Capítulo 12 | Meu porto Seguro

|Recomenda-se a música na multimídia para a leitura do capítulo.


- Livro página 178, leiam o texto e façam os exercícios em dupla. - disse a professora de literatura adentrando a sala de maneira tempestuosa.

Ela era bem bipolar, me pergunto sobre qual causa, razão ou circunstância a mesma considerou ao se tornar professora, ela quase sempre discute com algum aluno por coisas banais ou pelo simples fato de alguém possuir opinião própria. O que é bem trágico numa turma de 3° ano. Jovens adultos que estão construindo seus valores e formando opiniões.

De 2 meses para cá, ando pensando bastante em qual carreira seguir, apesar de não ter escolha, serei princesa mesmo sem querer. Eu seria escritora ou professora facilmente, ou qualquer outra coisa que fosse de humanas. Eu simplesmente amo todas as matérias de humanas da escola, não suporto exatas. É como se meu cérebro sofresse delay toda vez que vejo alguma expressão matemática aleatória, com excessão da fórmula de bhaskara e expressões algébricas no geral, que são consideravelmente fáceis. Jake era o gênio, nesse sentido, calculava como ninguém e conseguia nota máxima em todos os testes e trabalhos. Sorte minha ter ele como melhor amigo, eu pedia sua ajuda em, praticamente, todos os trabalhos de matemática. A verdade é que Jake Will é o cara em quase tudo que faz, menos nas redações, ele é bem ruim, mas eu admito que tenho uma pitada de inveja dele por ser um máximo em exatas.

- Hey, ruiva? - ouvi a voz de Jake Will e saí do transe.

Ele estava radiante essa manhã.

- Estava pensando, desculpa, falou algo? - perguntei envergonhada por deixá-lo falando sozinho, ele odiava isso e eu sabia muito bem.

- Quer fazer o trabalho comigo? - disse casual, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. - Você sabe que eu não sou muito bom com redações e no exercício tá exigindo uma, não quero ser um fracasso. - bufou frustrado. Encurtei a distância entre nós e abri o livro na página indicada para darmos início a tarefa. - seu cabelo. - falou.

- O que tem meu cabelo? - perguntei confusa.

- Tá cheiroso. - falou simples.

Senti algo como uma fisgada no estômago e de repente borboletas dançavam no mesmo.

- Ah, agradeço. - falei sem graça e ajeitei meus óculos para dar início a leitura.

Eu me sentia estranha com Jake me olhando daquela forma, parecíamos dois estranhos. Eu não havia entendido o que atualmente estava acontecendo conosco. Não éramos os mesmos de antes, não éramos somente os dois melhores amigos que sempre fomos. Algo havia mudado e era perceptível. Atualmente Jake se comportava de uma maneira esquisita.

Isso era um tanto perturbador e me causava arrepios desde a espinha.

Ontem, na parte da noite, enquanto eu tomava banho, ouvi sons do outro lado da porta e quando eu a abri encontrei Jake Will sussurrando algo, sozinho, para si próprio. Ele ficou sem graça, o que raramente acontece, e me entregou um hidratante que normalme eu uso após o banho e que, por acaso, eu havia esquecido. E ele ficou extremamente nervoso, como quem esconde algo.

Depois me acompanhou até meu quarto, em silêncio, e 5 minutos após nos despedirmos para irmos dormir, ele bateu novamente em minha porta e perguntou se poderíamos dormir juntos, como nos velhos tempos, e já que Mel estava dormindo na casa de uma amiga, o deixei entrar. Ele me abraçou como se não tivesse me visto há dias e dormiu profundamente.

Pode parecer neurose, mas todo esse silêncio e nervosismo não faz parte de Jake Will. Eu o conheço muito bem. Algo está acontecendo e ele está evitando contar.

Eu descobriria em breve

- Um sorvete por seus pensamentos. - disse me encarando, ele descansava a caneta no canto da boca e me olhava com uma expressão divertida, típica de Jake Will.

- Na vida - dei de ombros e ele sorriu. - quero conversar com você depois.  - sua expressão mudou para confusa.

- Aconteceu algo? O idiota do Sebastian fez algo com você? Ele te machucou? - disparou e eu não consegui raciocinar - eu juro que eu quebro a cara dele se eu souber que ele fez algo. - disse entre dentes.

- Ei! Não é nada disso - revirei os olhos. - você nem me deixa falar e já começa a formular essas teorias doidas. Tomou seus remédios hoje? - soltei uma risada e o mesmo ficou menos tenso.

- Não tomei, você tomou o último ontem lembra? - bateu com o indicador na minha testa e fez careta, sorri em resposta. - Em casa conversamos. Ok? - resmungou arrumando a postura.

- Ok, Jake Will. - sussurrei mais para mim do que para ele e me concentrei nos exercícios.

Intervalo.

A salvação para todos os alunos e o momento mais oportuno para tagarelar com os amigos. Estava se tornando o meu refúgio também. Atualmente eu estava esgotada de mais para frequentar a escola a semana toda. Hoje, na primeira aula do dia, após o professor de física entra na sala, tive vontade de pegar meu material e sair correndo para casa. Eu queria ficar sozinha, sem ninguém para puxar assunto e me tirar de meus devaneios.

E era, exatamente, isso que estava acontecendo agora.

Mel contava sobre sua viagem para Boston, que fizera nas férias de verão passadas. contava com detalhes, muitos detalhes. Ela havia engatado nesse assunto desde o início do intervalo, e eu sinceramente não conseguia ver nada de interessante nisso. Eu estava perdida em pensamentos. Só não havia saído da mesa para fugir dessa conversa infinitamente chata, porque não queria que pensassem mal de mim, além disso iriam perguntar mil coisas sobre minha saúde mental, eu não estava afim de arranjar desculpas e falar que estava bem.

Porque definitivamente eu não estava bem.

Eu estava lutando com a vontade de chorar que crescia cada vez mais em meu peito, minha garganta ardia e meus olhos estavam marejados. Coloquei os fones de ouvido de Sebastian e coloquei uma música aleatória de sua playlist. Logo começou a tocar Desappear do Eli. e me permiti abaixar a cabeça sobre meus braços para curtir a música. Olhei de relance para meus amigos e notei que os 3 ainda conversavam, bastante animados por sinal, e Sebastian ria, descontroladamente, enquanto batia na mesa.

"Carrying the burdens of the world upon my shoulders."

Revirei olhos e suspirei, era como se eu fosse invisível, ninguém realmente sentia minha falta, e apesar de eu estar gostando do meu momento de silêncio, eu me sentia abandonada. Completamente confuso.

"I feel so alone, no one even knows."

Aumentei a música e olhei ao redor. Muitas pessoas adentravam o refeitório e muitas saiam, era um ciclo sem fim. Muitos alunos riam, absurdamente alto, nos seus respectivos grupos e outros, assim como eu, estavam isolados.

"I just wanna disappear,
Take me far away from here.
I don't wanna face my fears.
I just wanna disappear."

Foi aí que eu vi, um homem, não tão velho, vestido com um moletom preto, calças escuras e boné, bastante suspeito. Ele me encarou por alguns segundos e logo tratou de abaixar a cabeça e seguir em direção a saída. Por uma fração de segundos tive a leve impressão de que ele estava me fotografando quando o percebi no local.

Meu coração estava acelerado e o ar estava com dificuldade para entrar em meus pulmões.

Um vigia.

As palavras de Jake ecoavam em minha mente e sem que eu percebesse lágrimas escorriam por minha bochecha e eu me sentia perdida novamente.

Larguei os fones em cima da mesa e me levantei, puxando Jake Will comigo, que me olhou confuso e preocupado. Ele falou coisas que não compreendi, me importei em arrastá-lo para longe dali, para um lugar realmente seguro.

Corremos pelo corredor de mãos dadas e as pessoas nos olhavam como se nós dois fôssemos completos malucos. Eu estava lutando para não chorar ali e insistia em limpar algumas lágrimas insistentes com a manga do suéter. Jake me puxou para uma porta, que identifiquei como o armário do zelador, a fechou e eu pude perceber sua expressão preocupada através da iluminação precária que havia ali.

Eu o abracei e chorei como se não houvesse amanhã. Chorei porque eu não gostava da pessoa que eu havia me tornado, chorei porque eu estava com saudades dos meus pais, chorei porque estava infeliz e insatisfeita com tudo, eu chorei, absolutamente, por tudo que me afligia e meu corpo tremia a cada soluço involuntário que saia de minha boca. Me permiti gritar contra o peito de Jake, minha garganta ardia de maneira insuportável. Eu estava enlouquecendo completamente, não conseguia lidar com isso. Eu precisava dele aqui comigo para que ele fosse forte por mim.

Jake em nenhum momento me falou nada, nem falou que estava tudo bem, porque realmente não estava. Ele simplesmente estava aqui por mim e me abraçou forte para que eu pudesse chorar a vontade.

Eu sei que ele estava segurando o choro, ele detestava chorar na minha frente, principalmente quando eu estava triste.

Eu simplesmente não conseguia parar de chorar e pressionar minhas mãos contra a cabeça, numa tentativa falha de fazer aquilo parar, aquele sentimento parar. Era mais doloroso que uma faca encravada em meu peito, eu me sentia cada vez mais inútil.

Jake afrouxou seus braços ao meu redor e segurou minha cabeça com as mãos para encostá-la na sua. Permiti e olhei em seus olhos, antes de fechá-los novamente para voltar a chorar.

- Eu não sei o que aconteceu para você ficar assim, mas eu quero que saiba que eu te amo muito e sempre vou está aqui por você. - falou com a voz embargada, devido ao choro reprimido.

- Eu odeio tudo isso, eu me odeio - falei entre soluços.

- Eu também odeio tudo isso, mas amo tudo em você. - me forçou a olhá-lo. - Você não é odiável, Charlie. Cada parte de você reluz e, sinceramente, não há como não ficar perdidamente apaixonado por você. Você é a mais pura essência de tudo que há bom nesse mundo de merda. Você é única. Você não poderia ser melhor, porque você é perfeita. E se não fosse por você eu já teria ficado ferrado da cabeça. Você é meu porto seguro, Charlie. Eu te amo tanto que chega a doer. - falou cada palavra olhando em meus olhos e me puxou para um abraço urgente.

Jake me abraçou tão forte, como se tivesse medo de eu abandoná-lo ali. Ele realmente me amava e eu tinha certeza.

Eu também o amava, amava cada parte dele, que o torna único e especial, amava seus dramas e paranóias, amava quando ele me fazia rir para que eu não ficasse triste. Eu amava quando ele sorria. Eu o amava por todas essas coisas simples, mas que o tornavam completamente especial, especialmente especial. Eu o amava do pé a cabeça.

Eu, simplesmente, não suportaria ficar longe de Jake, não conseguiria viver sem ele um dia. Jake é tudo para mim, sem ele eu que enlouqueceria de vez.

- Eu te amo tanto, Jake Will. - falei, após um longo suspiro, entre seus braços. Jake Will havia conseguido me acalmar com suas palavras doces, como ele sempre fazia quando eu estava triste. Inspiro seu cheiro suave e me perco ali, era definitivamente meu lugar favorito. Me sentia segura e relaxada. - Eu nunca vou encontrar palavras para descrever o quanto eu te amo e o quão especial você é para mim. - falei por fim e fechei os olhos, inspirando seu perfume novamente.

Jake era o meu lugar favorito no mundo.

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