Capítulo 3
Sarah aproveita àquela manhã em que os filhos estão na escola para fazer o resto das compras que não fez ontem por conta do sumiço de Noan. Havia pedido algumas coisas por telefone na tarde anterior, mas ainda faltavam mais outras.
A loira aproveita para comprar tudo o que é preciso e um pouco além, pois em hipótese alguma pretende pisar no supermercado sozinha com os filhos de novo. Se vier àquele lugar com eles será quando Juliette estiver junto como sempre, para evitar o susto de ontem.
Por volta das nove, ela já está em casa e começa a guardar as compras no devido lugar. Assim que termina, põe-se a arrumar algumas coisas e da casa, para em seguida preparar o almoço, sempre de olho no relógio preso ali na parede da cozinha, para não perder a hora de buscar os filhos na escola. Os pequenos saem as onze e quinze.
Quando o relógio soa às onze, Sarah desliga o fogo do almoço mesmo a comida ainda não estando pronta completamente e vai se trocar de roupa para buscar os filhos. Quando retornar termina o que falta.
****
Com seus óculos escuros, uma regata branca, calça jeans e uma rasteirinha nos pés, Sarah se encontra parada em frente ao portão da escola junto com muitas mães e alguns poucos pais que, a loira pode perceber de canto de olho que lhe fitavam, ela aguarda a vinda dos filhos. A professora já tinha sido informada pelo porteiro de sua presença ali e traria os meninos para serem entregues a mãe.
Cerca de dois minutos de espera e Sarah vê seus filhos virem suados e com os uniformes todo lambuzado de tinta e suco.
— Mamãe!
Os dois largam a mão da professora e vêm correndo até da loira, jogando-se nos braços de Sarah que havia se agachado para recebê-los.
— Meus piticos!
Ela beijo a cabeça de cada um de seus filhos com extremo carinho. A professora sorri com a cena. Depois interrompendo o momento fofo do trio, a mulher cumprimenta a mãe de seus dois alunos:
— Olá, Sarah.
— Olá, Ana!
— Preciso lhe avisar que hoje os dois deram trabalho. Não quiseram de forma alguma fazer as tarefas. Iniciaram uma guerra de tinta na sala após eu e minha assistente termos saído um instante. E não quiseram tomar o banho depois disso e nem do lazer, por isso estão nesse estado - Lista a professora.
— Ei, por que vocês dois aprontaram essas coisas todas, hein?
Ela encara com certa surpresa e até espanto os seus pequenos, que sempre se comportam tão bem na escola e hoje fugiram à regra.
— A gente queria brincar, mamãe.
— Mas tem o horário certo para brincar, filha.
— As lancheiras deles, Sarah. - A professora estende as duas e mochilas, uma do Superman e outra das princesas da Disney. - Tchau, pequenos. E amanhã espero que estejam menos "rebeldes". - Ana sorri, tocando a cabeça de seus alunos queridos. Adora aqueles dois e os demais de sua turma.
Já dentro do carro e a caminho de casa, Sarah chama de leve a atenção dos filhos pelo mau comportamento na escola hoje. Essa é a primeira vez que recebe reclamação dos filhos. Os gêmeos costumam ter um ótimo comportamento. Até hoje só sobravam elogios a eles.
— A tia tava chata hoje, mamãe Sar. - Resmunga Noan após a chamada da mãe.
Sarah franze a testa e arquea uma das sobrancelhas ante as palavras do filho.
— Não é bonito dizer isso da tia, filho. Ela vai ficar triste se ouvir você dizer isso. - adverte de maneira branda a loira.
— Ele disse isso pra tia, mamãe. - Dedura Liah.
— Noan não se diz isso, filho!
A loira fica mais surpresa ainda por isso e pelo fato de Ana não ter relatado esse episódio. Com certeza, ela quis tirar por menos, mas lhe pedirá desculpas por isso e lhe cobrará por não ter contado aquilo. Ela tinha por dever lhe comunicar àquela grosseria feita por Noan.
— Mas ela tava chata mesmo, mamãe.
O pequeno reafirma dando de ombros e brincando normalmente com seu boneco do Superman.
Pelo retrovisor Sarah olha o filho. Aquele temperamento não esconde de quem ele é filho. Noan herdou o lado 'rebelde' e um tanto respondão de Juliette. Ao contrário, de Liah que tinha um jeito mais sereno, porém ciumento de Juliette.
— Noan não pode ser assim, filho. - Ameniza Sarah. Detesta brigar com os filhos. Prefere deixar essa tarefa nas mãos de Juliette. Mas ao menos, chamar a atenção de seus pequenos, Sarah costuma fazer vez ou outra quando preciso. - Amanhã, você vai pedir desculpas pra tia, tá bom?
— Tá! - Ele responde sem muita boa vontade.
— Se sua mãe estivesse aqui ela não ia gostar disso e ia brigar com você.
O pequeno só dá ombros de novo. Depois quis saber:
— Vai contar pra ela?
Isso Sarah não ia omitir da esposa.
— Sim!
Noan se cala, pois sabe levará uma bronca da outra mãe por isso.
****
Antes do almoço Juliette liga rápido, durante um intervalo do curso para falar com os filhos e a esposa. Ouve a empolgação de Liah falando sobre Cuscuz e seus latidos engraçados. O cãozinho parece um motorzinho engasgando quando late. É engraçado! Noan fala com a mãe com bem menos empolgação do que a irmã, por conta de ter aprontado e saber que ouvirá pelo mau comportamento. E Juliette, que não é boba nota logo no tom de voz do filho que ele parece "estranho".
— Sarah aconteceu alguma coisa com o Noan? Ele me pareceu estranho quando falou comigo.
A loira nota o filho lhe encarando com uma carinha meio chorosa, provavelmente imaginando que a mãe lhe brigará pelo que fez. E por um segundo, Sarah sente dó de contar a "travessura" do filho. Mas ela tem que contar a esposa isso. Só que o fará em outro momento e não na frente do filho. Além do mais, pedirá à Juliette que não brigue com o menino, pois dirá que já chamou sua atenção por isso, como de fato chamou!
— Aconteceu, mas em outro momento eu lhe conto. - responde em um tom baixo e virando-se de costas para que os filhos principalmente Noan, não lhe veja e muito menos, lhe ouça falar.
— Não foi nada grave, foi? - A preocupação logo assola a advogada.
— Não. Fique tranquila.
Juliette ouve o chamado de alguém avisando que a próxima aula do curso já irá começar.
— Sarah vou precisar desligar. A outra aula já vai começar. A noite ligo pra gente conversar mais, bebê. Aí, tu me conta o que foi que aconteceu com Noan.
— Ok, amorzinho! Boa aula aí.
— Obrigada. Te amo. Beijo.
— Também te amo. Beijo!
Devolvendo o telefone à mesa de centro da sala, Sarah então encara os filhos.
— Você não vai mais contar pra mamãe Ju sobre eu ter chamado a tia de chata, mamãe Sar?
— Vou contar, sim, filho. Mamãe Ju tem que saber. Mas contarei só a noite quando ela ligar de novo.
— Ela vai brigar comigo.
A loira vê seu pequeno fazer um bico choroso idêntico ao que Juliette faz quando está prestes a cair em prantos.
— Ela não vai brigar com você. A mamãe vai chamar a sua atenção, ou melhor, a dos dois por terem aprontado na escola, anjinhos travessos. - Ela aperta de leve a ponta do nariz de seus pequenos, arrancando um tímido sorriso de cada um. - Porque vocês merecem uma chamada pelo que aprontaram. Sabem disso, não sabem?
Os pequenos assentem positivamente.
— Agora, quem tá com fome e quer almoçar? - Anuncia Sarah aos filhos.
— Eu! - Os dois pequenos respondem em coro alto sorrindo e fazendo a mulher sorrir daquelas coisinhas lindas.
— Então já lavar a mão pra almoçarmos.
****
Sarah é tirada bruscamente de um sonho que estava tendo com a esposa naquela tarde, pelo som alto de algo caindo no chão e posteriormente, quebrando-se.
Imediatamente, a loira pula da cama e toda trôpega sai em disparada do quarto em direção à sala, que foi de onde deduz que veio o som. Seu pensamento é de que seus anjinhos já estão aprontado alguma. E ao chegar ao cômodo, Sarah constata que está certa.
A mulher quase não acredita no que encontra. Parece que um pequeno vendaval passou pela sala. E o pior é que Sarah nem sequer escutou o estrago daquilo tudo quando fora feito.
Ela vê a mesinha onde o telefone fica, tombada no chão e junto com ela, todo espatifado, se encontra o vaso Persa que sua mãe havia presenteado Juliette no aniversário dela ano passado; os três porta-retratos que ficam na outra mesinha, também estão no chão e quebrados como o vaso; e mais também, os bibelôs da mesa de centro.
O sofá está "carimbado" com as marcas úmidas de patas e pés de crianças, além de sujo de um pó branco e com pedaços de papel higiênico sobre ele.
O tapete se encontra levemente encharcado, salpicado com o mesmo pó branco do sofá e com um rolo de papel higiênico desenrolado pela metade ali.
E no meio dessa zona toda, Sarah encontra dois "pingos de gente" molhados e com o mesmo pó branco pelas mãos e rosto, lhe encarando com suas carinhas "inocentes" e sorrisos levados. E ao lado dos gêmeos, estão dois cachorros que se encontram no mesmo estado das crianças.
— O que vocês aprontaram aqui, Noan e Liah?
Sarah olha para os filhos espantada com a zona que aquela sala está. Se Juliette visse aquilo, ela iria surtar já que a advogada é a "miss organização".
— A gente deu banho no Cuscuz e na Paçoca, mas quando tiramos o sabão deles, eles correram pra cá e desarrumaram tudo, mamãe. - Liah conta com um sorriso sapeca.
Os cachorros desarrumaram tudo aquilo??... Só eles??
— Mas a mamãe não disse que íamos dar banho neles juntos, quando acordassêmos?... E fiquem parados aí. Não se mexam.
A mulher pede indo com cuidado em direção aos filhos. O piso além de molhado está com cacos de vidro e qualquer desatenção sua poderia lhe ocasionar um acidente ou pior, aos seus filhos.
— É que você tava demorando muito pra acordar, mamãe! - Noan explica, passando a mão pelo rosto e sujando-se mais com o pó branco.
— Santo Deus! Que zona vocês fizeram!
— Foi o Cuscuz e a Paçoca, mamãe!
— Sei! - Sarah resmunga, pegando primeiro Liah no colo e colocando-a sobre o sofá para evitar que ela pise nos cacos de vidro e corte o pezinho. Depois, a loira pega Noan e o coloca junto da irmã.
Sarah que tinha caído em sono profundo horas atrás após colocar os filhos para dormir depois do almoço deles, nem ouviu quando os gêmeos acordaram e muito menos, quando aquela zona começou a ser armada por seus "anjinhos". Se não fosse o som alto que lhe tirou do sonho bom que estava tendo, a loira certamente, ainda não teria tomado nota do pequeno "terremoto" que seus filhos acabaram causando na sala.
— Vai brigar com a gente, mamãe Sar?
Bem que ela deveria, pois eles merecem isso. Mas quem disse que Sarah consegue fazer isso? Aquelas carinhas de anjo e aquele jeito meio manhoso e quase choroso, que Liah usa ao lhe indagar, com direito a dedo no canto da boca, desarma qualquer zanga e tentativa que a loira tem de brigar com os filhos.
Sua esposa bem que tem razão em gênero, número e grau, quando diz que Noan e Liah, a tem nas mãos e lhe fazem de "gato e sapato". Os gêmeos aprontam com Sarah e ela é incapaz de brigar seriamente com os pequenos ou repreendê-los de maneira enérgica ou severa como a esposa faz. É uma coração mole total!
— A mamãe não vai brigar. Mas olha só o que vocês fizeram? - aponta a sala aos pequenos. - Sujaram tudo aqui, quebraram os porta-retratos e o vaso que a mamãe Ju gostava, e que foi a vovó Abadia deu pra ela.
Sua esposa tinha um carinho por aquele vaso Persa que só vendo. Não queria nem imaginar o desapontamento dela, quando soubesse que seu vaso tão querido tinha se reduzido à um monte de cacos.
— A gente pede pra vovó dá outro pra mamãe Ju!
Sarah olha com certo espanto para a esperteza do filho em responder aquilo tão naturalmente. Noan tinha uma rapidez para pensar e responder as coisas tão prontamente, que a loira ficava boquiaberta com isso. Às vezes, seu pequeno não parece ter apenas 4 anos e sim mais, tamanha é sua esperteza e raciocínio rápido.
— A vovó não pode dar outro desses, Noan. Só tinha esse vaso na galeria dela, filho.
— Então isso vai ser mais uma coisa pra mamãe brigar com a gente quando ligar né?
— Certamente!
E se duvidar, Sarah tem certeza que sua esposa brigará até mesmo com ela, por mais uma vez não ter prestado atenção suficiente nos filhos e ter percebido que eles já tinham acordado e estavam pondo à sala em desordem.
— Venham! Vamos tomar banho pra tirar essa coisa branca de vocês. - diz, pegando os filhos no colo, cada um em um braço. _ Aliás, o que é isso?
— Talco! - Liah informa, segurando no pescoço da mãe.
— A gente quis passar talco no Cuscuz e na Paçoca, que nem a mamãe Ju passa na gente depois do banho. - é a vez de Noan explicar enquanto Sarah dá passos cuidadosos para desviar dos cacos de vidro.
A mulher apenas balança a cabeça com a explicação do filho. Pela quantidade de talco que tinha nos dois pequenos, nos cachorros e espalhado pelo chão e no sofá, é de se supor que o vidro de talco esteja vazio.
— Vocês são um perigo juntos! - Resmunga Sarah seguindo em direção ao banheiro social com os filhos no colo e assoviando para os cães acompanharem-nos também.
Ao chegar no banheiro social, outra desastrosa surpresa. O banheiro está uma porcaria!
O piso todo molhado. A banheira transborda de espuma e água, já que a torneira está ainda ligada. Os vidros de shampoo dos filhos, bem como, o de sabonete líquido se encontram vazios e jogados no chão. Brinquedos de borracha dos gêmeos que eles usam para brincar na banheira durante o banho, também estão jogados pelo piso. O cesto do lixo tombado. Resumindo, ali está outro caos, assim como, havia um na sala.
— Meu Deus! - Sarah exclama deixando os filhos no chão e indo desligar a torneira da banheira.
Como pode duas criaturinhas e mais dois cachorros causarem tamanho caos?
Ao terminar de fechar a torneira, Sarah olha para os filhos e os dois apenas sorriem com a mais pura inocência.
— A gente deu banho no Cuscuz e na Paçoca aqui!
Oh!
Não era nem preciso seu filho ter informado aquilo para Sarah saber disso. Só o estado do banheiro fala por si só, que foi ali que seus filhos começaram a aprontar o caos.
— O que eu faço com vocês dois, ou melhor, quatro!
Os dois pequenos riem e os cachorros latem.
E pelos muitos minutos que se seguiram, Sarah permanece ali no banheiro. Ela primeiro dá banho nos cães e conta com a ajuda dos filhos para realização de tal tarefa.
O banho de Paçoca é relativamente rápido e tranquilo, pois a cadela é acostumada à banho. Já com Cuscuz, as coisas foram mais agitadas. O cãozinho deu certo trabalho no banho, pois a todo instante tentava fugir da água e isso causava riso nos filhos de Sarah, que se divertia por ver os gêmeos caindo na risada do cãozinho fujão. Após o banho nos cães, a loira os secou, principalmente Paçoca e levou os dois animais para a área de serviço onde eles ficam presos. Depois disso, retornou ao banheiro para dar banho nos filhos.
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Eita gêmeos danados.
Sarah está só no aperreio.
Xero e até semana que vem, amores.
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