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Jungkook não fora para a uni no dia seguinte. Ele não queria se forçar a erguer-se do chão frio de maneira alguma mas eventualmente teria que o fazer já que Stan logo retornaria e tudo que menos queria naquele momento era ter de responder perguntas indesejadas.
Por este motivo, após tomar um banho e livrar-se de qualquer resquício de sangue em seus braços e coxas, deitou em sua cama – não dormiu pois sua mente não o deixava em paz e o vibrar incessante de mensagens chegando o fazia solta suspiros dolorosos.
Taehyung o ligara e o mandara várias mensagens de texto, a noite toda – Jungkook ficou se perguntando se ele também estava com dificuldades para cair no sono e chegou a conclusão de que se fosse o caso, tinham motivos completamente opostos.
Ele não conseguiu ler nenhuma das que chegaram – nem uma sequer, muito menos atender uma das ligações. No entanto, após ter faltado na uni (estava faltando muito se considerado os meses que estava ausente, tinha medo de repetir), Taehyung bombardeou seu celular com notificações e entregando-se à curiosidade, Jungkook atendeu a uma ligação.
"Gukkie—porra, oi, oi, está—está tudo bem? Não desliga, por favor, só me diz. Está tudo bem?"
Após minutos de silêncio aonde apenas a respiração ofegante de ambos era ouvida, Jungkook forçou as palavras pelo nó em sua garganta e murmurou baixinho e trêmulo, lágrimas atrapalhando sua clareza. "E-estou b-em."
O suspiro aliviado de Taehyung foi ouvido e em seguida, a voz rouca e de certa forma desesperada disparou a soar. "Eu fiz alguma coisa? Forcei demais? E-eu falei algo que não devia? Gukkie, me desculpa, por favor, não se afasta de novo, porra, eu não vou aguentar aquilo de novo e eu preciso de você e—"
Jungkook desligou. Assim que o celular caiu jogado no colchão ao seu lado, ele desejou poder desligar sua própria mente – seria tudo mais fácil.
Mas infelizmente não funcionava deste jeito e enquanto se encolhia na jaqueta jeans com gola felpuda, os pés cobertos pelo Vans preto, ele desejou atravessar a multidão de pessoas o mais rápido possível até que chegasse no prédio de música – mas a vida o odiava.
- Ouch—desculpa. – uma garota de cabelos castanhos murmurou ao esbarrar em cheio com o corpo pequeno de Jungkook, as pessoas desviando deles conforme apressavam para chegar nas salas de aula antes do horário. Jungkook apenas assentiu e abaixou a cabeça, pronto para prosseguir seu caminho com o ombro levemente reclamando do contato. Mas uma voz diferente o impediu.
- El, por que parou? Vamos nos atrasar pra aula do Sr. Patrickenson e—Jungkook, ei!
Jungkook ergueu o olhar e encontrou os cabelos loiros de Barbara cobertos por um boné da uni. Ela sorria abertamente e ao se aproximar o suficiente para ficar ao lado da garota de cabelos castanhos, passou o braço pelo ombro da mesma e se escorou nela completamente.
- Você o conhece? – a garota de cabelos castanhos questionou, pura curiosidade escapando em sua voz e ultrapassando os limites de seu sorriso. Jungkook a encarou receoso.
- Jungkook? – Barbara murmurou animada. – Sim, ele é aquele menino bonitinho que ficava com o Taehyung, lembra? – o rosto da garota de cabelos castanhos pareceu se iluminar ao que fitava Jungkook com afetividade. Barbara pareceu se lembrar de algo e virou para Jungkook também, que se encolheu ao ter atenção demasiada. – Jungkook, essa é Eleanor. – a garota recém apresentada sorriu e balançou a cabeça em cumprimento.
Barbara virou afetivamente para ela e depositou um leve selinho em seus lábios. Jungkook arregalou os olhos em surpresa e deu um passo hesitante para trás, como se qualquer movimento de afeto o causasse dor.
- M-mas Yoongi... – Jungkook murmurou baixo e confuso demais para se calar ao observar Eleanor enfiar sua cabeça no pescoço de Barbara e rir sem graça.
- Nós fizemos alguns ménages. – como se isso bastasse, Barbara sorriu divertida para um Jungkook ainda mais confuso.
- Mas...
- Yoongi não valoriza, então... – Eleanor murmurou do pescoço de Barbara, um sorriso no rosto de ambas.
- Terminaram? – sussurrando, Jungkook limpou a garganta, os olhos baixos evitando o casal afetivo à sua frente.
- Yoongi e eu? – Barbara franziu o cenho. – Não, estamos juntos ainda. Ele não se importa.
Jungkook não assentiu mas calou-se. Deu alguns passos em frente com intenção de sair daquela conversa e chegar até o prédio de música mas Barbara e Eleanor começaram a andar com ele, mal percebendo que se encolhia e se afastava cada vez mais.
- E você e Taehyung? – Barbara voltou a falar. Jungkook mordeu o lábio e fitou o chão, o arrepio que percorreu seu corpo causou um leve latejar em seus arranhões. Ele desejou que sua jaqueta fosse mais grossa.
- Calma. – Eleanor murmurou para Barbara, mesmo que Jungkook pudesse a ouvir com clareza. – Ele é aquele que mudou Kim Taehyung, camisa 12 dos Wolves? Aquele que transformou o quarterback rude e violento e problemático em um ursinho fofo e delicado que ama beijinhos no nariz? – Jungkook pôde ouvir o riso de Barbara ao que murmurava vários sims conforme Eleanor ia despejando sua incredulidade, suas bochechas tornando-se coradas gradualmente. – Aquele que os Wolves chamavam de amuleto da sorte e quando sumiu todos encheram Taehyung de perguntas? Aquele que fazia todas as garotas e garotos dessa uni desejarem ser ele? – Eleanor virou para Jungkook e ergueu o rosto dele delicadamente pelo queixo, ignorando seu olhar arregalado e sorrindo gentil. – Eu sempre quis ser o Taehyung, só pra deixar claro. Vocês são o casal mais lindo do mundo e Taehyung é um cara e tanto mas nada supera esses seus olhos claros. Se bem que depois que você sumiu ele ficou bem tristinho. – virou de volta para Barbara, que sorria amena para os dois. – Jesus, lembra o quão terrível ele ficou em campo? Quase fomos desclassificados por causa dele. – voltou para Jungkook mais uma vez. – E por mais que esses seus olhos claros sejam a coisa mais linda em toda Londres, acho que deveria dar uma chance pra ele, garoto amuleto. O cara fica isolado sem você. Joga mal, só fica andando pra lá e pra cá com aquela câmera—
- Mas ele está fazendo academia agora. – Barbara cortou enquanto enlaçava seus dedos com os de Eleanor e a puxava suavemente para mais perto. Jungkook fitou o chão conforme fechava os punhos e respirava fundo, o amontoado de informações que o atingiram em pouco tempo estavam deixando-o sobrecarregado. – Yoongi disse que ele está distante dos meninos mas quem é ele pra falar alguma coisa? Gukkie – chamou a atenção do mesmo, sem ter seus olhos claros em si e esperando que ele estivesse a ouvindo. – Depois que você sumiu, o grupo nunca mais foi o mesmo. Seokjin e Namjoon estão mais grudados do que nunc—
- Eles são fofos juntos, Bar, não seja má. – Eleanor contrariou, mesmo que sorrisse. Barbara assentiu.
- Sim, são mas... eles são muito fechados, sabe? E Yoongi mudou também. Ele não está mais sendo aquele fofo de antes, não sei, pode ser só impressão e...
- As pessoas mudam quando entram em um relacionamento. – outro comentário foi acrescentado por Eleanor e Barbara assentiu mais uma vez.
- Não justifica, El, ele está irritado e grosso e—bem, não estou aqui para reclamar do meu namorado maravilhosamente idiota. O ponto é – Barbara cutucou Jungkook suavemente, pela primeira vez recebendo sua atenção integral, olho no olho. Sua voz saiu gentil. – Pare de fugir dele, Jungkook, está o machucando. Não consegue ver? Confie em mim, nós somos bem próximos e ele conversa comigo. Não importa o quanto ache que está incomodando, Taehyung se importa com você e quer estar perto de você em qualquer situação. Não tente o afastar. Eu sei que se importa com ele também. – Jungkook abaixou o olhar para o chão, as íris ardendo em choro contido. A voz de Barbara cortou o mantra de palavrões que sua mente repetia para si naquele instante. – Eu lembro de vocês juntos, Jungkook, eu lembro de vocês se beijando e se abraçando nos jogos do campeonato e no dia do cinema ao ar livre—lembra desse dia, El? – Barbara roçou seu nariz pela bochecha de Eleanor e sorriu.
- Vocês eram, de longe, o casal mais fofo naquela grama. – Eleanor fez uma expressão que fez Jungkook pensar que ela estava relembrando a cena em sua mente. – Nós estávamos saindo porque já estava tarde e vocês estavam enroladinhos no cobertor e tão entretidos no próprio mundinho... ai, foi tão lindo. – ela suspirou dramaticamente. – Conseguimos ouvir a voz de Taehyung cantando aquela merda de música dos Minions até chegar nos dormitórios.
Jungkook mordeu o lábio para controlar a tremedeira ao que fitava seus pés novamente. Eles andavam consideravelmente lento e provavelmente chegariam atrasados em suas aulas mas as palavras das duas ecoavam na mente de Jungkook e o deixavam confuso. Aquelas lembranças o causavam sensações estranhas – depois de tanto tempo as repreendendo em seu interior, finalmente as ouvir de outro ponto de vista é no mínimo revelador e o repuxar em sua bochecha para abrir um sorriso o deixara nauseante. A voz de Taehyung cantando sobre bananas inundou sua mente em segundos e seu peito comprimiu.
- Jungkook. – Barbara insistiu. – Está te machucando também. E e-eu... foi depois do dia da briga, não foi? – Jungkook a encarou com os olhos indecifráveis, o corpo encolhendo automaticamente com a menção daquele dia. Barbara parecia apreensiva. – Na fraternidade, quando Yoongi me defendeu e todos saíram no tapa... você sumiu depois desse dia, não foi? Taehyung não me falou muito e—e—foi por minha culpa?
- Não. – foi como um gemido frustrado e Jungkook fechou os olhos conforme suspirava. Barbara não pareceu convencida mas assentiu enquanto Eleanor a beijava suavemente na bochecha. – Não foi sua culpa... não foi culpa de ninguém além de mim, e-eu... não foi sua culpa. – Jungkook não tinha certeza se Barbara havia escutado seu sussurro mas esperou que sim.
Eles haviam chego na frente do prédio de música e Barbara se apressou assim que Jungkook deu indícios de que iria embora e entraria para a aula. Eles já estavam atrasados mesmo.
- Por favor, eu—eu não sei o que aconteceu mas sei que está passando por coisas difíceis. Taehyung me contou que—que se convenceu de algumas coisas enquanto estava longe e que está com medo e—Jungkook, por favor, eu te peço, como alguém que sabe o que Taehyung está passando, não o afaste. Se você se importa com ele, não o afaste. Está lentamente o matando ficar longe de você.
Durante todo o período de aulas, aquelas últimas palavras de Barbara ecoavam na mente de Jungkook como um martírio. Ele errou as notas no ensaio, errou as respostas da aula de História da Música e quase tropeçou ao entrar na sala devido sua distração. Ele estava questionando tudo. Suas decisões, seus erros e suas cicatrizes.
Se permanecia, Taehyung era machucado.
Se partia, Taehyung era machucado.
O que ele tinha que fazer para poupa-lo de sofrimento e dor?
Por isso, quando o sinal da última aula soou, Jungkook afundou a cabeça nas mãos e permaneceu na sala até que seu professor o pedisse para sair, o receio de deixar o prédio e encontrar alguém com cachos o consumia, o estômago revirava apenas com a hipótese e seu coração disparava com o medo.
Mas eventualmente ele teria que deixar o prédio. Ele tinha um ensaio vocal às quatro da tarde e precisava gastar as três horas que tinha entre os compromissos, por isso, dirigiu-se para o lado mais afastado do gramado do prédio de música, sentando-se de perna de índio e abrindo seu caderno pequeno, a caneta em seus lábios ao que era mordida de forma nervosa.
Taehyung não saía de sua mente, as palavras de Barbara e Eleanor combinadas com as lembranças que decidiram o atingir como uma avalanche naquele momento o faziam sufocar nos próprios pulmões, a sensação de engasgo ao que inspirava muito ar e a sensação de vazio ao que expirava todo o ar. Jungkook estava quase chorando.
Ele sabia que a dor da partida era necessária, sabia que Taehyung e ele não dariam certo simplesmente pelo fato de estar quebrado por dentro e lentamente quebrando por fora, sabia que não era capaz de aguentar a proximidade e o carinho e o afeto que Taehyung o proporcionava, sabia que não suportaria a queda livre que era aquele sentimento que repreendia nos cantos mais obscuros de seu peito.
No entanto, também sabia que o dia na floricultura foi terrivelmente apaziguante, que o dia na cafeteria foi horrorosamente satisfatório e que a viagem de trem fora ridiculamente suficiente.
A imagem de Taehyung agarrado na barra de metal enquanto cantava Man! I Feel Like A Woman invadiu sua mente, ofuscando todos os medos e indecisões. Subitamente sentiu-se como se seus olhos se fechassem e seu coração começasse a bater no ritmo da voz rouca e lenta de Taehyung ao imperssonar Shania Twain – só ele faria isso para arrancar risadas de Jungkook. O modo que os olhos brilharam, que as covinhas pareciam fixas em suas bochechas ao que seus lábios vermelhos eram esticados e tomavam lugar de um sorriso largo, seus cílios batendo graciosamente e apenas dando moldura ao escuro intenso que olhava somente para o claro vazio.
Aquele era o Taehyung que Jungkook queria.
Aquele Taehyung, sem Jungkook.
Mas será que era possível?, Jungkook se questionou ao que respirava fundo, o coração acelerado no peito tornando difícil sua tarefa de sentar na grama e se livrar de pensamentos. O frio que fazia naquela tarde o consumia e se encolhendo nas roupas, Jungkook mordeu o lábio.
Ele estava prestes a fazer algo que se arrependeria muito mais tarde. Muito.
Pegando o celular de dentro do bolso do jeans, ignorou todas as mensagens que Taehyung havia o mandado previamente e encarou a barra de texto, o teclado o encarando de volta como se o alertasse do erro que estava prestes a cometer. Passaram-se minutos até que tivesse algo para escrever – e era, no mínimo, inútil.
(Jungkook negrito e Taehyung itálico, as always)
[ . ]
As mensagens antigas de Taehyung tomavam a mente de Jungkook conforme ele encarava a tela brilhante com as mãos e lábios tremendo, o coração quase parando no peito. "a hora que quiser falar alguma coisa, me manda um ponto e eu responderei com vírgula, não hesite em falar comigo, por favor, sobre tudo e nada". A resposta veio em segundos, tão rápida como uma flecha e tão dolorosa como uma bala.
[ , ]
Jungkook se forçou a digitar algo de volta, o coração tão dolorido no peito e os olhos ardendo tanto devido a falta de hidratação que simplesmente deixou seus dedos trêmulos fazerem o trabalho, o frio subitamente sumindo. Seu corpo suava. Ele digitou mensagens bobas várias e várias vezes e quando estava quase desistindo ao que seu cérebro não parecia funcionar mais, finalmente pressionou enviar, ignorando a voz em sua mente o chamando de idiota.
[se o papai foi pra roça e a mamãe foi passear, quem tá cantando?]
[não]
[você não está me fazendo rir que nem um idiota no meio da aula de efeitos especiais]
[me diz que isso não está acontecendo]
[e também]
[minha infância inteira acabou de ser destruída com apenas uma mensagem]
Jungkook sentiu seus lábios se esticando para um sorriso tímido e se sentiu estúpido por estar sentado sozinho na grama e sorrindo para o celular – o que fora engraçado afinal? Seu coração estava o deixando ligeiramente tonto e suas mãos mal seguravam o celular propriamente mas antes que pudesse processar as mensagens de Taehyung, sentiu-se grato.
Taehyung havia ignorado completamente seu surto alguns dias atrás e seu sumiço na uni e todas as mensagens ignoradas e ligações perdidas – ele estava ignorando tudo e rindo.
De algo nem tão engraçado assim. Jungkook quase pôde visualizar a imagem de Taehyung cobrindo a boca com a enorme mão cheia de anéis e comprimindo os olhos escuros brilhantes para conter sua risada estranha e alta. No entanto, mesmo que ele sentisse grato, também tinha a sensação que deveria se desculpar. Não fora justo e talvez – talvez – as palavras de Barbara estivessem ecoando em sua mente em um volume alto demais até mesmo para seus medos aguentarem.
[desculpe]
[por sair correndo]
[e te deixar sozinho]
[e não te ajudar com seu projeto]
[e por sumir]
[de novo]
[por tudo]
[desculpe]
[não queria te machucar]
[nunca quis]
[nunca poderia, Gukkie]
[a não ser que cresça mais cinco centímetros, ai teríamos um problema]
[mas fora isso, nunca poderia me machucar]
[como pode ter tanta certeza?]
[eu tenho]
Jungkook encarou a tela do celular por mais tempo do que deveria. Nem ele nem Taehyung mandaram mensagem, ambos absorvendo a novidade do momento. Jungkook estava esperando a avalanche de arrependimento o atingir mas ela, aparentemente, seria adiada ao que seu celular vibrou e sua tela retornou a acender.
[minha aula acaba em vinte minutos]
[almoçou?]
[mesmo se tiver almoçado]
[me acompanha?]
[achei um lugar que vende uma salada com lentilhas maravilhosa]
[eu vi no instagram]
[e queria provar]
[vamos?]
[por favorzinho]
Jungkook fitou a grama além de seus pés e ponderou por um instante. A ideia de salada com lentilhas fazia seu estômago revirar bruscamente – ele estava com fome? – e combinada com a presença de Taehyung apenas o deixava ainda mais nauseado. Era demais, sim? Um passo de cada vez. Mandou mensagem, aliviou a preocupação de Taehyung. Agora, sair para almoçar?
Era demais, sim?
[vamos]
:)
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