[🏀 + 06] - Provocações
Era terça-feira à noite. Poucas horas haviam se passado desde o jogo e a vitória dos Desvils e agora todos os jogadores — e seus convidados — se preparavam para comemorar.
Jungwon estava quase surtando dentro de seu dormitório, sem saber que roupa vestir. E também não só por isso. A coisa maior que quase o fazia hiperventilar era saber que ele havia sido o convidado do moreno rebelde. Cada um dos jogadores poderiam escolher alguém para levar junto e de todas as pessoas que Jay poderia escolher, o ruivo era o menos provável.
A notícia de quem seria o convidado do capitão se espalhou rapidamente por todo o prédio e não demorou muito para que uma certa pessoa também ficasse sabendo. Mas ele sequer se importava com isso, porque tinha em mente que iria se divertir.
Jungwon não estaria tão nervoso se não fosse o convidado do capitão do time, e nem havia motivos para tal já que todos também já sabiam que do início do ano para o prezado momento, ambos não se bicavam mais como antes e a relação deles estava até que boa.
Mas ser convidado pelo próprio Jay ainda era um pouco alarmante.
— Anda logo ou vamos nos atrasar, Yang Jungwon! — Sunoo reclamou, impaciente — O Sunghoon já me mandou um monte de mensagens perguntando onde estamos.
Bufando, o ruivo foi até sua parte no armário e pegou qualquer coisa que veio pela frente: Uma camisa vermelha e uma calça jeans com alguns rasgos nos joelhos.
Vestiu tudo com uma rapidez jamais vista e penteou os cabelos lisos. Bufou por querer fazer ondinhas nele, mas não teve tempo.
— O Heeseung bem que poderia estar aqui. Ele saberia a melhor roupa para mim. — botou um biquinho enorme nos lábios.
Sunoo revirou os olhos.
— Agora não é hora para birras, Jungwon. Já estamos atrasados e... espera.
O loiro falou com um tom de voz mas elevado.
— Ai, Sun, que susto! — levou a mão até o peito, sendo dramático.
— Por que você aceitou o convite do Jay? Hein, hein?
Ele arregalou os olhos.
— Porque ele me chamou.
— Não venha com essas desculpas, Yang Jungwon. Ele poderia ter chamado qualquer um.
Jungwon iria dizer qualquer outra desculpa e arrastar o amigo para fora do quarto, mas aqueles olhos escuros e semicerrados, mostravam que o loiro não seria convencido por qualquer coisa. Suspirando, decidiu abrir o jogo.
— Você lembra da nossa última discussão? Quando ele trocou o meu teste com o dele? — o loiro assentiu — Bem, depois de perder a paciência eu fui embora e ele teve a cara de pau de me mandar parar de “rebolar”, porque isso só deixava minha bunda mais gostosa. — revirou os olhos.
— Que filho da puta!
— Sim, Sun, um filho da puta. Só que aí os dias foram se passando e a gente nem se bicava mais. Até que depois das eleições ele simplesmente passou a me ignorar e dois dias depois levou uma surra desgraçada do Mingyu. Eu humilde como sempre, cuidei de todos os ferimentos dele e a gente combinou de nunca mais brigar. Hoje no final do jogo, eu cuidei dele outra vez e ele me pediu desculpas pelo o que disse aquela vez no corredor quando brigamos por causa dos testes. E ele nunca pede desculpas! Tem noção disso? Logo depois me convidou para a comemoração e eu tive que aceitar para mostrar que estava grato pela mudança dele.
Falou tudo de uma vez e parou para respirar um pouco.
O loiro estava boquiaberto.
— Então está me dizendo que o Jay te pediu desculpa e concordou em nunca mais brigar com você? — o ruivo assentiu — E que ele te chamou para ir comemorar a vitória do time e você só aceitou por gratidão?
— Sim, Sunoo.
— Só isso? Nada mais?
— Só! O que mais poderia ter?
— Sei lá. Eu achei que você tinha aceitado porque gosta dele.
Jungwon se engasgou com a própria saliva.
— O quê? Claro que não!
— Vai me dizer que depois de todo esse tempo com ele pegando em seu pé, não sente nada por ele? — insistiu — Nem uma coisinha sequer?
— Não, Sunoo! Não sinto nada por ele.
Vendo que o amigo estava ficando exaltado, o Kim segurou em suas mãos lotadas de anéis e fez um leve carinho.
— Amigo, você não pensou nada sobre o que eu e o Heeseung conversamos com você?
Ele suspirou.
— Pensei.
— E então? — foi cauteloso.
— Eu achei que talvez estava sentindo uma coisa por ele. Mas eu me enganei.
— Como assim se enganou?
Jungwon desviou o olhar mas logo voltou a encarar o melhor amigo.
— Sabe quando o professor Seo pediu para que eu fosse pegar seu notebook na sala dos professores? — Sun concordou — Então quando eu fui, ouvir barulhos vindo da sala de música e eu sabia que não deveria ir, mas eu sou curioso então fui olhar o que era.
Sunoo arregalou os olhos.
— Não me diga que...
— Sim. O Jay estava sendo mamado por um garoto do segundo ano. — suspirou — Você acha mesmo que se ele tivesse se apaixonado por mim, ficaria fazendo essas coisas por todo canto da escola? E com outras pessoas a não ser eu?
— Vai ver ele só quer te esquecer.
— Kim Sunoo, foca! Ele não está apaixonado por mim! Você e o Hee são dois loucos.
O loiro suspirou.
— Não quer nem dar um beijinho nele?
Jungwon parou e pensou um pouco. Não sabia o que responder e pode suspirar aliviado ao ouvir batidas suaves na porta.
— A porta. Vou olhar quem é.
Saiu andando de fininho e Sunoo negou com a cabeça.
Assim que abriu a porta, quase caiu para trás ao ver quem era.
— Oi, ruivinho. — sorriu galanteador — Você está lindo.
Surpreso por vê-lo ali, caminhou um passo para trás o que fez o moreno entender que era para ele entrar. E ele entrou. Jungwon continuava com os olhos arregalados.
— O que foi? Tá assustado? — perguntou já dentro do quarto.
— O-o quê faz aqui?
Antes que Jay pudesse responder, ouviu quando o loiro falou:
— É só falar em coisa ruim que ela vem.
O moreno soltou um risinho.
— Olá, Sunoo.
— E aí, Park.
Jungwon foi até o lado do moreno e o encarou.
— O que quer aqui?
— Eu vim chamar vocês pra gente ir. O ônibus já está pronto e só falta vocês dois.
Ambos os amigos arregalaram os olhos.
— Jesus! O Sunghoon deve estar impaciente e querendo me matar. E nem é na cama, do jeitinho que eu gosto — choramingou.
Jay sorriu.
— Com certeza. Ele te mandou várias mensagens.
O loiro fez uma caretinha e deixou o quarto com pressa, deixando apenas o moreno e o ruivo sozinhos.
Jay olhou para Jungwon e quando foi falar, ele também saiu. Sem ficar para trás, Park o seguiu, batendo a porta do quarto. Não demorou muito e já estavam no ônibus, pronto para irem até o bar.
Assim que chegaram, todos foram descendo um a um e entrando no local. Alguns dos jogadores optaram por ficar em uma mesa separada, junto de seus convidados. O restante ficaram juntos.
No bar aconchegante, a luz suave das lâmpadas criava um ambiente íntimo e acolhedor. O time de basquete junto de seus convidados já estavam reunidos para celebrar mais uma vitória e o clima estava descontraído e agradável.
Sentados lado a lado, Jungwon e Jay se entreolhavam vez ou outra e os outros amigos observavam a cena com curiosidade, apostando mentalmente em quanto tempo levaria para que eles começassem a discutir. Porém, a promessa que haviam feito de nunca mais brigar ainda estava de pé.
O ruivo pensava na conversa que teve com o amigo antes de saírem do colégio e da forma que reagiu ao encontrar com o moreno na porta de seu dormitório. Não havia motivos para tal reação. Todo esse tempo em que ficou martelando seus pensamentos, os outros pediram a porção de carnes e bebidas que queriam.
Ao ver que o ruivinho estava no mundo da lua, Park tomou a liberdade de pedir por ele. Não demorou muito e o garçom trouxe os pratos com as carnes cruas, cervejas, sojus e uma água.
— Toma, ruivo.
Jungwon saiu de seus pensamentos quando Jay empurrou a garrafa d'água para ele.
— Eu não pedi isso.
— Eu pedi pra você. Imaginei que não fosse muito fã de bebidas alcoólicas.
— Ah, obrigado.
Park sorriu e levou um pedaço de carne de porco para grelhar.
— Gosta de carne de porco?
— Gosto.
Ele assentiu. E como se as chamas do fogo e as brasas de carvão estivessem ao seu favor, logo o pedaço da carne macia assou. Jay a retirou da grelha e a colocou em um prato. Lançou uma olhadela para o ruivo que bebia da sua água.
Com um olhar travesso, cortou um pedaço suculento da carne, vendo a fumaça e o cheiro bom subir. Pegou o pedacinho da carne com seu par de hashi e o estendeu na direção de Jungwon, que o encarou com surpresa. Seus olhos se encontraram, e por um momento, Jay esqueceu o que estava fazendo.
— O que foi?
— Experimenta — movimentou o hashi. Sua voz mais suave do que o habitual.
Jungwon o olhou desconfiado e hesitou por um instante, mas então aceitou. Entreabriu os lábios e permitiu que o moreno levasse as pontas dos pauzinhos com o alimento para dentro deles. O pedaço de carne derreteu em sua boca, e ele fechou os olhos, saboreando o sabor rico e temperado. Um gemidinho de satisfação lhe escapou.
Quando abriu os olhos novamente, Jay o observava com uma expressão desejosa. Seus olhos repletos de luxúria. E por algum motivo, ele gostou daquilo. Mas suas bochechas logo coraram e ele desviou o olhar.
Os outros amigos estavam boquiabertos. Afinal, como era possível que aqueles dois, que costumavam trocar farpas como se fossem inimigos mortais, estivessem compartilhando um momento tão íntimo?
Park percebeu a atenção de todos voltada para eles dois, e soltou um risinho, quebrando o silêncio constrangedor.
— Surpresos, pessoal? — perguntou humorado.
Quase todos balançaram a cabeça, ainda sem palavras. Talvez o ódio fosse apenas uma fachada, uma forma de esconder algo mais profundo. Era isso o que pensavam.
— Parece que vocês estão mesmo saindo da estaca zero. — Hansol brincou.
Jay gargalhou fraquinho e levou um pedaço de carne até a própria boca.
— Já que estamos todos reunidos, porque não brincamos de algo? — Minseok sugeriu.
— Pode ser. Mas do que?
— Eu nunca? — Doyoon falou.
— Lá vem. Isso nunca dá certo.
— Tem alguma ideia melhor, Niki?
Ele deu de ombros.
— Eu topo. — Jungwon falou.
— Você, Jungwon?
— Por que a surpresa, Hansol?
— Nada. Só achei que você não curtia esse tipo de brincadeira.
Jungwon sorriu, mostrando que não se importava.
— Então todos estão de acordo?
— Sim! — falaram em uníssono.
— Ótimo, mas antes de começarmos, vamos brindar pela nossa vitória! — Jay falou e todos concordaram.
Eles se levantaram e cada um com seu copo na mão — e o ruivo com a garrafinha d'água —, brindaram.
— Aos Devils! — gritam em um coro de voz.
Logo após, viraram os copos.
Assim que Park bebeu um pouco, Jungwon roubou o copo de soju de sua mão e deixou um longo gole que desceu queimando por sua garganta. Jay ficou surpreso, mas gargalhou fraquinho. Todos voltaram a sentar.
Os copos já voltavam a ser preenchidos pelas bebidas e enquanto se preparavam para a primeira rodada e pensavam nas perguntas que fariam, Jay só encarava uma pessoa.
A música alta e o som das grelhas de carne criavam uma sinfonia animada. Os olhos do capitão encontraram o ruivo que estava sentado ao seu lado, em uma cadeira um tanto maior que sua altura, com os pés balançando no ar. Seus cabelos ruivos pareciam pegar fogo sob as luzes do bar.
Sem que ele percebesse, Jay puxou o celular de seu bolso e abriu a câmera. Apontou para o rosto bonito e tirou uma foto. Guardou o aparelho com rapidez quando o ruivo o encarou. Ele se esgueirou um pouco mais para o lado e perguntou:
— Vai mesmo querer participar disso? Acho que não vão pegar leve com as perguntas.
Jungwon olhou para ele, seus olhos brilhando.
— Relaxa, Park. Não é a primeira vez que brinco disso. E não sou tão inocente.
O capitão riu.
— Então farei questão de lançar minha pergunta diretamente para você.
Jungwon revirou os olhos.
Jay sorriu outra vez e apontou para a grelha de carne.
— Vamos pegar um pouco mais de comida enquanto eles se resolvem. — sugeriu — O que você prefere, suína ou bovina?
O ruivinho pensou por um momento e depois sorriu.
— Bovina.
Park assentiu e pegou um bom pedaço de carne bovina para ele.
— Vamos logo! — Sunoo pediu impaciente — Cada um pergunta uma coisa. Começa por mim, depois o Heeseung, depois o Hansol e assim sucessivamente, certo?
Todos assentiram. E Sunoo falou:
— Eu nunca fingi um orgasmo.
Todos beberam.
— Que pergunta merda, Sun. — Doyoon reclamou e o loiro revirou os olhos.
— Minha vez — Sunghoon sorriu travesso — Eu nunca falei que estava doente só para não transar com quem não queria.
Doyoon, Jay, Hansol, Niki, Sunghoon e alguns dos convidados beberam.
— Já fingiu estar doente para não transar comigo? — Sunoo encarou o namorado com fúria.
— Não, amor.
— E fingiu pra quem?
— Bebê, isso é passado. — tentou explicar e o loiro emburrou-se.
Aquela cena fez quase todos na mesa reviraram os olhos.
— Odeio casais felizes e melosos. — Hansol reclamou — Minha vez. Eu nunca transei com mais de uma pessoa.
De todos ali, apenas Jay e Sunghoon beberam.
— Que porra é essa, Park Sunghoon? O Jay eu até entendo, mas você? — Sunoo se exaltou.
— Só foi uma vez, amor. Eu estava bêbado pra caralho. Nem lembro mais com quem foi.
— Você é uma caixinha de surpresas. Depois você vai me contar isso direitinho, ouviu?
— Ouvi, loirinho.
Mais uma vez, reviraram os olhos.
— Eu nunca comprei ou usei brinquedos sexuais excêntricos. — Minseok perguntou.
Jungwon, Sunoo, Sunghoon, Niki, Hansol, Yerin, Yuna e Sana beberam.
— Você já usou brinquedinhos sexuais, Sunghoon? — Jay provocou o melhor amigo.
— Já. No meu namorado.
Sunoo ficou vermelho.
— Cala a boca, Sunghoon! Eles não precisam saber que já usamos isso!
— Você também bebeu, amor. E todo mundo sabe que você é passivo.
— Porque você não quer dar pra mim!
— Nunca! Minha bunda vai ser virgem até eu morrer.
Todos riram.
— E você Niki? Comprou pra usar em quem? — Doyoon perguntou.
— Em mim mesmo — falou sem receio.
— Mentira que você é passivo. — Minseok estava surpreso.
— Na verdade eu dou e como. Não tenho frescura quanto isso.
— Dá pra mim então. Você é mó gostosinho.
Niki sorriu.
— Marca um dia.
Minseok se animou com a possibilidade e não perdeu tempo ao apertar a coxa do pálido por baixo da mesa. Nishimura o olhou de imediato com um olhar sugestivo.
— Ninguém vai perguntar porque eu comprei brinquedos sexuais não? — Hansol fez um biquinho.
— Por que você comprou, Kang? — Kyungsoo perguntou.
— Não riam de mim, tá legal? — falou sério, e só aquilo foi o suficiente para todos começarem a rir. — É sério, gente.
— Tudo bem, Hansol. Pode falar. — Jungwon foi o primeiro a parar de rir.
— No ano passado eu queria transar com a prima do Doyoon.
— Você não vai contar isso, cara — o co-capitão explodiu em uma gargalhada alta por já saber de toda a história.
— Deixa eu falar, Doyoon!
— F-fale. — tentou dizer em meio a gargalhada.
— Então, eu queria transar com ela. O Doyoon falou que ela estaria disponível em um certo final de semana e quando chegou o dia, a gente tava bem no clima, mas aí quando íamos para a melhor parte, ela falou que não queria mais. — bufou ao lembrar.
— Por que não? — Sunoo perguntou, querendo saber.
Antes que Kang pudesse continuar, Doyoon foi mais rápido.
— Ela falou que o Hansol tinha o pau pequeno!
O Kang revirou os olhos.
— Daí ela me disse que se eu quisesse transar com ela, comprasse pelo menos um plug anal para ela sentir ao menos alguma coisa. Segundo ela, meu pau não fazia nem cócegas. — finalizou a história.
A roda de amigos explodiu em uma gargalhada alta e sincera.
— Qual é, vocês prometeram não rir!
— Foi mal, cara. Mas essa foi boa demais! — Kyungsoo falou em meio ao riso.
Hansol rolou seus olhos até parar no ruivo.
— Jungwon!
— Oi?
Kang colocou um bico nos lábios. Todos pararam de rir e agora prestavam atenção nele.
— Jungwonzinho, meu amor. Coisa fofa, o mais lindo que tem! — falou sorridente.
Jungwon revirou os olhos, sendo seguido por Jay que fuzilava o outro com o olhar.
— Fala logo, Kang.
— A gente já transou e você até disse que eu sou melhor que o Doyoon! Fala pra eles que meu pau não é pequeno.
Jungwon sorriu. Não perderia essa.
— Não é pequeno. — Hansol abriu um longo sorriso — Mas também não é grande.
— Ah, qual é!
Os amigos voltaram a gargalhar e aos poucos o jogo continuou e a cada nova pergunta, Sunoo e Sunghoon se implicam e o restante reviraram os olhos. Agora faltava apenas Niki, Jungwon e Jay perguntarem.
— Eu nunca transei com alguém imaginando ser outra pessoa. — o mentolado perguntou.
Novamente poucos beberam.
Jungwon arregalou os olhos ao ver que Jay bebeu rápido demais e no momento em que provava da bebida, seus olhos não desviaram dos seus.
— Faço isso quase sempre. — ele falou ainda olhando no fundo dos olhos âmbar.
O ruivo engoliu em seco.
— Sua vez, Won. — Sunoo o lembrou.
— Ah. Eu não sei o que dizer. — pensou um pouco — Talvez... E-eu nunca mentir para mim mesmo sobre gostar de alguém. — falou tímido e foi o primeiro a beber.
— Uou, essa foi pesada, ruivo. — Doyoon falou e virou o copo logo em seguida.
Os outros não demoraram para beber também.
Jay continuou o encarando quando também virou seu copo.
— Agora sou eu. — encheu o copo outra vez. Voltou a encarar o ruivo — Eu nunca tive um sonho erótico com alguém que eu quero muito pegar.
Jungwon arregalou os olhos e bebeu um pouco de água para afogar as borboletas em seu estômago. Já Jay, virou mais uma dose sem dó.
Do outro lado da mesa, o casal olhava para os dois mais à frente. Apenas Jay bebeu naquela rodada e todos ficaram sem entender o motivo daquela pergunta e a troca de olhares entre ele e o ruivo. Dentre todos ali, apenas Sunghoon, Sunoo e claro, Jungwon e Jay sabiam o que tinha acontecido e o motivo de tal pergunta.
Mas Niki era inteligente e logo sacou que algo a mais acontecia. O silêncio era ensurdecedor, e para aliviar toda aquela tensão, Min interferiu.
— Acho que já está bom, não é? Amanhã temos aulas e não devemos beber tanto.
Os amigos concordaram e passaram apenas a comer as carnes que já estavam por acabar. Para matar a sede, pediram refrigerante e Jungwon, mais água. Afinal, iria precisar de muita, pois já estava completamente desidratado por tantas secadas que o moreno o dava na maior cara dura.
Uma brisa suave invadiu o ambiente e Jay gostou da sensação. Virou o rosto para a direção em que a ventania batia para receber mais aquele ar gélido, bem a tempo de ver quando Soha apareceu na entrada do bar. Seus olhos se arregalaram.
A garota irrompeu pelo batente da porta, seus olhos faiscando de raiva. Os cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo tenso e suas unhas pintadas de vermelho pareciam garras afiadas.
Park esgueirou os olhos, tentando entender o motivo dela estar ali, já que não foi convidada por nenhum dos jogadores e apenas aqueles que participariam da comemoração, tiveram suas saídas permitidas. Soha não parecia ter pedido a permissão da diretora Somin para estar ali e seus olhos fulminantes de puro ódio demonstravam que ela não se importava.
Caminhando com pressa ela não desviava o olhar de alguém e o moreno percebeu que quem ela olhava com tanta fúria, era o ruivinho sentando ao seu lado. Presumindo que nada bom estava para acontecer, segurou a mão gordinha repleta de anéis com força, o que acabou assustando o ruivo.
Antes que Jungwon pensasse em questionar algo, uma voz alta e exaltada sobressaiu as demais:
— Park Jay! — Soha gritou, sua voz ecoando pelo bar. — Você me deixou sozinha, largada naquele inferno? — gritou mais alto. Todos a encaravam — Como ousa trazer esse aí e não a sua namorada?
Os outros jogadores se viraram para olhar o que estava acontecendo e o capitão ficou sem palavras. Ele não esperava que Soha aparecesse assim, sem ser convidada. Ela estava furiosa e todos podiam sentir a tensão no ar.
A garota era muito explosiva e desde que começou a espalhar para todos que era a namorada do moreno e ele não desmentiu, ela se tornou impossível. Tinha ciúmes até do vento.
— Soha, o que você pensa que está fazendo? — começou a dizer, mas ela o interrompeu.
— Não me chame pelo meu nome! — ela gritou. — Você sabe que sou sua namorada! E agora você está aqui com esse garoto, como se eu não existisse!
— Mas que porra. — suspirou — Você não é minha namorada, Im Soha. Eu não sou merda nenhuma sua! Para com esse circo idiota e volta para a escola.
— Eu não vou a lugar nenhum! Ele que deve ir embora, afinal eu sou sua namorada!
Revirando os olhos, Jay soltou a mão pequena e se levantou de seu lugar, caminhando até a garota transtornada, tentando fazê-la ir embora.
— Para com isso. Já chega. — pegou em seu braço.
— Me larga! Você acha bonito o que está fazendo comigo? — seus olhos se encheram de lágrimas — Você acha isso bonito? Me deixar sozinha e ficar me traindo pelos cantos.
Suspirando fundo, Jay juntou toda sua paciência para lidar com aquela situação, ainda mais quando ouviu algum dos clientes falar um “chifra ele também” para a garota.
Soha já soluçava de tanto chorar.
— Você está me traindo com um homem, Jay! Ainda mais o Jungwon!
Ouvindo aquilo, Sunoo não se segurou e também se levantou. Sunghoon tentou segurá-lo mais não conseguiu.
— O que você tem contra o meu amigo, Solzinha? — ironizou.
A Im o encarou com fúria no olhar.
— E não é óbvio? Ele sempre pega tudo o que é meu. — falou em meio aos soluços — Roubou o título de melhor aluno, me roubou a presidência do conselho estudantil e agora está me roubando o meu namorado!
— Ah, pelo amor de Deus, garota! Para de ver coisas onde não tem! Se ele tem o título de melhor aluno é porque ele merece! Se esforça para conseguir isso. Se ele foi o presidente do conselho estudantil no ano passado, foi porque foi melhor do que você em suas propostas e conseguiu mais votos. Se você queria tanto a porra da presidência outra vez, porque não se candidatou esse ano? Você poderia tentar, mas era óbvio que o Jungwon ganharia outra vez. — falou no mesmo tom de voz que a garota — Para de ser iludida! O Jay não está nem aí pra você! Ele só te come porque o Jungwon não quer ele, então come migalhas até conseguir o pão!
Soha rugiu enraivada e tentou avançar no loiro, mas o capitão ainda a segurava. Sunoo também iria para cima dela, porém o namorado foi mais rápido ao mantê-lo no lugar.
— O Sunghoon também só te come porque não consegue esquecer da Minhee. — sorriu ardilosa ao citar o nome da amiga que era apaixonada pelo ala-armador.
Sunoo encheu seus olhos de fúria.
— Calma lá, Soha. Eu nunca quis nada com a Minhee, ela que não sai do meu pé. — Sunghoon falou, ainda mantendo o namorado no lugar — É melhor você não irritar meu loirinho.
— E ele vai me bater? É tão covarde assim? — debochou — Você está perdendo seu tempo em ficar com ele, Sunghoon. O Sunoo e o Jungwon são duas marmitas que todos comem. Cuidado para não pegar uma IST, meninos.
— Cala a porra da boca, garota! Marmita é você que se humilha para dar para o Jay e mesmo assim ele só te come quando não têm opção! Ainda é mal comida — Sunoo rugiu, tentando ir para cima dela, mas o jogador intensificou o aperto — Me solta, Sunghoon! Ou vai sobrar para você também!
Com medo da ameaça do namorado, Lee pensou em soltá-lo, mas ao ver o quão fora de si o loiro estava, desistiu da ideia. Depois se entenderia com ele.
— Deixa ela falar sozinha, Sun. Não vale a pena — Jungwon, pela primeira vez, se manifestou.
— Ah, então agora você fala? Ainda bem né? Porque não basta ser feio não precisa ser mudo também.
— Para de ser preconceituosa, menina! — Niki repreendeu.
— Você se sentiu ofendido, cabelo de pasta de dente? Se fode que passa.
Nishimura apenas revirou os olhos e voltou a ficar calado.
Hansol terminava de queimar mais uma costela de porco ao depositar toda sua atenção na confusão.
— Soha, vai embora ou vamos todos ser expulsos daqui. Você não foi convidada, então se manda. — Jay falou.
— Não fui convidada porque meu namorado não me convidou!
— Porra, Soha! Já disse que não sou seu namorado!
A garota derrepente ficou triste.
— Você me iludiu, Parkzinho?
— Não, Soha. Você se iludiu sozinha.
— E as noites que fazíamos amor? Não significou nada para você?
Jungwon revirou os olhos.
— So, olha, eu te falei que não era para alimentar isso, não falei? — ela assentiu com os olhos embaçados — Era só uma noite mas você concordou da gente se envolver sem compromisso, não concordou?
— Sim, m-mas eu pensei...
— Se você ainda quiser continuar com o que temos, beleza. Vamos continuar. Mas não quero que saia por aí falando que nós namoramos porque não é verdade. Você não tem o direito de sentir ciúmes de todas as pessoas que eu fico porque nós só temos um lance. — falou calmo para que ela pudesse entender.
— Então o quê está fazendo aqui com ele?
Outra vez Jungwon revirou os olhos. Jay sorriu. E aquele sorriso fez o estômago do ruivo embrulhar. Porque aquele sorriso foi inteiramente para a Soha.
— Eu só convidei o Jungwon porque nós conversamos e decidimos que de agora em diante não vamos agir mais como duas crianças e não vamos brigar mais por tudo. Eu o convidei para que possamos recomeçar.
Todos os jogadores e seus convidados estavam surpresos ao ouvirem aquilo. Os outros clientes nem prestavam mais atenção em tudo aquilo, afinal não tinham tempo para perder com jovens mimados.
— Então vocês não tem nada?
— Não. Não temos nada.
Ouvir aquilo fez uma lágrima grossa escorrer de um dos olhos âmbar, a qual foi limpa com brutalidade. O nariz pequeno estava avermelhado e escorrendo, mas diria que estava gripado. Jungwon desviou o olhar dos dois e apertou o copo de água em sua mão, a qual tremia enquanto ele tentava processar a cena.
Jay largou o braço da garota ao ver que ela já estava mais calma, o que foi um erro. Soha caminhou transtornada em direção ao ruivo que mantinha sua cabeça baixa e não viu o momento em que ela pegou uma caneca de cerveja.
— Oi, Jungwon.
O ruivo ergueu a cabeça, vendo um sorriso asqueroso nos lábios da garota.
— Você acha que pode roubar o meu Parkzinho?!
Sem reação, Jungwon fechou os olhos ao sentir o líquido escorrer por seus fios. Antes que alguém pudesse reagir, Soha derramou a cerveja sobre os cabelos laranjas do garoto.
A mesa de amigos ficou em silêncio por um momento, todos sem saber como reagir. Jay tinha seus olhos arregalados e preocupados. E então, para surpresa de todos, o ruivo começou a rir.
— Bem, isso é uma maneira diferente de me dar boas-vindas, Solzinha — falou, enxugando a cerveja do rosto.
Park olhou de Soha para Jungwon e depois para os outros jogadores. Ele suspirou.
— Acho que já está na hora de ir, Soha. Já causou baderna demais por hoje.
Dando de ombros a garota sorriu.
— Só vou se você me levar até a porta.
Suspirando, Jay a chamou com a cabeça e ela saiu dando pulinhos. Soha agarrou o braço forte e tatuado e ambos deixaram o bar.
Jungwon se levantou.
— Wonnie... — Sunoo o chamou preocupado.
— Está tudo bem, Sunoo. — sorriu — Eu vou ao banheiro. Podem continuar comendo. Com licença.
Ele virou as costas e saiu.
Ao retornar para o bar, Jay suspirou ao ver que todos comiam outra vez. Mas o ruivo não estava lá.
— Onde está o Jungwon?
— No banheiro. — Hansol falou.
Park assentiu e seguiu até o banheiro.
Lá, Jungwon molhava seus cabelos com a água da torneira, em prol de tirar toda cerveja deles. O cheiro forte de álcool ainda estava impregnado em seus fios, o que só o deixava ainda mais frustrado.
Jay adentrou o local.
— Quer ajuda?
Jungwon não se assustou com sua voz repentina, já sabia que ele estava lá desde o momento em que chegou
— Não. Já estou acabando.
Ele ergueu a cabeça e sacudiu os fios, fazendo a água ir para todos os lados. Jay levou a mão até o rosto para protegê-lo dos jatos de água.
Depois de um tempo, ele olhou para o ruivo, seus olhos encontrando os olhos âmbar brilhantes. A confusão de Soha ainda pairava no ar, mas ele sabia que precisava resolver as coisas.
— Desculpe por isso — disse com sua voz suave e sincera. — Você conhece bem o temperamento da Soha. Ela não costuma ser assim, mas às vezes fica um pouco... ciumenta.
Jungwon bufou.
— Você conhece ela muito bem.
Voltou a ignorá-lo.
— Jungwon, para com isso. Prometemos não brigar mais.
— E quem está brigando? Não enche.
— Wonnie, olha pra mim. — tentou mais ele continuou sem o olhar. — Jungwon, olha.
O ruivo o ignorou e só o que fez foi dar as costas. Park não perdeu tempo quando o puxou pelo braço, fazendo com que os peitos se chocassem.
— Amor, eu pedi pra olhar pra mim.
— O que você quer? — sussurrou, já sentindo lágrimas no canto de seus olhos.
Park não respondeu. Ele ficou em silêncio por um bom tempo, até que falou em um fio de voz:
— Você faz meu coração sentir coisas estranhas.
Jungwon ficou sem palavras. Ele sabia que também se sentia assim em relação ao moreno, mas não queria assumir. Também estava confuso, porque ao mesmo tempo que sentia algo por ele, também o odiava. E sabia que os dois nunca poderiam ter algo a mais por conta da personalidade e infantilidade do Park.
— Problema seu. — falou curto e grosso.
Jay soprou um risinho.
— Por que você é tão mal? Eu estou praticamente me declarando pra você.
— Não está porra nenhuma. Me larga.
— Você quer me beijar, amor. Eu sei. — segurou a cintura pequena.
— N-não quero.
— Você quer, ruivinho. Eu também quero.
Park queria dizer mais, queria explicar que não era apenas a confusão da garota que o deixava inquieto. Havia algo sobre o ruivo que o transtornava e ele não sabia explicar.
Eles estavam próximos, tão próximos que o cheiro da cerveja nos fios ruivos que ainda estava presente tomou conta do olfato do moreno. Jay podia sentir o calor do corpo do menor, e seu coração batia mais rápido.
— Ruivinho... — disse, sua voz quase num sussurro.
Seu olhar se perdeu nos lábios rosados e brilhantes. Jungwon corou ao perceber onde aqueles olhos negros estavam, e o capitão teve que se controlar muito para não se inclinar e beijá-lo ali mesmo.
— O quê? — respondeu o garoto, agora seus olhos fixos nos lábios do moreno.
Eles ficaram em silêncio por um momento, o desejo pairando entre eles.
— Eu quero... — tentou dizer, sua voz rouca.
A mão tatuada foi parar na mandíbula pouco desenhada, deixando um carinho singelo. Aos poucos, ambos foram se aproximando.
Jungwon fechou os olhos e se deixou levar pelo momento. Jay estava cada vez mais próximo. Os lábios a poucos centímetros de distância. O moreno também fechou seus olhos e sentiu quando a respiração quente do ruivo bateu contra seus dentes. Ambos os lábios se tocaram. A mão na cintura pequena fez pressão e assim que as bocas começariam a se mover, a porta foi aberta.
O ruivo assustado, empurrou o moreno para longe e se afastou.
Na porta, Sunghoon olhava para os dois com uma feição surpresa. Ele encarava o amigo com certa curiosidade.
— Foi mal atrapalhar, mas já está tarde e temos que ir. — começou meio sem jeito — Todo mundo já tá no ônibus.
— A-ah, claro. Vamos, vamos sim. — Jungwon se embolou nas palavras e foi o primeiro a deixar o banheiro.
Sunghoon olhou para Jay.
O silêncio perdurou mas não por muito tempo.
— Cara, você ia beijar ele?
— Ia. Porra, eu ia! — passou a mão pelos fios negros.
— Fica pra próxima.
Deu de ombros e puxou o mais novo para fora do banheiro e ambos seguiram juntos para o ônibus. Jungwon estava sentado ao lado do melhor amigo que dormia com a cabeça em seu ombro, e ao ver o moreno, desviou o olhar.
Jay seguiu até o fim do transporte junto com o Park, não deixando de olhar para o ruivo durante todo o trajeto. E então foram embora, deixando para trás o cheiro de carne grelhada e o gosto doce do desejo não realizado.
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