|Capítulo 48|
Quando Bea acordou, encontrou Arthur na cozinha de Nina.
- Buenos dias mi pequeña.- Falou Nina, beijando o rosto da Coleman.- Como foi a noite?
O irmão se levantou, olhando para a outra.
- Longa.- respondeu, com um sorriso amarelo.
- Eu sei que deve achar ruim que seu irmão esteja aqui, querida, mas na minha casa não tem as coisas que você come. Pedi para que ele trouxesse.
Beatrice assentiu.
- Não precisa se explicar, Nina. Eu agradeço a recepção, mas sei que Arthur veio me buscar. Tenho que voltar para casa.
Os dois se olharam por um longo período de tempo.
- Ah, espera aí, espera aí.- A senhora colocou as mãos por trás de Arthur e Beatrice, aproximando os irmãos.- Cadê o beijinho de bom dia de vocês dois, hein? - Eles reviraram os olhos.- Ah, eu sei que os dois caíram no tapa ontem, mas hoje é um recomeço. Todos os dias vocês acordam com muito amor, vamos...- Nina forçou, até que os dois se abraçaram. A mulher sorriu.- Ótimo. Agora sentem-se, vou servir o café.- Ela pediu.
- Ah, Nina, não é necessário, você está de férias...
- São meus convidados, rubio.- Ela se virou, terminando de preparar o que fazia, enquanto Bea e Arthur riram por Nina chamá-lo de "loiro", o que ela não fazia há tempos.
- Aqui está o seu novo celular.- Arthur colocou o aparelho sobre a mesa.- Já tem o contato salvo da família, suas amigas, o pessoal da fazenda... você adiciona o resto.
- Não preciso.- Ela declarou. Um silêncio se estendeu, e só se escutava as talheres que a senhora mexia. Nina se sentou e os acompanhou comendo, coisa que não acontecia.
- Ah, Nina, como faz falta as suas mãos lá em casa.- falou o rapaz.
Eles conversaram mais um pouco, porém, no final do café da manhã, Arthur afirmou que eles precisavam mesmo ir. Beatrice agradeceu a hospitalidade, e Nina fez com que a garota prometesse que avisaria se precisasse de algo.
❀ • ✄ • ❀
No elevador, com poucas palavras, os irmãos Coleman pediram desculpas um ao outro.
Quando as portas abriram, encontraram o jardineiro carregando algumas caixas e, logo atrás, Judith agradecia pela ajuda.
Arthur passou diretamente por sua mãe, indo até o apartamento. Beatrice segurou o braço da mulher animada no corredor.
- Mãe, o que está acontecendo?
- Ah, o senhor Beckham se ofereceu para me ajudar com a mudança, um amor.- ela disse, sorrindo para ele, que entrou no elevador dos funcionários.
Bea cruzou os braços.
- Você parece...feliz.- Ela reparou.
Judith arqueou as sobrancelhas.
- É, hã, empolgada. Sabe, estou decorando meu apartamento novo com a paleta da nova coleção de verão da Sweetener.- a mãe bateu palmas.- E está ficando lindo sabe, porque apenas minha opinião importa. Enfim.- Ao ver que a filha não compartilhava da mesma felicidade, ela fechou o semblante.- Bem, e, e você, como está?
- Melhor.- Ela respondeu.- Eu queria falar com você sobre...
Beatrice foi interrompida pela notificação no celular de Judith. Ela pediu um segundo e, ao ler rapidamente o que tinha na tela, a mulher tentou disfarçar um sorriso.
- Ah é, filha, que bom, eu também acho.- Judith depositou um breve beijo no rosto da garota.- É uma pena que eu precise ir. É, depois nós nos falamos, e não fique triste, seu pai vai cuidar muito bem de você. - Ela começou a andar em direção ao elevador.- Quando quiser me visitar...hã...- Judith apertou o botão do térreo.- Me mande uma mensagem, nós marcamos. Beijos.
E o elevador se fechou.
Beatrice ficou longos segundos no corredor, tentando entender o que aconteceu.
Judith agiu de uma maneira diferente, mas a menina conhecia bem aquela versão. Aquela foi a mãe que conviveu com ela a vida toda, apressada e desinteressada. Nos últimos tempos, Beatrice não se lembrava muito dessa mulher, mas ela voltou rapidamente, da noite pro dia.
Os ombros de Bea baixaram.
Ela sentiu vontade de chorar.
Na noite passada, quando Nina pediu para que a garota pensasse, ela avaliou sua vida por muito tempo. Era Peter quem esteve lá, em todos os momentos, Peter sempre cuidou e se importou. Sempre demonstrou seu amor. Ainda sim, o Coleman tinha outras pessoas, como Arthur, Nina e agora Mabel e Diane que não o abandonariam. Porém, sendo uma boa ou péssima mãe, Judith não tinha ninguém. E, pensando nisso, Bea tinha decidido que moraria com ela. Muito embora, a mulher acabava de dar as costas para a filha e decidir por todos eles.
Bea se arrastou até o apartamento, e encontrou Peter em um suéter cinza e os olhos fundos, olhando para a porta.
- Ah, eu sei o que você vai dizer.- Ela murmurou.- "Beatrice, você fez de novo, quanta irresponsabilidade, eu não sei mais o que fazer com voc..."
A fala de Bea foi interceptada por uma ação inesperada de Peter, que a abraçou e beijou seus cabelos.
- Que bom ter você em casa.- Após seu pai dizer isso, ela se permitiu chorar nos braços dele, que a apertava cada vez mais.
- Papai, eu estou muito, muito magoada.- Ela dizia, chorando. Peter assentiu.- Está doendo muito...
- Eu sei, eu sei, tudo bem...- ele tentava confortá-la - Eu amo muito você, Beatrice.
Ela soluçou.
- Eu também amo muito você. Me desculpe pelas coisas horríveis quais te xinguei na minha cabeça.
Peter se permitiu rir.
- Tudo bem, eu posso conviver com isso.
Eles escutaram o som de uma talher bater em uma taça.
- Somos só nós três! Vamos comemorar!
Os dois se soltaram do abraço e encararam o loiro.
- Arthur...
- O quê?- Ele riu, abrindo um vinho.- Estou comemorando porque nós estamos bem, e juntos, só isso...
Eles então riram e aceitaram.
❀ • ✄ • ❀
Quando o pôr do sol ilustrava o céu de Columbus, Beatrice decidiu se sentar em um dos sofás do terraço e observar as luzes da cidade se acenderem gradativamente.
- Hey?- A voz de Peter Coleman a tirou do transe. Ele tinha as mãos atrás do corpo.- Tudo bem?-Bea assentiu, ainda olhando o horizonte. Os prédios de Columbus pareciam cada vez maiores.- Então...você tem visitas.- Bea olhou para ele.- Seja gentil.
E então ele saiu, sem esperar que ela respondesse se queria ou não ver alguém.
Beatrice enxergou primeiro Scarlett, ainda com o distintivo do trabalho. Ao seu lado, Briella, que tinha as mãos dentro dos bolsos da calça. Lilli acompanhava Andrea, com um semblante triste, e Andrea usava o avental da floricultura Narcissu's Lake. Elas se aproximaram, e Bea esperava não ver aquele rosto. Mas, cara de pau ou não, Diane saiu de trás de Lilli.
- Viemos assim que descobrimos tudo.- Scarlett começou, oferecendo um sorriso. Mesmo não tendo sido correspondido, ela abraçou Bea brevemente.
- Como você está?- Andrea perguntou, tocando o ombro da amiga.
O clima estava tenso. Lilli prendia a respiração.
- Vou ficar melhor se ela sair da minha casa, agora.- O olhar de Beatrice para Diane era mortífero. A outra não se aproximou muito.
- Eu acho que vocês deveriam conversar, Bea...estamos aqui pra isso, precisam ouvir uma a outra...
- Beatrice, por favor, me julgue o quanto quiser, mas não me mande embora...- A voz de Diane era baixa, quase não se escutava. Seu rosto também exibia suas noites mal dormidas.- Nós somos amigas...
Beatrice se levantou do sofá, com uma ironia estranha nos olhos. Eles brilhavam. Talvez fosse tristeza. Talvez, ódio.
- Amigas?- Ela riu, e as outras meninas pareciam estar na defensiva.- Somos amigas, Diane? Qual é exatamente a sua definição de amizade?
- Bea, eu sinto muito pelo que aconteceu, mas eu não tive opções...
- Você não teve...opções.- A outra grunhiu.- Como consegue ser tão falsa?
- Eu juro, se você apenas me escutar...- Antes de terminar, Bea atirou uma almofada na direção de Diane, que correu. A almofada caiu na piscina, mas Bea não parou de atira-las.
- Não quero te ouvir, vai embora!
- Beatrice, espere!- as garotas pediam, mas Bea começou a correr atrás de Diane.
Scarlett a segurou.
- Você não acha melhor se sentar e escutar?- Ela dizia, ofegante.
- Eu vou sentar minha mão na cara dela!- Ela gritou, e as outras tentavam apagar o fogo.
Diane se escondeu atrás de Lilli.
- Você não acha que está muito violenta ultimamente?- perguntou Briella, entrando na frente de Bea.- Arthur me contou. Você precisa se acalmar!
Beatrice ainda esperneava.
- Vou me acalmar quando matá-la!
- Beatrice, o que você queria que ela fizesse?- A voz fina de Lilli sobrepôs as outras.- Que escolhesse você antes da mãe dela?
- Ah, então você também sabia?
- Não!- Diane gritou.- Eu não dividiria essa culpa com Lilli. Ela soube ontem...
- Diane...- A raiva de Beatrice parecia se dissipar.- Você me via todos os dias, cada vez mais abatida...como pôde?
A outra chorava.
- Eu não sabia que era isso, Bea. Você não contava seus problemas, eu juro que teria dito se soubesse.
- Isso não tem nenhum cabimento!- A Coleman gritou para a outra.- O que passou pela sua cabeça? Que eu aceitaria numa boa quando descobrisse e seríamos uma família feliz?
- Eu confesso, eu tive medo disso dar errado. Mas, por favor Bea... minha mãe e seu pai me pediram sigilo. Peter disse que ele queria contar a você. Eu simplesmente não podia...- A voz dela falhou.- Eu deixei a felicidade do momento me domar, eu sei. Mas nunca vi minha mãe tão feliz.
- É, e a felicidade de vocês duas é a minha desgraça, mas quem se importa, não é?
- Você fala como se eu tivesse matado alguém, Bea.- Diane tentava se defender, em prantos.
- Você matou a minha confiança. Matou minha credibilidade na nossa amizade. Você acabou com a minha família com esse segredo.
O silêncio que se estendeu machucava cada uma daquelas presentes.
- Você precisa perdoá-la, Beatrice.- A voz de Lilli tentava novamente, o que não era novidade. Elas eram melhores amigas antes de conhecerem as outras.- Não era sobre você e ela. É sobre Mabel e Peter.
- Me desculpe, Lilli, mas isso não justifica.- Foi Andrea quem saiu em defesa de Bea.
- Eu precisei perdoar meu pai porque nós somos uma família. De você, Diane, eu quero distância. Pra sempre.
- Beatrice, por favor...- A garota implorava.
- Talvez vocês precisem conversar melhor depois. As duas tem bons motivos para fazer o que estão fazendo... é só esperar a poeira baixar e...- Antes que Briella terminasse, Bea disparou a correr de novo atrás de Diane, com raiva. A outra, com medo, correu para dentro de casa, e a Coleman foi impedida por um grande peitoral que surgiu em meio as duas.
- Beatrice? - Joe puxou o rosto dela até que o olhar dos dois se encontrassem.- Você não quer fazer isso...
Bea olhava com os olhos semicerrados para Diane, que se escondeu atrás de Peter. Joe empurrou ela até o sofá, com as outras garotas.
- Saiam, todas vocês. Vão embora com ela!- ela gritou.- Não preciso de nenhuma de vocês, nenhuma!- Ela dizia, mas ninguém se movia.- Vão!
Com o último grito, Lilli se assustou e saiu correndo.
- Só por enquanto. Ninguém vai desistir.- Foi Briella quem disse, antes de sair.
Joe abraçou a garota.
- Ei, olhe pra mim.- Com muita resistência, Bea olhou.- Você se sentiu muito mal por ter batido em Kayla. Se sentiria pior se machucasse uma amiga.
- Não tenho amigas.- Ela falou, sabendo que era apenas o calor do momento.
Scarlett se levantou, suspirando. Hoje, ela não usava a costumeira jaqueta de couro preta. Os braços brancos estavam expostos, era aceitável, porque estavam no verão.
- Joe, eu e Jordan vamos te esperar na sala.- Ela disse, deixando o terraço também.
O cowboy acariciou o rosto da outra.
- Eu passei rapidinho pra te ver. Eu, Jordan e Scarlett temos uma reunião com Dominic agora, vamos falar sobre a situação da Cecily. Mas, se você precisar, eu fico.- Quando ele disse isso, Bea sorriu.
- Não, tudo bem, eu estou bem, pode ir. Me dê notícias.- Ela disse, se encostando no sofá e abraçando o próprio corpo. Joe deixou o local, olhando várias vezes para trás.
- Então somos só nós duas.- Andrea tocou as pernas de Beatrice, e se sentou ao lado dela.
- Você pode ir também.
- Ei, não me trate assim. Se eu ficar triste e meu leite secar, vou te culpar pra sempre pela fome das minhas filhas.- Ela disse, e as duas riram um pouco.- Olha Bea, eu não quero escolher lados, ok? Amo você e Diane igualmente. Mas eu não concordo com o que aconteceu, e quero ficar aqui com você. - Ela sorriu, atraindo o olhar da Coleman para ela.- Não sei se você se lembra, mas eu já te contei que as coisas na minha vida começaram a dar errado quando meu pai traiu minha mãe, tiveram diversos problemas, quase separaram e depois ela morreu. Eu entendo bem o medo que você está sentindo.- Andrea a abraçou, acariciando os cabelos dela.- Mas uma boa diferença entre a sua história e a minha é que a sua vai acabar bem. Eu prometo.
❀ • ✄ • ❀
Três horas depois, quando já era noite, Peter chegou no apartamento após levar Lilli e Diane em casa, e encontrou tudo escuro. Subiu as escadas e apenas o quarto de Beatrice estava iluminado.
- Andrea já foi? - Ele perguntou, e ela assentiu, enquanto experimentava alguns óculos de sol, e tinha duas tranças laterais no cabelo.- Olha, Beatrice, eu deixei você gritar comigo e me xingar ontem, porque eu entendo sua raiva. Eu podia muito bem ter te colocado em seu lugar e dizer que eu não te devia satisfações, porque sou seu pai. Mas não fiz.- A filha parecia não se importar, colocando algumas maquiagens em uma bolsa.- Porém, querida, não vou permitir que você trate suas amigas com essa agressividade e falta de educação. Principalmente Briella e Diane, que agora são da família.
- "São da família".- Bea repetiu, com uma voz engraçada.- Tanto faz, você vai ter tempo para consolá-las enquanto eu estiver fora.
Beatrice passou por ele, e Peter a seguiu.
- Estiver fora?- Ele questionou, e ao chegarem no andar de baixo, o pai viu duas malas que não tinha percebido no centro da sala.- Onde pensa que vai?
- Bem, é verão, não é? Eu estou de férias. Vou para Chesapeake.
- Espera aí, como assim?
Beatrice cruzou os braços.
- É pai, você sabe, Chesapeake. Vou ficar um tempinho com o tio Stephen. Ah, e ele disse que agora tem uma casa em Virginia Beach, vai ser ótimo. Fica tranquilo, eu te ligo.- Ela puxou as malas até a porta.
- Bea, você não pode simplesmente decidir ir...e...e como... Stephen não devia falar comigo? Você precisa de autorização para viajar e, decidiu isso do nada?- Peter não entendia.
- É, do nada. Mamãe já resolveu com a companhia de viagem. Vai ser bom pra mim, para organizar a mente, com praia, protetores e água de coco. Aproveite minha ausência pra organizar, sabe, sua vida também.- Ela sorriu, depositando brevemente um beijo no rosto de seu pai, na ponta dos pés.- Beijos, te amo.
Publicado em: 24/10/2017
Atualizado em: 23/01/2023
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top