[🏀 + 16] - O beijo do Coelho
Antes de irem para o restaurante, os jogadores foram para o vestiário tomar um banho e tirar todo o suor do corpo. Jay pediu para que o ruivo ficasse esperando com os amigos enquanto ele tomava um banho rápido e ao terminar, vestiu suas roupas costumeiras. Camiseta, calça de couro e coturno pesado nós pés. Tudo preto.
Ele terminava de secar o cabelo quando viu seu celular vibrar em cima do banco. Pegou o aparelho em mãos e franziu o cenho ao ver o nome “pai” piscar na tela. Olhou desconfiado para os lados e deixou o vestiário, se afastando do grupo barulhento de colegas de equipe para atender. Hesitou por um momento antes de deslizar o dedo na tela.
Por alguns minutos apenas a respiração ofegante de Jay era ouvida. Tempos depois, a voz do homem soou firme, a familiaridade dos negócios tingindo cada palavra.
— Parabéns pela vitória, filho. Estou voltando para casa hoje e ouvi falar da comemoração.
Jay se endireitou, surpreso. Seu pai raramente ligava, muito menos para reconhecer algo relacionado à sua vida fora dos negócios. Nunca estava em casa e quando aparecia era uma vez perdida. Também não se importava com o que o filho fazia e ao menos ligava para suas escolhas.
— Não sabia que o senhor estava voltando hoje.
Respondeu, curto. Sentia uma bola de neve se formando em sua garganta o impedindo de respirar. Ouviu seu pai murmurar algo desconexo e podia o imaginar acenando brevemente, desinteressado.
— Onde vão comemorar?
San tornou a falar, ignorando a fala anterior do filho. Jay hesitou.
— No matcha.
— No restaurante da família Kim? Será um prazer rever o Hyun-woo.
O moreno franziu o cenho, não entendendo o que o pai queria dizer com aquilo.
— Vou passar no restaurante com sua mãe e seus irmãos. Será um bom jantar em família.
O mais novo sentiu o estômago embrulhar. A última coisa que ele queria era transformar a celebração da equipe em um evento familiar forçado, especialmente com a tensão entre ele e seu pai. Além de que ele provavelmente seria completamente desnecessário ao descobrir que ele estava com um garoto.
Ele não poderia deixar de forma alguma que seu pai aparecesse no matcha e acabasse com toda a comemoração. Sem contar que o mais velho também não ia muito a cara de seu melhor amigo.
— Pai, eu não acho que-
— Nos vemos lá, filho.
San o interrompeu, e antes que ele pudesse protestar, a ligação foi encerrada com um clique seco.
Jay encarou o telefone por um longo momento, a alegria da vitória esmaecendo. Ele sabia que a noite não seria mais apenas sobre basquete e celebração, mas agora também sobre navegar nas águas complicadas de sua família e tentar evitar uma catástrofe.
Suspirando, voltou para o vestiário. Ao entrar, Sunghoon que terminava de secar os cabelos com uma toalha o olhou preocupado, vendo sua feição cabisbaixa.
— O que aconteceu?
O moreno ergueu os olhos para ele, sem nenhuma empolgação.
— Meu pai ligou.
Hoon fez uma careta, podendo imaginar o que o melhor amigo ouviu pela ligação.
— Ele falou merda de novo?
— Não. Mas vai fazer. — suspirou novamente.
— Como assim?
Jay pegou suas coisas que acabou deixando espalhadas e seguiu até seu armário. O outro moreno o seguiu.
— Ele está voltando hoje da última “viagem a trabalho” que fez. De alguma forma descobriu sobre nossa vitória e disse que vai comemorar junto conosco. Não duvido que tenha sido minha mãe que o falou.
Sunghoon só conseguiu falar uma palavra:
— Porra.
— É. Porra. — Park bateu a porta do armário com força — Ele vai surtar quando descobrir que estou com o Jungwon.
O amigo concordou, mas não quis falar nada para não deixá-lo ainda mais chateado. O acompanhou quando ele deixou o vestiário e seguiu para fora da quadra.
— Eu tô no meu carro. Vou com o Jungwon. Não quer ir com a gente?
— Não, cara. Vão só vocês. Conversa com ele.
Jay torceu o lábio mas concordou.
Sunghoon ficou pelo saguão, esperando o namorado vir de onde quer que seja onde ele estava. Park seguiu reto, encontrando o ruivo aguardando por si em frente ao portão da escola.
Como quem não quer nada, o moreno seguiu de fininho, surpreendendo o mais novo ao agarrá-lo pela cintura. Jungwon virou-se para trás assustado. Soltou a respiração que prendia ao ver o sorriso grande do moreno.
— Que susto, idiota!
Park gargalhou antes de beijá-lo em um selar casto e rápido.
— Não sabia que era eu?
O ruivo pôs um biquinho nos lábios.
— Agora sinto o cheiro do seu perfume mas quando chegou não sabia que era você.
Jay selou o bico fofo que ele fez nos lábios.
— Vamos?
O ruivo assentiu e juntos seguiram até o carro que estava no estacionamento. Park não fez cerimônia para abrir a porta do passageiro para Jungwon entrar. Ele sempre fazia isso. Não demorou para que ele desse a volta no veículo e ocupasse o seu lugar, a cara não muito boa.
Park deu partida no carro, em silêncio. Sua feição não era das melhores e Jungwon preocupou-se. Até então, ele estava sorridente e beijoqueiro, mas de repente ficou chateado e calado. Ele segurava firmemente o volante, seus olhos focados na estrada à frente, mas sua mente estava em outro lugar. O ruivo se preocupava cada vez mais com o moreno ao ver sua expressão chateada.
— O que está acontecendo, Jay? — perguntou já sem se aguentar mais.
Park o olhou de canto de olho e sorriu.
— Só estou nervoso para a comemoração.
— Sei que está mentindo — falou certeiro — Por que não me diz o que tá te incomodando?
Jay suspirou.
— Meu pai ligou há uns minutos atrás.
Jungwon concordou. Sabia que ele não tinha uma relação muito boa com o pai.
— Ele sabe que ganhamos o jogo.
Silêncio.
— Tenho certeza que ele está orgulhoso de você. — falou, quebrando o silêncio entre eles.
Jay deu de ombros, uma expressão indecifrável em seu rosto.
— Ele sempre espera que eu seja o melhor, mesmo que não esteja no basquete. Deve estar feliz pela vitória. Ou está apenas fingindo.
— Bem, hoje à noite é sobre comemorar, não importa o que ele pense.
— Ele vai estar lá.
Jungwon arregalou os olhos.
— No restaurante?
— Sim. Disse que vai levar meus irmãos e minha mãe, como um bom jantar em família. Tão inconveniente — revirou os olhos.
— Talvez ele só queira um tempinho com vocês.
Jay sorriu amargamente.
Percebendo que ele não gostaria de entrar naquele assunto, o ruivo calou-se. O silêncio permaneceu por tanto tempo que faltavam apenas mais 10 minutos para chegarem ao destino. Nervoso, Jay decidiu falar com Jungwon, mesmo que não se sentisse pronto.
— Ele não aceita tanto minha relação com garotos. — falou contido, atraindo a atenção do ruivo. — Sabe, o meu pai.
Jungwon o olhou com atenção, tentando entender o que Jay queria dizer.
— Talvez seja preconceito porque ele sempre me falou que eu deveria ser como ele. Um homem hetero talvez. — disse com desdém — Mas não é diferente a maneira que ele olha para homossexuais e como olha pra mim.
— E você está preocupado com o que ele vai achar ao nos ver junto?
Jay concordou.
— Meu pai não é muito aberto, sabe? Ele tem algumas ideias antigas mesmo não sendo tão velho. — suspirou — Eu não sei como ele vai reagir quando souber sobre nós.
— O que acha que ele poderia fazer? Estaremos rodeados de pessoas, Park.
— Sei disso, mas também não sei o que esperar.
O ruivo suspirou.
— Você já é assumido para ele?
— Há muito tempo. Quando me assumir bissexual para ele sua reação foi rir de mim e dizer que eu era filho dele apenas pela metade, porque eu ainda era salvo por gostar de garotas. Assim que tentei falar sobre o assunto, ele não foi nada acolhedor. E eu tenho medo de que ele seja desrespeitoso com você.
Jungwon suspirou.
— Olha, eu não espero que ele me receba com um abraço ou da maneira mais educada possível. Não se preocupe, Seong.
Jay sorriu para ele, se sentindo mais leve naquele momento. Sabia que ao ver seu pai depois de tantos meses sem vê-lo seria um grande desafio. Ter uma conversa no mínimo civilizada com ele, com toda certeza seria frustrante.
Depois de mais alguns minutos eles chegaram ao restaurante, um lugar elegante com um letreiro luminoso que anunciava seu nome. Jay foi o primeiro a descer do carro e como sempre fazia, abriu a porta para o ruivo. Dentro do restaurante era ainda mais bonito. Luminárias e lustres caros iluminavam o lugar. As cadeiras pareciam ser tão macias que ao sentar não teria mais vontade de se levantar. Havia algumas fotos da família Kim pelas paredes e em cima de um balcão, um porta-retrato com a família Yang.
Jungwon guiou o moreno para a cozinha o deixando surpreso. Ele já esteve naquele restaurante várias vezes, mas nunca entrou na cozinha. O ruivo sorriu ao perceber sua feição confusa.
— Essa é a melhor parte de ter um pai chefe de cozinha e comandante de um restaurante. — falou, ainda puxando o mais velho — Comer as comidas ainda no preparo é uma maravilha.
Jay assentiu e assim que chegaram à cozinha, encontraram Hyun-woo andando de um lado para o outro. O homem estava supervisionando os preparativos finais para a comemoração. Ele olhou para cima quando os dois jovens entraram, seu olhar passando rapidamente de desaprovação para um sorriso meigo.
— Filho! — ele cumprimentou, sua voz contendo uma nota de frieza ao ver o moreno. — E Jay.
Jay sorriu, surpreso pelo homem ter dito o seu nome e não o chamado de moleque.
— O senhor falou meu nome.
Hyun-woo deu de ombros.
— Vocês são os primeiros a chegar. — Mudou de assunto — Sentem-se em uma mesa confortável.
— Obrigado por nos receber aqui, senhor. — o moreno o reverenciou.
O Senhor Yang apenas acenou, voltando sua atenção para os funcionários.
— Certo, agora deixem a minha cozinha!
Os garotos gargalharam antes de saírem do cômodo. Enquanto caminhavam entre as mesas bem arrumadas e as decorações sofisticadas, Jungwon apontava para as fotos antigas penduradas nas paredes.
O restaurante estava tranquilo, com apenas o som suave da música ambiente preenchendo o espaço elegante. O lugar estava completamente vazio, sem a multidão habitual.
— Essa é a minha bisavó e ao lado meu bisavô. Pais do meu pai. Ele quis colocar uma moldura deles para recordar dos momentos em que estavam vivos. No outro corredor estão fotos da família do Heeseung.
Jay ouvia atentamente, mas seus olhos estavam fixos nos lábios chamativos.
— Seu pai nunca pensou em abrir o próprio restaurante?
— Se pensou eu não sei, mas ele gosta daqui.
O moreno assentiu e ambos voltaram a rodar pelo lugar. Depois de alguns minutos, estavam novamente parados em frente ao balcão. Jungwon continuava falando sobre sua família e Jay não podia evitar de encará-lo com desejo.
Havia algo na maneira como a luz suave destacava os cachos ruivos que capturava completamente a atenção de Park. Ele não conseguia evitar; cada gesto, cada sorriso pequeno, cada olhar pensativo de Jungwon parecia gravar-se mais profundamente em seu coração.
Sem querer parecer muito invasivo por estar o encarando demais, Jay pegou um antigo menu de couro que estava em cima do balcão e começou a folhear as páginas amareladas.
— O Heeseung hyung me falou que sua família mantiveram o mesmo design do Matcha por anos e não pretendem mudar tão cedo. — ele comentou, sem perceber que o olhar do moreno já estava em si novamente. — O que achou do cardápio?
— É bonito — disse, mas seus olhos não estavam no menu. Eles estavam no ruivo, que só agora notou o olhar intenso do rebelde sobre ele.
Por um momento, o tempo pareceu parar. O ar entre eles carregava uma eletricidade que não podia ser ignorada, e Jungwon mesmo que não quisesse sentiu suas bochechas corarem sob o olhar quente do moreno.
— Você está bem? — Jungwon perguntou, sua voz um pouco mais alta do que pretendia. — Você ficou calado de repente.
Park piscou, voltando ao presente.
— Estou ótimo. Apenas um pouco perdido na sua beleza.
Jungwon sorriu, um pouco tímido, e voltou sua atenção para os quadros nas paredes.
— O que quer saber agora? — perguntou, mudando de assunto, mas o calor em seu rosto não diminuiu.
Park sorriu, olhando para a fotografia um pouco antiga no porta-retrato. A que viu assim que chegou. A imagem era da família Yang. No canto esquerdo estava Hyun-woo com um sorriso que o moreno nunca viu pessoalmente. No lado direito, Minji. Ela também sorria e seus cabelos eram num tom castanho claro, não laranjas. E no meio deles, um garotinho de sorriso banguela, claramente uma versão mais jovem de Jungwon. Seus cabelos eram castanhos escuros. Ele segurava dois mascotinhos de pelúcia.
— Sobre essa foto. — apontou para o vidro.
Jungwon sorriu gigante.
— Essa foto foi tirada no quintal da nossa casa. No meu quinto aniversário. Tenho boas memórias desse dia.
— Você parece feliz — Park comentou, observando a alegria pura no rosto da criança.
— Eu estava. Era meu aniversário de 5 anos e eu ganhei vários presentes. Não que eu me importe com isso hoje, mas naquela época era legal.
Jay se aproximou, olhando mais de perto para a foto. Os mascotes que o ruivo, na foto moreno, segurava, chamou sua atenção.
— E as pelúcias?
— Esses são os presentes que ganhei da minha mãe e do meu pai e os tenho até hoje. O amarelo é um cachorrinho de capuz. Se chama Chimmy. O rosa é um coelhinho chamado Cooky.
Jay sorriu bobo e Jungwon não entendeu o porquê.
— Cooky?
— Sim. Combina com ele.
— Cooky? — insistiu, mudando a palavra mas a pronuncia continuava a mesma.
Depois de alguns segundos o ruivo percebeu.
— Ei! Não tem nada a ver com você! Eu nem te conhecia, seu convencido!
Jay gargalhou, rodeando a sua cintura pequena e atacando os lábios atraentes. Talvez fosse perigoso demais beijá-lo com seu pai bravo a um cômodo de distância mas não podia resistir. Ao desgrudarem as bocas e cansados de explorar, o casal seguiu até uma mesa confortável onde sentaram e ficaram esperando pelos outros jogadores que estavam pra chegar. Sem assunto, Jungwon brincava com um guardanapo de pano, dobrando-o em formas diferentes, uma mania nervosa que ele tinha desde criança. Jay o observava, um sorriso brincando em seus lábios.
— Você sempre foi bom em origami?
O ruivo olhou para cima, surpreso.
— Ah, isso? É só uma coisa que eu faço quando estou pensando.
— E está pensando em quê? — inclinou a cabeça, interessado.
Jungwon corou levemente, evitando o olhar do moreno.
— Nada importante.
Park concordou, sem querer forçá-lo a contar algo que não queria.
— Me mostra como fazer.
O ruivo olhou para a mão tatuada ligeira pegando o outro guardanapo. Sentiu um arrepio subir pela coluna. Dispersou de seus pensamentos e pegou um guardanapo liso, começando a dobrá-lo. Jay prestou atenção em cada movimento.
Sendo guiado pelos movimentos das mãos gordinhas e pequenas do ruivo, Park começou a dobrar o guardanapo, suas próprias mãos se confundindo. Não muito tempo depois estava finalizado.
— Pronto — Jungwon sorriu ao ver os dois pequenos cisnes — Agora você é um especialista em origami de guardanapo.
Jay sorriu, segurando o cisne de pano com um ar de conquista.
— Eu tive um bom professor.
Os dois garotos se encaravam com desejo transbordando pelos olhos. Estavam felizes e animados com o decorrer da noite. Não falavam mais nada, apenas se olhavam. Park levou a mão até o rosto corado do mais novo, aproximando os lábios. Queria tanto beijá-lo e sentir o gosto de seus lábios doces.
Foi então que a porta do restaurante se abriu com um estalo. Eles desviaram os olhares rapidamente, arregalando os olhos. Park San entrou com uma presença que preenchia o espaço. um homem de negócios bem-sucedido que raramente mostrava satisfação. Ao seu lado, Park Somin sorria gentilmente. Os gêmeos vinham um pouco mais atrás.
Jay se afastou de Jungwon ligeiramente, sua expressão se fechando ao ver seu pai se aproximar. Park inalou profundamente antes de se afastar um pouco mais do ruivo, preparando-se para enfrentar o homem que nunca parecia satisfeito. O mais novo, percebendo a mudança drástica do lugar, virou-se para cumprimentá-los, mas foi interrompido pelas palavras carregadas de ironia do homem que esbanjava luxúria:
— Mas que casal bonito — disse, um sorriso sarcástico brincando em seus lábios enquanto observava os dois jovens.
Jay ofegou, sentindo o peso daquelas palavras, uma mistura de vergonha e desafio surgindo dentro dele.
— Pai — o moreno começou, sua voz firme. — Esse é o Jungwon ele é-
— Não me interessa saber de suas amizades, Jay. — San o interrompeu, ainda com aquele sorriso irônico. — Vamos nos sentar, querida. A noite é de celebração, afinal.
Somin lançou um olhar suave para o filho mais velho e um envergonhado para o garoto ao lado dele, como se pedisse desculpas pelo comportamento do marido. Guiando os gêmeos para uma mesa próxima. Jungwon e Jay trocaram um olhar rápido, um entendimento mútuo de que a noite seria mais complicada do que esperavam.
Já o homem mais velho fez questão de sentar ao lado do filho. Mas antes que pudesse abrir a boca para falar alguma coisa, foi interrompido por passos.
Hyun-woo saia da cozinha, o calor do forno ainda grudado em sua roupa de chef. Ele limpou as mãos no avental e olhou ao redor do restaurante, seu olhar parando em San, que estava sentando ao lado do filho, observando o ambiente com um ar de superioridade.
— Ora, se não é o grande e ocupadíssimo empresário Park San! — cumprimentou com a voz carregada de um sarcasmo mal escondido. — Não esperava ver você aqui. Veio verificar a concorrência?
San levantou-se lentamente, um sorriso presunçoso surgindo em seu rosto. Caminhou preguiçosamente até o Yang.
— Yang Hyun-woo, sempre tão preocupado com os outros. — estendeu a palma — Eu estou aqui apenas para apreciar a hospitalidade do estabelecimento de seu velho amigo Kim Sungjin.
Hyun-woo apertou a mão do homem, sem esconder seu desagrado. Logo cruzou os braços sem tirar o sorriso irônico de seus lábios. Os outros ali, observam a cena como grandes espectadores.
— Bem, espero que não fique desapontado. Nós nos esforçamos para atender até mesmo aos gostos mais... peculiares.
— Ah, eu tenho certeza de que será uma experiência inesquecível. — San respondeu, olhando ao redor com um ar de desdém. — Afinal, é sempre interessante ver como os menos afortunados gerenciam seus negócios.
Yang estalou a língua nos dentes sem se deixar ser afetado.
— Ainda continua com esse ar de superioridade, Park?
San sorriu cínico.
— Estou trajando um terno Armani caríssimo enquanto você continua vestindo aventais podres a gordura. O que acha, Hyun?
— Bem, você irá comer a minha comida.
Os dois homens se encararam, a tensão entre eles quase palpável. Eles tinham uma rivalidade que remontavam aos tempos de escola, e agora, como adultos, nada havia mudado.
— Você tem um ponto. — San se remoeu.
— Divirta-se esta noite, Park. E cuidado para não ter nenhuma infecção. Eu posso colocar algo na sua comida. — sorriu, quebrando o contato visual. — E não se preocupe, a conta será por minha conta. Considere isso um presente de um velho amigo.
— Não preciso da sua cortesia, Yang.
— Faça como quiser. — deu de ombros — A propósito, já viu o meu filho?
— O garoto ruivo? — San perguntou e Yang concordou — Engraçado. Você não é ruivo. Muito menos a Minji.
Hyun-woo franziu o cenho para a insinuação do outro homem.
— Não sei se o dinheiro realmente subiu para sua cabeça ou se você sempre foi burro, San. — revirou os olhos. — Onde você já viu um coreano nativo ruivo natural? A não ser que seja um casal de imigrantes que venha para a Coreia e-
— Certo, Hyun-woo. Já entendi que seu filho pintou o cabelo.
— E ele é o melhor aluno da Jaywon High. — gabou-se deixando o filho envergonhado.
Jungwon enrubesceu ainda mais ao ser o alvo do olhar do homem de terno.
— Ah, então deve ser por isso que o Jay é amigo dele.
— Amigo? Quem disse que são amigos? — Hyun-woo franziu o cenho — Esse garoto é meu genro!
Jay engasgou-se com a saliva. Jungwon tentou esconder seu rosto.
— Interessante.
Foi a única coisa que o homem disse antes de sentar-se novamente. Com um aceno de cabeça, Hyun-woo se afastou. San calou-se e um leve rubor de raiva surgiu em seu rosto. O silêncio desconfortável prevaleceu.
— Mamãe. — Jungmin falou baixinho, quebrando o silêncio.
— Diga, meu amor.
— Eu preciso ir ao banheiro.
Somin pensou um pouco.
— Jungwon, querido, poderia ir com ele? — perguntou a o ruivo.
— Claro, senhorita Somin. — sorriu — Vamos, Jungmin?
O menino assentiu e levantou-se da mesa em que estava, sendo seguido pelo ruivo. Eles se afastaram, deixando os outros para trás. Enquanto caminhavam pelo corredor em direção aos banheiros, Jungmin olhou para cima, seus olhos encontrando os de Jungwon.
— Eu não preciso usar o banheiro — confessou. — Eu só queria que você saísse dali. Você parecia desconfortável.
O ruivo sorriu agradecido.
— Obrigado por se preocupar, mas está tudo bem.
O mais novo balançou a cabeça, claramente não convencido.
— Não sabia que você e o Parkgguk namoravam. Vocês são legais juntos.
Jungwon corou.
— Nós não namoramos.
— Mas o seu pai disse que sim. E o Parkzinho sempre fala que você é namorado dele.
— Bem, nós ainda não namoramos. Temos algo.
O menino assentiu.
Enquanto isso, na parte principal do restaurante, o silêncio que se seguiu à saída de Jungwon e de Jungmin foi quebrado pela voz baixa, mas firme, de San.
— Um garoto, Jay?
Falou olhando diretamente para Jay com uma mistura de surpresa e desaprovação. O moreno, que até então estava calmo, sentiu um nó se formar em seu estômago.
— Pai, eu já falei ao senhor qual é a minha sexualidade. — tentou falar, mas as palavras pareciam ficar presas em sua garganta.
— Isso foi há uns três anos, Jong-seong! Você era praticamente um garoto, não achei que estivesse falando sério. Pelo amor de Deus.
Jay revirou os olhos, ficando verdadeiramente irritado.
— É, mas eu estava. Eu gosto de garotas e de garotos, qual o problema?
— Nenhum, mas eu não criei meu filho para ser uma bonequinha. — sorriu cínico — Até o momento em que você só beijava garotos tudo bem, ainda dava para engolir. Agora namorar um? Você perdeu a cabeça, Park Jong-seong?!
Junghee encolheu-se no seu lugar, assustado pela voz estridente do pai. Somin colocou a mão no braço do marido, tentando acalmá-lo.
— San, por favor. Não é o momento nem o lugar para isso.
O homem estava irredutível e não a ouviu.
— Não vai falar nada, Jay? Você quer mesmo envergonhar sua família? — aumentou o tom de voz — Eu te coloquei na porra daquele internato para tentar colocar modos em você e não transformá-lo em uma princesinha.
— Park San! — Somin interrompeu, sua voz carregada de preocupação. — Pare com isso! Não vê que o Junghee está assustado? Está deixando o Jay mal com essa conversa.
Jay suspirou.
— Está tudo bem, mãe. — sorriu, tentando passar confiança para a mulher. Olhou para o pai com raiva nos olhos. — Eu gosto dele, pai. Gosto do Jungwon.
O homem olhou para o filho, a raiva dando lugar a um desconforto visível.
— Jay, sabe o quanto isso é errado?
— Não, pai. Não é errado e também não é o senhor que pode ditar isso.
San ergueu os braços para cima, em sinal de rendição.
— Tá bom. Não falo mais nada.
Houve um momento de silêncio tenso antes de San finalmente se calar. Somin lançou um olhar reconfortante para ambos os filhoss falando que estava tudo bem.
— Ótimo. — Jay encerrou a conversa.
Mas San não parecia satisfeito.
— Esse garoto não parece sentir o mesmo por você. — a sombra de um sorriso surgiu em seus lábios — Depois não diga que eu não avisei quando ele quebrar seu coração.
Jay o ignorou, fingindo que as coisas que ele sempre dizia não o afetavam.
— Achei que você estava quase assumindo aquela garotinha. Como ela se chama mesmo?
— Soha. — Junghee respondeu para a surpresa de Jay.
— Isso! Ela é uma boa garota. Me orgulharia de a tê-la como nora.
Jay revirou os olhos.
— Não, ela não é boa. É jovem demais e eu não deveria ter ficado com ela.
— Por que não? — insistiu.
— Papai, o Parkzinho não gosta mais dela. É tão fácil de entender.
San olhou para o filho mais novo, abrindo um sorriso forçado. O assunto morreu quando os que tinham saído retornaram.
Jungmin foi sentar ao lado do gêmeo, o lançando um olhar de piedade, como se quisesse saber o que aconteceu e recebeu de volta um olhar frio do irmão. Ele sabia ler bem os olhares do mais velho e entendia o que aquele significava.
Já Jungwon curvou-se para os mais velhos, um pouco desajeitados.
— Estarei na cozinha agora ajudando meu pai nos últimos preparativos. — sorriu constrangido — Com licença.
Antes de sair, Jungwon foi até as portas, às abrindo para que os recém chegados entrassem. Depois curvou-se novamente e finalmente foi para a cozinha, lançando um pedido de desculpas com um olhar tristonho para o moreno.
• 🥕 •
Depois de mais uma hora o restante do time de basquete chegou no restaurante e foram se aconchegando em mesas diferentes. Jay não perdeu tempo em deixar a mesa em que estava junto dos pais e ir até aqui seu melhor amigo sentou.
Sunoo e Jungwon haviam ido ao banheiro a poucos minutos e o moreno girava uma colher entre os dedos enquanto seu melhor amigo o observava com preocupação. Ele não havia conversado muito com Sunghoon depois que ele chegou.
— Você está muito quieto — Hoon comentou, sua voz baixa e séria. — O que aconteceu?
Jay suspirou, colocando a colher de lado.
— Meu pai... Falando merda como sempre.
Sunghoon franziu a testa, se irritando rapidamente.
— o que ele disse?
— Ele não aceita que eu também gosto de garotos. Do Jungwon especificamente.
— Acabou de confessar que gosta do Jungwon.
— Eu nunca neguei. Sempre deixei aberto para quem quisesse ver.
Jung olhou para o amigo, surpreso.
— E ele também gosta de você?
— Não sei. Mas eu queria que ele visse o quanto é importante para mim. — sorriu.
— Ele vai notar o seu amor por ele, Jun. — tentou confortar o amigo — Mas você também precisa conversar com ele e assumir o que sente.
Jay assentiu.
— Sabe, eu sei que gosto dele. — aproximou-se do amigo e sussurrou. — Gosto de estar com ele. Pode parecer estranho para qualquer um, até mesmo para você, Hoon. Mas se eu conseguir mudar e me tornar pelo menos um garoto decente, foi por ele. Eu mudei unicamente por ele.
Sunghoon olhou para Jay com um olhar desconfiado mas sorriu. Colocou a mão em seu ombro, dizendo:
— Jay, não há nada de estranho em mudar por alguém que nos faz querer ser melhor. Isso não te faz menos do que você é, na verdade, mostra o quanto você é capaz de amar. — fez uma careta, conselhos não era com ele — E se Jungwon foi a razão para essa mudança, então você deve ir até ele. Só não se esqueça de que você também deve gostar da pessoa que está se tornando, independente de estar com o Jungwon ou não.
Jay olhou para Sunghoon com uma expressão cética, cruzando os braços. Não acreditava no que ele dizia.
— Sunghoon, você sempre foi o cara que me disse para não dar a mínima para o que os outros pensam. — começou, franzindo a testa. — E agora você vem com esse papo de mudar por alguém? Não sei, Hoon... parece que você está lendo muitos livros de autoajuda ultimamente.
Sunghoon soltou uma gargalhada, balançando a cabeça.
— Eu sei, eu sei, é irônico vindo de mim. Mas, Jay, mesmo um cara como eu pode ter seus momentos de clareza. E, sinceramente, se há alguém que pode fazer o grande Jay questionar suas escolhas, então esse alguém deve ser muito especial, não é? Só estou dizendo para não ignorar isso completamente, entende?
Jay suspirou, sabendo que, apesar de suas dúvidas, Sunghoon poderia ter um ponto válido.
— Eu só estou confuso. Você era o primeiro que apontava o dedo e dizia: Paixão não é para caras como eu! É difícil acreditar totalmente...
Sunghoon deu uma risada rouca e balançou a cabeça, um brilho travesso nos olhos.
— Olha quem fala, o bad boy da escola. — disse ele, com um sorriso irônico. — Não é todo dia que ouvimos Jay, o rebelde, falando sobre mudanças e sentimentos. Mas, cara, se eu estou dizendo isso, é porque é verdade. Até mesmo alguém como eu pode ver quando algo é genuíno. E o que você tem com Jungwon é algo que vale a pena. Então, mesmo que seja estranho vindo de mim, acredite, às vezes a gente encontra razões para ser uma versão melhor de nós mesmos.
O moreno olhou para o amigo, surpreso com a profundidade de suas palavras, vindo de alguém que sempre se orgulhou de não seguir as regras. Ele sabia que, se até Sunghoon podia entender o que ele sentia, talvez realmente houvesse algo especial entre ele e Jungwon.
Ele hesitou por um momento antes de falar, sua voz baixa e incerta.
— Hyung, você acha que... — ele engoliu em seco, encontrando coragem. — Você acha que eu amo o Jungwon?
Jung olhou diretamente nos olhos dele, sua expressão séria pela primeira vez na conversa.
— Jay, isso é algo que só você pode responder. — disse, calmamente. — Mas me diz, como você se sente quando está perto dele? Seu coração acelera? Você se sente mais vivo? Se a resposta for sim, então talvez seja amor. E não há nada de errado nisso. O amor não é uma fraqueza, é a coisa mais corajosa que alguém pode sentir.
Jay ficou em silêncio, as palavras de Sunghoon ecoando em sua mente enquanto ele ponderava sobre seus próprios sentimentos.
— E... foi assim que se sentiu quando percebeu estar amando o Sunoo?
Sunghoon pausou, um olhar distante atravessando seu rosto enquanto ele mergulhava em memórias que ele raramente permitia vir à superfície.
— Não foi como um trovão, como nos dramas. — começou ele, sua voz suave. — Foi mais como... um amanhecer lento. Cada dia com o Sun era uma cor nova no céu, até que um dia eu percebi que o céu estava cheio de cores que eu nunca tinha visto antes. E eu... eu simplesmente sabia. Era amor, e era tão assustador quanto era incrível.
Park observou Sunghoon, percebendo a sinceridade em suas palavras e o sentimento por trás delas. Ele nunca tinha visto esse lado reflexivo do melhor amigo antes, e isso só serviu para confundir ainda mais seus próprios sentimentos. Mas ele não pôde evitar um sorriso, uma faísca de humor em seus olhos.
— Então, Hoon, você está me dizendo que o amor é como um céu colorido? — disse ele, com um tom brincalhão. — E aqui estava eu pensando que você era o tipo de cara que só via o mundo em preto e branco, sabe, como nos filmes noir.
Sunghoon riu, dando um leve empurrão no ombro de Jay.
— Até mesmo um cara como eu pode apreciar um bom nascer do sol de vez em quando, Park. — respondeu ele, ainda sorrindo. — Mas falando sério, não importa como você descreve, o sentimento é o mesmo. E algo me diz que você está começando a ver seu próprio amanhecer.
Park assentiu e o silêncio prevaleceu. Depois de alguns minutos, Jay viu o movimento incessante das mãos do amigo em seu celular. Ele parecia digitar algo freneticamente e seus olhos estavam distantes. Depois, levou o aparelho até o ouvido e esperou por algo, como se estivesse em uma ligação.
Não suprindo suas necessidades, Sunghoon segurou o celular com força, uma expressão frustrada em seu rosto. Um tempo depois, seus olhos se iluminaram com o toque do celular e o levou a orelha rapidamente. Ele começou a tagarelar com alguém. Jay desviou o olhar, o dando privacidade.
Então passou a brincar com seus dedos, esperando o amigo encerrar a ligação ou que o ruivo junto do loiro voltassem da ida ao banheiro que já estava durando tempo demais. Ao que o tempo passava, Park tentava se distrair com algo mas acabou se assustando com o grito frustrado de Sunghoon.
— Não acredito nisso!
— O que foi, cara?
— O Niki simplesmente desligou na minha cara!
Jay arqueou uma sobrancelha, curioso. Dando-se conta agora que ainda não havia encontrado com o mentolado.
— O que aconteceu? — perguntou ele, tomando um gole de sua bebida que mal bebeu.
Jung suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Eu só estava tentando explicar que me atrasaria um pouco para encontrar com ele, mas ele nem me deixou terminar. — disse, claramente irritado. — E agora não atende mais.
— Talvez ele esteja apenas fazendo drama. Você sabe como o Niki é. Dê um tempo a ele, ele vai se acalmar.
— Ele só disse que estava com o Jungwon. E com o Sunoo.
Jay franziu o cenho.
— Por que está tão preocupado em se encontrar com o Niki, Sunghoon hyung? Estão tendo algo? — brincou acabando se assustando um pouco ao ver o amigo não responder — Estão?
Sunghoon suspirou.
— Às vezes, eu me pergunto como seria gostar de alguém novamente, sabe? Como naquele primeiro momento, quando tudo é novo e emocionante. — disse Sunghoon, brincando com os talheres.
Park estava ainda mais confuso.
— Espera, Hoon, do que você está falando? Você e o Sunoo não estão juntos?
Park percebeu a confusão de Jay e riu, sacudindo a cabeça.
— Eu e o Sun estamos ótimos. — explicou rapidamente. — É só que às vezes eu penso sobre como as coisas mudam com o tempo, mesmo quando você ama alguém. A paixão inicial se transforma, sabe? Mas isso não significa que o amor diminui, apenas muda.
Jay relaxou, entendendo o ponto de vista do amigo.
— Entendi. Você me assustou por um segundo, Hoon.
Ele sorriu.
— Mas eu também não neguei sobre estar tendo algo com o Niki.
O moreno arregalou os olhos, quase se engasgando com a bebida que tomava. Uma tosse seca tomou sua garganta.
— V-você está traindo o Sunoo? Eu nunca pensei que você seria capaz de fazer algo assim.
— Não! Não estou traindo o meu ursinho! — apressou-se em se explicar — Ele sabe disso. E até sente algo pelo Yoon também.
Jay bateu na mesa, histericamente. Não estava entendendo nada. Sunghoon levantou as mãos em um gesto de calma, tentando acalmar o amigo.
— Escuta, Seong, eu sei que parece confuso. — disse, com uma voz suave. — Mas o Sun, o Niki e eu, nós temos uma... uma compreensão. Não é traição se todos estão cientes e concordam com a situação.
Park passou as mãos pelo rosto, tentando processar a informação.
— Então vocês três... — ele começou, mas parou, incerto de como continuar.
— Sim, nós três. — confirmou Sunghoon, assentindo. — É diferente, eu sei. Não é convencional, mas funciona para nós. Não é apenas sobre gostar, é sobre confiança e comunicação.
Jay olhou para Sunghoon, ainda tentando entender, mas havia uma ponta de curiosidade em seu olhar.
— E como vão lidar com o preconceito? Sabe que um casal homosexual ja não é tão bem visto, dirá um trisal.
O jogador olhou para o moreno, sua expressão era séria e pensativa.
— Jay, não vou mentir e dizer que é fácil. O preconceito existe, e nós sabemos disso. Mas o que temos é verdadeiro e nos faz felizes. Não podemos viver com medo do que os outros vão pensar ou dizer.
Jay assentiu, absorvendo as palavras do amigo.
— E como vocês lidarão com isso no dia a dia?
— Com honestidade e abertura. Nós nos apoiamos e nos comunicamos muito.
— Então, é sobre serem fortes juntos...
Jay pensou um pouco. Ele estava incrivelmente surpreso com toda aquela nova descoberta. Nunca imaginou que seu melhor amigo metido a heterossexual que sempre dizia pelos corredores da escola que não iria se apaixonar por ninguém, estava completamente rendido por dois caras.
E ele não era de um todo diferente. O moreno também nunca foi de se apegar a ninguém, muito menos prolongar o tempo em que ficava junto para evitar criar laços justamente porque não queria se apaixonar. Na verdade tinha medo. E agora, ele foi laçado por um ruivinho birrento e mimado.
— Exatamente. — confirmou Sunghoon, com um sorriso encorajador. — E se alguém tem um problema com isso, o problema é deles, não nosso. Nós escolhemos o amor, Kook, e isso é o que importa.
Jay suspirou.
— Hyung, depois da nossa conversa eu me sinto... mais leve. — disse ele, um sorriso tímido se formando em seus lábios. — Acho que estou pronto para falar com o Jungwon, para realmente dizer o que sinto.
Antes que Sunghoon pudesse responder, a figura do ruivo citado apareceu ao lado da mesa, acompanhado por Sunoo e Niki. Jay sentiu um nó se formar em seu estômago, um misto de nervosismo e constrangimento o invadindo sem aviso.
Sunghoon, por outro lado, iluminou-se ao ver os três se aproximando, um sorriso caloroso espalhando-se por seu rosto. Seus olhos encontraram os de Niki, e um sorriso silencioso foi trocado entre eles, cheio de entendimento e afeto. Sunoo retribuiu o sorriso de Sunghoon com igual calor, a cumplicidade entre eles clara para qualquer um que estivesse observando.
— Ei, vocês chegaram na hora certa. — disse Sunghoon, após selar os lábios do namorado. — Jay estava prestes a nos dar uma boa notícia.
O moreno lançou um olhar rápido para o amigo, o fuzilado com seus olhos grandes cheios de incerteza.
— E o que é? — Jungwon perguntou animado.
Jay abriu a boca para falar, mas as palavras pareciam ter fugido de sua mente. Ele estava prestes a inventar alguma desculpa quando a figura imponente de seu pai surgiu ao lado da mesa, interrompendo o momento.
— Já está tarde. Eu, sua mãe e os gêmeos estamos indo. — falou com certa relutância, olhando apenas para o filho. — Eu preciso averiguar alguns relatórios na empresa então não irei com eles. Não os deixe sozinhos.
E saiu.
Park respirou fundo. Ele queria gritar com seu pai e dizer que sabia para onde ele realmente iria. Queria mostrar para sua mãe de uma vez por todas o que o marido dela fazia por debaixo de seu nariz e queria acima de tudo, fazer seu irmão mais novo entender a realidade. Era tudo tão frustrante.
Lidar com os problemas de casa nunca foram tão difíceis como pareciam estar sendo agora. Ouvir seu pai falando que iria para um lugar quando ele sabia que o mesmo iria para outro trair sua mãe era revoltante.
E então decidiu ignorar tudo quando o homem o deu as costas e seguiu para fora do restaurante junto de sua mãe e irmãos. Os seus amigos ainda o encaravam esperando por uma resposta, e ele sem ânimo algum, sorriu falsamente.
— Onde estavam? — perguntou diretamente para o ruivo, desviando do assunto.
Jungwon estava um pouco desconfortável pelo olhar ameaçador que o senhor Park o lançar antes de sair.
— Estávamos na aérea externa. É como um jardim onde eu, o Sun e Heeseung hyung brincávamos quando éramos crianças. — falou — Encontramos com o Niki hyung e ele também foi com a gente.
Park franziu o cenho.
— Por que chama todo cara mais velho de hyung, e comigo me trata com tanto desrespeito, ruivinho? — questionou indignado.
Os demais amigos caíram em uma gargalhada divertida, olhando para o moreno com cara de tacho.
— Você não é tão velho assim, Park.
— Eu sou dois anos mais velho que você, enquanto o Niki é apenas um! Isso conta muito, Jungwon.
— Nossa, que drama.
Jay revirou os olhos, ficando emburrado como uma criança mimada.
— Bem, eu fui pegar alguma coisa para beber e eles foram na frente. — Sunoo começou, sorrindo maléfico — e quando cheguei lá, eles estavam em uma sessão de fotos. E nem me deixaram participar.
Niki sorriu gengival.
— Porra, cara! Não rouba o meu ruivo! — Jay esbravejou entredentes, olhando o mentolado.
Min gargalhou como um diabinho.
— Relaxa, Park. Eu já tenho dois homens.
Falou sorridente, indo até o loiro e deixando um beijo caloroso em seus lábios.
Mesmo já estando cientes das relações que os três possivelmente teriam juntos, Jungwon e Jay se entreolharam surpresos, desviando os olhares para Sunghoon que estava relaxado na cadeira e com um enorme sorriso nos lábios enquanto observava os dois se beijarem.
Ao encerrarem o ósculo, ambos foram até o mais velho e Niki foi o primeiro a atacar os lábios do Park em outro beijo afoito. Logo em seguida, Sun fez o mesmo, porém em um beijo mais calmo e proveitoso.
— Uau. — Jay falou, estático.
O ruivo estava igualmente sem reação.
Passaram-se alguns minutos e eles se juntaram em uma conversa animada que só teve fim quando Sunghoon se empolgou em saber como era o jardim em que os mais novos brincavam quando crianças. Os cinco levantaram-se rapidamente e seguiram andando pelo restaurante.
A comemoração seguia normal. As mesas estavam preenchidas por cada um dos jogadores e alguém que eles quisessem levar junto deles. Uma música tocava suave e baixinha. As comidas eram servidas a cada rodada acabada e assim a noite seguia.
Lá fora, no jardim, as flores contrastavam com a noite iluminada pela lua e pelas luzes que havia no local. Os amigos observavam tudo com certo alívio, até que seus olhos pararam em duas pessoas próximas a um banco. Estavam em pé, e pela silhueta, denunciava ser um homem e uma mulher. Jungwon e Sunoo franziram o cenho, afinal, ninguém além deles, Heeseung e suas famílias conheciam aquele lugar.
Estreitando os olhos, Jungwon tentava descobrir quem eram aqueles intrusos mas com a escuridão iminente, não conseguia ver muita coisa. E como se lesse os pensamentos do ruivo, as pessoas viraram-se para eles, revelando seus rostos. Os cinco recém chegados tiveram cada um uma reação diferente.
Sunoo não aguentou a raiva que subiu pela sua garganta e caminhou em passos apressados até as duas pessoas que praticamente invadiram um espaço privado da família dona do restaurante.
— O que porra estão fazendo aqui? — perguntou esganiçado.
Sunghoon seguiu até o namorado com medo que ele fizesse algo e os outros foram atrás.
— Estamos aproveitando a comemoração — Doyoon sorria sarcástico enquanto Soha se atracava cada vez mais em seu braço.
— Vimos vocês vindo pra cá então achamos que estava liberado.
Jungwon sentiu seu sangue esquentar quando viu a garota proferir cinicamente enquanto tinha seus olhos focados no moreno ao seu lado.
— Olá, Jay.
E de todos os garotos ali presentes, ela cumprimentou justamente o moreno. Mas ele a ignorou.
— Falem logo o que estão fazendo aqui. — Jungwon perguntou, sem paciência.
Doyoon se aproximou um pouco mais, sorrindo.
— Estamos comemorando juntos, Jungwonizinho — o veneno quase escorria de seus lábios — Soha é a minha convidada.
Sunoo bufou.
— Não tinha alguém menos irritante e insuportável para convidar? — ele revirou os olhos.
Soha não se importou com a forma que foi intitulada e sorriu sarcástica, se aproximando do garoto.
— Sabe, Sunoo — começou maldosa — Normalmente eu era convidada pelo Jayie, mas aí o seu amiguinho chegou e o tomou de mim.
O ruivo sentiu o peso de cada palavra e sua mente borbulhar. E antes que Sunoo pudesse rebater, ele mesmo olhou para Soha, seus olhos refletindo uma calma que ele não sentia. Respirando fundo, escolheu suas palavras com cuidado, sabendo que qualquer resposta poderia alimentar ainda mais as provocações da garota.
— Soha, a amizade ou um relacionamento não é algo que se ganha por convites ou se perde por novas chegadas. — falou com convicção — O Jay é livre para escolher sua companhia, assim como você é livre para aceitar que as coisas mudam e mudaram. E, sinceramente, acho que todos nós deveríamos estar mais preocupados em fortalecer nossos próprios laços do que em disputar a atenção alheia. Principalmente você.
Im ficou em silêncio por um momento, surpresa pela serenidade na voz de Jungwon. Ele não tinha dado a ela a reação que esperava, e isso a fez ficar ainda mais irritada.
Jay segurou o braço do ruivo, o falando silenciosamente para não se estressar. Soha ergueu o queixo, a soberba brilhando em seus olhos enquanto encarava Jungwon. Com um sorriso frio, ela respondeu:
— Oh, Jungwon — zombou, sua voz tingida de sarcasmo. — Você realmente acha que suas palavras bonitas podem mudar a realidade? Jay e eu temos uma história, e não é um novato que vai alterar isso. Amizades vêm e vão, mas algumas conexões são simplesmente... inquebráveis. E quanto a você... bem, continue sonhando.
Sua resposta fez com que Jungwon soltasse uma gargalhada alta e estrondosa, como nunca dera antes. Ele olhou para a garota com uma expressão séria.
— Eu não vou discutir com você, Soha. Ainda mais quando toda essa confusão está parecendo que nós dois estamos brigando pelo Jay. Mas você deveria se valorizar mais.
A morena cruzou os braços, com um sorriso confiante nos lábios.
— Eu já me valorizo, Jungwon. Não preciso que você me diga isso.
— Se valoriza mesmo? Não parece. Não quando você comenta com suas amigas em um corredor aberto, onde qualquer pessoa, inclusive eu, pode passar, e fala que deixaria o Jay te dedar na frente de todo o time de basquete. Se isso é se valorizar, então eu não sei mais qual o sentido de valor.
Soha ficou em silêncio, as palavras de Jungwon cortando a fachada de confiança que ela havia construído. Ela não esperava que ele tivesse ouvido aquelas palavras, muito menos que as traria à tona agora. A verdade era um espelho que ela não estava pronta para encarar. Suas bochechas pela primeira vez adquiriram o tom vermelho.
Todos os outros estavam incrivelmente surpresos com a descoberta. Jay ficou boquiaberto por saber que ainda era alvo dos pensamentos da garota, mesmo já tendo colocando um fim em toda a história que tinham. Se é que já tiveram alguma.
Soha estava fervendo por dentro, cada palavra de Jungwon apenas alimentava as chamas de sua raiva. Ela não podia aceitar a ideia de ser deixada de lado, de ser substituída. Com um olhar que poderia cortar aço, ela enfrentou Jungwon, sua voz crescendo em intensidade a cada sílaba.
— Escute aqui, Jungwon. Você acha que pode vir aqui e mudar tudo? Que pode simplesmente aparecer e tomar o que é meu? Jay sempre foi meu, e eu não vou deixar um... um nada como você estragar isso!
Ela deu um passo à frente, invadindo o espaço pessoal do ruivo, sua determinação tão palpável quanto o calor de sua ira.
— Eu não vou descansar até que ele volte para mim. Até que ele veja que esse... esse joguinho de vocês não é nada comparado ao que nós tínhamos. E eu vou fazer o que for preciso para acabar com isso, para mostrar a ele que sou eu quem ele realmente quer. — sua respiração estava pesada, seu peito subindo e descendo rapidamente com a força de suas emoções. — Então você pode ir se preparando, Jungwon. Porque eu não vou parar. Não até que Jay esteja de volta aos meus braços, onde ele pertence.
Jungwon recuou, a intensidade de Soha o surpreendendo. Ele sabia que ela era competitiva, mas nunca imaginou que ela pudesse ser tão implacável. A cena diante dele era uma revelação do quão longe Soha estava disposta a ir, e isso o deixou preocupado não apenas por si mesmo, mas pelo bem-estar de Jay também.
O moreno que até então observava a cena à distância, decidiu intervir. Com uma calma falsa que contrastava com a tempestade de emoções de Soha, ele se aproximou e falou:
— Soha, o que tivemos já deveria ter sido esquecido. O passado é passado. Não podemos viver de lembranças e esperar que elas definam nosso futuro.
Sua expressão era séria, transmitindo a sinceridade de suas palavras. Ele deu um passo para trás, deixando suas palavras no ar, esperando que elas pudessem trazer alguma clareza e paz para a situação complicada em que se encontravam.
Soha, com a teimosia ardendo em seu olhar, recusou-se a aceitar as palavras de Jay. Ela retrucou com uma convicção cega:
— Vocês vão ver — ela disse, a voz carregada de um desafio amargo. — Vocês vão voltar a se odiar, e quando isso acontecer, Jay, você vai se dar conta do erro que cometeu. Você vai voltar para mim, vai se rastejar de volta, porque eu sou a única que realmente te merece.
Ela estava imóvel, como uma estátua, a determinação e a raiva se misturando em uma tempestade perigosa dentro dela. Soha estava disposta a esperar, acreditando que o tempo provaria que ela estava certa.
A paciência de Jungwon finalmente se esgotou. Ele não podia mais conter a frustração que Soha provocava com suas palavras venenosas. Com um olhar feroz, ele elevou sua voz, algo raro para ele, que sempre prezava pela calma.
— CHEGA, Soha! Jungwon gritou, cada palavra como um trovão. — Sua arrogância e sua incapacidade de ver além do seu próprio ego estão nos destruindo. Você não pode forçar as pessoas a sentirem o que você quer. O Jay não é um objeto que pertence a alguém, ele é uma pessoa com sentimentos e escolhas próprias! — ele respirou fundo, tentando recuperar o controle de suas emoções. — E se você realmente se valoriza como diz, então comece a respeitar os outros. Respeite o Jay, respeite a mim e, mais importante, respeite a si mesma.
Jungwon esperava que seu grito de desabafo pudesse ser um despertar para Soha, um chamado para que ela refletisse sobre suas ações e o impacto delas nos outros.
Doyoon ouvia tudo com um grande sorriso nos lábios. Já Sunoo, tentava não voar nos cabelos da garota e Sunghoon se controlava para não esmurrar o rosto do co-capitão. Niki, por outro lado, estava completamente perdido no que estava acontecendo.
Soha sentiu uma onda de raiva e frustração tomar conta dela. Com um olhar fulminante, ela virou-se bruscamente e saiu marchando, seus passos ecoando pelo gramado molhado. Doyoon, preocupado, apressou-se em segui-la, chamando seu nome numa tentativa de acalmá-la.
Jungwon, por sua vez, ficou parado, a frustração borbulhando dentro dele até que ele não conseguiu mais contê-la e gritou em meio toda sua frustração. Jay se aproximou rapidamente, o envolvendo em um abraço reconfortante.
— Está tudo bem, amor.
O ruivo pareceu mais calmo com o contato do moreno.
Sunghoon observou a cena diante dele, a tensão ainda palpável no ar. Com um suspiro, ele decidiu que era hora de intervir e dissipar o clima pesado que havia se instalado.
— A festa acabou, pessoal — disse com sua voz clara e firme, cortando a quietude que se seguiu à saída tempestuosa de Soha e Doyoon. — Vamos dar um tempo para todos esfriarem a cabeça e refletirem um pouco.
— É melhor irmos pra casa. — Niki falou.
— Ah, eu não quero ir agora! — Sunoo protestou.
— Tudo bem, gente. Podem ficar. Eu e o Jay vamos embora.
Com a atmosfera do jardim ainda vibrando com os ecos da discussão, Sunoo liderou o caminho de volta ao restaurante. Jungwon, ainda sentindo o calor do abraço de Jay, seguiu ao lado dele, enquanto Sunghoon e Niki conversavam em voz baixa, lançando olhares preocupados para trás.
O grupo atravessou o espaço, cada um perdido em seus próprios pensamentos sobre os eventos da noite. Ao chegarem ao restaurante, a normalidade do ambiente contrastava fortemente com a tensão que haviam deixado para trás no jardim.
— Vamos pra minha casa? Depois disso tudo eu quero comemorar de um jeito diferente. — Jay murmurou, beijando o pescoço do ruivo.
— Não sei se é uma boa ideia. O seu pai está em casa. É melhor não.
— Ele não vai chegar em casa antes das três da tarde. — subiu os selares para os lábios grossos.
— Sua mãe não irá se incomodar se eu for?
— Não. Ela te adora. E provavelmente já deve estar dormindo.
Jungwon assentiu, se deixando levar.
— T-tudo bem. Eu preciso falar com meu pai.
Jay finalizou o beijo com um sorriso e esperou por ele. O ruivo fora falar com seu pai e Park torcia para que tudo desse certo. Uma possível chuva se aproximava e ele só queria finalizar a noite frustrante que teve agarrado com sua Cenourinha.
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