||Capítulo 20||
Assim que Beatrice e Dominic entraram na casa, Joe soltou todo o ar que prendia nos pulmões. Como encararia Peter? Ele viu toda a cena. Ele viu que Joe estava beijando sua filha. E não deveria existir desculpas ou arrependimento. Joe não se sentia assim, e esperava que não pensasse dessa forma, seu patrão e amigo.
-Eu não vou perguntar como e porque aconteceu.- Falou Peter, se encostando no carro.- Eu já esperava por isso desde o dia em que você e Jordan estavam lá em casa e você precisou levá-la até a lanchonete. Ali eu já sabia que Beatrice iria conseguir o que queria.- Ele respirou fundo, olhando as estrelas. - O meu papel aqui é pedir cuidado.
Joe não se demorou na resposta.
-Eu não vou machucá-la Peter. Eu nunca conseguiria, nem físico nem mentalmente. Você a conhece melhor do que eu.
-E é exatamente por conhecê-la melhor do que você é que peço cuidado. E não cuidado para ela, isso não é novo para Beatrice. Estou pedindo cuidado para você. - Ele se virou para o rapaz.- Joe, você é como um filho pra mim. Eu posso te contar por horas os episódios que já vivi na porta da escola da Bea, escutando garotos implorarem a mim a misericórdia dela. Uma chance. Um retorno. Isso é horrível, Joe, mas Beatrice sempre foi impiedosa e eu percebi isso tarde demais. Talvez ela tenha puxado esse sangue frio da mãe, e eu já sofro muito pra tentar muda-la tão tarde. Não posso fazer nada por ela.- E mais uma vez, os pares de olhos verdes se encontraram.- Mas por você...
Joe se sentiu um pouco incomodado ao escutar aquilo sobre a Coleman, mas não deixou transparecer. Não era triste saber que um pai já tinha se conformado com os defeitos da filha?
Precisou de alguns segundos para olhar Peter novamente nos olhos.
-Eu agradeço a sua preocupação. E acredito que vai dar tudo certo. Eu não sou como os garotos da escola dela, talvez ela descubra isso em breve. Eu já sou um homem, e não precisarei da sua misericórdia.
Peter abriu um sorriso.
-Bem, se você se garante, então não há motivos para continuarmos aqui fora. Temos assuntos importante lá dentro. Vamos?
Joe retirou o chapéu e fez sinal para que Peter fosse na frente. Os dois adentraram a casa.
❀ • ✄ • ❀
Na sala, Bea tomava vinho em uma taça enquanto tinha os pés em cima da mesinha de centro. Dominic a acompanhava no vinho, mas estava em pé.
-Eu pensei que houvesse uma época específica para arraiais desse porte.- Dizia Bea, olhando seu pai e seu cowboy entrar.
-E tem, em outros países, mas aqui não é bem uma regra. Nas fazendas Pejari, fazemos no fim do ano. Essas festas fora de hora sempre nos ajudam como uma grande renda extra. As pessoas adoram comemorar a cultura country em volta da fogueira.- Peter respondeu, tirando os pés de Beatrice da mesa e confiscando a taça de vinho. Dominic e Joe sorriram enquanto Bea mostrou a língua.
-Pai...- Beatrice voltou no assunto, depois de quase meia hora, quando esperavam a pizza de forno ficar pronta.- Eu vou poder vir ao arraial?
Peter não entendeu direito.
-Você quer vir?
-Eu. E as meninas. - Ela sorriu.
Peter olhou para os outros.
-Não vejo problemas, mas você nunca participou desse tipo de festa...
-Vou ampliar meus horizontes.- brincou Bea.- Uau!
Todos eles sorriram.
O jantar prosseguiu sem grandes emoções. Peter informou Beatrice que sairiam assim que o dia amanhecesse.
Ela não ficou responsável pela louça do jantar, e fez questão de correr para seu quarto antes de que lhe dessem essa tarefa.
Dessa vez, ela conseguiu dormir. Desligou o celular para evitar as ligações de Brian, que a esperava na festa. Não conseguiu não pensar em como estava feliz com o que tivera hoje com Joe, e como estava ansiosa para viver outras aventuras ao lado dele. Ela suspirava. Por alguns segundos, ponderou se deveria ir até o quarto do cowboy, mas desistiu. Joe não era como qualquer outro. Não deveria ser tratado como tal.
Beatrice pulou da cama quando escutou as batidas na porta. "Esteja pronta em meia hora." Dissera a voz de Peter.
Ela se arrumou com as últimas peças que trouxera de casa, e saiu disposta do quarto, jogando a pequena mochila nas costas e dando uma última olhada no cômodo, e na vista que ele proporcionava.
-Bom dia.- disse aos que se encontravam na cozinha. Eles responderam no mesmo tom matinal.
Peter havia preparado leite para sua filha.
-Arthur já chegou em casa.- Ele informou, falando baixo, enquanto os outros na mesa pareciam ter um assunto privado.
-Que bom. Já estou com saudade daquele danado. - ela comentou e os dois riram.
Não se demoraram muito no café.
Jordan e Peter andaram na frente, até o carro do Coleman. Eles encostaram na porta do automóvel e conversavam sobre os negócios.
Assim que Declan e Marian passaram também, Beatrice parou na frente de Joe.
Ele sorriu.
-Pensei que ia se despedir sem grandes emoções. - comentou .
-Pensou errado, J.- ela olhou para trás e o empurrou para dentro da casa.- O que meu pai te disse ontem?
Ele pensou um pouco.
-Nada que tenha que se preocupar. -ofereceu-lhe um sorriso.
-E quando é que eu vou te ver de novo?- Ela encarava os olhos verdes do homem.
-Eu não sei...depende muito do seu pai e o que ele me pede pra fazer. A qualquer hora tô batendo na sua porta.- informou.
Bea sorriu, olhando os lábios de Joe.
-Você é tão lindo...- Ela confessou, alto demais. Aquilo deveria ser apenas um pensamento.
Joe, com muito esforço, tirou as mãos dela de seu rosto.
-Acho que seu pai está te esperando, marrenta.
-Você sabe que, se me pedisse para ficar, eu ficava.- Ela disse em um sussurro desesperado. Quase não se reconhecia. Por que estava insistindo tanto em um cowboy que já era praticamente seu? Que já tinha se rendido?
Joe respirou fundo.
-Não me faça te impedir de entrar naquele carro.- Um sorriso escapou entre seus lábios, e ele colocou a mão suavemente na cintura dela, esperando que não estivessem sendo observados. Ele não conferiria.
Beatrice não precisou roubar nenhum beijo. Joe fez questão de beija-la em despedida. E aquilo demorou mais do que planejavam.
Escutaram uma buzina, e Bea se soltou rapidamente.
-Tchau.
-Até .
E ela entrou no carro, sorridente.
❀ • ✄ • ❀
Quando chegaram na cobertura Coleman, Bea entrou primeiro, enquanto Peter se demorava ao deixar o carro na garagem entre tantos outros.
Ao adentrar o apartamento, escutou uma discussão vinda do andar de cima. Se prontificou em correr para tentar ajudar.
-Se você vier de novo com esse assunto, eu juro que entrego os pontos.- Arthur estava alterado.
-Você não pode...
-Então não me enche, Judith, caramba! Eu não preciso de você cuidando da minha vida, tentando me influenciar, tentando me fazer esquecer o que...
-O que está acontecendo aqui?- A caçula empurrou a porta, e o silêncio se fez. Eles se entreolharam.
-Nada.- Judith sorriu falsamente. - Só estávamos conversando. Não imaginei que chegariam tão cedo!- Ela caminhou até a filha e a abraçou.
-Eu só estou cansado da viagem. Vocês podem me deixar?- pediu Arthur, agora em tom baixo.
Beatrice não estava acostumada com um Arthur mal-humorado, então puxou a mão esquerda de Judith e fechou a porta.
-Ele estava te ameaçando?- Bea não compreendeu muito bem. Judith sorriu em resposta, mas se demorou ao dizer:
-O quê? Não! Você sabe como é a minha relação com seu irmão. Está tudo bem.
"Sim, sei como é a relação de vocês. Conturbada." Pensou, mas não disse nada.
-Por que você não vai tomar um banho, tirar esse...- Judith encarou a filha da cabeça aos pés.- "ar" de fazenda, e depois...- o olhar dela se iluminou.- Ah, depois eu vou te contar o que estou preparando para nós duas.
Judith desceu as escadas.
Nenhuma pergunta como "como foi?" ou "como você está?"
A mãe não se importava.
E Bea já estava acostumada com isso.
Viu que Peter passou por ela também sem menos cumprimenta-la, e então a menina se lembrou de uma conversa que precisava ter com Arthur.
Ela não bateu na porta ao entrar.
O loiro estava olhando pra cima, os olhos marejados.
-Arthur- Bea se aproximou aos poucos.- O que foi? Quer me contar?
Ele não respondeu de início.
-Não. - disse por fim e se levantou, limpando os olhos.- Como foi na fazenda?
-Bom.- Ela se sentou na ponta da cama. - e a viagem?
-Ótima. Não queria ter voltado.
Beatrice sentiu um pesar no coração.
-Eu senti a sua falta...
-É claro que sentiu.- ele disse, mas logo acrescentou quando viu que a irmã falava sério. - Também senti a sua.
-Precisamos conversar.- Ela suspirou. - Mamãe e papai.
-O que tem?
-Percebeu como eles estão distantes? Precisamos fazer alguma coisa. Para trazer a harmonia da casa de volta. Pra consertar o relacionamento deles.
Arthur revirou os olhos.
-É isso?- disse.- pensei que fosse importante.
-E isso não é importante? - Ela estava indignada.
-Desde quando a falta de harmonia tem a ver com o casamento deles, Bea? Desde que eu nasci, não temos paz nessa casa!
-Isso não é verdade!- Ela alterou a voz.- Você sabe que quando éramos crianças era mais fácil.
-Era mais fácil pra você. Que nunca entendeu nada. Que sempre viveu na fantasia que Judith moldou na sua cabeça. Você era uma criança há poucos dias. A verdade sempre foi essa aqui, e diferente de você eu nunca fui poupado.
-Do que você está falando, Arthur? Por que essa revolta com nossos pais?
-Com nossos pais? Eu não tenho nenhum problema com Peter. Ele é o melhor do mundo. Se pudesse, seríamos só nós três. Você não percebe? É ela quem nos deixa malucos!
-O que a nossa mãe te fez?
Arthur abriu e fechou a boca. Suas lágrimas não tinham mais algum controle.
-Sai do meu quarto.- pediu, se deitando de novo e virando as costas. - E deixe que eles resolvam seus assuntos.
Bea saiu, batendo os pés e a porta. Por sorte, não encontrou ninguém no caminho e pôde se fechar no quarto. Tomou um banho para tentar não pensar no que acabara de ouvir do irmão.
❀ • ✄ • ❀
Pensar em Joe foi o seu melhor refúgio.
Mais tarde, após a aula, estava assistindo TV na sala quando a mãe começou a tagarelar. Nos primeiros minutos, Bea tentou se concentrar no assunto, mas não era de seu interesse. Só respondia a mãe com "sim." "aham." "nossa." E "imagino."
Ficou mais interessada no assunto que estava tendo no grupo de suas amigas. Scarlett acabara de comprar seu carro, e elas estavam comemorando o feito e parabenizando a policial.
"Podíamos aproveitar e inaugurar o carro essa noite. O que acha de sairmos?" sugeriu a Coleman.
" A ideia é ótima, mas prometi a minha irmãzinha e aos meus pais que sairia com eles." Respondeu Scarlett.
"Alguém mais está animada?"
" Tenho que terminar minha série." Disse Lilli.
"A faculdade não me dá essa chance. Não hoje." Briella se desculpou.
"Vou assistir um filme com a dona Mabel. Ela implorou." Explicou Diane.
"Não estou com nenhum ânimo hoje. Grávida desolada." Disse Andrea.
"Tudo bem. Fica pra próxima. Ah, eu preciso fazer um convite pra vocês. Um evento na fazenda, acho que vão gostar." Bea começou.
"Esteve na fazenda?" questionou Andrea.
" Sim, esse fim de semana. Lá é lindo."
"Sei bem o que é lindo, Bea." Implicou Briella.
"lindo, cheiroso e beija muito bem." Avisou a Coleman.
" não tô acreditando! Essa menina é danada mesmo!" exclamou Diane.
" Precisamos imediatamente de um encontro para mais informações." Disse Scarlett.
" Peraí...do que estamos falando?" perguntou Lilli.
Bea não controlou a risada, e foi repreendida por sua mãe.
-Beatrice Coleman. Você me escutou?
A garota ficou séria.
-Claro mãe.
-Pois bem. Não arrume nenhum compromisso para o fim do ano.- reforçou Judith, mas a filha mais uma vez não prestou atenção.
-Ok, mãe.- ela se levantou do sofá e seguiu para o quarto.
Após ter conversado com as meninas sobre isso, Bea sentiu uma saudade inexplicável e incômoda de Joe.
Se deitou na cama e decidiu mandar mensagem.
"O que está fazendo?" perguntou.
A resposta dele foi mais que imediata.
"Deitado, e você?"
"Pensando em você."
"Já está com saudade?"
"Sim, já faz muito tempo."
"Nos vimos essa manhã."
"Muito, muito tempo. O que acha de sairmos?"
"Quando? Pra onde?"
"Agora...cinema. tanto faz o filme."
Joe demorou na resposta, e Beatrice se sentiu ansiosa.
"Não sei, Bea. Estou muito bem deitado na minha cama."
"Eu também poderia estar muito bem deitada na sua cama, mas você não colabora."
"Você não perde uma chance, né?"
"Não. Já posso começar a me arrumar?"
"Não vai dar, Bea. Eu não vou até a cidade em uma segunda a essa hora."
"Tudo bem. Então eu vou até você."
"Haha, como? Táxi não vem até aqui. Seu pai não vai te trazer. O que pretende fazer?"
"Eu tenho carro." E ela se corrigiu. "carros."
" E você sabe dirigir?"
"Não. Mas eu posso aprender hoje. Fique aí."
Ela estava claramente blefando.
Mas Joe, por saber das loucuras de Bea, decidiu não arriscar.
"Fique onde está, marrenta. Estou indo até você."
E ela jogou o celular na cama, e depois comemorou a conquista com uma dancinha. Ser chantagista era seu forte.
Se prontificou em tomar banho e escolheu a melhor roupa para a noite.
Não percebeu quando Arthur entrou no quarto.
-Vai sair?- perguntou o loiro, com os braços cruzados atrás dela.
-Não te interessa.- ela sorriu ironicamente, enquanto borrifava o perfume.
-Entendi o que você está fazendo...me desculpe pela forma como falei com você mais cedo.- Ele se aproximou da irmã, tocando seu ombro.- Eu fui grosseiro e disse coisas que não devia. Você não mereceu isso.
Bea quis chorar, mas aguentou firme.
-Tanto faz.- disse por fim.
Arthur colocou as mãos nos bolsos e observou a garota se arrumando. Bea era mesmo difícil de lidar, e ele vacilou com a mesma. E sabia que não era hora de insistir.
-Tudo bem. Tenha uma boa noite. Se cuida, amo você.- e ele saiu do quarto.
Bea relaxou os ombros e respirou fundo.
Não deveria ser fraca agora.
Preferiu esquecer todos os problemas e se concentrar apenas na sua melhor solução: Joe Hammar.
Publicado em: 23 /09 /2017
Atualizado em: 23/01/2023
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top