—Acho que sua filha não gostou muito de mim. - Murmurou Heather ao ex-supervisor.

—Não é isso. - Ele tentou amenizar. Sabia que as palavras de Heather poderiam ter um grande fundo de verdade. Mas sua amiga não precisava saber disso. _Liah está assim porquê não a levei pra ver os peixes que tem ali no aquário. - Justificou mentirosamente o ex-supervisor. _Me desculpe pelo comportamento nada amigável dela.

—Tudo bem. E Sara?

—Viajando.

O gerente do restaurante se aproximou deles e avisou Heather de que só teria uma mesa livre pra ela daqui há quarenta minutos.

—Tudo isso?

—Infelizmente, sim. A senhora vai querer reservar a mesa?

—Puxa é muito tempo de espera. - Ponderou Heather.

Grissom sabia que sua esposa não ia gostar nada daquilo que faria, mas ele se entenderia com ela depois.

—Heather se quiser se acomodar aqui comigo e os meus filhos pra almoçar conosco. Será um prazer.

—Não vou incomodar?

—De maneira alguma.

—E nem te causar problemas com Sara?

Heather era ciente do 'mal-estar' que causava em Sara. Até porque, era difícil não perceber isso. E, de modo algum, queria causar problemas no casamento de Grissom. Longe disso! Gostava dele como um amigo. Lá atrás, até houve interesse de sua parte nele. E também um breve e rápido envolvimento aconteceu entre eles. Contudo, isso ficou muito lá atrás.

—De maneira alguma! - Ele repetiu suas palavras ditas anteriormente à ela.

Heather então avisou ao gerente que não precisava da reserva, pois ficaria ali. O homem assentiu e ela se acomodou na cadeira vazia que o gerente gentilmente lhe puxou.

Grissom sabia bem que estava se metendo numa tremenda enrascada com a esposa. Quando ela soubesse daquilo ali ia querer lhe estrangular, mas não ia ser indelicado e deixar Heather esperando por uma mesa ser liberada.

O garçom que atendia a mesa deles veio tomar nota do pedido de Heather e assim que fez isso, se retirou deixando os clientes.

—Como está a vida em Paris?

—Melhor impossível. Aquela cidade é  linda.

—Tenho ótimas lembranças do pouco tempo em que passei com Sara lá.

Eles tinham passado a lua de mel na cidade luz. Uma semana de muito amor e passeio por aquela cidade mágica e romântica.

—E pra onde Sara viajou?

—Boston. Foi fazer um pequeno curso de cinco dias por conta do laboratório. E sua neta?

—Está uma mocinha linda. Me lembra muito a Zoe.

—Papai tô com sede.

Ele sinalizou para o garçom e pediu uma garrafa de água sem gás pra sua garotinha. Em questão de poucos minutos o sujeito já trazia a água e Grissom servia um pouco no copo a sua filha.

—Quer água também, filho?

—Não. Quero comida!

O garotinho disse sorrindo e batendo de leve com suas mãos miúdas na mesa, arrancando um sorriso do pai e de Heather.

Noan era "bom de garfo", ao contrário, de Liah que era mais ruim pra comer.

—Já, já o almoço chega, campeão. - Ele passou a mão pelos cabelinhos claros e lisos de seu menino.

—Pelo que vejo, você é um excelente pai.

—Eu tento. Não é fácil, mas faço o que posso.

—Papai liga pra mamãe. Quero falar com ela.

Ele olhou pra Liah. Era uma péssima hora pra sua filha falar com a mãe sem que ele tivesse feito isso antes. Liah ia contar onde estavam e certamente, mencionaria a Sara sobre ter uma amiga do pai ali com eles. E quando ela soubesse sem ser por ele, quem era essa amiga, isso seria péssimo pra Grissom.

Ele próprio queria contar pra esposa aquilo, pois teria que usar todo um tato e jeito pra não fazer sua esposa querer sua cabeça em bandeja de prata. Algo difícil de não vir a acontecer.

—Filha a mamãe ainda deve estar ocupada.

—A mamãe conhece a sua amiga?

Ele viu o olhar sério de sua garotinha mirar certeiro em Heather. Era o mesmo olhar que ele via na esposa quando estavam na presença da velha conhecida do ex-supervisor.

—Liah a mamãe conhece sim a amiga do papai.

—Hum...

Ele esperou por vir mais alguma coisa depois desse "Hum". Sempre vinha! E veio. Todavia, não foi direcionado pra ele as palavras.

—Minha mãe tá viajando. Mas ela volta logo pra ficar com a gente.

Grissom arqueou uma das sobrancelhas com as palavras firmes da filha dirigidas a Heather. Por que sua garotinha estava dizendo aquilo?

—Aposto que você e seu irmão já devem estar com muitas saudades da mãe de vocês, não é? - Heather disse com simpatia.

—É! E o papai também tá com saudade da mamãe, não é papai?

Ela segurou na mão de Grissom e lhe olhou com olhinhos espremidos como quem diz: "Confirme ou estará em maus lençóis". E Grissom confirmou quase querendo rir daquilo, pois sua filha estava com ciúmes. Agora, ele começou a se dar conta daquilo.

—Sim, filha. O papai também está com saudades da mamãe.

—Se a mamãe tivesse aqui não ia gostar nada de ver que Ela segurou na sua mão. - A menina apontou pra Heather de maneira séria.

—Liah! Que isso? Apontar para as outras pessoas assim é feio. - Ralhou Grissom em tom brando. Por dentro ele já começou a ver sérios problemas ali. Se antes ele pensava em contar primeiro a Sara sobre aquele almoço, agora, depois dessas palavras de Liah, ele tinha convicção absoluta que tinha que fazer isso primeiro. Ou do contrário, Liah ia lhe derrubar pra Sara.

Sentada do outro lado da mesa, Heather apenas sorriu da garotinha que claramente estava com ciúmes do pai. Sem contar, que ela estava lhe dando um 'aviso' bem claro de que: "meu pai é da minha mãe!".

—Ela segurou na sua mão. Mamãe não gosta que façam isso. Ela disse isso uma vez.

A vez em questão tinha sido quando Sara e os filhos foram buscar o ex-supervisor no trabalho dele há dois meses. De longe o trio viu uma aluna parar Grissom. Não teria nada de mau na abordagem. A não ser quando a abusada da garota resolveu tocar no braço do seu professor e agarrar sua mão. Grissom prontamente reprovou aquilo feito pela aluna e veio a passos rápidos em direção da esposa. No carro à caminho de casa, ele ia tentando explicar a Sara aquela situação toda que lhe pegou totalmente desprevenido. No banco de trás do carro os gêmeos ouviam calados e quietos a pequena discussão dos pais. E foi quando Sara disse: "Não gosto de nenhuma mulher te tocando e muito menos, segurando na sua mão", a quê Liah se referia.

—Filha...

O celular dele tocou naquele instante impedindo Grissom de prosseguir na pequena chamada de atenção a qual ele pretendia dar na filha.

Pelo horário, Grissom deduziu que só podia ser sua esposa.

Ele já podia se ver encrencado ali.

—É a mamãe! - Noan disse com entusiasmo.

O olhar de Grissom foi de relance em direção a Heather enquanto ele apanhava o aparelho celular do bolso da calça.

Sua velha amiga apenas sorriu de Noan e bebericou um pouco do vinho em sua taça.

Grissom tinha duas opções ali: a primeira era atender a ligação que de fato era da esposa e tentar explicar muito por alto a situação ali. E a segunda era ignorar com pesar a chamada e deixar pra resolver aquele "pepino" em casa, livre de terceiros presente.

Ele pensou rápido e escolheu a segunda opção.

—Sinto muito, crianças. Não era a mamãe. - Contou mentirosamente silenciando o aparelho e devolvendo o mesmo ao bolso da calça. Ainda bem que sua esposa estava longe, ou do contrário, ela ia lhe matar por isso também.

—Ah! - Os dois pequenos sibilaram juntos.

O garçom chegou com os pedidos e Grissom se dividiu entre apreciar seu prato, ajudar os filhos a comerem sem se sujar e conversar com Heather.

Em meio a tudo isso o ex-supervisor não parava de pensar na esposa. De certo, ela deve ter ligado pra casa ao ver que ele não atendia o celular. E como lá também não atenderiam, deve estar preocupada agora. Sentiu remorso por isso. Mas ou era assim ou seus filhos e Heather presenciariam sua possível discussão com a esposa pelo telefone. E isso ele não queria que acontecesse.

Durante o almoço Grissom podia notar o olhar incisivo de Liah dirigido a Heather. Quase quis chamar sua atenção nisso, mas resolveu não fazê-lo. Sua filha realmente não gostou mesmo de Heather. Mas ele atribuiu isso ao ciúmes que ela devia estar sentindo. Algo inédito pra ele de presenciar em sua pequena com relação a ele.

Entre o fim do almoço e a espera pela vinda da sobremesa, Grissom consultou seu celular e pode constatar que havia nove ligações perdidas da esposa, três de Catherine e quatro SMS de Sara.

Resolveu ler os SMS. Abriu a caixa de mensagens. No primeiro SMS mandado há vinte minutos, ele leu o seguinte:

"Atende esse celular, GRISSOM!"

Segunda mensagem enviada dois minutos depois da primeira:

"Já liguei pra casa e não atendem. Onde você se meteu homem de Deus?!"

Terceira há quinze minutos:

"Tô ficando realmente preocupada.  ME LIGA!"

Quarta mensagem enviada há cinco minutos.

"O que está acontecendo, GILBERT GRISSOM?"

Pelo teor das mensagens, ele estava encrencado e ela desesperada.

Os dedos dele coçaram pra mandar uma resposta e tranquilizar sua esposa. Mas resistiu e não mandou.

Em casa!

—Algum problema, Grissom?

Ele olhou Heather ainda com o celular em mãos.

"Sim! Um problema bem gigantesco!"

—Não! - Mentiu e devolveu o celular ao bolso.

—A mamãe nem ligou.

"Ah, ela ligou, filho! Nove vezes. E aposto que além de está desesperada, ela deve estar querendo a minha cabeça por não 'dar sinal de vida' algum."

—A gente pode ligar pra ela agora, papai?

"Nem pensar!"

—Em casa ligamos pra mamãe, Liah!

A sobremesa chegou naquele instante pra não dar tempo de Grissom ouvir seus pequenos insistirem.

Salvo pelo gongo!

Antes mesmo de encerrar sua sobremesa, Heather recebeu uma ligação do ex-marido avisando-a de quê estava indo ao hotel em que ela estava hospedada pra deixar a neta deles com ela, pois houve um imprevisto e ele teria que viajar, e não tinha quem ficasse com a menina. 
Heather encerrou a chamada e contou a Grissom o que havia acontecido, e que precisava ir embora naquele instante. Ele assentiu pra ela e quando Heather fez menção de chamar o garçom pra certamente pedir sua conta, Grissom lhe disse que o almoço era por conta dele, já que foi ele quem a convidou pra se juntar aos seus filhos e ele naquele almoço. Ela agradeceu a gentileza e ia se despedir dele com um abraço, mas Liah agarrou o braço do pai impedindo o mesmo de se levantar da cadeira dele pra se despedir da velha conhecida dele.

Heather sorriu disso. Restou à ela então ficar apenas no aceno e um "até logo" ao ex-supervisor. Depois disse um "tchau" aos filhos de Grissom. Somente Noan respondeu. Depois disso, a ruiva partiu dali.

—Liah por que agarrou o braço do papai assim?

—Porque eu não queria que ela abraçasse o senhor de novo como ela fez antes.

—Filha, as pessoas se cumprimentam com um abraço.

—Mas a mamãe não ia gostar disso!

Pior que sua filha estava certíssima e talvez nem soubesse.

—Vamos pra casa?

—Os peixinhos papai! - Noan lembrou.

—Ok! Mas é rápido.

Ele falava enquanto acenava para o garçom trazer a conta.

Minutos depois de pagar a conta, levar os filhos pra ver os tais peixinhos coloridos do grande aquário, Grissom deixava o restaurante com os pequenos.

*****

Ele saiu sorrateiramente do quarto de seus pequenos após eles terem enfim pego no sono depois do banho. Assim que chegaram em casa, Grissom tratou de colocá-los pra tomar banho e depois pôr os gêmeos na cama pra dormirem a tarde.

Os dois ainda insistiram em querer falar com a mãe, mas Grissom conseguiu desviar a atenção deles e os gêmeos pegaram no sono.

Já em seu quarto o ex-supervisor tratou de ligar prontamente pra esposa. Ontem ela havia lhe dito que pela parte da tarde não teriam aulas pra ela. Então ele ligou.

Nem bem deu o primeiro toque e ela já atendia a chamada com uma voz furiosa.

—Eu espero que você tenha uma ótima desculpa pra estar dando sinal de vida só agora... GILBERT ARTHUR GRISSOM!

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