Capítulo 05
Naquela manhã Grissom quase não conseguiu se levantar pra levar seus pequenos pra escola. Suas costas estavam acabadas. Doíam que só. Mas ele com esforço e cuidado conseguiu levantar-se e levar seus filhos. Depois voltou pra casa a fim de pegar seus cachorros pra levá-los ao médico. Hank tinha uma consulta de rotina naquela manhã com seu médico, Dimitri, e o ex-supervisor aproveitou o embalo pra levar também o mais novo mascote da família pra ser atendido também pelo mesmo veterinário a fim de saber do especialista como estava a saúde do novo cachorrinho.
O relógio na parede da recepção marcava quase nove da manhã e sentado na sala de espera da clínica veterinária com um Hank quieto, deitado aos seus pés e um Flik que não queria parar sossegado um instante no colo de Grissom, o supervisor aguardava pra entrar para a consulta de seus pets.
Mais alguns poucos minutos à mais de espera e a secretária lhe indicava que era a vez de Grissom entrar.
Dimitri logo sorriu ao ver o outro mascote nos braços de Grissom e em tom de brincadeira comentou enquanto se cumprimentavam: "Aumentou a família, amigo?". Sorrindo o ex-supervisor confirmou alegando que foram as crianças as responsáveis por isso.
—Filhos! Fazemos tudo pra agradá-los, não é?
O bom médico abriu um sorriso. Ele assim como Grissom era outro que dificilmente negava algo ao filho de sete anos.
—E não é?!
Os dois homens riram. Haviam se tornado amigos por conta de suas esposas que eram velhas conhecidas. Angeline, a esposa de Dimitri, havia sido namorada do irmão de Sara quando eram adolescentes. As duas se deram bem logo que se conheceram na época. O namoro da jovem com Sean durou seis meses e acabou, porque Angeline e sua família se mudaram de São Francisco. Depois disso, as duas ex cunhadas perderam o contato. E há pouco mais de um ano acabaram se trombando no shopping e ao se reconhecerem, não se largaram mais.
—E Sara? Não veio dessa vez com você por quê?
Na mesma época em que Angeline e Sara se reencontraram, acabaram por descobrir que o marido da primeira era o mais novo médico do cachorro da família da segunda mulher, já que o antecessor de Dimitri havia sido transferido. E tanto o médico quanto Grissom acabaram por se tornarem amigos assim como suas mulheres e as famílias de ambos.
E quase sempre quando Grissom vinha trazer Hank para consulta Sara vinha junto e ao não ver a esposa do amigo vir com ele, o veterinário estranhou a ausência dela.
—Ela está viajando. - Grissom contou com desânimo. Sua esposa fazia falta e não tê-la em casa lhe deixava desanimado.
—Ixi! Ela também é?!
—O quê? Angeline também viajou?
—Sim! - Afirmou Dimitri com o mesmo desânimo do amigo e tocando a cabeça de Hank. _Ela foi com a superiora dela ao México visitar uma sucursal da empresa.
A esposa de Dimitri é assistente da vice presidente de uma importante multinacional.
—Já a Sara foi participar de um curso em Boston.
—Estamos sem nossas esposas.
—Pois é!
—Tenho que te confidenciar que não tá sendo fácil sem Angeline em casa. Estamos apenas Júnior e eu, e estou me vendo as voltas com o trabalho, cuidar do Júnior, pois a babá dele pegou uma virose horrível e ainda tenho que dá conta da casa. Tá puxado!
—Pra mim também. Mas pelo menos estou de licença no trabalho. Só me preocupo com a casa e os filhos, que no meu caso são dois, ao contrário de você, que tem só um.
—Mas o Juninho vale por dois, três, quiça até quatro, amigo.
Realmente, o garoto era um espoleta. Mais até que os gêmeos! E olha que o garoto era maior que os filhos de Grissom.
—Queria entender como as mulheres conseguem ter energia e fôlego suficiente pra darem conta de trabalharem fora, cuidar das crianças, da casa e da gente também. Já que precisamos dos cuidados delas.
Dimitri riu do amigo.
—Meu amigo, cheguei a conclusão de que as mulheres têm superpoderes. Elas são heroínas disfarçadas de mãe, mulher e esposa.
Grissom e o médico caíram na risada juntamente após essas palavras de Dimitri.
Em seguida, a esse papo o médico foi cuidar de ver como estava seu "menino obediente", como ele costuma se referir à Hank. Grissom achava graça de como o médico atendia Hank. Dimitri sempre conversava com o cão como se Hank fosse uma criança e não um animal. Era o jeito "Dr. Dolittle" de Dimitri que Grissom havia apelidado e o médico se divertia disso.
Após uma checada, Dimitri concluiu que Hank estava com uma saúde de ferro, como sempre. E pra agradar o paciente mais calmo que ele tinha, o médico deu um biscoito que Hank adorava.
À pedido de Grissom, Dimitri consultou também Flik. O diagnóstico do médico ao filhote foi de que ele estava anêmico e abaixo do peso para a idade dele. Segundo o médico, ele devia ter pouco mais de dois meses. Dimitri aplicou logo no animalzinho uma injeção com a dose certa do remédio pra verme. Depois de um pequeno escândalo feito pelo cãozinho e de o médico presenteá-lo com o mesmo biscoito que deu a Hank, Dimitri então receitou algumas vitaminas para Grissom dar ao pequeno filhote e marcou para o próximo mês o retornou pra saber como Flik estava. Depois disso, os dois homens se despediram e Grissom saiu do consultório do amigo.
*****
O ex-supervisor entrou em casa e levou os dois cães para o lugar deles. Trocou a água deles e quando estava fechando a porta da geladeira ouviu seu celular tocando alto na sala. Havia deixado o aparelho lá sobre a mesa da sala de estar junto com a sacola dos remédios de Flik.
Correu até a sala e ao apanhar o celular da mesa, o ex-supervisor viu o nome de sua amiga e compadre piscar na tela do aparelho.
—Oi, Catherine. - Saudou ao atender a chamada.
—Gil como vai?
—Bem, na medida do possível.
—Imagino. Os meninos não estão te dando trégua, né?
Trégua era a última coisa que aqueles dois lhe davam.
—Não! Ontem mesmo eles quase puseram a sala à baixo. - Contou Grissom apenas um dos apuros que já havia passado nesses dois dias sozinho com os filhos.
—Meu Deus, Gil! - Catherine gargalhou do outro lado da linha. Conhecia a fama dos afilhados e sabia o dobrado que seu amigo devia estar comendo com aqueles dois sem a mãe dos pequenos por perto. _Qualquer coisa eu tô aqui. Me liga se precisar de ajuda.
—Eu dou conta, Catherine. Não se preocupe.
—Mas você é orgulhoso mesmo, né?
Ele sorriu.
Os dois conversaram por longos minutos sobre as outras peraltices dos gêmeos. Catherine riu se divertindo em ouvir os pequenos apuros que seu amigo estava passando sozinho com os filhos. Homens, casa e filhos, não parecem ser uma combinação que dê muito certo sem uma mulher por perto. Eram raras as exceções quanto a isso!
Os compadres logo se despediram e nem bem Grissom depositou o aparelho sob a mesinha de centro e o mesmo tornou a tocar.
Era da escola dos gêmeos. Noan havia se metido em confusão. Brigou na escola pra total surpresa do pai.
*****
Sentado diante da diretora, Grissom e a mulher ouviam o relato da professora contar o que Noan havia feito. Ao saber o que seu menino fez o ex-supervisor por dentro ficou orgulhoso, mas sabia que a forma como Noan agiu não era a certa.
Segundo a professora, Noan empurrou e bateu num coleguinha de sala arrancando-lhe um pouco de sangue da boca. Tudo porquê o mesmo empurrou sua irmã Liah, que caiu sentada no chão e chorou. Tomando as dores da irmã, o pequeno foi pra cima do amiguinho "feito uma fera", segundo relatou Cinthia. E as palavras que Noan proferiu ao menino que empurrou sua irmã, as quais Cinthia repetiu pra Grissom e a diretora, fizeram mais ainda o ex-supervisor se encher de orgulho do filho apesar da atitude nada bonita do mesmo de bater em alguém.
Segundo Cinthia, Noan disse ao garoto que ele batia que: "Meu pai diz que a gente não bate em menina!"
Grissom sempre lhe ensinou isso desde que seu garoto começou a entender as coisas e pelo visto, ele assimilou isso muito bem.
—Eu entendo que ele agiu mal em bater no amiguinho, mas o outro menino também agiu mal.
—Com certeza. Mas não é com briga que se resolve as coisas, o senhor não concorda comigo?
Grissom pensou na esposa e com ela as coisas algumas vezes eram assim também, e com Noan parece que seria do mesmo modo. Seu filho havia puxado mesmo o temperamento da mãe completamente.
—Concordo. E qual vai ser a punição do meu filho? Espero que o outro garoto receba a mesma também.
—Como foi a primeira vez que isso aconteceu da parte do seu filho, não haverá punição à ele. Só peço que converse com seu menino pra que ele não repita o que fez. E quanto ao outro garoto, ele sim terá uma punição já que essa não é a primeira vez que ele faz isso.
—Ok! Eu vou conversar com Noan pra que o que aconteceu não se repita.
—Ótimo!
Ele se despediu da diretora e pediu desculpas pelo mal comportamento de Noan. Depois seguiu Cinthia pelos corredores da escola até a sala de aula pra buscar seus filhotes.
—Posso lhe confidenciar uma coisa, senhor Grissom?
—Claro, Cinthia.
—Fiquei espantada com a reação super protetora do Noan. Ele é um menino tão doce e de repente agiu feito uma fera quando viu a irmã sendo empurrada e chorar após cair sentada no chão.
Ele sorriu e lembrou da esposa.
—Ele tem o instinto super protetor e o jeito explosivo da mãe. Sara é assim também.
Cinthia apenas sorriu. Tinha sido a primeira vez que presenciou tal comportamento em um menino tão pequeno como seu aluno.
Eles chegaram a porta da sala de aula e pelo pequeno círculo de vidro que havia ali, Grissom viu enternecido seu menino sentado ao lado da irmã, com o braço sobre os ombros dela e cochichando algo com Liah que apenas assentiu pra ele.
Seu pequeno homenzinho cuidando da irmã!
—Ele não deixou mais nenhum menino chegar perto da Liah. - Cinthia murmurou pra Grissom.
—Posso ir lá sozinho com eles?
—Pode, claro!
Ele entrou e na mesma hora que os gêmeos os viram, correram até ele.
—Papai, Noan bateu num menino, porque ele me empurrou. - Liah contou tão logo desfez o abraço de seu pai.
—A professora me contou e depois a gente vai conversar sobre isso, rapazinho. - Ele disse de forma amável sem zanga.
—Vai brigar comigo? Eu só defendi a Liah como você diz pra eu fazer.
—Mas você machucou um coleguinha, filho.
—Ele empurrou a minha irmã. - Retrucou Noan cruzando os braços e fazendo um bico zangado que nem o que Sara fazia quando se zangava.
Quanto orgulho ele sentia de seu garoto por defender a irmã mesmo não tendo sido da maneira mais correta que ele tenha feito aquilo.
—Eu sei filho, mas o que você fez foi tão errado quanto o seu coleguinha. Não tinha que bater nele.
—E ele não tinha nada que empurrar a Liah! - Rebateu Noan sem titubear.
*****
Dentro do carro à caminho de casa, Grissom quis saber como tudo aconteceu na versão de seu filho. A professora contou o que viu, agora ele queria ouvir da boca do filho como as coisas aconteceram.
Noan lhe contou que estava brincando com Tim quando viu Roy tomar de sua irmã a maçã dela. Liah foi tomar de volta da mão do menino a fruta, mas Roy lhe deu um empurrão quando ela foi pra cima dele. Foi quando Noan viu a irmã cair e começar a chorar. No mesmo instante, ele foi até o menino e também o empurrou e ainda bateu com seu boneco em Roy acertando a boca do garoto, que chorou no mesmo instante, e mais ainda quando viu o sangue sair de sua boca.
Grissom ficou espantado com aquela reação destemperada do filho. Por mais que por dentro tenha ficado de certo modo orgulhoso por seu menino defender a irmã com esse afinco todo, ele tinha que chamar sua atenção. Aquela atitude de Noan não foi das mais louváveis, assim como, não foi a do outro menino.
—Filho... - Ele começou a falar e deu uma olhada pelo retrovisor no garoto acomodado em sua cadeirinha ao lado da de Liah. _...Eu sei que fez o que fez pra defender sua irmã, mas bater no seu coleguinha não foi certo. Você devia ter chamado a tia e dito o que ele fez pra ela chamar a atenção dele. Não devia ter batido nele.
—A tia disse isso também.
—Pois é. Me promete que não vai brigar mais na escola. Você podia ter se machucado sério ou pior, machucado o outro menino mais do que machucou.
—Se ele não empurrar mais a Liah, eu não empurro mais ele.
Mas que molequinho mais espevitado!
—Se ele fizer isso, você diz pra professora. Mas tenho certeza que ele não fará isso de novo. A diretora me disse que ele vai receber um castigo por isso. Então você também não vai fazer mais, não é, promete?
—Tá bom, prometo!
—Noan isso é sério. Não é pra brigar mais na escola e nem bater em nenhum coleguinha.
—Eu não vou brigar mais e nem bater em ninguém, papai.
Ele assentiu vendo o filho segurar na mão de irmã. Depois, Grissom ouviu seu pequeno murmurar pra irmã:
—Liah, você vai ficar longe do Roy pra ele não empurrar mais você, tá bem?
—Tá, Noan!
Grissom sorriu do 'pedido' de Noan à irmã. Aquele molequinho era o cão de guarda da irmã. Ai, de quem ousar se meter com Liah de novo como o tal Roy se meteu!
*****
—Não acredito que ele fez isso!
Pelo telefone Sara estava embasbacada com a atitude do filho.
—Fez! Segundo Cinthia, ele agiu feito uma fera quando viu o outro menino empurrar Liah e ela começar a chorar após cair sentada no chão.
Grissom contou. Aproveitando que os filhos estavam no cochilo da tarde deles. O homem ligou pra esposa já que a mesma não ligou no horário do almoço, e lhe disse o que houve na escola.
—Mas o que está havendo com esses dois, Gil? Bastou eu me ausentar de casa pra eles resolverem se rebelar desse jeito na escola.
Grissom sorriu do modo engraçado como a esposa falou.
—E que menino foi esse que empurrou a Liah, Gil?
—Segundo o Noan foi um tal de Roy.
—Roy... Roy... Ah, mas eu sei quem é esse garoto. Ele é um pequeno 'monstrinho' mesmo. Se foi ele então teve o que mereceu.
—Sara!!
Grissom ficou chocado com as palavras da esposa. Achou que ela ia desaprovar terminantemente o que Noan fez, mas ao invés disso, ela aprovava a atitude destemperada do filho. E ainda dizia, que o outro menino mereceu aquilo que teve.
—O quê? Não é a primeira vez que esse menino faz isso, Gil. Semana passada ele empurrou a filha da Susi. A menina se machucou. Mas agora ele sentiu na pele o que as meninas sentem, quando ele as empurra.
—Não me diga que está aprovando e achando certo o que Noan fez?
—Claro que não é, óbvio. Violência nunca é a melhor solução pra se resolver as coisas.
—Você dizendo isso soa até estranho pra mim, sabia?
—Não vi graça nenhuma nessas suas palavras, tá?
Ele sorriu.
—Mas eu vi. - Ele rebateu ainda sorrindo.
—E quanto a esse garoto que Noan bateu.... Ele mereceu pelo que fez. Sentiu na pele o que é ser empurrado. E o Noan merece muitos beijos por defender a irmã desse jeito. Mas claro que eu não vou dizer à ele isso, pois não é certo. Vou chamar sua atenção como é o correto a se fazer.
—Eu sinceramente às vezes não te entendo, querida!
Quando foi à noite, mais uma vez lá estava Sara dando um pequeno puxão de orelha no filho pelo o que ele fez na escola, como disse que faria ao marido.
O pequeno assim como prometeu ao pai que não brigaria mais e nem bateria em ninguém, prometeu à mãe o mesmo. Mas se ele herdara mesmo o gênio e o temperamento dela como cada vez mais se mostrava, Sara sabia que aquela promessa logo seria quebrada.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top