Capítulo 6

No dia seguinte, uma quarta-feira, Sarah após apanhar os filhos na escola, resolve levá-los para almoçar no shopping. Seus pequenos adoram comer em um restaurante que há lá, o qual tem um aquário enorme em uma das paredes do estabelecimento, com vários peixes coloridos nele.

Chegam ao lugar e dão a sorte de pegar a última mesa vazia que há no estabelecimento.

— Mamãe quero ver os peixinhos coloridos!

— Eu também! - Noan completa logo em seguida à irmã.

O aquário fica do outro lado de onde haviam sido acomodado e Sarah não acha uma boa ideia deixar os dois irem sozinhos até lá. O restaurante se encontra cheio e facilmente eles poderão se perder das vistas da mãe.

Deus o livre isso acontecer!

Ficar com um filho momentaneamente desaparecido já foi um terror, com os dois ia ser um pânico gigantesco. Nem pensar! Seu coração não aguentaria tamanho susto assim. E, certamente, ela partiria dessa para uma melhor ou pior mesmo!

— Depois a mamãe leva vocês pra verem os peixinhos, tá bem?

— Eu queria ver agora! - Choraminga Liah fazendo um bico emburrado.

— Liah, olha a tolice, filha. Prometo que depois de almoçarmos, levo vocês lá, tá bom?

Nada contente a garotinha e seu irmão concordam com aquilo.

Um garçom chega para tomar nota dos pedidos. Sarah pede o de sempre para seus pequenos: uma pequena porção de filé de frango empanado, acompanhado de arroz à grega e purê de batata. De sobremesa, pudim de leite. Para si, a loira pede um salmão com arroz negro e molho de limão siciliano. A sobremesa é a mesma que pede para os filhos e que também é a sua preferida.

— Mamãe Ju ia gostar de tá aqui. Liga pra ela, mamãe Sar, pra dizer que a gente veio no restaurante dos peixinhos. - Pede Noan.

Aquele horário sua esposa deve estar em aula. Geralmente, ela liga depois do meio dia que é quando há uma pausa no curso para eles almoçarem. E ainda falta quinze minutos para o meio dia. Ou seja, ela ainda está em aula.

— Noan a mamãe Ju ainda está ocupada agora e não pode atender o celular, filho. Daqui a pouco a gente liga ou ela vai ligar como sempre faz, e aí vocês contam onde estamos, ok?

O garotinho assente.

— Sarah??

A loira e os filhos viram o rosto ao chamado do nome da ex-perita e encontram uma mulher loira de pé atrás da cadeira de Sarah.

— Carla Jorge!!

— Oi!!

Sarah se levanta de sua cadeira para cumprimentar a velha conhecida. A outra lhe abraça e dois pares de olhos castanhos observam atentamente aquela estranha com a mãe deles.

— Quanto tempo?!

Carla comenta assim que desfaz o abraço dado em Sarah e põe-se a segurar em suas mãos.

Faz mais de dois anos que elas não se veem. A última vez que isso aconteceu foi uma mera coincidência. Sarah estava passeando pela orla da praia com Juliette e os gêmeos que na época ainda eram bebês, quando encontrou Carla passeando com a sobrinha no mesmo lugar. Ela as cumprimentou e durante uma troca rápida de conversa, Sarah soube por Carla que ela não mais morava no Rido de Janeiro e sim, em Paris, e só estava na cidade maravilhosa de passagem para ficar uns dias com a sobrinha.

— Como está Carla?

— Bem. E você?

— Muito bem, obrigada.

Ela olha para os dois pequenos à mesa.

— Esses dois são seus filhos que eu vi bebês com você e Juliette daquela vez?

— Eles mesmo!

— Estão grandes e bonitos.

— Sim! - afirma toda orgulhosa dos dois pequenos. A loira sempre fica toda boba quando elogiam seus filhotes.

— Eles não têm muito dos seus traços.

— É que vieram a cópia da minha esposa.

— Olá, pequenos.

Somente Noan responde. Já sua irmã Liah não fala nada. A garotinha apenas olha para Carla de maneira séria. Ela não gostou nada daquela estranha ter abraçado sua mamãe e, pior ainda, de ter segurado na mão dela do jeito que via somente sua mamãe Ju segurar.

Ao ver que sua pequena não respondia nada, Sarah chama sua atenção:

— Filha, não vai responder ao cumprimento da amiga da mamãe?

— Oi!

Sarah arquea uma das sobrancelhas ao tom seco e nada amistoso com o qual sua pequena havia cumprimentado Carla. Aquele jeito dela falar faz a loira logo se recordar do modo como sua esposa costuma falar com Carla nas poucas vezes em que se esbarraram com a outra mulher.

Parece que a antipatia que Juliette tem de Carla passou para Liah também!, Pensa Sarah.

— Acho que sua filha não gostou muito de mim. - Murmura Carla à Sarah.

— Não é isso. - tenta amenizar. Sabe que as palavras de Carla podem ter um grande fundo de verdade. Mas sua amiga não precisa saber disso. - Liah está assim porquê não a levei para ver os peixes que tem ali no aquário. - Justifica mentirosamente a loira. - Me desculpe pelo comportamento nada amigável dela.

— Tudo bem. E Juliette?

— Viajando.

O gerente do restaurante se aproxima delas e avisa Carla de que só terá uma mesa livre para ela daqui há quarenta minutos.

— Tudo isso?

— Infelizmente, sim. A senhora vai querer reservar a mesa?

— Puxa é muito tempo de espera. - Pondera Carla.

Sarah sabe que sua esposa não irá gostar nada daquilo que está prestes a fazer, mas ela se entenderá com a advogada depois.

— Carla se quiser se acomodar aqui comigo e os meus filhos para almoçar conosco. Será bem vinda.

— Não irei incomodar?

— De maneira alguma.

— E nem te causar problemas com a Juliette?

Carla é  bem ciente do 'mal-estar' que causa em Juliette. Até porque, é difícil não perceber isso. E, de modo algum, quer causar problemas no casamento de Sarah. Longe disso! Gosta da loira como uma amiga. Lá atrás, até houve interesse de sua parte nela. E também um breve e rápido envolvimento aconteceu entre elas duas. Contudo, isso ficou muito lá atrás.

— De maneira alguma! - Sarah repete suas palavras.

Carla então avisa ao gerente que não precisa da reserva, pois ficará ali. O homem assente e ela se acomoda na cadeira vazia que o homem gentilmente lhe puxa.

Sarah sabe que acaba de se meter em uma tremenda enrascada com a esposa, porque quando Juliette souber daquilo ali vai querer lhe estrangular, mas não seria indelicada a ponto de deixar Carla esperando por uma mesa ser liberada.

O garçom que atendeu a mesa de Sarah vem tomar nota do pedido de Carla e assim que faz isso, se retira deixando as clientes.

— Como está a vida em Paris?

— Melhor impossível. Aquela cidade é  linda.

— Tenho ótimas lembranças do pouco tempo em que passei com a Ju lá.

Elas tinham passado a lua de mel na cidade luz. Uma semana de muito amor e passeio por aquela cidade mágica e romântica.

— E pra onde a Juliette viajou?

— Recife. Foi fazer um pequeno curso de cinco dias por conta do escritório em que trabalha. E sua sobrinha como está?

— Uma mocinha linda. Me lembra muito a minha irmã.

A irmã de Carla faleceu no parto e com sua morte a guarda passou a ser compartilhada de forma amigável entre o pai da criança e os avós maternos da bebê.

— Mamãe tô com sede.

Ela sinaliza para o garçom e pede uma garrafa de água sem gás para sua garotinha. Em questão de poucos minutos o sujeito já traz a água e Sarah serve um pouco no copo a sua filha.

— Quer água também, filho?

— Não. Quero comida!

O garotinho diz sorrindo e batendo de leve com suas mãos miúdas na mesa, arrancando um sorriso de Sarah e outro de Carla.

Noan é "bom de garfo", ao contrário, de Liah que é mais ruim para comer.

— Já, já o almoço chega, pitico. - Ela passa a mão pelos cabelinhos escuros e lisos de seu menino.

— Pelo que vejo, você é uma excelente mãe.

— Eu tento. Não é fácil, mas faço o que posso.

— Mamãe Sar liga pra mamãe Ju. Quero falar com ela.

Ela olha para Liah. É uma péssima hora para sua filha falar com a outra mãe sem que Sarah tenha feito isso antes e preparado o terreno com Juliette. Liah ia contar onde estavam e certamente, mencionaria sobre ter uma amiga de Sarah ali com eles. E quando Juliette souber sem ser pela esposa, quem é essa amiga, isso dará muito ruim para o lado da loira.

Ela própria quer contar para a esposa aquilo, pois terá que usar todo um tato e jeito para não fazer a esposa querer sua cabeça em bandeja de prata. Algo difícil de não vir a acontecer.

— Filha a mamãe Ju ainda deve estar ocupada.

— A mamãe conhece a sua amiga?

Sarah vê o olhar sério de sua garotinha mirar certeiro em Carla. É o mesmo olhar ciumento que a loira vê na esposa quando estavam na presença da velha conhecida da ex-perita.

— Liah a mamãe Ju conhece sim a amiga da mamãe Sar.

— Hum...

A loira espera por vir mais alguma coisa depois desse "Hum". Sempre vinha! E veio. Todavia, não foi direcionado para ela as palavras.

— Minha mãe Ju tá viajando. Mas ela volta logo pra ficar com a gente.

Sarah arqueia uma das sobrancelhas com as palavras firmes da filha dirigidas à Carla.

Por que sua garotinha está dizendo aquilo?

— Aposto que você e seu irmão já devem estar com muitas saudades da outra mãe de vocês, não é? - Carla diz com simpatia.

— É! E a mamãe Sar também tá com saudade da mamãe Ju, não é mamãe?

Liah segura na mão de Sarah e lhe encara com os olhinhos espremidos como quem diz: "Confirme ou estará em maus lençóis". E Sarah confirma quase querendo rir daquilo, pois sua filha está com ciúmes. Agora, ela tem absoluta certeza disso.

— Sim, filha. A mamãe Sar também está com saudades da mamãe Ju.

— Se a mamãe tivesse aqui não ia gostar nada de ver que Ela segurou na sua mão. - A menina aponta para Carla de maneira séria.

— Liah! Que isso? Apontar para as outras pessoas assim é feio. - Ralha Sarah em tom brando. Por dentro ela já começa a ver sérios problemas ali. Se antes ela pensa em contar primeiro a Juliette sobre aquele almoço, agora, depois dessas palavras de Liah, tem convicção absoluta que DEVE fazer isso primeiro. Ou do contrário, Liah irá lhe derrubar para Juliette na primeira oportunidade que tiver.

Sentada do outro lado da mesa, Carla apenas sorri da garotinha que claramente está com ciúmes da mãe. Sem contar, que a pequena está lhe dando um 'aviso' bem claro de que: "minha mamãe Sar é da mamãe Ju!".

— Ela segurou na sua mão. Mamãe Ju não gosta que façam isso. Ela disse isso uma vez.

A vez em questão tinha sido quando Juliette e os filhos foram buscar a loira no trabalho dela há dois meses. De longe o trio viu uma aluna parar Sarah. Não teria nada de mau na abordagem. A não ser quando a abusada da garota resolveu tocar no braço da professora e agarrar sua mão. Sarah prontamente reprovou aquilo feito pela aluna e veio a passos rápidos em direção da esposa. No carro à caminho de casa, ela ia tentando explicar a Juliette aquela situação toda que lhe pegou totalmente desprevenida. No banco de trás do carro os gêmeos ouviam calados e quietos a pequena discussão das mães. E foi quando Juliette disse: "Não gosto de nenhuma mulher te tocando e muito menos, segurando na sua mão", a quê Liah se referia.

— Filha...

O celular de Sarah toca naquele instante impedindo a loira de prosseguir na pequena chamada de atenção a qual ela pretendia dar na filha.

Pelo horário, a professora deduz que só podia ser sua esposa.

Sarah já pode se ver encrencada ali.

— É a mamãe! - Noan diz com entusiasmo.

O olhar de Sarah vai de relance em direção a Carla enquanto apanha o aparelho celular da bolsa pendura no encosto de sua cadeira.

Sua velha amiga apenas sorri de Noan e beberica um pouco do vinho em sua taça.

Sarah tem duas opções ali: a primeira é atender a ligação que de fato é da esposa e tentar explicar muito por alto a situação ali. E a segunda é ignorar com pesar a chamada e deixar para resolver aquele "pepino" em casa, livre de terceiros presente.

Ela não precisa pensar muito para optar pela segunda alternativa.

— Sinto muito, crianças. Não é ligação da mamãe. - Conta mentirosamente silenciando o aparelho e devolvendo o mesmo para dentro da bolsa. Ainda bem que Juliette está longe, BEM longe. Ou do contrário, ela ia lhe matar por isso também.

— Ah! - Os dois pequenos sibilam juntos.

O garçom chega com os pedidos e Sarah se divide entre apreciar seu prato, auxiliar vez ou outra os filhos a comerem sem se sujar, e conversar com Carla.

Em meio a tudo isso a loira não para de pensar na esposa. De certo, Juliette deve ter ligado para casa ao ver que suas ligações não estão sendo atendidas por Sarah. E como lá também não atenderam, deve estar preocupada agora.

Sarah sente remorso por isso. Mas ou é assim ou seus filhos e Carla irão presenciar sua possível discussão com a esposa pelo telefone. E isso ela não quer que aconteça.

Durante o almoço, Sarah pode notar o olhar incisivo de Liah dirigido a Carla. Quase quis chamar sua atenção nisso, mas resolveu não fazê-lo. Sua filha realmente não gostou mesmo de Carla. Mas ela atribuiu isso ao ciúmes que a pequena deve estar sentindo. Algo inédito para Sarah de presenciar tão escancarado assim em sua pequena.

Entre o fim do almoço e a espera pela vinda da sobremesa, Sarah consultou seu celular e pode constatar que havia nove ligações perdidas da esposa, três de Thaís e quatro mensagens de Juliette pelo aplicativo de mensagem instantânea.

Resolveu ler as mensagens pela barra de notificação. A primeira mandada, dizia:

"Atende esse celular, SARAH!"

Segunda mensagem:

"Já liguei pra casa e não atendem. Onde você se meteu mulher de Deus?!"

Terceira:

"Tô ficando realmente preocupada.  ME LIGA!"

Quarta:

"O que está acontecendo, SARAH CAROLLINE?"

Pelo teor das mensagens, a loira está encrencada e a esposa desesperada.

Os dedos de Sarah coçam para mandar uma resposta e tranquilizar a esposa. Mas resiste e não manda nada.

Em casa!

— Algum problema, Sarah?

Ela olha para Carla ainda com o celular em mãos.

"Sim! Um problema bem gigantesco!"

— Não! - Mente e devolve o celular à bolsa.

— A mamãe Ju nem ligou.

"Ah, ela ligou, filho! Nove vezes. E aposto que além de estar desesperada, ela está querendo a minha cabeça por não 'dar sinal de vida' algum."

— A gente pode ligar pra ela agora, mamãe Sar?

"Nem pensar!"

— Em casa ligamos pra mamãe Ju, Liah!

A sobremesa chega naquele instante para não dar tempo de Sarah ouvir seus pequenos insistirem.

Salva pelo gongo!

Antes mesmo de encerrar sua sobremesa, Carla recebe uma ligação do ex-cunhado avisando-a de quê está indo ao hotel em que ela está hospedada para deixar a filha com ela antes do esperado, pois houve um imprevisto e ele terá que viajar.

Ao encerrar a chamada Carla conta a Sarah o que havia acontecido, e que precisa ir embora naquele instante. A loira assente e quando Carla faz menção de chamar o garçom para certamente pedir sua conta, Sarah lhe diz que o almoço é por conta dela, já que foi ela quem convidou a outra para se juntar aos filhos e ela naquele almoço. Carla agradece a gentileza e vai para se despedir da amiga com um abraço, mas Liah agarra o braço da mãe impedindo a mesma de se levantar da cadeira para se despedir da velha conhecida.

Carla apenas sorri disso. Resta à ela então ficar apenas no aceno e um "até logo" para Sarah. Depois diz um "tchau" aos filhos da amiga. Somente Noan responde. Em seguida, a mulher parte dali.

— Liah por que agarrou o braço da mamãe assim?

— Porque eu não queria que ela abraçasse a senhora de novo como fez antes.

— Filha, as pessoas se cumprimentam com um abraço.

— Mas a mamãe Ju não ia gostar disso!

Pior que sua filha está certíssima e talvez nem soubesse.

— Vamos pra casa?

— Os peixinhos, mamãe ! - Noan lembra.

— Ok! Mas é rápido.

Ela fala enquanto acena para o garçom trazer a conta.

Minutos depois de pagar e levar os filhos para verem os tais peixinhos coloridos do grande aquário, Sarah deixa o restaurante com os pequenos.

*****

Ela sai sorrateiramente do quarto de seus pequenos após eles terem enfim pego no sono depois do banho. Assim que chegaram em casa, Sarah tratou de colocá-los para tomar banho e depois pôs os gêmeos na cama para tirarem seu soninho da tarde.

Os dois ainda insistiram em querer falar com a outra mãe, mas Sarah conseguiu desviar a atenção deles e os gêmeos pegaram no sono.

Já em seu quarto a loira tratou de ligar prontamente para a esposa. Ontem ela havia lhe dito que pela parte da tarde não teriam aulas para ela. Então ligou.

Nem bem deu o primeiro toque e Juliette já atendia a chamada com uma voz furiosa.

— Eu espero, sinceramente, que tu tenha uma ótima desculpa pra estar dando sinal de vida só agora... SARAH CAROLLINE VIEIRA DE ANDRADE FREIRE!

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