|Capítulo 52|

Beatrice, antes de descer da caminhonete, precisou voltar para beijar Joe.

- Você vai mesmo ficar bem?- Ela perguntou. O rapaz riu.

- São só dois dias. Vamos ficar bem.

- Não tô falando de saudade.- Bea passou a mão no rosto dele, sorrindo.- Estou falando de cuidado. Tome cuidado.

- Eu estou acostumado a fazer isso, tudo bem.- Joe a beijou mais uma vez.- Me mande foto do vestido que escolher.

Ela desceu do móvel.

- Eu não vou mandar, você sabe.- Os dois riram.- Tudo bem, vai lá. Amo você.

- Amo você.- Joe deu partida, e Beatrice se deu conta de que as meninas já estavam na porta da loja.

- Eu escutei direito?- Andrea perguntou, cumprimentando Bea com um abraço.

- Talvez.- A garota sentiu as bochechas corarem.- Foi fácil encontrar a loja?

- Sim.- Scarlett olhou a fachada, onde o nome "Rafinatto" se destacava.- Estávamos esperando você.

- Minha mãe disse que é uma das melhores.- Bea passou por elas, empurrando as portas de vidro.- Embora eu nunca tenha vindo nessa. Acho que o nome é em italiano.

- Se foi a sua mãe que indicou...- Lilli seguiu Bea, os ombros encolhidos.- Não é cara demais pra gente?

- Não, relaxa.- A Coleman deu uma breve volta na loja, quando uma mulher dos cabelos cacheados de um tom ruivo acobreado surgiu.

- Boa tarde, em que posso ajudá-las?

- Minha amiga vai se casar, e tive uma ótima indicação de que essa loja pode nos ajudar com os vestidos de noiva e madrinhas.

A mulher abriu um sorriso simpático.

- Aqui é o lugar certo. Sou a Rachel e vou atendê-las no que precisarem.

Ela buscou pela noiva, e Scarlett surgiu na frente das outras.

Scarlett explicou sobre a organização do casamento conforme a atenciosa Rachel perguntava. Já sabia que o evento seria durante o dia, e em um campo, na fazenda.

- As madrinhas vão usar cores iguais?- Indagou a mulher, na frente de uma arara com muitos vestidos de tons verde.

- Eu não tinha pensando nisso.- A policial se virou para as meninas.- Vocês quem sabem.

- Fala sério, é o seu casamento.- Briella riu.

- Sei lá, estou sem ideia, tudo tá uma bagunça na minha cabeça.- Ela olhou em volta, sem graça.

Beatrice abriu a boca pra falar que uma cor única seria o ideal, mas Diane disse primeiro.

- Eu adoraria.

Ao escutar, Bea cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.

- Desculpe a demora.- A loira Marian entrou na loja, as mãos no bolso da calça jeans, a expressão surpresa com o local. Não estava habituada com nada desse tipo.

- Marian, não imaginava que você viria.- Lilli a abraçou.

- Eu também não, mas Scarlett meio que me obrigou.

- Nunca te vi em um vestido, com certeza vai ficar linda.- Declarou Diane, sorrindo.

- É, nem eu. Vamos ver.- A outra riu sem graça, olhando para as botas nos pés.

- Scarlett...eu estive pensando...- Bea se aproximou, falando baixinho.- Talvez você não precise de tantas madrinhas.- Ela olhava de forma desconfortável para Diane.- Talvez queira colocar alguma amiga da delegacia com você ou, sei lá, parentes, alguém mais importante...

A mulher parou a busca pelo vestido de noiva e virou para a amiga.

- Como assim?- Ela riu, sem jeito.- Não, claro que não. Mesmo se tivesse, tirar você nunca seria uma opção.- Ela percebeu o olhar para Diane.- Tirar uma de vocês duas nunca, nunca seria uma opção. São minhas melhores amigas. Podem fazer isso por mim?

Bea assentiu, derrotada, se sentando em uma poltrona enquanto as outras avaliavam animadamente os vestidos.

- Afinal, Beatrice Coleman, existe um motivo muito especial pra você estar no altar comigo. Joe Hammar, o meu cunhado, vai estar lá. E você não é a acompanhante dele?

A menina riu, sabendo que outros olhares estava sobre ela.

- Não apenas acompanhante, pelo que escutei no café da manhã hoje.- Marian olhou para a Coleman, que corava.- Joe parecia muito feliz.

- O que estamos perdendo?- Briella disse, se aproximando de Bea e fazendo cócegas nela, que riu.

- Tudo bem, eu conto.- Ela se levantou.- Todos vocês venceram. Joe e eu estamos namorando.

As garotas soltaram gritinhos alegres, e abraçaram Beatrice. Diane olhava apenas de longe.

- O que acham de rosa?- perguntou Lilli.

- Você ficaria mais chamativa que a noiva, não mesmo.- Advertiu Andrea.

- Muito difícil, certeza que Scarlett será a noiva mais bonita que vamos ver.- Diane disse, e as outras concordaram.

- Parem com isso.- A mulher estava com vergonha.- Eu nem escolhi um vestido.

- Você ficaria linda se se enrolasse em uma cortina branca.- Elogiou Bea.- Não é o vestido.

Enquanto falavam sobre isso, a única vendedora, Rachel, conseguia atender igualmente bem as sete mulheres, como se a loja tivesse reservada apenas para elas. Talvez isso fosse verdade, sabendo que a crítica de uma Coleman valia muito.

- O que acham?- Andrea saiu do provador com um vestido volumoso azul, com pedras brilhantes no colarinho.

- Minha auto estima foi lá em baixo.- comentou Marian.

- Disse a mulher que conquistou Dominic Wayland.- Andrea riu, dando uma volta com o vestido.

- Eu ouvi dizer que o estilista desses modelos trabalha diariamente aqui na loja, não é?- Perguntou Bea.- Caso não encontremos um modelo, podemos fazer um pedido especial?

- Ah, sim!- A mulher terminou de abotoar um vestido amarelo que Briella experimentava.- Sim, com antecedência, podem fazer o pedido que quiserem. Todas nossas peças são feitas aqui.

- Um homem, uau.- Diane comentou, assoviando.

- Sim.- Rachel olhou a arara de vestidos vermelhos que Marian observava.- Ah, se me permite, temos uma coleção nova desse verão com um vestido que parece seu estilo.- A mulher passou por Marian, agitada.- Demetri, amor, pode trazer as caixas da seção três do depósito?- Ela disse, elevando um pouco a voz.

- Aqui está.- Ele surgiu, e apenas quando colocou as caixas brancas no balcão que conseguiram ver seu rosto. O que mais destacava nele era a altura, que provavelmente atingia os dois metros. Ele sorriu brevemente para as meninas.

- Então seu marido trabalha com você?- Lilli perguntou.

- Eu trabalho para ele.- Rachel disse, ajudando-a a tirar um vestido do cabide.- Ele é o estilista que estávamos falando.

- Meu Deus!- As meninas exasperaram.- Você se casou com um cara muito talentoso.- Bea falou, entrando no vestiário com um vestido de um tom cobre fechado.

A conversa continuou do lado de fora, enquanto Beatrice decidia que aquele modelo poderia ser destacado demais.

- Precisa de ajuda?- Ela se assustou, vendo Diane entrar na cabine, trancando a porta.

- Não. - Ela se virou para o espelho.- E você deve bater antes de entrar, sabia?

- Precisamos conversar, Bea.

- Não precisamos. Já acabei com você.

Diane segurou o braço da garota, conseguindo a atenção dela.

- Por favor.- Ela praticamente grunhiu.- Estou há semanas sem falar direito com a minha amiga. Sinto sua falta. Por favor, me escute.

- Se não sair em cinco segundos, eu vou gritar.- A Coleman puxou seu braço, com um olhar ameaçador.

- Pode gritar, não ligo. Não vou sair até que me escute.- Disse Diane, começando a chorar.

- Eu só estou dividindo o mesmo ambiente que você por amor a Scarlett.

- Se você me ouvir, terá direito de me dar um tapa quando eu terminar.- Ofereceu a garota.

Bea ergueu uma sobrancelha.

- Aceito. Vai, rápido.

- Tudo bem.- Diane escondeu as mãos nos bolsos da calça.- Se lembra quando você me perguntou uma vez sobre meu pai, eu disse que era uma situação complicada, e você falou que eu não precisava contar.

- É.

- Então. Eu não contei porque não queria que tivessem dó de mim, mas agora talvez seja hora de contar e talvez você entenda um pouco meu lado. Bem, Beatrice, o meu pai era um viciado. Quer dizer, ele não foi sempre assim, não quando se casou, mas perdeu o emprego quando eu tinha cinco anos, se afundou em dívidas, e minha mãe como era apenas estudante na faculdade não podia fazer muito. Ele começou a perder a cabeça, ele usava drogas, batia na minha mãe. Quando ela finalmente teve coragem de levantar a voz para mandá-lo embora...eu chorei muito. Não queria perder meu pai. Mas não tinha noção de que minha decisão fosse prejudicar ainda mais ela. Minha mãe passou por coisas que...- Diane tentava não chorar.- Uma vez ele foi embora.- Ela mudou rapidamente a sequência da história.- Voltou um mês depois, me buscou na escola. Eu tinha sete anos. Achei que estava tudo bem, mas eu o vi ligar pra minha mãe e ameaçá-la, se não pagasse não me teria de volta.- Bea pigarreou, tentando não se emocionar com a história.- Estávamos na fronteira da  Virginia, quando a polícia nos parou e eu estava escondida no banco de trás. Eu não tenho muitas lembranças, sabe, mas eu lembro direitinho do barulho dos tiros...- Ela abraçou o próprio corpo enquanto chorava.- Meu pai morreu naquele dia, Bea, com um tiro no coração, e foi encontrado no carro e na minha mochila tantos quilos de droga que eu nem sei te dizer.- Diane limpou os olhos, e Bea não conseguia olhá-la nos mesmos.- Minha mãe fez terapia por dois anos e eu até hoje, para superar o trauma. Ela teve muita dificuldade pra arrumar relacionamentos, anos depois, porque  tinha medo e, eu, muito mais.- Ela respirou fundo.- Peter e Mabel não iam me contar sobre a relação deles. Eu descobri. Estava curiosa pra saber quem estava fazendo ela tão feliz, eu nem lembrava qual foi a última vez que a vi daquela forma. Eu gostava do Peter, mas não achava justo que aquilo fosse escondido. Eu sei que errei com você, Beatrice, porque você e eu não tínhamos segredos. Mas o seu pai me convenceu, disse que seria melhor se ele falasse, e, afinal de tudo, sua mãe já sabia. Eu só podia esperar. Desculpe por ter sido sim, egoísta, porque eu vi na relação dos dois uma chance de ter uma família de novo e com pessoas que eu amo. Foi irresistível. Eu fui fraca. E eu sou péssima, sei disso. Mas não me torture mais, Beatrice.- Ela quase implorava.- A sua falta me machuca mais que a culpa. Nós somos melhores amigas. Foi pra você quem eu contei primeiro sobre o Charlie, nós matávamos aulas juntas, pintamos meu quarto juntas, fomos nós quem ficamos presas no vestiário masculino e você quem me ensinou a fugir de uma detenção.- Elas riram, ainda que os olhos estivessem inundadas de lágrimas.- Eu não estou pedindo que você divida sua casa comigo ou deixe que eu chame Peter de pai. Eu só quero ter você de volta.

Alguns segundos silenciosos se estenderam.

Elas não escutavam mais a conversa do lado de fora, o que indicava que as outras pararam para ouvir o que diziam.

Bea olhou fixamente nos olhos de Diane.

- Sabe o que vou fazer agora?

- Bater no meu rosto, como prometido?- Perguntou a garota, tentando andar para trás, mas o cubículo não permitia.

Beatrice avançou sobre Diane, e a abraçou forte. A outra correspondeu imediatamente.

- Me desculpe...- A Madison sussurrou nos cabelos da outra.

- Senti sua falta. Mas sei que se for dizer qualquer coisa, vou estragar tudo. Então chega de julgamentos, vamos passar uma borracha nisso.

Elas se separaram depois de, talvez, um minuto. Quando saíram do vestiário, suas outras amigas estavam chorando, e as seis se abraçaram.

- Aliás, acho que ficaríamos bem de roxo.- Comentou Diane.

- Roxo então!- Bea exclamou, e elas se soltaram à procura dos vestidos perfeitos.

❀ •  ✄ • ❀

Quando Bea chegou em casa, Peter estava sozinho. Incrivelmente, ele vasculhava o quarto de Arthur.

- Você faz isso no meu também?- Perguntou a garota.- Invasão de privacidade.

- Não.- Peter riu, se sentando na cama e pegando uma bola sobre a mesma.- Como foi na loja?

- Vamos voltar depois. Somos todas muito indecisas.- Ela riu.- Sabe se Jordan e Joe voltam logo?

- Eles costumam ser bem ágeis nessas viagens. E, não me olhe assim, não mandei seu namorado pra longe por implicância. Os dois dizem que são os únicos que transportam o gado de maneira segura.- Peter afirmou.

- Tudo bem.- Bea riu, percebendo que nunca tivera a chance de reparar os detalhes do quarto de Arthur. Os quadros, as prateleiras com plantas e brinquedos de quando ainda criança. O cômodo era um grande contraste entre um garoto de onze e vinte e um anos.- O que faz aqui?

- Estou buscando desesperadamente uma forma de ajudar Arthur.

Ajudar?

- É, eu...- Peter bufou.- Ele está estranho há alguns dias. Queria ter um assunto pra conversar ou perguntar sobre o que está acontecendo...eu só não gosto de vê-lo assim.

- Eu não reparei. Sabe, eu quase nunca vejo ele.- Beatrice tocou o ombro do pai.- Desde quando isso tem acontecido?

- Eu encontrei ele e Judith aqui em casa. Ela disse que só estava com saudades mas, desde então, Arthur tem ficado recluso.

- Bem...hã...- Bea abriu um sorriso.- Marquei de conhecer o apartamento da mamãe essa noite, quem sabe eu não possa perguntar alguma coisa a ela?

- Seria ótimo.- Peter se levantou.- Bem, preciso falar com algumas imobiliárias. Jordan me pediu para ver algumas, porque a casa terá que ser avaliada pela assistente social.

Bea assentiu, passando pela porta.

- Boa sorte.- Disse.-Ah, e caso seja de seu interesse...Diane e eu fizemos as pazes.

❀ •  ✄ • ❀

A menina não teve dificuldades para encontrar o apartamento 32, qual indicava na mensagem de sua mãe.

Ao tocar a campainha, Bea se surpreendeu ao ver um rosto conhecido.

- Frederick?

O advogado parecia surpreso. Ele ajeitou a gravata.

- Beatrice?- Ele disse, num tom mais alto que o comum.- Que surpresa boa!

Logo, Judith pareceu correr até a porta.

- B...B...Beatrice?- Ela tentou esconder o desconforto.- O que faz aqui?

- Hã...ontem quando...você me indicou a loja de noivas, me passou o endereço e disse que eu poderia vir te ver.- A mente de Bea estava confusa.- Mas, se for uma hora ruim, eu posso ir embora.

- Não!- Frederick trocou olhares duvidosos com Judith.- Fique, jante conosco.

- É.- A mulher riu sem graça, conduzindo a filha para dentro do apartamento.- Você está linda, parece bem, a viagem deve ter sido ótima.

- É, sim.- Bea se sentou no balcão, quando o homem puxou a cadeira.

- Eu estou fazendo espaguete de abobrinha, gosta?- Perguntou Frederick.

- Sim.- A garota não sabia como agir, e o clima parecia pesado.

Judith tentou puxar algum tipo de conversa, mas todos os assuntos morriam.

- Antes da janta, posso usar seu banheiro?

- Claro.- A mulher explicou o caminho.

Beatrice se dirigiu até o banheiro, mas não se aguentou ao ver a suíte aberta. Ela entrou sem fazer barulhos e encostou a porta. As vidraças do quarto exibiam toda a imensidão de Columbus, indicando mais ainda o luxo do apartamento. Os olhos de Bea vasculharam todo o quarto. Sobre a cômoda com o abajur, ao lado da cama, existia um retrato de Arthur. Por outro lado, Bea não encontrou nada sobre ela. Em cima da cama, uma toalha.

Se a garota conhecia bem sua mãe, sabia que aquilo não era sobre ela.

Para confirmar suas expectativas, abriu a porta do guarda roupas e encontrou peças masculinas, cujo estilo ela sabia bem de quem pertencia.

Ela levou a mão à boca.

Então, Beatrice conhecia o amante de sua mãe desde quando nasceu.

Era Frederick Flamming.


Publicado em: 30/10/2017
Atualizado em: 23/01/2023

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