||Capítulo 30||
Na quinta feira fria de 15 de fevereiro de 2018, Beatrice tivera um dia estressante na escola. Não aguentava mais repetir para os auto intitulados "amigos da escola" que ela não era culpada por não ter convidado todos eles para a festa de aniversário e o show de The Vamps. Ela nem sabia da festa, como convidaria? Ainda sim, esse assunto se estendeu pelos corredores da instituição por semanas.
Incrivelmente contraditório do que ela imaginava, a fazenda agora era um refúgio que a acalmava. Talvez, a rotina que ela criara em ir e voltar tenha a convencido disso. Mas, assim que jogou sua mochila na cama, a primeira coisa que Beatrice fez foi tomar um banho e se preparar para passar a tarde na Pejari.
Hoje, ela decidiu colocar uma calça legging e botas, e uma jaqueta jeans em cima de uma regata branca. Desceu as escadas empolgada, abraçando Nina por trás, que servia o almoço.
- Está me agradecendo por fazer seu almoço?- Nina se surpreendeu.- Eu faço isso todos os dias.
- Não é isso, bobinha.- Bea ficou com os braços em torno da doméstica, impossibilitando ela de trabalhar.- Quero te fazer um convite.
- Hmmm....
- Quer conhecer a Pejari hoje comigo?
Nina olhou bem para a patroa, se questionando se ela estava doente ou maluca.
A garota continuava olhando para Nina, no aguardo de uma resposta.
- Eu adoraria, querida, mas sua mãe não me liberaria do serviço para passear na fazenda de vocês.
Beatrice ponderou.
- Bem, mas a Judith não é a única que manda aqui, não é?- Com um sorriso de canto, a menina caminhou até seu pai, que lia um jornal na sala.- Papaizinho?
- Ele saiu.- respondeu Peter, sem desviar os olhos do jornal impresso.
- Poderia, por favor, questiona-lo se hoje posso levar a Nina para a fazenda?
Peter fechou o jornal e sorriu, tirando o óculos.
- Que ideia maravilhosa! Nina, eu adoraria que conhecesse a Pejari. Tem mesmo vontade de ir?
A empregada sorriu, sem graça.
- Se fosse possível.
- Sim, está liberada, a Bea já conhece tudo, pode te mostrar.
Bea deu pulinhos de felicidade.
- Bem, Nininha, arrume-se, vá, vamos, vamos.- Ela estava ansiosa.
- Antes, a senhorita precisa almoçar.- Disse Nina.
- Tudo bem, eu como, mas vá se arrumar...
- Mas...
- Eu me sirvo sozinha!- Beatrice empurrou os ombros de Nina na direção do quarto dos funcionários, e se dirigiu a cozinha para colocar seu almoço.
Antes de saírem, Beatrice decidiu avisar Judith que iria sair.
A porta do quarto estava entreaberta, e a garota pôde escutar a voz da mãe ao telefone.
- É. - dizia Judith.- Não acreditei quando me disse também. Não estava nos meus planos, o que significa que eles precisam mudar. Seja mais rápido, faça alguma coisa. -Sem querer, Beatrice se apoiou na porta e a mesma abriu. Percebendo que não estava sozinha, Judith continuou.- Você é meu campeão, sabe disso. Boa sorte, filho. Me ligue depois.
A mulher guardou o telefone e sorriu para a filha.
- Arthur ?
- Sim.
- O que houve com ele?
- Um campeonato. Ele está nervoso. Tentei ajudar.
Bea colocou as mãos por trás do corpo.
- Mãe, sei que esse é seu jeito. E sei que quer ver seus filhos sendo os melhores. Mas...- ela não sabia como dizer isso, e nem que coragem era aquela que lhe invadia.- Que tal experimentar uma forma mais doce de nos motivar? Bem... Te escutei falar com Arthur. ''Seja mais rápido, faça alguma coisa'' Não acho que é o que ele realmente gostaria de ouvir.
- E o que você sugere?- O olhar de Judith era sutilmente arrogante.
- Que tal... ''Sei que vai dar o seu melhor, filho. E eu te amo.''- Os olhos de Bea pareciam querer se render a lágrimas.- Deveria tentar algo novo.
- Minha querida...- Judith se levantou, e tocou o rosto da filha.- Fraquezas não fazem pessoas fortes.
- Amor não é uma fraqueza. Nem carinho, nem cuidado.
Judith se surpreendeu, olhando sua filha de cima em baixo.
- Quem é você e o que fez com minha filha?- Ela riu.- A Beatrice que eu conheço nunca diria isso.- E ela estava certa. Bea não se reconheceu.- Me responda: O que te fez ganhar o concurso? Amor ou trabalho duro? Eu já sei a resposta. Porque eu te treinei. E, se eu pudesse, treinaria Arthur também...- Judith soltou sua filha.- Não gosto de perdedores.
- Você está certa.- Beatrice limpou os olhos e sorriu.- Espero que Arthur consiga.- Ela se preparou para sair do quarto, mas a mãe a chamou.
- Não seja essa garota chorona, Bea. Você nunca foi assim, o que me diz que está convivendo com as pessoas erradas.- Ela sorriu, abrindo o guarda-roupas, avaliando as peças.- Mulheres como nós não choram. Nós fazemos as pessoas chorarem em nosso lugar. E, o mais importante: Fraqueza não está no seu DNA. Tome o controle da sua vida de novo. Você nasceu para estar no controle.
A menina assentiu.
- Vou levar Nina para a fazenda, tudo bem pra você?
- Sim.- Judith não a olhou.- Vou sair, não preciso dos serviços dela. Aproveite.
Bea desceu as escadas correndo, e sendo repreendida por seu pai no mesmo instante. Nina a esperava.
- Estava chorando?- Questionou Peter, tocando o rosto da filha. Ela se desvencilhou dele.
- Não.
- A sua mãe te contou? - Peter parecia com raiva.
- Contou o quê?
Ele olhou para todos os cantos da casa, em busca de respostas.
- Ah, nada, coisa de casal.
Beatrice não entendeu.
- Tenho alergia ao perfume que ela está usando, só isso.- mentiu.- Pronto Nina?
A mulher assentiu.
- Eu passei algumas instruções para ela tomar cuidado... Sabe como é, você pegou a carteira no início da semana...
Bea mostrou língua para o pai.
- Se eu não estivesse cem por cento segura sobre minha habilidade de motorista, eu não a levaria, pai.- Afirmou a garota, pegando suas chaves e a bolsa.- Fique tranquilo, eu estou no controle.
Ela piscou para o pai e saiu, com Nina atrás.
Peter percebeu que faziam meses desde a última vez que sua filha saiu sem se despedir com um abraço ou um beijo.
❀ • ✄ • ❀
Beatrice dirigiu os quilômetros que separavam sua casa da fazenda com cuidado, parando apenas uma vez no posto por perceber que não tinha gasolina suficiente.
Chegaram na Sede da Pejari por volta das duas da tarde, e Bea, com muito bom gosto, mostrou a fazenda para Nina, ou apenas a parte que ela julgava ''interessante''. No final da tour, Beatrice se certificou que Nina ficaria bem acomodada na sala, assistindo TV. Apesar dos protestos da empregada, a garota afirmou que ela teria apenas um dia de lazer, e não estava ali para trabalhar em nada.
Ela passou pelo escritório de Peter para pegar uns documentos que precisavam ser revisados. Não satisfeita com a solidão no cômodo, decidiu guardar as pastas em uma bolsa e procurar seu melhor entretenimento: Joe Hammar.
A casa estava vazia, e então, a garota seguiu para fora da propriedade, encarando os trabalhadores e procurando por um conhecido.
Encontrou Jordan ajudando um rapaz na plantação de uma muda específica. Decidiu esperar, sem fazer barulho, que ele instruísse o aprendiz e, quando o rapaz saiu, o cowboy se virou para ela.
Jordan Hammar retirou as luvas sujas de terra para cumprimentá-la.
- Eu não o vejo há algumas horas.- explicou o irmão.- Mas, se eu conheço o cronograma dele, hoje é quinta... Deve estar ajudando na colheita das maçãs.
Beatrice sorriu e agradeceu, correndo em direção das macieiras.
❀ • ✄ • ❀
Não tardou a achá-lo. Era a voz dele que se ouvia sobre todas as outras, dizendo o que os funcionários deviam ou não fazer.
- Você é um bom chefe.- Disse Bea, quando ele a viu.
- Não sei mandar como você.
- É, não. - Beatrice confessou.- Mas eu não me importaria de ser mandada por você.-Joe sorriu, mas não a olhou. Continuou a colher as maçãs.- Tenho planos para nós dois essa noite.
- Tem?
- Sim. Vou dormir aqui hoje. O meu pai não vai vir. Podemos pedir algo pra comer, o que você quiser.
Joe se virou para ela, inclinando-se para beijá-la. Mas, quando seus lábios estavam próximos, ele recuou.
- Seria um bom plano se, é claro, você não tivesse aula amanhã.
- Eu posso faltar. É o dia da saúde mental.
- Pensei que estivesse mudando.
- E eu estava. Mas descobri que gosto de ser a garota errada.
Joe suspirou, voltando ao trabalho, pensando em como era deplorável que toda a evolução de Bea tivesse acabado. Talvez, ela só tivesse sendo um personagem esse tempo todo.
Ele caminhou para fora das macieiras, e ela o seguiu. Perto da caminhonete de Joe, ele começou a desenrolar uma mangueira e ligar o registro de água ao lado de um bebedouro.
- Você devia estar trabalhando, não?- Ele questionou. Beatrice tirou as pastas da bolsa e colocou sobre o carro dele, segurando os papéis para não voarem.
- E eu estou.- declarou a Coleman. Alguns minutos de silêncio se estenderam.- Eu estava pensando... Você gosta mais de Pizza ou Hambúrguer? Precisamos decidir agora, porque, sabe, eu preciso encontrar um lugar que também tenha versões vegetarianas.
- Você vai dormir em casa hoje, Bea.- declarou Joe.- E vai na aula amanhã. Não vai decepcionar o seu pai.
- Fala sério! - a menina sorriu.- Vai mesmo bancar o puritano?
- Isso não é sobre mim. É sobre você.
- Não, é sim sobre você.- disse a garota, se aproximando dele.- Eu quero fazer isso por nós dois. Uma noite só nossa.
- Eu não quero uma noite com ''a garota errada''- Joe fez aspas com os dedos.
Beatrice sentiu uma raiva ardente crescer em seu peito.
- Foi a mesma garota que você beijou nessas mesmas macieiras, se lembra?
- Mas depois, ela mudou. E é dela quem eu gosto. Não dessa versão genérica e irresponsável.
A Coleman odiou escutar aquilo.
- Se eu não passar a noite com você, posso passar com outro!- Ela se arrependeu no mesmo instante. Não queria ninguém mais além dele.
- Tanto faz!- Joe falou mais alto.- O seu pai vai saber dos seus planos de perder aula amanhã.
Beatrice amassou um papel de anotações que tinha nas mãos.
- Vá se ferrar, Joe!- Ela jogou o papel no chão.- É assim que você ganha destaque na empresa?- Estava ofegante.- Sendo o bajulador do patrão?
- É assim que eu retribuo o favor que Peter me fez ao cuidar de mim e do Jordan. Mas você não entende nada sobre gratidão!
A garota se dirigiu até ele, retirando cinquenta dólares da bolsa com seus papéis amassados.
- Aqui, se você queria me tirar do sério para ganhar essa maldita aposta, conseguiu!- Ela entregou o dinheiro para o cowboy e saiu, batendo os pés.
- Beatrice!- Joe a chamou, e ela virou esperando um pedido de desculpas.- Faça o favor de recolher o papel que você jogou no chão.
- Você está me testando?
- Não.- O homem entrou no carro.- Estou te repassando as regras, que todo mundo deve seguir. Sem lixos no chão.- Ele reafirmou.
- Eu não sou todo mundo. Não sigo regras.- Bea trincou os dentes.
- Talvez não na sua casa. Mas aqui sim.
- Eu sou a dona desse lugar.
- Não ainda. E até lá, siga as regras.
Derrotada, Beatrice se agachou e pegou o papel.
❀ • ✄ • ❀
- A senhora deve ser a Nina.- Joe adentrou a casa, retirando o chapéu.
- Como sabe meu nome?- Disse Nina em tom doce, tomando um chá.
- Beatrice fala muito bem da senhora.- Joe não parecia bem. Ele ficava vasculhando a casa com o olhar.
- Ela fala igualmente bem de você, Joe.- A mulher ofereceu chá e ele negou, agradecendo.- E você sabe que horas ela volta? Peter já ligou perguntando quando voltaremos para casa.
Joe estava surpreso.
- Como assim? Não está aqui?
- Não.- A senhora se preocupou.- Ela saiu para te procurar há umas três horas.
O cowboy se desesperou.
- Vou encontrá-la.- E ele saiu correndo.
Entre os lugares mais perigosos da fazenda, Joe optou por procurá-la nas margens do rio.
Sua intuição não estava errada, já que avistou há alguns metros de onde estava, as botas e jaqueta de Bea.
Sem pensar duas vezes, Joe se atirou no rio que tanto conhecia, a procura de sua garota. Ele submergia por quinze segundos e, sem encontrar sinais dela, gritava seu nome na superfície. Sem respostas, ele inundava de novo. Na terceira vez que repetia esse processo, Joe sentiu algo agarrar em seu tornozelo e a puxou com toda força para cima.
O mais rápido que pôde, Joe a arrastou para a margem do rio e conseguiu com uma massagem cardíaca retirar a água dos pulmões dela. Bea começou a tossir e chorar, e para acalma-la, ele a abraçou e repetiu que estava tudo bem.
- Eu não esperava que, eu não...- Ela olhava para a água, desnorteada.- Quando a correnteza me levou pro outro lado eu, eu desesperei e quando te vi entrando na água eu tentei te chamar mas... Eu só ia descendo e eu comecei a me debater, não conseguia chegar lá em cima..- Beatrice chorava com aflição.- Eu prendi a respiração, mas não aguentei e senti a água entrando...- Bea segurou a própria garganta.
- Já acabou.- disse Joe.
Os dois ficaram por alguns instantes calados, e apenas era possível escutar as águas furiosas do rio.
- Eu teria morrido se não fosse por você. Obrigada.
Joe a colocou de pé.
- Por que quis entrar? Eu sempre te pedi pra ficar longe do rio, Bea. Eu cresci nadando nele, você não. Te falei que era perigoso.
- Desculpa.- Ela pediu.- Eu só queria refrescar a cabeça.
- Não é como se fosse a piscina da sua casa. Aqui é a natureza, e ela não tem piedade. Assim como não temos dela.
Bea assentiu, seguindo Joe.
- Posso te pedir uma coisa?
- Sim?
- Não conta pra ninguém, por favor.
- Beatrice...
- Prometo nunca mais entrar aqui sozinha. Prometo mesmo. Não quero que saibam que...- Bea pegou sua bolsa no chão.- Não quero que saibam que fui fraca.
- Eu já te vi mais vulnerável.- Joe não entendia o que ela queria dizer.
- Por favor.- ela repetiu.
Os dois seguiram para a casa e não sabiam que Peter havia chegado.
- Por Deus!- Peter correu até a porta.- Onde vocês estavam?
Bea encarou Joe, colocando a bolsa no sofá.
- Tomando banho no rio.- respondeu o cowboy. Beatrice deu um meio sorriso.
- Vou me trocar e então vamos embora.- Disse a garota, subindo as escadas.- Tenho aula amanhã.
- Tomando banho, Joe?- questionou Peter.
- Sim senhor.
- Estamos no inverno!
- Eu sei.- o rapaz baixou a cabeça.
Escutaram os passos de Beatrice no andar de cima.
- Olha, Joe...- Peter dava voltas na sala.- Sei que vocês amam a companhia um do outro, mas gostaria de lembra-los que estão aqui a trabalho. Sem distrações.
- Entendido.
- E você sabe bem das regras. Não deve deixar de trabalhar até que o trabalho esteja feito e ele não está. Além de que, Bea não sabe nadar em lugares assim, ela poderia ter se afogado e...
- Ele cuidou de mim, pai.- Beatrice desceu, secando os cabelos em uma toalha e entregando uma toalha para o Hammar.- Não se preocupe.
- É, eu esperava isso de você, não dele.- Peter carregou as coisas de Bea e Nina até o carro. As duas entraram em silêncio, sem despedidas.
Joe foi até a janela de Bea e lhe entregou seus cinquenta dólares, mesmo molhados.
- A aposta era para você repensar suas ações. Eu nunca quis o seu dinheiro.- Ele declarou, mas antes que Beatrice pudesse responder, Peter entrou no carro.- Tenham uma boa noite. Peter, isso não vai se repetir.- Ele disse, e deu as costas para o carro.
- Peço para levarem seu carro amanhã.- Disse o Coleman, mas Bea apenas olhava para trás enquanto o carro andava em direção a Columbus.
Publicado em:30/09/2017
Atualizado em: 23/01/2023
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top