Capítulo 83

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Estar naquele velório me fez lembrar de outro que estive anos atrás: do meu amado e querido avô paterno. Antes do dele também teve dos meus tios, pais da Anitta, mas na época eu era pequena demais para entender toda aquela comoção em torno da despedida de pessoas que jamais veríamos outra vez.

Mas quando foi do meu vô paterno muitos anos depois, eu já era uma adolescente bem entendida para saber e principalmente, sentir a dor profunda da perda. Eu lembro que não me aproximei do caixão dele uma única vez, nem mesmo quando não sei quem dos parentes avisou que era para nos despedirmos, porque fechariam o caixão para o traslado até o cemitério.

Eu me recusava a ter como última imagem do meu sempre alegre e engraçado vô, a dele pálido e inerte em um caixão rodeado de flores. Preferi guardar a boa imagem do vô vivo, me contando aos risos como costumava ser um general linha dura com seus oficiais do exército.

Lidar com a morte, ainda mais, quando ela é de alguém tão próximo da gente, é algo bem difícil. Não fazemos a mínima ideia de como fazer isso. E não há uma receita para tal!

De repente a gente se vê diante de um corpo sem vida dentro de uma caixa de madeira. Um corpo que por anos foi de alguém que construiu uma história ao longo dos anos, teve sonhos que almejou alcançar (e se teve sorte ou fez por merecer em vida até os realizou), corpo de alguém com virtudes e defeitos (às vezes com mais defeitos que virtudes ou vice e versa), que formou uma família ou não, enfim alguém que foi alguém.

Aí, esse alguém morre e fim da linha, da história, da jornada. Como um livro que se encerra, só que sem ter o final feliz, que gostamos de ler.

Eu não soube o que fazer e nem como lidar na época do meu avô, e continuo sem saber o que fazer e como lidar com a morte agora, quando estou no velório da minha sogra, observando de uma relativa distância Sarah lá junto da irmã dela recebendo as devidas condolências de cada novo conhecido recém chegado à capela e, que se aproxima delas.

Lá fora a imprensa se amontoa para fazer algum registro do velório. Aqui dentro o local está cheio de diversas pessoas que segundo Arthur vai comentando comigo e Camilla, tratam-se de: parentes e amigos tanto da parte de Sarah quanto de sua mãe ou da família Andrade. Há também alguns funcionários da sede daqui das indústrias Care; todos que vieram prestar sua homenagem a Abadia.

O namorado de Carla que fez questão de ficar de companhia comigo e Camilla, ao que parece conhece bastante pessoas do convívio da família Andrade, porque sabe exatamente quem é a grande maioria ali e sua familiaridade com algumas pessoas é notória. Mas apesar disto, suspeito que elas não saibam quem de fato Arthur Picoli é para a Andrade mais nova.

— Carla está tão arrasada. Coitada! - o homem que descobri ser de ascendência mexicana, e que ainda carrega em seu modo de falar o leve sotaque de sua língua nativa, comenta com pesar em determinado momento de observação a namorada.

E de fato Carla é visivelmente a mais abalada emocionalmente com o ocorrido. Ela chora vire-mexe, e por vezes já tinha se aproximado do caixão para acariciar ou beijar o rosto de Abadia. O que eu já não posso dizer da minha noiva. Sarah está firme e fria como uma pedra de gelo. Sequer havia derramado uma lágrima que seja e muito menos, se aproximado do caixão da mãe uma única vez, mantendo-se sempre distante de onde Abadia está.

Escondida atrás das lentes de seu ósculos escuro e trajando uma calça social preta, mesma cor do sapato, da blusa e do blazer, Sarah demonstra uma postura fria e inabalável com a morte de Abadia. E esse seu comportamento está me intrigando um pouco. Tudo bem que ela não se dava tão bem com a mãe, mas agir no velório como vinha agindo está estranho. Como Carla disse no hospital horas atrás, Sarah agia como se não fosse a mãe dela também que tivesse morrido.

— Já a Sarah está parecendo uma pedra de gelo, né não, Ju? - apenas lanço para minha amiga um olhar de reprovação que Camilla nem vê por estar observando Sarah há metros de distância da gente.

— Essa sua postura está estranha. - replico à Cami.

— Bota estranha!... Mas quer saber de uma coisa?... Ainda não me conformo que vocês não estejam lá do lado de seus respectivos parceiros.

Pela décima vez Camilla reclama disto. Ela segue inconformada com o fato de Arthur e eu não termos ido ficar recebendo as condolências junto de Carla e Sarah. Mas tanto eu quanto Arthur não nos sentimos confortáveis para estar lá. Sequer éramos da família de Abadia apenas namoramos as filhas dela, e as pessoas por ali desconheciam esse último fato.

— Cami supera isso. Arthur e eu nem estamos fazendo drama.

— Até porque esta foi uma escolha nossa.

— Exato! - confirmo.

Arthur acena para um homem moreno, que sinaliza lhe chamando.

— Meninas, eu vou ali falar com um amigo. Já volto.

Concordamos e ele logo já se afasta da gente. Sozinha com Camilla, eu vejo com desagrado Anitta se aproximar de Sarah, tocar seu ombro e cochichar algo em seu ouvido, que prontamente a Srta. Gostosa concorda. A todo instante minha prima dá um jeito de chegar perto de Sarah feito uma ave de rapina voando sobre sua presa.

— Essa sua prima parece uma urubu em cima da Sarah.

— Ela não se emenda mesmo. - externo com desgosto.

É muita baixeza dela se prestar a aproximações de Sarah com segundas intenções em um momento tão delicado em que a Srta. Gostosa está passando devido a morte da mãe. Tal comportamento de Anitta só me reforça o pensamento de o quão sem escrúpulos e sem noção mesmo a minha prima pode ser.

— Quer apostar que isso tudo é só para te provocar?

— O que não chega a ser novidade alguma para mim.

— Mas é bem inapropriado pelas circunstâncias e local. - completa Camilla.

Bota BEM inapropriado nisso! Mas minha priminha não sabe o sentido de inapropriado. Talvez, em seu dicionário, sequer exista essa palavra.

— Aí, Ju, preciso ir. - observo minha amiga consultar as horas no seu relógio de pulso. - Já são quase sete e meia, e ao contrário de você não tenho uma chefe legal que me liberou do trabalho hoje.

Há pouco liguei para à Pocah e informei sobre o ocorrido com a mãe de Sarah. Na mesma hora minha chefe me liberou do trabalho hoje.

— Tudo bem, Cami.

— Vou primeiro dar uma passada em casa para trocar de roupa e aí, sigo para mais um dia aturando a Karoline. - sorrio de leve. - Não vou nem me despedir da Sarah e da Carla. Se perguntarem, avisa que eu já fui, tá?

Assinto e nós duas nos despedimos com um abraço. Minha amiga parte em direção a saída da capela da funerária. Eu fico a observando até que ela some das minhas vistas. Volto minha atenção à Sarah com Anitta. Suspiro ao ver mais uma vez a minha prima se inclinar para cochichar algo ao pé do ouvido da minha noiva. Desta vez Sarah faz um sinal negativo com a cabeça e fala algo para Anitta, que não consigo entender. Em resposta minha prima dá de ombros.

O que elas tanto cochicham?

— Voltei! E a Camilla?

— Já foi. Ao contrário de mim, ela tinha que ir para a editora trabalhar. - explico ao Arthur sem tirar os olhos de Sarah na companhia de Anitta.

— Você e ela são muito amigas, né?

— Bastante! - confirmo, desviando o olhar das duas para encarar o homem ao meu lado. Sei o quão desagradável é estar falando com alguém e esse alguém nem estar lhe dando a devida atenção. Então por isso mesmo olho para Arthur e foco minha atenção nele. - Nos conhecemos na faculdade e desde lá não nos largamos mais. Moramos juntas e até trabalhamos no mesmo lugar. - conto para ele.

— Deve ser bacana, não?

— É!

Pelos minutos seguintes ficamos conversando sobre minha relação de amizade/irmandade com Camilla até sermos interrompidos pela voz de Sarah reverberando atrás de mim um "ei!". Me viro no mesmo instante para ela. O papo com Arthur tinha me feito até esquecer momentaneamente da minha noiva lá na companhia de Anitta.

— Posso roubá-la de você um instante, Arthur?

— Pode, claro.

— Vem comigo! - ela pede em um tom baixo. - Quero sair um pouco desse ambiente, dar um respiro fora daqui e gostaria que me fizesse companhia, honey.

Impossível negar algo para ela ainda mais, se me pede desse jeito.

— Claro!... Arthur volto logo.

Ele assente e ainda diz que irá lá com Carla perguntar se ela não quer algo.

Enquanto sigo com Sarah noto alguns olhares dirigidos à nós.

— E a sua amiga onde está? - Sarah indaga enquanto passamos por entre as pessoas rumo à uma área que eu não faço ideia de qual seja.

— Já foi. Ela precisava ir para à editora. Ao contrário, de mim que fui dispensada pela minha chefe, Camilla não foi.

Sarah assente e em silêncio nós alcançamos uma grande porta dupla de vidro, as cruzamos e me deparo com uma área que se assemelha a algo como um jardim de inverno, muito bonito, charmoso e que naquele instante está vazio.

O local amplo que não possui teto propiciando a iluminação natural, e tem piso revestido por pedras brancas, ainda traz: vasos de plantas de diferentes tamanhos espalhados por ali, bem como bancos de madeira; nas paredes painéis de madeira; e no centro do jardim uma bonita e pequena fonte completa o ambiente. É um local aconchegante e bem agradável, podia ficar ali por sei lá quanto tempo.

Sarah nos leva para se acomodar em um dos bancos que ficam mais afastados da entrada do jardim. Após nos sentarmos lado a lado, Sarah agarra minha mão e entrelaça nossos dedos. Observo minha noiva deslizar o dedo polegar sobre os anéis de compromisso que ela me deu.

— Ficaram tão bonitos no seu dedo. Acho que não cheguei a comentar isso com você, cheguei?

— Não!

Suspeito que ela só tenha puxado aquele assunto para se distrair mesmo e não falar do que está acontecendo lá na capela: o velório.

— Mas ficaram bonitos. - ela afirma antes de levar minha mão até sua boca e beijar o dorso dela para depois virar o rosto para mim.

Quando ela me encara, eu posso ver seus olhos, já que àquela altura Sarah tinha tirado o óculos e depositado o objeto sobre o banco, bem ao lado de sua perna esquerda. No fundo daquele mar verdinho há muito mais do que a expressão de Sarah deixa transparecer. Ela está abalada e sofrendo, só que não se permite extravasar isso e muito menos deixa visível aos olhos dos outros, mas aos meus isso parece tão limpo e cristalino.

— Apesar dessa expressão de inabalável que está ostentando para os outros, eu te vejo tão quebrada por dentro. - toco seu rosto com a mão livre. Sarah fecha os olhos.

Touché! - ela sussurra e abre os olhos para mim. - Você está certa.

Me deixa arrasada ver a mulher que amo fragilizada daquela forma como ela se mostra para mim.

— Sabe... quando perdi meu avô, eu fiquei devastada... Ele era muito especial e querido pra mim. - partilho tal lembrança após ter se feito um breve silêncio após a fala de Sarah.

— Sinto muito, honey.

— Eu também sente muito a perda dele. Aí, à Li que trabalha na casa dos meus pais me disse que a dor que eu sentia pela perda, ia diminuir com o passar do tempo. Não ia sumir, nunca. Contudo deixaria de doer e só ficaria a saudade. E foi o que aconteceu comigo. Com você poderá acontecer o mesmo, meu bem.

Seus olhos coloridos focam silenciosamente em mim por um tempo mais que razoável até Sarah desviar o olhar para a fonte no centro do jardim.

— O que dói não é exatamente a perda da Abadia... - sua pausa na fala se estende por um longo momento, até Sarah se pronunciar novamente: - Mas sim o que imputa à mim sua morte.

— Como assim?

Ela claramente parece nem ouvir o que eu pergunto, pois segue falando:

— E sinceramente, não sei se torço para esse momento do velório dela, acabar logo ou se prefiro que isso se estenda mais tempo. O que eu sei é que de qualquer forma, no final das contas, eu perco algo muito importante.

Ela torna a me olhar e a desolação está nítida em seu olhar, me deixando com a pulga atrás da orelha. Ainda mais, porque aquela sua conversa está tão esquisita quanto foi a da lanchonete. Sarah fala coisas que mais me parecem códigos que eu não consigo decifrar. Ou pior ainda, que eu tenho a ligeira desconfiança do que significam, porem me recuso a acreditar que seja aquilo mesmo que lhe atormenta.

— Sah!

Tanto ela quanto eu olhamos para frente ao chamado de Anitta. Noto seu olhar de descontentamento bater certeiro em minha mão segura pela de Sarah.

— O que foi Anitta? - Sarah indaga séria.

— Sua amiga Kerline acabou de chegar com a filha. E o reverendo também para fazer a oração final antes do caixão da sua mãe ser levado para o cemitério daqui a pouco. - Anitta comunica e olha para mim logo em seguida.

— Diga que já estou indo. Obrigada por vir avisar.

Assentindo minha prima se retira dali nos deixando sozinhas de novo e eu aproveito à deixa para compartilhar com Sarah algo relacionado à Anitta, que percebi no comportamento leviano dela.

— Eu sei que o momento é impróprio para tal comentário, mas... Já deve ter notado que minha prima está se aproveitando dessa situação toda para se aproximar de você, não é?

— Acho melhor irmos. - se pondo de pé e recolocando seu óculos escuro, Sarah anuncia em tom seco e se abstendo de responder o que pergunto.

Resolvo não contestar e também me levanto do banco. Nos dirigimos rumo a saída com Sarah repousando uma de suas mãos em meu ombro.

No caminho até chegarmos onde está o caixão, Sarah é parada por dois homens. Ao que parece ambos são amigos dela, chegaram a pouco e vieram lhe dar as devidas condolências.

Fui apresentada aos dois por Sarah. Franz é um sujeito mediano ruivo, talvez da mesma idade de Sarah e o sotaque deixa evidente que não é americano. O outro Heinrich é um sujeito alto e loiro, com o mesmo sotaque do outro homem. Após trocar breves palavras com os dois sujeitos tão logo tinha me apresentado para eles, Sarah pede licença aos amigos e nós retomamos a caminhada rumo ao encontro da amiga da minha noiva, que ela imagina estar com sua irmã.

Em poucos instantes já chegamos onde Carla está e ao seu lado se encontra uma mulher que eu reconheci na hora como sendo a tal Kerline, a amiga de Sarah que estava com ela na Oktoberfest. Assim que a outra mulher vê Sarah vem abraçá-la na hora.

Parada atrás da Srta. Gostosa, posso ver que há um carinho genuíno, algo que vai muito além da amizade e chega facilmente a irmandade naquele abraço delas. Dá para escutar bem quando Kerline diz um "sinto muito, minha amiga", só não ouço resposta alguma de Sarah.

Ao desfazerem o abraço, a outra mulher afaga o rosto de Sarah e lhe dá um beijo demorado do lado direito da face. Se eu não soubesse que ela se trata de uma amiga apenas, ficaria bem incomodada com tudo aquilo, é intimidade demais. Depois dela vem uma adolescente, que deduzo ser filha da tal Kerline, pois se parece muito com ela. A garota abraça Sarah demoradamente e após o gesto se encerrar, minha noiva se vira para mim e me apresenta à sua amiga. Retirando seu óculos escuro a mulher me estica a mão direita em cumprimento, algo que aceito de pronto. Ela comenta que é um prazer me conhecer, só é uma pena que isso esteja ocorrendo em uma trágica ocasião como aquela. De fato é pena mesmo aquilo!

O reverendo anuncia que irá começar sua oração. Todos ficamos em silêncio e o senhor de carregado sotaque italiano inicia primeiramente pedindo à Deus que dê conforto e resignação a todos, especialmente para a família de Abadia nesse momento de comoção e tristeza. Em seguida ele faz uma breve oração em que intercede pela alma da mãe de Sarah, pedindo que Deus lhe dê paz e perdoe seus pecados. Ainda é rezado um Pai Nosso e uma Ave Maria logo depois. Ao final das orações o reverendo convida Carla e Sarah a dizerem algo em despedida a mãe delas.

Sinto Sarah hesitar um pouco diante do chamado, porem ela acaba largando minha mão e indo se juntar com a irmã próxima ao reverendo.

É Carla quem pede para falar primeiro. Emocionada, ela agradece primeiramente a presença de cada um dos amigos, conhecidos e parentes que ali estão. Depois se dirigindo à Abadia no caixão, diz a todos que a mãe estava longe de ser uma pessoa perfeita e mais ainda uma mãe perfeita. Mas apesar das suas imperfeições que eram muitas, a amava demais. E está sendo a coisa mais difícil para ela, como filha, se despedir de sua mãe e aceitar que daqui para frente não a verá mais todos os dias no café da manhã antes de irem trabalhar ou a noite na hora do jantar. Mas afirmou que lhe reconforta saber, que nesse momento Abadia decerto, estará ao lado do único homem que ela amou de verdade, Evandro, o pai das filhas dela. Por fim, Carla finaliza seu discurso, dizendo de maneira embargada: "Descansa em paz, minha mãe!". Dito isso, ela dá um passo à frente e inclinado-se um pouco beija a testa de Abadia.

Minha garganta dá aquele nó e os olhos encheram d'água diante daquela sua despedida mais que emocionada da mãe.

Quando Carla se ergue e retrocede um passo, dando por encerrada a sua despedida da mãe dela, todos os olhares, inclusive o meu, vão para Sarah à espera de que ela seja a próxima a dizer algumas palavras em despedida à Abadia. Entretanto, ao contrário da irmã, minha noiva não faz um discurso emocionado de despedida. Na verdade ela sequer dirige à mãe palavra alguma. Segundo Sarah informa aos presentes, ela já havia se despedido de Abadia durante a conversa que tiveram pouco antes da mulher falecer e deste modo, não há necessidade dela repetir isso ou acrescentar mais palavras sendo que tudo que precisava ser ditos entre elas foi dito horas atrás.

Dito isso Sarah apenas reiterou o agradecimento à presença de todos, como Carla já havia feito antes e, nada mais ela disse depois disto. Nem se aproximar do caixão para fazer um afago que seja na mãe, ela fez. Se manteve com a postura rígida e parada ao lado direito do reverendo, enquanto Carla está ao lado esquerdo.

Matilde pede então para dizer umas coisas e isso lhe foi concedido por Carla. Em seu pequeno e emocionado discurso, a mulher enaltece Abadia como pessoa e patroa, e afirma que por baixo da casca de mulher dura, rígida e insensível que ela se mostrava ser, havia uma boa pessoa, que apenas não sabia demonstrar seus bons sentimentos. Ela agradece a confiança que Abadia sempre depositou nela ao longo dos anos em que trabalha em sua casa cuidando de sua família como se fosse a dela. Por fim lhe deseja um bom descanso eterno e promete que cumprirá a promessa que lhe fez anos atrás de até seu último dia de vida seguir cuidando das duas "meninas" dela, caso sua patroa fosse embora primeiro que Matilde.

Foi comovente ouvi-la falar tudo aquilo, principalmente o final. Fez a antipatia que tenho por ela (algo que vem do fato dela ter antipatia por mim) ser esquecida momentaneamente. Acredito que Matilde seja para às Andrades o mesmo que a minha querida Li é para os Freires lá em casa: alguém especial, que se tornou praticamente um membro essencial da nossa família!

Ao fim da fala dela o reverendo questiona se mais alguém gostaria ou teria algo a dizer. Eis que a insuportável da Anitta externa vontade de falar alguma coisa. Em seu rápido discurso, ela comenta que durante esses poucos meses em que teve contato com Abadia como noiva de Sarah, criou um apreço pela sogra e vice-versa, e afirmou que sentia muito sua morte e o fato de ela não estar presente de maneira física quando nascer o neto a quem ele já fazia muitos planos.

Neto que não terá o sangue dela!, penso comigo mesma indignada com a cena da minha prima. Anitta pode até estar sendo verdadeira ali, mas eu não consigo acreditar nela e nem deixar de pensar, que tudo aquilo não passa de teatro seu para se aparecer para Sarah e os demais ali. Mas queira Deus que eu esteja errada e minha prima possa ter sido sincera ali, porque do contrário não será nenhuma novidade para mim Anitta bancar a falsa.

Mais ninguém quis falar depois da minha prima e, deste modo, o velório foi encerrado e o caixão fechado para o traslado até o cemitério particular.

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