[🏀 + 28] - Término
Jungwon saiu com passos rápidos e desordenados, as lágrimas turvando sua visão enquanto ele tentava escapar da imagem que acabara de ver. Seu coração estava em frangalhos, cada batida um lembrete agudo da traição. O choro embasava seus olhos, dificultando o caminho.
Ele começou a correr cegamente, seus passos ecoando pela grama verdinha. A dor em seu peito era mais intensa que a queimação em seus pulmões, e as lágrimas embaçavam tanto sua visão a ponto de ele mal conseguir ver onde estava indo. Em um momento de fraqueza, suas pernas falharam, e ele tropeçou, agarrando-se a o tronco de uma árvore para não cair completamente.
Ele não percebeu que Jay corria atrás de si, chamando seu nome em desespero.
— Jungwon, espera! Por favor, me deixe explicar!
Mas o ruivo não podia ouvir nada além do próprio choro e da traição que ecoava em sua mente. Foi nesse momento que Jay o alcançou, ofegante pela corrida e pelo medo de perder seu garoto para sempre.
— Amor! — Park exclamou, a preocupação evidente em sua voz.
Jungwon, ainda apoiado na árvore, virou-se lentamente. Seu rosto estava marcado pelas lágrimas, e seus olhos refletiam uma mistura de dor e surpresa. Ele queria continuar correndo, queria fugir daquela realidade, mas seu corpo não obedecia. O moreno aproximou-se cautelosamente, como se temesse assustá-lo ainda mais.
— Me desculpa... — sussurrou em meio às suas próprias lágrimas. — Por favor, me deixa te explicar.
Jungwon olhou para ele, o conflito claro em seu olhar. Parte dele queria ceder, deixar que Jay o abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem. Mas a outra, a parte ferida e traída, o impedia de aceitar qualquer consolo.
— M-me deixe em paz!
Ele conseguiu se erguer e cegamente correu para dentro da casa, indo até o quarto onde estava dormindo com o moreno. Jay o seguiu.
Jungwon caminhava pelos corredores, cada passo pesado com o fardo da tristeza que carregava. Seu rosto, normalmente tão expressivo e cheio de alegria, estava agora marcado pelas linhas da angústia e do desespero. As pessoas ao seu redor eram apenas borrões, figuras indistintas que se moviam em um mundo que, de repente, parecia estranho e hostil.
Ao chegar ao quarto, ele tentou impedir que Jay também adentrasse e ao não conseguir, se afastou. Park fechou a porta atrás de si com um clique suave, a solidão do espaço ecoando em volta deles como uma câmara vazia. O silêncio era ensurdecedor, apenas interrompido pelo som dos soluços que nenhum dos dois não conseguia mais conter.
O ruivo desabou na beira da cama, o corpo tremendo com cada onda de choro que o consumia. Ele enterrou o rosto nas mãos, as lágrimas escorrendo por entre os dedos, cada uma carregando consigo um pedaço do coração partido. A dor era uma entidade viva dentro dele, uma besta selvagem que rasgava seu peito com garras afiadas.
Angustiado, ao ver seu menino tão fragilizado e chorando copiosamente, Jay aproximou-se, sem conter as lágrimas. Ele tocou os fios ruivos, tentando acalmá-lo, mas Jungwon afastou sua mão com brutalidade, erguendo o rosto corado e os olhos inchados.
— N-não se aproxime de mim! Vá embora!
— A-amor...
Jungwon se afastou, pulando pra fora da cama. O quarto, com suas paredes neutras e a cama desfeita, era agora uma prisão de memórias, cada uma trazendo flashes daquilo que ele pensava ser amor verdadeiro. Mas essas lembranças eram agora fantasmas, assombrando-o com a realidade de uma traição que ele ainda não conseguia compreender.
— Por quê? — conseguiu dizer, a voz trêmula. — Por que você fez isso comigo?
Jay tentou se aproximar novamente, mas cessou os passos ao ver o ruivo se retrair e desviar o olhar.
— Wonie, olha pra mim. Não foi o que você pensa, eu juro.
O menor se desvencilhou, a desconfiança e a dor evidentes em seus olhos. Ao vê-lo fungar alto, Park não se importou com o pedido dele de ficar longe e foi até ele, o acalentando em seus braços. Jungwon passou a se mexer, se debatendo e chorando alto, tentando se afastar. O moreno não sabia se chorava para tentar esvair a dor que estava sentindo ou se mantinha-se calmo para ajudar o ruivo.
Mas Jungwon não queria ser ajudado. Não por ele. Então começou a estapeá-lo, tentando fazer com que ele se afastasse e fosse embora. Sem sucesso, passou a esmurrar o peito dele, que sequer saiu do lugar. As lágrimas de ambos já ganhavam o lugar, os soluços e os impactos das mãos de Jungwon no peito de Jay eram os únicos sons.
— Como você pôde, Jay? — o ruivo sussurrou, a voz quebrada pela mágoa. — Eu confiei em você. C-como você pôde?
Um pouco mais controlado, Jungwon parou com as agressões, descansando o rosto no peitoral duro. Jay sentiu o peso do mundo em seus ombros, sabendo que tinha que fazer o menor entender, que tinha que consertar o que havia quebrado.
— Eu não te traí, meu amor. Aquilo... aquilo foi um erro. Ela me beijou, e eu estava tentando afastá-la. Eu só amo você!
O mais novo olhou para ele, os olhos vermelhos e inchados, e por um momento, pareceu hesitar. Mas a dor da traição percebida era muito profunda.
— C-como posso acreditar em você? — afastou-se, gritando em plenos pulmões. — Você me prometeu o mundo, Jong-seong! Me prometeu um mar de rosas, uma vida a qual eu nunca tive ao lado do Jaewon. Me prometeu que não era como ele, mas veja só? Você se inspirou direitinho naquele filho da puta! — tentou sair dos braços do moreno, mas ele firmou ainda mais o aperto em sua cintura. — A-antes do jogo, na escola, v-você me defendeu das acusações dele e eu fiquei ainda mais apaixonado por você. Fiquei confuso, com medo, mas ainda assim sabia que eu te amava! Mas agora vejo que era apenas encenação. Parabéns, Park, você atua muito bem.
Jay ofegou, sentindo todas aquelas palavras o acertarem como adagas afiadas em seu coração, terminando de quebrá-lo.
— Wonie…
— Eu confiei em você! Acreditei que seu amor era verdadeiro, mas você é só como todos os outros! Eu fui burro de ter acreditado em você! Um garoto que não se importava com nada, que não estava nem aí para a própria vida, encrenqueiro que pegava todo mundo, não muda da noite para o dia porque de repente percebeu estar apaixonado pelo cara que ele odiava! — explodiu em mais lágrimas. — V-você nunca me amou verdadeiramente, Jong-seong! Só queria saber qual era a sensação de namorar alguém. No fim, o Jaewon sempre esteve certo. Eu sou mesmo um idiota que acreditava que o amor é lindo e que você era diferente. Mas é igual a ele.
Em um forte empurrão, Jungwon afastou o corpo forte de perto de si. Com o impacto, Park acabou desequilibrando-se e indo ao chão. Sua cabeça bateu no piso duro, causando um barulho alto. O ruivo preocupou-se com o estrondo e olhou assustado para o mais velho que tinha uma careta dolorosa no rosto. Mas ele não sentia arrendamento pelo o que fez. No fundo, queria mesmo machucá-lo mesmo que verbalmente para fazê-lo sentir ao menos um pouco da dor que ele também estava sentindo.
Jay acariciou o machucado que formou-se na cabeça e felizmente não havia sangue. Sua nuca latejava e as lágrimas rolavam por seu rosto feito uma cascata. A dor que estava sentindo na cabeça não era nem menos de longe, maior que a que sentia no peito. Soluçando, se equilibrou, colocando a palma da mão no chão, tentando se estabilizar. Seus olhos embaçados encontraram os do ruivo em choque e um ofegou deixou sua garganta.
— Eu não sei se posso acreditar em você. — Jungwon voltou a dizer, de forma sussurrada.
Desespero tomou conta do moreno que levantou-se atordoado, indo até o mais novo. O medo de perdê-lo era tão grande que ele estaria disposto a fazer qualquer coisa para tê-lo de volta. Aquele era o último dia deles na despedida da escola e Park só queria estar bem com o namorado para aproveitarem juntos.
— C-confia em mim, amor! Estou falando a verdade! — implorou, ao ponto de ficar de joelhos.
— Eu confiei! — Jungwon explodiu em um choro alto. — E-eu confiei e v-você me enganou! Agiu como ele! Agiu como o Jaewon e me machucou da mesma forma!
Jay arregalou os olhos, mais lágrimas caindo. Ele se aproximou do ruivinho, segurando em suas mãos trêmulas.
— N-não! Não, amor! Não! — se desesperou.
— V-você me prometeu não ser c-como ele! Você p-prometeu! — se afastou, puxando as mãos.
Com a respiração ofegante e o coração batendo forte no peito, Jay deu mais um passo em direção a Jungwon, estendendo a mão numa súplica silenciosa.
— Jungwon, por favor...
Mas o ruivo recuou como se tivesse sido queimado, a dor e a raiva transbordando em uma corrente que não podia ser quebrada
— Não! — ele gritou, sua voz ecoando contra as paredes do quarto. — Eu não quero te ver! Não quero mais você na minha vida!
Jay parou, a mão ainda estendida no ar, o desespero claro em seus olhos.
— Amor, eu imploro, não faz isso. Nós podemos consertar isso juntos. Me escuta.
— Consertar? — Jungwon riu amargamente, as lágrimas misturando-se com a risada mal humorada. — Você quebrou tudo, Jong-seong. Não há nada para consertar.
E com essas palavras, o ruivo se virou, a postura rígida e o olhar fixo na porta, como se pudesse deixar para trás a dor que Jay havia causado. Mas sabia que ela demoraria a ir embora. Talvez nem fosse. Não completamente. Com apenas um acenar de cabeça, ele indicou ao moreno que saísse do quarto.
Jay sentiu o peso da rejeição esmagá-lo, sabendo que cada palavra que Jungwon dizia era uma barreira a mais entre eles. Mas ele não estava pronto para desistir, não quando tudo o que ele queria era fazer as coisas certas e mostrar ao namorado que dessa vez ele não estava errado.
— Eu vou te dar espaço. O tempo que achar necessário para pensar. — Park disse suavemente, controlando suas emoções. — Mas eu não vou desistir, Jungwon. Vou tentar até você estar pronto para me ouvir.
Jungwon não respondeu, sua silhueta imóvel contra a luz que vinha da janela, um símbolo da distância que agora os separava. E Jay se virou, o coração pesado, esperando pelo momento em que o mais novo estaria disposto a ouvir, a entender, e talvez, a perdoar.
— Eu vou provar que não fiz nada, príncipe. Vou provar que você é o único para mim.
O moreno ditou uma última vez, ainda sem olhá-lo, antes de deixar o quarto.
Agora sozinho, o ruivo chorou até que as lágrimas não pudessem mais vir, até que sua voz se reduzisse a um sussurro rouco, e seu corpo, exausto, não pudesse mais sustentar o peso da sua dor. E ali, naquele quarto que uma vez compartilhou com o moreno momentos únicos, ele permitiu-se sentir a totalidade de sua tristeza, na esperança de que, talvez pudesse esquecer tudo o que aconteceu.
Do lado de fora do quarto, Jay seguiu o corredor escuro, com o coração batendo forte no peito. A raiva que estava sentindo naquele momento era tão grande que ele poderia até mesmo se arrepender de algo que estava prestes a fazer.
A dor forte que sentia dentro de seu peito o matava aos poucos e as lágrimas grossas separam o seu caminho. Estava se sentindo horrível por ter deixado o garoto sozinho e quebrantado dentro daquele quarto escuro, mas não podia fazer muito por agora para permanecer ao seu lado.
Agora estava determinado a ir até Soha e a confrontá-la do porque ela quis separá-los, mesmo já sabendo a resposta. Todas as ameaças e avisos que a garota havia os deixado não entrava na cabeça de nenhum dos dois que um dia poderia ter se concretizado e agora tudo fora por água abaixo. E Park sabia que ela não agiu sozinha naquele plano idiota. Havia mais pessoas envolvidas e ele descobriria quem elas eram.
Irritado e quebrado, Jay encontrou-a no jardim, onde as luzes da lua iluminavam seu rosto. Soha estava encostada em uma árvore, olhando para o céu estrelado. Ela parecia surpresa ao ver Jay se aproximando, mas logo um sorriso preguiçoso e travesso surgiu em seus lábios pintados de vermelho.
— Você é uma cobra venenosa, Soha! — Jay gritou para a garota assim que parou em sua frente.
Despreocupada com o que acontecia, Soha desencostou da árvore e encarou o moreno com um olhar cínico, nunca tirando o sorrisinho dos lábios.
— Ainda não se resolveu com o Jungwon? Poxa, eu achei que ele te amava o suficiente para acreditar em você. — ironizou, fazendo um biquinho.
Jay parou diante dela, os punhos cerrados.
— Por que me beijou? E na frente dele? Nos irritar não estava sendo o suficiente para você?
Soha riu, uma risada fria e calculada.
— Você realmente acha que o Jungwon é o garoto certo para você, Jay? Ele é fraco, inseguro. Não merece alguém como você. — se aproximou dele. — Acha que um relacionamento pode ir para frente quando um dos envolvidos não aceita um simples mal entendido? Estava tão óbvio que isso não ia dar certo, Park.
Jay sentiu a raiva borbulhando dentro de si. Tentava ao máximo se controlar, mas estava sendo uma tarefa difícil. O ódio subia pela sua espinha e sua frustração aumentava ainda mais ao ver o sorriso pretensioso da garota que não parecia nem um pouco preocupada ou ressentida pelo o que fez.
— Eu te disse que se você encostasse em ao menos um fio de cabelo do meu garoto eu iria arrancar suas mãos fora. — relembrou, rangendo os dentes.
A garota sorriu ainda mais.
— E eu te disse que iria acabar com o que vocês dois achavam que tinham. E eu acabei. Deixei seus corações em caquinhos e agora só resta a última parte ser concluída.
Irritado, Park recuou um passo.
— E qual a última parte, Soha?
A garota aproximou mais um passo em sua direção, seus olhos escuros fixos nos dele.
— Te ter para mim novamente. O Jungwon era apenas um obstáculo. Eu sabia que, se criasse dúvidas entre vocês, ele se afastaria. E estava certa. — tocou no rosto choroso do moreno. — Agora eu irei confortá-lo, meu amor. Não deixarei que fique tão triste com o término.
— Você é egoísta! — Jay cuspiu as palavras, se afastando mais uma vez da garota. — Por sua culpa o Jungwon está me odiando outra vez. Mas eu irei conseguir reconquistá-lo e nós vamos enfrentar isso juntos!
Soha deu de ombros.
— Faça o que quiser, Parkzinho. Mas saiba que eu não vou desistir tão facilmente. Você é meu e eu nunca perco o que é de minha propriedade.
— Você deveria procurar ajuda psiquiatra, Soha. — suspirou. — Se você me queria de volta por que não procurou outra maneira de conseguir isso, mesmo sabendo que eu não voltaria? Por que tinha que afetar o Jungwon?
— Porque ele era a porra do obstáculo que estava me atrapalhando!
Ao ouvir aquilo, Jay não pode mais se controlar. Se aproximou dela e sem ressentimento algum, gritou para que ela pudesse entender de uma vez por todas:
— Im Soha, você sabe o que ele sofreu. Sabe o que ele passou na mão do Jaewon e foi traído tantas vezes. Você sabe o quão isso o afetou e ele estava superando tudo isso somente agora. Você precisava ter feito essa merda?! Precisava ter ido tão longe para atingir seus próprios objetivos? Você não sabe o que é ser machucada, ferida e quebrada por alguém que ama. Não sabe o quão ruim e desesperador é ver quem você ama ir embora com outra pessoa!
Assustada pelo tom de voz do moreno, ela recuou.
— P-por que está gritando comigo?
— Não se faça de vítima agora, Im Soha! — aumentou o seu tom de voz.
— Não grita comigo, Park Jong-seong!
Já sem paciência alguma, Jay segurou o braço da garota sem muita força para não machucá-la e a chacoalhou.
— Fala! Por que fez isso? Por que é tão seca e amargurada ao ponto de fazer algo assim?!
Soha arregalou os olhos e forçou tanto uma careta dolorosa que o moreno até mesmo achou que estava a machucando. A soltou. As lágrimas rolaram por seus olhos.
— V-você ia me bater, Jay?
— O-o que? Não! Claro que não, Soha! — se afastou dela. — Você sabe que eu nunca faria isso!
— Se afasta de mim! — gritou. — Você ia me bater sim! Está maluco?
— Eu não ia te bater, Soha! Só quero saber o motivo de você ter feito o que fez!
A garota se afastou ainda mais, fingindo uma falsa topada.
— Quando você virar homem de verdade, eu te falo.
Ela se afastou, desaparecendo na escuridão do jardim.
Jay, por sua vez, ao se ver sozinho, deixou que parte de sua dor e frustração fosse embora em um grito angustiado. Suas mãos tremiam e suas pernas moles o levaram de encontro ao chão, de joelhos. Com raiva de tudo o que estava acontecendo, ele chorou alto, arrancando sangue de suas coxas descobertas com as unhas curtas.
Ele nunca sentiu uma dor tão forte acometer seu peito como estava sentindo naquele momento. Cada grito que dava mandava embora uma pequena parcela de sua dor e culpa, mas não aliviava. Ele sentia que poderia gritar a noite inteira até perder a voz e suas cordas vocais serem rompidas, que toda a sua amargura não iria embora.
Jay permaneceu ali, no chão frio e duro, o peito arfando e os olhos embaçados pelas lágrimas. A dor que o consumia era como uma fera faminta, devorando-o por dentro. Ele se sentia impotente, como se estivesse preso em um pesadelo sem saída.
Quando viu que não tinha mais voz para usar ou lágrimas para sair, levantou-se ainda trêmulo e seguiu pelo mesmo caminho que veio, voltando para o quarto. Ao chegar lá, abriu a porta lentamente, se deparando com a pouca luz do abajur que iluminava o local.
O ruivo estava deitado na cama, encolhido, mas não dormia. Ele ainda fungava baixinho, e isso quebrou ainda mais o coração do Park. Ainda com as mãos trêmulas, acendeu a luz. Com a luminosidade mostrando como estava vulnerável, Jungwon levou o cobertor até a cabeça, ignorando o recém chegado.
O moreno hesitou por um momento, observando o monte que o ruivo fez com seu corpo e o lençol. Suspirando, entrou no quarto, batendo a porta. Em seu rosto, as marcas de lágrimas ainda estavam visíveis, e ele parecia tão frágil naquele momento, se perguntando o que poderia fazer para aliviar a dor do namorado. Se é que ainda fosse seu namorado.
Com passos silenciosos, Park se aproximou da cama e sentou-se na beirada, esperando por alguma reação do menor. Quando essa não veio, ele estendeu a mão e puxou a ponta do lençol, revelando o rosto de olhos inchados vermelhos. Ele sentiu seu peito apertar e tocou suavemente o cabelo de Jungwon. O ruivo estremeceu, mas não afastou sua mão.
— Príncipe... — sussurrou.
Jungwon se encolheu ainda mais, vulnerável.
— Podemos conversar agora? Eu sinto muito...
O ruivo não respondeu, mas seus olhos encontraram os do moreno rapidamente. Eles estavam cheios de tristeza e confusão. Medo em grande parcela.
— Eu estou aqui. — Park falou com convicção. — Não vou embora. Não importa o que aconteça, eu estou aqui.
Jungwon finalmente se moveu, virando-se para encarar o maior de uma forma melhor. Ele parecia tão vulnerável naquele momento, e Jay sentiu o desejo de protegê-lo.
— Não quero conversar. Apenas deite e durma. — falou por fim.
— Nós temos que conversar, Jungwon. — ditou amargamente, sentindo sua garganta doer com o choro entalado.
O ruivo negou.
— H-hoje não. Por favor.
Jay sorriu tristemente, dando todo tempo a ele.
— Está mais calmo? — quis saber, preocupado.
O menor apenas assentiu.
— Você também chorou.
Park desviou o olhar, envergonhado.
— É, isso tá doendo pra caralho.
— Desculpa. — o ruivinho sussurrou, a voz embargada. — Eu não queria ter te empurrado daquele jeito. Eu estava muito nervoso.
O moreno voltou a encará-lo
— Está tudo bem, não se preocupe.
— Onde você foi?
Jungwon não queria saber verdadeiramente e Jay não queria contar-lhe onde e com quem estava, tudo só iria piorar.
Seu peito se apertou. Aquela tinha sido a pior discussão que já tiveram.
— Por aí. — mentiu. — Estava tentando esfriar a cabeça.
O ruivo assentiu.
— Vamos embora às quinze.
— Eu sei. Talvez dê tempo de conversarmos antes de ir embora. — suspirou. — Só... vamos ficar bem hoje. Eu não quero passar nossa última noite aqui de mal.
Jungwon olhou para Jay, seus olhos vermelhos e inchados ainda refletindo a tristeza que o consumia. Ele queria acreditar nas palavras que o moreno lhe disse antes de sair do quarto, queria acreditar que tudo ficaria bem, mas o medo ainda o apertava.
A aflição de reviver tudo o que passou com Jaewon o assombrava. Ele não queria pensar que Jay realmente seria capaz de traí-lo, mas levando em consideração tudo o que passaram para estarem juntos hoje, não dava para descartar a ideia, e pensar naquilo doía.
— Tudo bem. Deite e durma. — repetiu.
Jong-seong assentiu.
Ele se levantou da ponta da cama e seguiu até o interruptor, apegando a luz. Voltou para onde estava e deitou-se, um pouco afastado do corpo do menor para não deixá-lo desconfortável com sua presença.
Assim que sentiu o peso do moreno afundar o colchão, Jungwon também apagou a luz do abajur, deixando o quarto completamente escuro. Não estava tão tarde, mas a exaustão do que passaram nas últimas horas os deixaram cansados.
— Amor...
Jungwon estremeceu ao ouvir a voz fanha do moreno, denunciando o quanto ele chorou. Fora impossível não se sentir culpado. O apelido carinhoso também o afetou.
— Nós ainda somos namorados, não somos? — Jay continuou, melancólico ao não receber uma resposta.
Longos minutos se passaram em completo silêncio.
— Eu não sei, Jay. Não sei no que acreditar. Não sei de mais nada.
Jay suspirou.
— Caso ainda esteja confuso e precise de mais tempo, eu te dou todo o tempo do mundo. Se quiser me ter longe, eu vou ficar. Mas não vou desistir de nós muito menos de você.
O ruivo fungou, sentindo mais lágrimas se acumularem no canto dos olhos.
— Amanhã conversamos, pode ser?
— Claro.
Silêncio.
Park continuou:
— Você sabe que não irei descansar até te provar que não fiz nada, não sabe?
Jungwon não o respondeu. O silêncio ensurdecedor só deixava o mais velho ainda mais tenso.
Ofegante, ele se aproximou um pouco mais do ruivinho e fez menção de acolher a cintura dele com os braços e dormir como dormiam todas as noites em que estavam juntos. Ao perceber tal anseio, Jungwon recuou.
— Me deixe te abraçar ao menos hoje. — Jay implorou, a voz embargada. — Caso formos mesmo acabar, essa será nossa última noite juntos. A última noite que eu poderei te esquentar.
O ruivo fungou e uma lágrima escorreu de seu olho.
Notando que ele não recuou mais quando avançou, Jay finalmente abraçou o corpo pequeno com seus braços grandes, o acalentando. Inalou o cheiro bom que ele tinha e fechou os olhos. Não queria dormir, mas todo o choro excessivo e o cansaço o fez apagar assim que sentiu o amado em seus braços.
Entretanto, o sono demorou a vir até Jungwon e ele passou quase a madrugada inteira acordado, chorando baixinho enquanto segurava o braço do moreno com força, com medo do futuro.
• 🥕 •
Passavam-se das oito da manhã quando Jay acordou.
Seu braço ainda envolvia o ruivinho que dormia em sono profundo. Com cuidado para não acordá-lo, levantou-se e seguiu até o banheiro. Escovou os dentes e tomou um banho rápido antes de ir até a cozinha em busca de algo para ele e seu garoto comerem.
O percurso do quarto até a cozinha foi um verdadeiro limbo. Park sentia ser observado por olhos curiosos e ouvia burburinhos baixos a seu respeito. Poucas das coisas que ouviu em seu trajeto chamaram-lhe a atenção, apenas uma voz que soou um pouco mais alta que as demais:
— Pobre, Jungwonie. Não merecia viver tudo novamente.
Aquilo o irritou profundamente, mas não parou. Seguiu reto.
Na cozinha, os olhos curiosos pareciam triplicar. Ele também não se importou. Pegou uma bandeja e nela colocou dois pedaços de bolo sem se atentar qual sabor ele era, duas fatias de pão integral, dois potinhos de manteiga e por fim, duas caixinhas de leite de banana.
Pegou sua bandeja e seguiu para fora da cozinha, indo até as mesas de piquenique postas na área externa. Ao ver seus amigos em uma mesa um pouco mais afastada, foi até eles, os olhares queimando suas costas.
Sentou calado e começou a comer.
Os garotos que já estavam na mesa se entreolharam, competindo entre si para saber qual iria falar primeiro com o moreno.
Enquanto os quatro conversavam por olhares, Park terminava de comer a sua fatia de pão e avançava no bolo. Ao morder, uma careta tomou seu rosto assim que sentiu o gosto de cenoura. Foi impossível não lembrar do ruivo e o quanto aquilo significava para ambos. Teve vontade de chorar.
— Porra! — gritou, assustando os amigos.
Os jogadores novamente se olharam. Sunghoon suspirou.
— Como você está? — Park perguntou ao amigo. — Soube do que rolou ontem.
Jay olhou para ele, sorrindo tristemente.
— Acho que acabou, cara. O Jungwon realmente acha que eu traí ele.
— Todo mundo acha. — Niki falou da boca pra fora, recebendo um olhar mortal do namorado. — O que foi?
Park suspirou.
— Eu não traí ele. Tenho noção dos meus atos e sei o que fiz ontem.
— Alguns estão dizendo que você estava bêbado. — Hansol pontuou.
— Como? Aqui não tem álcool!
— É por você ser você que estão achando isso. — Minseok completou.
O moreno bufou, terminando de comer o bolo. Estava começando a se irritar.
A ideia de que ele poderia estar com bebidas alcoólicas dentro do resort não saía da cabeça da maioria das pessoas justo pelo fato dele não se importar com nada. A sua fama de garoto problema ainda estava enraizada na cabeça de muitos, e por conta disso, também acreditavam que sim, ele havia traído o namorado.
— Eu sei que eu sou um filho da puta, tá legal? Mas eu não traí o Jungwon! — se exaltou.
— Calma, Park, ninguém está te julgando ou afirmando que você o fez. — Hansol balbuciou.
Ele respirou fundo.
Se contentou em tomar o leite de banana, mas sua atenção foi tomada por alguém que se aproximava. Doyoon parou ao seu lado, com um sorriso pretensioso.
— Gostou da surpresa? — falou sorrindo maléfico.
Automaticamente a mente do moreno deu um giro de 360° ao juntar uma pecinha com a outra. Ele sabia que Soha não havia agido sozinha, e agora encontrou seu comparsa.
Colérico, levantou-se do banco e sem pensar duas vezes, esmurrou o rosto do garoto, arrancando seu sorrisinho. Antes que pudesse dar um segundo soco, sentiu mãos firmes o segurarem.
— Jay, cara, já deu! Para com isso! — Sunghoon proferiu enquanto o segurava.
Doyoon saiu dali, voltando a sorrir de forma diabólica.
— Esse idiota tá metido nisso! — rugiu, irritado. — Me solta, Sunghoon!
— Não, porra! Eu não te vou te soltar até você ficar calmo e não tentar contra a vida de alguém.
— Eu tô calmo.
— Não está.
Jong-seong respirou fundo, tentando acalmar os nervos. Depois de algum tempo, sua respiração estava mais tranquila e as mãos abertas, desfeitas dos punhos. Sunghoon o soltou.
— Tenta se controlar, cara. Não vai pegar bem pra você se querer matar o Doyoon agora. Sua situação já não tá tão favorável. — Minseok aconselhou.
Jay concordou, voltando a sentar. Sua cabeça doía e tudo o que se passava em sua mente era o rosto sereno do ruivo e a vontade de estar com ele.
— Como isso aconteceu? Vocês estavam tão bem e de repente a notícia de que estavam de mal. — Nishimura perguntou.
Ele suspirou.
— Eu não faço ideia. Nós estávamos voltando da praia quando o Jungwon lembrou que esqueceu a aliança em cima de uma pedra. Ele quase chorou ao lembrar. — começou, quase chorando também.
— Mas por que ele tirou?
— Fomos tomar banho no mar. Ele cismou que água deixa a joia preta. Não tem como porque ela é banhada em ouro 22 quilates, mas eu preferi não interferir. Quando ele lembrou que esqueceu, falou que ia voltar e eu me ofereci para ir junto, mas ele disse que não precisava e que estaria de volta rapidinho. Então eu fiquei esperando por ele.
— E aí a merda começou? — Hansol perguntou.
— É. — fechou as mãos em punhos.
— Eu fiquei parado esperando ele voltar quando a Soha se aproximou de mim com mais duas garotas. Acho que uma delas é a Minhee, a que era ou é apaixonada pelo Sunghoon, a outra não faço a mínima ideia de quem seja.
— Se tinha mais pessoas com ela, então não acredito que você ousou trair o ruivinho. — Niki ditou. — Você não seria descuidado a esse ponto.
— É porque eu não traí! Aquela garota maluca simplesmente me beijou!
Sunghoon ficou indignado.
— Ela te beijou mesmo sabendo que você namora? — perguntou, perplexo.
— Você acha que ela se importa com isso, hyung? — ele ofegou, uma lágrima rolando de seu olho. — Eu fiquei sem reação. Não sabia o que fazer e quando consegui empurrar ela para longe de mim, o Jungwon já estava lá.
— Puta que pariu. — Minseok se inclinou para trás, sentindo a dor do amigo.
— Ele estava com a mão fechada, com força. Eu tenho certeza que ele apertava a aliança ali. Eu senti meu mundo cair assim que vi os olhinhos dele inundados de lágrimas. Não tive tempo de raciocinar direito e pensar em me explicar, ele já estava correndo pra longe.
Uma dor surgiu em seu peito ao lembrar da cena. Ver seu garoto tão fragilizado da forma que viu na noite anterior e não poder fazer nada para ajudá-lo porque ele mesmo não queria a sua ajuda, iria o assombrar pelo resto de suas noites.
— Quando consegui alcançá-lo ele me mandou ir embora. Falou que não queria mais me ver e a todo momento dizia que eu era igual o canalha do ex dele. Também não me deixou explicar e assim que tentei me aproximar, me empurrou com tanta força que acabei me desequilibrando e batendo a cabeça no chão.
Os amigos ouviam tudo com certo pesar. Todos eles sentiam muito pela situação e torciam muito para que tudo se resolvesse o mais rápido possível.
— Vocês conversaram? — Sunghoon perguntou.
— Não. O Jungwon estava muito descontrolado e não me queria por perto. Eu tentei ficar do lado dele, mas ele não me queria lá. Foi difícil, mas eu deixei ele sozinho.
— Eu nunca teria deixado minha namorada sozinha. — Minseok disse, sem pensar.
Os olhares o fuzilaram.
— Você queria o quê, cara? — Park se exaltou. — Sabe o quão difícil foi ter que sair e deixá-lo sozinho tão quebrado como ele estava ontem? Ter que sair do lado dele por que ele não me queria lá? Ele sequer olhava pra mim!
Minseok se retraiu.
— Desculpa, Park. Falei sem pensar. Realmente sinto muito. — tentou se redimir, visivelmente arrependimento.
Jay engoliu em seco.
— Pra onde você foi, então? — Kang tenta mudar de assunto.
— Fui procurar a Soha.
— Você ficou maluco? — Hoon arregalou os olhos. — E se alguém tivesse visto os dois?
— Ninguém nos viu, hyung. Eu precisava saber o motivo dela ter feito o que fez, mesmo já sabendo. — se irritou, mais lágrimas caindo por seus olhos. — Se ela me queria tanto assim, por que não me feriu? Por que teve que machucar logo o meu garoto?
Assustado com a fragilidade que nunca viu no melhor amigo, Sunghoon o acolheu em seus braços, deixando que ele chorasse ali. Naquele momento, Jay não se importava mais com as pessoas curiosas ao redor que o viam chorar, ele só queria colocar tudo pra fora.
Minutos passaram e ele continuava chorando, agora mais controlado. Apenas poucos soluços irrompiam de seus lábios, diminuindo um pouco a aflição dos amigos.
— Ela não me falou n-nada. Apenas foi sarcástica. — continuou ao se ver mais calmo. — Sabe, quando conversei com ela sobre acabarmos com o que ela achava que tínhamos porque gostava de outra pessoa, ela me disse que iria destruir a pessoa por quem eu “achava” estar apaixonado. Ontem ela também me disse a mesma coisa. E ela conseguiu. — desabou novamente.
— Calma, cara. O Jungwon confia em você, ele sabe que não fez nada.
— N-não tenho certeza. Ele está tão machucado comigo que não quer mais me ver de nenhuma forma.
Minseok suspirou.
— Apenas de algum tempo a ele. O ruivinho sabe que você é a vítima disso tudo, só está confuso. Não é fácil reviver tudo o que ele passou. Mesmo que você não tenha feito nada, nesse momento ele acha que tudo está se repetindo.
Lee falou calmo, tentando passar tranquilidade ao amigo.
Praticamente todo mundo sabia o que tinha acontecido a Jungwon. Alguns já sabiam o que iria acontecer, dado que Jaewon nunca foi uma boa pessoa, mas por falta de vontade, preferiram não avisar ao ruivo. E mesmo que falassem, ele não acreditaria.
Jungwon estava tão apaixonado por Jaewon que achava que finalmente tinha encontrado seu príncipe encantado. Sunoo e Heeseung nunca se deram bem com ele e de cara perceberam que ele não tinha boa índole. Ambos alertaram o amigo várias vezes, mas de nada adiantou. Ele parecia cego.
As traições aconteciam e todos viram, menos o próprio Jungwon. Às vezes, era avisado, mas não acreditava. Os xingamentos e tratamentos abusivos passaram a ser frequentes, e o ruivo sempre voltava atrás no primeiro pedido de desculpas. Essa fase foi ruim para todos que o amavam já que não podiam fazer nada para ajudá-lo.
Era difícil para os pais ver o filho naquele estado, conversando e o aconselhando. Nada adiantava. O “relacionamento” só teve fim quando Jaewon ganhou a aposta que fez com os amigos. Ele havia iludido um dos garotos mais bonitos da escola, o qual todos vangloriavam e poucos tinham. Para ele, humilhar o ruivo fora a melhor sensação que teve na sua vida.
Quando enfim estragou a vida do garoto, Jaewon se mandou. Fora estudar em outra escola, com a sensação de vitória no peito. Ele havia dormido com Jungwon e aquilo não fazia parte da aposta. Mas, para mostrar que ele conseguia tudo o que queria, fez mesmo assim. Ele foi embora e deixou Jungwon só os caquinhos para trás.
— Aquela maldita sabia o que estava fazendo. — Park rugiu. — Ela ria de mim, ria de toda a situação!
— Ela um dia ainda vai ter o que merece, Jay. Ela vai pagar pelo o que fez. — Sunghoon falou, assegurando o amigo.
— E não só ela. — sorriu amargurado. — O filho da puta do Doyoon também.
— O Doyoon?
Park concordou, se recompondo.
— Ele sempre me odiou por ser o capitão do time. Dizia que eu tinha privilégios por ser filho da diretora. — revirou os olhos. — Ele também sempre teve uma queda pelo Jungwon e quando eu comecei a ficar com ele, o desgraçado me odiou ainda mais.
Jay contava com sangue nos olhos, sentindo a raiva subir.
— No último jogo que ele jogou, antes de entrar em quadra, o provoquei dizendo que tinha as duas coisas que ele mais desejava e não tinha; a capitania dos Devils e o Jungwon. Isso deve ter subido pra cabeça e ele ajudou a Soha nessa loucura. Seria o plano perfeito, não? A Soha ficaria comigo e o Jungwon com ele. São dois filhos da puta.
Os jogadores estavam completamente abismados com o que ouviam o capitão contar, e enquanto continuavam conversando e tentando entender o que realmente aconteceu na noite anterior, Jungwon havia acabado de acordar. Ele se viu sozinho no quarto, apenas consigo mesmo.
Sua cabeça doía como o inferno e as pernas estavam tão trêmulas, que parecia que havia corrido uma maratona. Ao se erguer, teve vontade de deitar-se novamente em meio à forte dor de cabeça que lhe acometeu. Passada a tontura, saiu da cama e caminhou até o banheiro, tomando um banho de água fria.
Ao retornar para o quarto, encontrou com os dois melhores amigos parados no meio do cômodo, o olhando com preocupação. Ao ver os rostos tristes, foi impossível não sentir vergonha e impedir as lágrimas de caírem. Ele desabou em um choro que mais parecia com facas afiadas cortando a pele de quem escutava. Sunoo e Heeseung foram até ele, o aparando em seus braços.
— E-está acontecendo tudo de novo! — falou em meio às lágrimas. — T-tudo outra vez!
Mesmo que tentasse controlar as próprias lágrimas, foi uma tarefa difícil para Sunoo ao ver o amigo naquele estado. Quando Jungwon passou pelo término com Jaewon e a realidade do que realmente aconteceu, ele estava lá para apoiar o ruivo. Vê-lo naquele mesmo estado não era fácil.
Ao que Sun chorava junto ao ruivo, Heeseung tentava apaziguar a situação, se mantendo forte para não cair em lágrimas também. Jungwon estava exausto emocionalmente e fisicamente. A sensação de traição o sufocava, e ele se perguntava como poderia ter sido tão cego. A dor que estava sentindo era insuportável.
Abraçados, Sunoo e Heeseung trocaram olhares preocupados enquanto Jungwon se desmanchava em lágrimas. Eles o seguraram, oferecendo apoio silencioso. O loiro apertou o amigo com força, compartilhando sua empatia.
Heeseung falou com voz firme, mas gentil:
— Jungwonie, respire fundo. Jong-seong te ama, e tenho certeza de que ele vai explicar tudo.
O ruivo fungou, enxugando as lágrimas com as costas da mão. Ele olhou para seus amigos, a gratidão estampada em seu rosto.
— Obrigado. Eu só... doi tanto.
Sunoo apertou seu ombro.
— Vamos descobrir a verdade, Jungwon. E, se necessário, enfrentaremos juntos. Você não está sozinho nisso.
— O-obrigado.
— Respire fundo. — Heeseung voltou a dizer.
O ruivo fez assim como o amigo disse, mas foi só lembrar da situação em que estava para desmoronar novamente.
— E-eu não entendo como e-ele foi capaz de fazer algo assim comigo. — voltou a chorar desesperadamente.
— Vocês conversaram? — Sunoo perguntou, secando suas próprias lágrimas.
— N-não. Eu não quis. Não quis deixar ele explicar. F-fiquei com medo dele falar mentiras e eu acreditar. Eu acreditei no Jaewon e fui um idiota!
Heeseung ofegou, acalentando o ruivo em seu colo.
— Você não é um idiota. — suspirou, acariciando os fios laranjas. — Todos nós cometemos erros e confiamos nas pessoas erradas em algum momento. O importante é aprender com essas experiências e crescer a partir delas.
— E-eu não sei como fazer isso...
— Você sabe. — sorriu para confortá-lo. — Você passou por momentos delicados ao lado do Jaewon e quando ele foi embora, custou para a ferida do seu coração cicatrizar. Então, você decidiu que não iria se envolver com mais ninguém para evitar passar por tudo isso novamente. Nós te apoiamos nessa decisão. Mas, a partir disso, você quis seguir em frente com o Jay. Quis ir mais a fundo e ver o que ele tinha a te oferecer. Você está aprendendo com novas experiências, novos amores.
O ruivo suspirou, sentindo o peito doer. Mas, sentia que estava bem e seguro ao lado dos melhores amigos que sempre estavam ali para ajudá-lo, ouvi-lo e aconselhá-lo com as melhores palavras.
Heeseung o abraçava de um lado, acariciando seus cabelos, enquanto Sunoo estava o abraçando do outro lado, agora mais controlado pela crise de choro que teve, mas ainda fungava baixinho.
— Eu sinto muito que você esteja passando por isso, Jungwonie. — Sun sussurrou, se aconchegando mais nele. — Mas, antes de tomar qualquer decisão, você precisa se acalmar e conversar com o Jay.
Heeseung concordou.
— Se você se sentir pronto, será bom conversar com ele. Talvez, ouvir o lado dele possa trazer clareza e ajudar a entender o que realmente aconteceu. No entanto, só faça isso quando estiver emocionalmente preparado. — continuou a fala do loiro.
Jungwon suspirou ofegante.
— O-obrigado. — limpou uma lágrima. — Obrigado por seus conselhos, Heeseung hyung. E por seu abraço choroso, Sunie.
Os três permaneceram por mais alguns minutos ali, abraçados e trocando calor. Jungwon suspirava vez ou outra ao lembrar de tudo o que aconteceu e por saber que teria que enfrentar o moreno o mais breve possível.
Pensar na conversa que os dois teriam seria cansativo para ambas as partes, ainda mais para o próprio ruivo. Ele não sabia no que pensar e acreditar, mas no fundo tinha certeza que Jay não fez nada, sabia o quão longe Soha poderia ir para alcançar seus objetivos.
Entretanto, ainda estava com medo. Estava com medo de tomar a decisão errada e acabar se perdendo novamente como no passado. Na noite anterior, quando Park tentava acalmá-lo e explicar o que aconteceu, ele só conseguia ver o rosto de Jaewon nele. Um nervoso ruim subiu por sua coluna, o deixando acanhado.
No momento em que o moreno se aproximou, Jungwon conseguiu enxergar nitidamente Jaewon ali, e não teve outra reação a não ser empurrá-lo para longe. Ao ver o que fez, se preocupou imediatamente, mas também não se importou tanto. Aquele pensamento estava o matando por dentro e arrependimento por ter pensado e feito o que fez, o acometia.
Seus pensamentos foram encerrados quando a porta do quarto foi aberta com certa pressa. Por ela, Jay passou enquanto trazia uma bandeja nas mãos e sua feição era tristonha. Os amigos soltaram o ruivo e lançaram a ele um olhar de apoio antes de deixarem o cômodo.
Jungwon limpou o rosto e seguiu até a cama, sentando ali. O moreno coçou a garganta, e constrangido, seguiu também até lá, deixando a bandeja com os alimentos que pegou mais cedo. Pegou um de cada, imaginando que o ruivo não teria ânimo para sair lá fora.
— Aqui. Trouxe para você. — sussurrou, se afastando.
Jungwon apenas assentiu e começou a comer. Passou um pouco de manteiga no pão e comeu lentamente, bebendo o leite de banana logo em seguida. A fatia do bolo deixou de lado.
Enquanto terminava de comer, Jay mantém-se afastado, com receio de se aproximar demais e acabar deixando Jungwon ainda mais chateado. Ele percebeu aquilo, e doía ver que o moreno estava tentando se afastar para protegê-lo.
— Nós podemos conversar agora? — Park suspirou.
O ruivo olhou pra ele, estava inseguro mas confirmou.
— Não sei se estou pronto para ouví-lo, mas quero que explique o seu lado. — começou, incerto. — Quando voltei, ela ainda te beijava. Eu vi que você afastou a Soha, mas minha cabeça doía tanto que não pensei duas vezes em sair de lá.
Jay suspirou, olhando para o ruivinho antes de ir até ele. Sentou-se na cama, mas ainda a uma boa distância dele.
— Assim que você saiu, eu fiquei te esperando. Não demorou muito, mas a Soha chegou onde eu estava junto de mais duas garotas. Eu não tive tempo de pensar e ela me beijou. Na hora, não soube como reagir e quando consegui empurrá-la, você já estava lá. Foi isso o que aconteceu. — limpou o suor das mãos. — Eu ainda perguntei porque ela fez aquilo quando você saiu, mas ela não me respondeu.
Jungwon olhou para ele com mais convicção, procurando traços de alguma mentira, mesmo sabendo que não encontraria nenhum. Suspirou.
— Eu estou divido, Jay. Não sei se acredito completamente em você ou se acredito apenas um pouco. Foi difícil ver aquele beijo, e por mais que você não tenha correspondido, doeu da mesma forma.
— E nós? Como nós ficamos? — perguntou, aflito.
Novamente o ruivo suspirou, engolindo em seco.
— Ontem, quando você dormiu, eu demorei um pouco mais para pegar no sono. Então pensei bastante no que deveria fazer, e assim que você tentou se explicar pra mim eu já sabia qual seria minha decisão. Eu estava tão triste e chateado que queria ter evitado essa conversa o máximo possível. — olhou o moreno no fundo dos olhos. — Eu já sei o que fazer.
— E-e o que vai fazer? — o moreno ofegou, seus olhos pingando.
As mãos estavam tremendo e a voz rouca e falha, consequência de seus gritos na noite anterior. Mas aquilo era só um detalhe.
Jungwon clareou a garganta.
— Jay, acho melhor nos separarmos por um tempo. Depois vemos o que é melhor para nós dois.
O moreno olhou para o amado, seus olhos arregalados e o coração apertado. Ouvir aquilo era como ser acertado com um soco no estômago, e ele sentiu o mundo desmoronar ao seu redor.
Nos separamos por um tempo? pensou, sentindo o desespero se infiltrar em cada fibra de seu ser.
Tudo o que via ao seu redor era uma pequena névoa de fumaça por conta das lágrimas que embaçava a visão. Em sua frente, Jungwon parecia tão calmo, tão decidido. Seus olhos pouco escuros não vacilaram, mas Park podia ver a dor escondida ali. Por quê? Ele queria perguntar, mas as palavras não saíam.
— Você quer terminar? — sua voz embargou.
Jungwon suspirou.
— Não. Não terminar de fato. Apenas nos afastarmos um pouco. Eu preciso pensar.
Sem opção, ele apenas assentiu, engolindo o nó em sua garganta.
— Eu entendo. — sua voz saiu mais fraca do que ele gostaria. — Mas... por quê?
O menor suspirou, passando a mão pelos cabelos ruivos. Ele parecia diferente naquele momento, mais cansado. Park sabia que ele estava revivendo todas as memórias ruins do passado e sofrendo com aquilo, mas se perguntou se ele estaria tão machucado com o término de ambos como ele próprio.
— Jong-seong, nós dois precisamos de espaço para pensar. — Jungwon finalmente respondeu, sua voz também embargada. — O que aconteceu entre nós foi muito bom. Eu não quero tomar uma decisão precipitada. Precisamos nos afastar, avaliar nossos sentimentos e depois conversar novamente.
— Não fizemos nem mesmo três meses de namoro. — o moreno pontuou, choroso. — C-como você me pede algo assim? Eu não te traí, Jungwon! Pelo amor de Deus, acredita em mim!
— Não sei o que pensar agora, Jay. Por favor, apenas não insista.
O moreno tentou se aproximar dele, segurando em sua mão. Ao ver que Jungwon não recuou, intensificou o aperto.
— E-eu te amo, príncipe. — sussurrou, derramando lágrimas. — Você também me a-ama, não é? Você me disse!
A garganta de Jungwon também fechou e seu nariz ardeu. Ele queria chorar, mas em seu corpo não havia mais água pra colocar pra fora. Estava completamente desidratado.
— Você conseguiu dizer pela primeira vez que me ama! Por que isso teve que acontecer? — gritou, desesperado. — S-se você não tivesse tirado a aliança para ir no mar, nada disso teria acontecido!
Yang suspirou, engolindo o choro. Jay estava tão fragilizado que ao menos se tocou que acabou falando que a culpa do término deles tinha sido do ruivo, quando para todos — até mesmo para Jungwon — o único culpado era ele.
Contudo, Jungwon não pode deixar de se sentir culpado também. Afinal, se ele realmente não tivesse tirado a aliança, não teria a esquecido e todo o desastre seria evitado.
— Não se preocupe, Seong. Eu ainda te amo. Só precisamos de um pouco de tempo. — conseguiu dizer.
Jay ofegou.
— Então não me deixe! Se você ainda me ama, fica comigo! Nós vamos resolver isso juntos!
Dessa vez, o ruivo não conseguiu conter suas lágrimas. Ele sabia que chorar na frente do moreno não seria uma boa ideia, Jay provavelmente iria se culpar por tudo aquilo e acabaria se machucando de alguma forma.
— Eu te amo, Jay! Eu te amo muito, mas estou com medo! — ele também explodiu, em um choro fino. — V-você sabe o quão medroso eu sou em relação a isso!
— E-eu não fiz nada, amor! Eu juro! — Jay falou, sentindo as lágrimas rolaram. — Eu não beijei a Soha. Eu não sou c-como ele, não sou como o Jaewon!
Ao ouvir aquilo, Jungwon se exaltou.
— Você sempre diz isso! Sempre diz que não é igual a ele, mas ontem eu vi você beijando outra! E daí que você não queria? Eu vi! — explodiu em mais lágrimas. — Você sempre me diz que não é como o Jaewon, mas o que me prova isso, uh? Nada! Nada, Jong-seong, nada!
Jungwon gritou, puxando sua mão para longe dele.
O moreno sentiu o coração apertar ainda mais, como se estivesse sendo esmagado por uma mão invisível. As palavras de Jungwon ecoavam em sua mente, cada sílaba cortando como uma lâmina afiada.
“Eu vi você beijando outra!”
Jay queria gritar que aquilo não era verdade, que ele nunca teria o traído, mas as lágrimas em seus olhos o impediam de articular qualquer som coerente.
— Jungwon, por favor, me escuta! — ele implorou, a voz trêmula. — Eu não queria beijar a Soha, ela fez isso. Eu amo você, só você!
O mais novo soluçou, as mãos tremendo enquanto segurava o próprio corpo. Ele parecia tão vulnerável naquele momento, e o maior queria abraçá-lo, protegê-lo de todo o sofrimento. Mas as palavras do ruivo continuavam a ecoar, acusatórias e dolorosas.
— Nada prova que você não é como o Jaewon! — Jungwon gritou, os olhos vermelhos e inchados. — Você diz que me ama, mas suas ações dizem o contrário. Como posso confiar em você agora?
O rebelde se aproximou, desesperado para tocar seu garoto, para fazê-lo entender. Mas o ruivo se afastou, como se o contato físico fosse insuportável e o seu toque o machucasse.
— Eu não quero te perder, Jungwon. — Jay sussurrou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. — Por favor, acredite em mim. Eu te amo como nunca amei ninguém!
O menor olhou para ele, o rosto contorcido pela dor. Então, se afastou dele, saindo da cama e parando próximo a cômoda. O moreno também se levantou, parando próximo dele e soluçando.
— Eu já te falei que não vamos nos separar. Não agora. — o ruivo murmurou, limpando as lágrimas. — Primeiro vamos pensar e colocar a cabeça no lugar. Depois conversamos novamente e decidimos o que for melhor para nós.
Jay assentiu, sentindo o peito apertar ainda mais.
Será que ele vai voltar? pensou, olhando para o namorado com esperança. Mas o ruivo já estava se afastando, caminhando em direção à porta. E então ele se foi, deixando-o sozinho.
Jay se jogou na cama, o colchão afundando sob seu peso. As lágrimas vieram com força, inundando seu rosto e molhando o travesseiro.
“Eu te amo, Jay! Eu te amo muito, mas estou com medo!”
As palavras de Jungwon ressoavam como um mantra doloroso.
Ele agarrou o travesseiro, apertando-o contra o peito. Queria gritar, queria que o mundo inteiro ouvisse sua dor. Mas só havia o silêncio, o vazio.
“Eu não fiz nada, amor! Eu juro! Eu não sou como ele, não sou como o Jaewon!”
As palavras saíram em soluços, misturadas com o gosto salgado das lágrimas.
O moreno se encolheu, abraçando a si mesmo.
“Você sempre diz isso!”
A voz do ruivo voltou com tudo, e como sempre, ele estava certo. Jay sempre prometia que não seria como os outros, que não o magoaria. Mas agora, tudo estava desmoronando. Jungwon estava magoado e a culpa era toda sua.
As lembranças dos momentos felizes com o namorado invadiram sua mente. Os sorrisos compartilhados, os abraços apertados, os beijos apaixonados.
“Eu te amo, Jay!”
A voz de Jungwon ecoava, mas agora era como um fantasma distante.
Jay chorou até que não houvesse mais lágrimas. Seu corpo tremia, sua alma se partindo em pedaços. “Tempo…” Ele se agarrou àquela palavra. Talvez, com o tempo, as feridas pudessem cicatrizar. Talvez, com o tempo, Jungwon voltasse para ele.
Mas, naquele momento, tudo o que ele podia fazer era chorar e esperar. Esperar pelo tempo que os separava, esperar pelo amor que ainda queimava dentro dele. E torcer para que, um dia, o tempo os trouxesse de volta um para o outro.
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