|Capítulo 44|
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Beatrice não demorou para encontrar uma vaga no estacionamento do hospital. Foi informada pela recepcionista que Peter e sua médica estavam no refeitório. Lá, ela também encontrou Diane.
- Como foram os exames?- Perguntou Bea, se sentando na quarta cadeira e cumprimentando os outros três.
- Bem.- respondeu Peter, comendo seu almoço em uma marmita.
- Perguntei para a doutora.- Ela sorriu, e Mabel retribuiu.
- Os exames saem essa tarde, embora eu já saiba o que vai acontecer.
O Coleman respirou fundo.
- Você não pode dizer com certeza.- disse, sem olhá-la nos olhos.
- Eu posso, baseado nas suas últimas reações e diagnósticos.- Declarou a médica.
- Últimas reações?- Beatrice franziu o cenho.- Peter não está indo bem?- Após essa pergunta, por longos segundos, os dois se encararam.- Gente?
- O seu pai precisou dar entrada ontem no hospital. Houve um...- Mabel escolhia as palavras.- pequeno desmaio, causado por arritmia.
O olhar da filha buscou o do pai, que não correspondia.
- Ontem? Quando?- Ninguém respondeu.- Ontem nós passamos a noite juntos e você estava ótimo. Peter? Arthur sabe?
- Não.- O homem levantou o olhar.- Porque não foi necessário. Vocês não precisavam saber.
Beatrice respirou fundo.
- Neces...- Ela fechou os olhos.- O que é necessário para você, pai?- Bea sentia raiva.- Será que agora eu vou ter que colocar seguranças e paramédicos atrás de você?
- É por isso que eu não queria que soubesse. Você faz tempestade em copo d'água, Beatrice...
- Tempestade em copo d'água? Peter, você precisa entender de uma vez por todas, que agora você está vulnerável e que seus filhos podem e devem cuidar de você. Quanta teimosia! E aquela conversa de que não vamos mais esconder nada um do outro?
- Acalme-se, Bea.- Pediu Diane, colocando a mão sobre a da sua amiga.- Talvez o seu pai esteja certo. Ele só não queria te preocupar, não foi nada demais... algumas omissões vem para o bem.
- Me desculpe, Diane, mas eu não acredito nessa conversa. Não se esconde nada de quem você ama e o próprio Peter me ensinou isso.
Um minuto silencioso se passou, enquanto Peter terminava o seu almoço e Bea bebia água.
- Como eu dizia, Beatrice...- continuou Mabel.- Você pode buscar os exames de seu pai mais tarde, mas eu já adianto o que vai acontecer: Com a agravação do caso, seu pai precisa de uma semana de repouso, porque vamos substituir algumas medicações. E como o organismo dele não está acostumado, precisa tomar cuidado, pode haver queda de pressão e os sintomas que você já conhece bem.- A garota assentiu.- O que o seu pai teimoso não aceita, é que eu disse que ele precisa ficar esses dias completamente sem o trabalho e preocupações desnecessárias.
- Isso não tem a menor coerência.- Peter olhou fixamente para Mabel.- Eu consigo muito bem trabalhar de casa e...
- Pai.- Bea interrompeu.- Não ouviu sua médica?
- Tratamento intensivo, repouso absoluto.- repetiu a Dra.Madison.
- É pra isso que você me treina e me paga.- Beatrice brincou.- Vamos, eu posso segurar as rédeas na Pejari, e tenho pessoas da sua confiança lá para me ajudarem caso seja preciso.- Ela estendeu uma mão para o pai.
- O que foi?
- Sua agenda com os compromissos da Pejari. Sei que tem uma.- Peter suspirou. Ele retirou do bolso, entregando a sua filha.
- Ótimo. Vou ligar para o Arthur e ele será sua babá e vigilante nos próximos dias...
- Ah você está brinc...
- Se reclamar eu coloco a mamãe.- o pai se calou.- Bem, eu ia te chamar para almoçarmos juntos mas...
- É, Diane trouxe meus almoço.- Peter sorriu docemente para a menina.
- Prestativa ela.- Bea riu.- E estava comestível?
Diane mostrou a língua para sua amiga.
- Estava ótimo, sabe, ela não é você.
- Shhhh, difamador, esse é um segredo de família.- eles riram.- Então, vamos?
Peter olhou em volta.
- Como último ato de liberdade, posso ir no meu horário e com o meu carro?
Bea se levantou.
- Eu concedo seu pedido. Nos vemos em casa, então, porque eu tenho uma empresa para administrar.- Beatrice se despediu brevemente e seguiu seu caminho.
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No decorrer dos últimos seis dias, Bea dedicava toda sua vida a cuidar dos interesses da Pejari, rotina qual, embora muito exaustiva, ela não estava reclamando. O fato de já estar de férias a ajudava, e Bea sabia que, em outros momentos, estaria dando festas por ter conseguido terminar o ensino médio, mas isso não a interessava. Ficou feliz por ter sido parabenizada por seu pai e seu irmão, mas ela não tinha mais tempo para isso. Na fazenda, ela evitava a presença de Kayla o quanto podia, e também se afastou de Joe, que percebia essa diferença a cada dia.
- Então, deixe-me ver.- A voz de Joe soou atrás de Bea, que assustou. Ela estava tão absorta no computador que não percebeu quando ele se colocou atrás da cadeira dela. O cowboy colocou uma mão na mesa, continuando atrás dela, e a garota pôde finalmente matar a saudade daquele perfume.- Além do nosso inglês, e o francês, você também fala espanhol?
Bea olhou para o relatório que revia, enviado dos comerciantes de Veracruz.
- Sim.- Ela respondeu, friamente.
- E quando aprendeu esses idiomas?
- O Francês, você sabe, eu nasci em Paris e meus pais contrataram uma babá francesa para manter o contato com a língua e, depois, eu fiz aulas até os nove anos.- Ela fechou a aba do computador.- Já o espanhol, aprendi com a Nina. Ela é mexicana.
- Jura? Ela fala inglês tão bem. Eu nunca saberia.
- É, ela foi naturalizada aqui com a ajuda do meu pai, era refugiada.
- Sabe mais algum idioma?
- O básico do alemão.- Beatrice respirou fundo.- Precisa de alguma coisa?
Joe sorriu, dando a volta na mesa e se sentando na frente dela. Mesmo querendo, Bea não conseguia desviar o olhar dele.
- Peter me ligou. Disse que estará de volta amanhã, e que o seu reinado acabou. E eu estou muito orgulhoso do que você tem feito.
Ela riu.
- Que bom. Mas, enquanto ainda estou sentada no trono, você não devia estar trabalhando?
- Eu já fiz tudo. Agora, vim saber se a minha patroa precisa de alguma coisa.
Beatrice riu, apreciando a brincadeira.
- Hm... você pode me refrescar, se quiser.
- Quer que eu traga um abanador e uma água gelada?
- Me assopre, servo.- Ela brincou. Joe se dirigiu até Beatrice, torcendo os cabelos dela, erguendo e então soprando sua nuca. Bea se arrepiou. Não demorou muito para que ele começasse a beijá-la, mas, percebendo que a garota estava se segurando, o Hammar virou a cadeira dela, olhando-a nos olhos.
- O que está acontecendo, Beatrice?
- Eu já disse, as coisas estão difíceis...
- Sim, mas como eu posso te ajudar? Você claramente não está bem e isso também me afeta. Me diga, por favor, como posso ajudar você.
Bea respirou fundo.
- Não há nada que possa ser feito, Joe. Minha vida vai despencar nos próximos meses e, pela primeira vez, a situação não está sob meu controle.
- Do que você está falando?
- É...Sobre a minha família...mas...- Beatrice não queria expor os problemas de Peter e Judith.- Não posso.
Joe a abraçou.
- Eu estou do seu lado, viu? Sempre que precisar. E, já que você não pode fazer nada para resolver, o que acha de esquecer isso?- Ele cruzou os braços.- Que tal um piquenique? Ou... pique esconde nas macieiras ou...
- Amanhã.- Ela prometeu.- Preciso mesmo terminar minhas coisas agora. Mas você pode fazer algo por mim.
- O quê?
- Um sanduíche.- Ela abriu um sorriso. Joe estreitou os olhos.
- Suco?
- De limão.
- Tem um preço.
- E qual é?
O cowboy se aproximou dela, roubando um beijo.
- Volto em alguns minutos.
Joe correu para fora do escritório, sorrindo. Apressadamente, ele tirou os ingredientes do armário e, se lembrando bem de como Beatrice era cheia de frescuras com sua comida vegetariana, ele resolveu preparar um para si primeiro. Não economizava em colocar filé de frango e bastante molho, que sujava seus dedos.
Beatrice, por sua vez, se questionou se Joe lembraria que o suco dela era sem açúcar e, para que não ocorresse desperdício, decidiu ir até a cozinha para alertá-lo.
O Hammar sentiu mãos finas acariciarem seu peitoral em um abraço, enquanto estava de costas.
- Precisava mesmo vir vistoriar? Você não confia em mim, não é?- Joe sentiu as mãos acariciarem seus cabelos.- Beatrice, eu estou com as mãos sujas, isso não é justo...- Ela o virou de uma vez, beijando-o.
- O que está acontecendo aqui?- Um segundo depois, a voz de Beatrice soou alta e estridente, e, assustado, Joe abriu os olhos e empurrou com as mãos sujas os ombros de Kayla, que sorriu. O rapaz limpou a boca com o antebraço. A mente dele estava uma bagunça. Como havia acreditado, por míseros segundos, que Kayla era Bea? Mas, por que diabos, Kayla chegaria dessa maneira?
A Coleman ainda olhava para os dois, esperando uma resposta que nem mesmo a mente confusa de Joe conseguiria dar. As mãos de Bea tremiam, fechadas em punho, enquanto ela segurava uma lágrima com os olhos semicerrados.
- B-Bea...- Joe gaguejou.- Eu posso explicar...
- Não adianta, Joe.- O olhar de Kayla era triste.- Ela já viu, conte logo a verdade.
- Que...que verdade?
- A única verdade aqui é que você é uma vadia mesmo...- Beatrice avançou contra Kayla, mas Joe entrou na frente.
- Espera...
- A verdade, Beatrice, é que Joe e eu temos um caso. E você é a única idiota que nunca percebeu!
surpreso com aquela mentira, Joe soltou Beatrice e olhou para Kayla, sem entender.
- Kayla, o que você está fazen..- Mas antes que Joe pudesse terminar, Bea agarrou os cabelos loiros de Kayla e desferiu um tapa no rosto dela.
- Você é maluca!- ela gritou, mas, sem dar tempo, Bea avançou sobre ela dizendo " Eu sou bem maluca" enquanto batia em Kayla até derrubá-la, e ela gritava.
Tentando se defender, Kayla alternava entre arranhar os braços da Coleman e proteger o rosto, o que não estava adiantando muito. A Paxton conseguiu rasgar a blusa da oponente mas, mesmo assim, a outra não parava de machucá-la. Quando Bea parou para tomar fôlego, Kayla socou-a no rosto e inverteu as posições, mas apenas no primeiro grito de Beatrice que Joe saiu do transe e imediatamente retirou a mentirosa de cima da outra.
Beatrice se levantou com a mão no rosto que ardia, e depois, arrumou os cabelos, enquanto Kayla chorava.
- Vai pagar por isso!- Ela gritou.
Calmamente, Beatrice retirou os sapatos e atingiu Kayla, que se escondeu atrás de Joe, impedindo que ela atirasse o outro.
- Beatrice, já chega!- o Cowboy alterou o tom de voz, assustado com a situação repentina.
A garota limpou os olhos lacrimejados e passou por eles, enquanto a Paxton corria do alcance dela.
- Vocês dois se merecem.
Publicado em: 16/10/2017
Atualizado em: 23/01/2023
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