06


Arthur tinha chegado num carro incrível, que eu acredito, tenha sido dado a ele de presente. Perguntei se ele já podia dirigir, com medo de que a resposta fosse não. Ele me tranquilizou dizendo que já tinha feito 18 e que possuía carteira de habilitação. Então ele pilotou até o baile. Quando chegamos, ele parou bem na entrada da escola, optando por estacionar o mais perto (e mais a mostra) possível. Deu a volta, parou ao meu lado, e gentilmente abriu a porta para me deixar sair.

- Chegamos, princesa! Seu baile a espera.

Sorri para ele, e tentei ao máximo não tropeçar nos meus próprios pés. Estava tremendo e nervosa, e os olhares rapidamente estavam sob nós. Meu coração saltitava no peito. Porque eu vim pra esse baile? E porquê com o Arthur? Começo a pensar que cometi um erro terrível, então sinto a mão do Arthur tocar minha cintura no lugar onde a pele está nua e me viro para olhá-lo nos olhos.

-Está tudo bem?

- Sim. Só estou um pouco nervosa, eu acho.

- Não precisa ficar. Aliás, acho que as outras garotas é que deveriam estar nervosas, porque acaba de chegar a menina mais linda da festa.

Olho encantada para o garoto gentil que me encara com olhos sedutores.

- Se você diz...

- Digo sim. E mais...

Ele me vira e encara todos ao nosso redor, com um sorriso que mostra o quanto é seguro de si. Sua expressão desafia qualquer um que ousar duvidar do seu lugar ali. Erguendo uma sobrancelha, ele espera até que todos se voltem para suas conversas e parem de nos olhar. E realmente funciona! Impressionante o poder que ele tem sobre as pessoas.
Arthur me olha outra vez nos olhos e estende o braço.

- Acho que eles só estão com inveja de nós. O casal mais top do colégio.

- Casal?

- Você confia em mim, Sol?

- Sim, acho que confio.

- Então relaxe, e deixe a noite te guiar.

Entramos no pátio do colégio e seguimos para o grande salão.  Estava impecável. Luzes de todas as cores piscavam, como um bosque encantado cheio de fadas rodopiando no ar. Um globo no teto girava e girava e eu me peguei olhando hipnotizada, lembrando da lua no céu estrelado de uma noite de verão na qual, não muito tempo atrás, eu estava observando distraidamente o movimento de pessoas e astros. A noite em que conheci o Théo. Lembrar disso me deixa feliz, e eu decido fazer exatamente aquilo que o Arthur disse. Iria relaxar e deixar fluir, deixar a noite me guiar. Dançar conforme a música.

- Olha só quem chegou! E distraída como sempre...

- Oi, Vini. E olá, Isa! Você está muito bonita.

- Obrigada! Você também não está nada mal. A-ME-I o vestido. Bem vintage. Sabe, ainda bem que o Vini escolheu Super-Homem e Lois Lane. Eu pude escolher a minha própria roupa, mas nada daquela coisa brega que ela usa como jornalista... Enfim, o Vini quis ficar com a fantasia. Poderia ter se vestido como o Super-Homem de férias. Afinal, o Super-Homem também é o Clark. Eu claramente ajudaria ele com isso. Entendo muito de moda. E também...

- Certo, certo Isa! Acho que ouvi a Bia te chamando. Não quer ir lá falar com ela?

Arthur percebeu a minha cara de assustada e cortou a amiga no meio da frase. O Vini parecia entediado, como se já tivesse escutado muito mais daquilo e agora simplesmente tinha desistido de responder. Quase fiquei com pena dele. Mas achei bem feito por ele ter dito aquelas coisas sobre o Arthur.

- Sério? Ela deve estar louca para saber onde comprei os sapatos. Vamos lá deixar todos com inveja Vini!

- Okay. Te vejo mais tarde, Sol?

- Claro.

Coitado. A garota parece uma louca, cujo universo só gira em torno dela mesma. Sua beleza e seu corpo devem ser a sua religião. Fico surpresa com o fato do Vini ter aceitado ser o seu par.

- Quer dançar?

- Sim. Mas se eu pisar no seu pé, desculpe desde já.

- Vou correr o risco. Mas por enquanto só está rolando música agitada, então, não tem como pisar.

- Você ficaria surpreso.

Arthur solta uma gargalhada e começa a me rodopiar pelo salão. A  batida eletrônica preenchia o lugar. Corpos amontoavam-se vibrantes e enérgicos, todos pulsando no ritmo, alegres e despreocupados. Tento imitar alguns passos, mas acabo descobrindo que nesse tipo de dança, não existe sincronia ou coreografia ensaiada. Bastava manter o corpo se mexendo, sem parar.
Permanecemos assim, sorridentes e vívidos na pista, até que o Arthur decide que precisa de ar fresco. Passamos na mesa de bebidas, e levamos nossos copos com refresco para o jardim ao lado de fora. Ao chegar lá, respiro fundo e me deixo acalmar pela brisa leve. Mas então lembro que estou sozinha com o Arthur, e  instantaneamente começo a ficar ansiosa e nervosa outra vez.

- Está se divertindo?

- Sim. Muito. E você?

- Eu estou me divertindo como nunca...

Ele me fita nos olhos e põe uma mão no bolso enquanto leva o copo aos lábios com a outra. Meu coração acelera e eu perco um pouco a noção dos sentidos ao observar aqueles lindos olhos azuis. Os cabelos pretos e sedosos. Os lábios perfeitamente esculpidos como a boca de um deus mitológico. Ele poderia ser facilmente confundido com um filho de Poseidon. "Esse garoto incrivelmente lindo na minha frente não pode ser real." pensei. Ele havia se portado como um cavalheiro a noite inteira. E demonstrou sinais claros de que está afim de mim. Isso. Ele está afim de mim... Mas e se ele quiser me beijar? O que eu vou fazer? "Beijá-lo de volta, sua idiota!" Mas eu nunca beijei ninguém. Como eu poderia ser boa nisso? Com certeza ele riria da minha falta de habilidade. " Sério que é nisso que você está pensando, Solária?"

- Uma flor por seus pensamentos.

- Ah, eu teria que te matar depois. Melhor não perguntar, caro Jack.

- Oh, não. Eu me contento apenas em apreciar a vista então, linda Rose. Mas você está me devendo uma dança lenta.

- Estou?

- Sim, você está.

Arthur se livra rapidamente dos copos e estende a mão para mim. Eu aceito e juntos, iniciamos a nossa dança. Por um breve instante, ali, debaixo do céu estrelado e com a música tocando ao fundo lá dentro do salão, meus pensamentos flutuam até outra noite e até outra dança. Eu me lembro do meu aniversário de quinze anos e do meu parceiro. Lembro dos cabelos castanhos dele e dos olhos verdes. Do seu sorriso torto e das suas mãos na minha cintura. Então começo a sorrir involuntariamente.
O Vini teria me feito rodar e rodar até ficar tonta. Teria pedido para apoiar meu peso nos seus ombros o quanto quisesse, pois ele faria todo o resto. Ele ignoraria os meus pisões e se encarregaria de todos os passos até que eu ficasse a vontade. Ele tornaria tudo simples, divertido, e mais feliz.
Porém, o flashback só dura um instante. Obrigo meus pensamentos a darem prioridade ao garoto à minha frente.

-  Até agora, nada de pisões.

- É, que bom. Com você me conduzindo, acho que consigo dançar de forma decente.

- Decente é uma palavra que eu não usaria para descrever você. Posso pensar em outras bem melhores. Como por exemplo: divina.

- Você é muito gentil.

- Só estou dizendo a verdade. Não sei como eu pude me manter tão cego durante todo esse tempo. Se fosse mais esperto, teria te chamado pra sair desde o primeiro ano.

- Você não teria me visto nem se quisesse. Eu fazia questão de ser invisível. Me escondia junto com o Vini na sala de música, passava horas e horas praticando, mesmo quando não podíamos ficar lá. O instrumento, a música, e o Vini, foram meus únicos amigos do colégio.

- Sei. Uma pena eu não ter te conhecido mais cedo. Poderia ter feito isso antes.

- Isso o quê?

De repente, as mãos de Arthur sobem lentamente da minha cintura até meus braços, dos meus braços até meus ombros, e continuam a escalada, até finalmente chegarem ao meu rosto.

- Isso aqui.

Fico paralisada enquanto os lábios dele tocam os meus. Nos primeiros segundos, permaneço assim. Mas Arthur respira fundo e aprofunda o beijo, que passa de terno e cálido, para suplicante e fervoroso. Então eu correspondo. Me deixo arrebatar pela urgência dele e me afogo no desejo. Era uma nova sensação. Jamais pensei que ser beijada era algo tão incrível. Agora sei como os grandes poetas e escritores se sentiam ao descrever este ato solene. Era mágico! Sagrado, e ao mesmo tempo, profano. Preenchia todo o espaço, e ainda sim, deixava tudo vazio. Saciava, contudo, permanecia a ânsia por mais.
Depois do que me pareceram mil anos, nós enfim, nos afastamos. Sem fôlego, eu olhei nos olhos do Arthur, e corei. Ele sorri pra mim e deposita um beijo no topo da minha cabeça, me aconchegando ao seu peito.

- Venha, princesa. Vou te levar para casa.
  

                             ***

Chegamos na frente da minha casa. Arthur me deixou com um floreio exagerado e mais um beijo. Se despediu e foi embora.
Subi as escadas toda boba, sonhando acordada com o que tinha sido de longe, a noite mais louca da minha vida. Mal posso esperar para contar pro Vini. Oh, não! Vini. Que amiga horrível eu sou. Fui embora e nem me despedi dele. Aliás, nem fiquei com ele na festa que deveria ser a nossa despedida do ensino médio. Deixei ele com aquela psicopata narcisista da Isa, e passei a noite toda com o Arthur, um cara que eu acabara de conhecer. Ele iria ficar muito bravo comigo, e com toda razão. A melhor amiga mais idiota de todas. Parabéns para mim!

Tiro a roupa e a maquiagem me sentindo culpada até os ossos. Conto aos meus pais com detalhes, como foi a festa(Menos a parte do beijo, é claro), e vou dormir. O dia foi longo demais e eu tenho que me poupar para a briga mais intensa de todas com o Vinícius. Mas só amanhã. Por hoje, já deu.

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