A cena toda se passava rapidamente mas os olhos claros arregalados de Jungkook captaram tudo de forma gradual e lenta – como em uma animação em slow-motion.

Yoongi estava no centro do que parecia ser uma roda de pessoas agitadas, bêbadas e incentivadoras de uma possível briga – ao seu lado estava uma garota loira, a exata garota que Jungkook e Taehyung sugeriram que ele ficasse, mais cedo na noite. E como se fosse a cereja no topo do bolo, um cara de alto e forte estava com os punhos cerrados e em posição acima da cabeça de Yoongi, que cambaleara para o lado com o soco.

Taehyung mal teve tempo de pensar pois em segundos Jungkook já estava saindo do aperto de suas mãos e empurrando pessoas fervorosamente até que chegasse no centro da briga – ele abria caminho facilmente, o que, para um cara alto e forte igual Taehyung, era um pouco mais complicado e demorado – afinal, todos estavam curiosos para ver a briga.

Assim que Jungkook chegou ao lado de Yoongi, segurando-o firme em pé, o amigo o dirigiu um olhar diferente – Jungkook nunca havia visto Yoongi com uma expressão tão irritada no rosto, a não ser quando ele contou sobre Ryan, mas era um caso extremo.

Sem saber o que havia acontecido exatamente, Jungkook apenas se posicionou na frente do loiro, o cara que o dera o soco já fitando-o com desgosto eminente.

- Ei – Jungkook gritou, o coração acelerando e seu rosto esquentando. Quem aquele imbecil pensava que era pra bater em seu amigo? – Quem você pensa que é pra bater no meu amigo, seu imbecil?

O cara ergueu o olhar pra Jungkook, medindo-o de cima a baixo com repúdio, suas mandíbulas travadas e os punhos ainda mais cerrados, veias saltando de seus braços – ele era realmente forte.

- O que o anão de jardim está resmungando? Volta pra horta, pigmeu, eu e o irlandês estamos resolvendo um assunto pendente, que no caso, não é da sua conta.

Jungkook ferveu.

Ah, não. Não. Uh-hm, ele não havia o chamado de anão de jardim e de pigmeu, não, na na ni na não.

Já respirando pesado em raiva, Jungkook se sentiu estranho – a última vez que ele se sentira tão raivoso assim fora quando ele descobriu o que Ryan havia feito com Taehyung, e estava misturado com decepção e tristeza, naquela vez. Ali, no calor do momento, havia puro ódio e raiva em seu estado mais bruto.

Ninguém mexia com Yoongi.

Se aquele idiota pensava que podia socar seu amigo e sair ileso, ele estava muito enganado. Yoongi estava lá em seus piores e melhores momentos – e se Jungkook tivesse que levar uns socos por ele, levaria sem pensar duas vezes.

Ele ficara com tanta raiva que sua ereção havia até sumido – e agora ele estava mais puto ainda porque aquele imbecil havia conseguido fazer ele broxar.

B R O X A R.

Jeon Jungkook não broxava.

E Yoongi, claro – havia Yoongi.

- Por que ao invés de fazer piadinhas sobre o meu tamanho, não vem aqui resolver cara a cara comigo? – Jungkook esbravejou, seus punhos cerrados. O cara estralou o pescoço em provocação, parecendo um touro. – Está tão longe que estou começando a pensar que tem medo de anões de jardim. Ou seria de pigmeus?

E foi aí que tudo ficou mais fudido ainda.

Em segundos, literalmente segundos, Jungkook estava contra o chão, o brutamontes em cima de seu corpo enquanto disferia socos em sua barriga impiedosamente – eles eram seguidos e fortes, arrancando o ar dos pulmões de Jungkook ao que esmagavam suas costelas, uma por uma. Acertando alguns no peito também, o cara conseguiu desfocar o menor por alguns segundos, o suficiente para ele ser afogado em lembranças obscuras.

Ele se lembrou de Ryan, se lembrou de como apanhou depois de vê-lo com outro, depois de descobrir que era tudo verdade, que ele fez Taehyung sofrer – Ah, Taehyung, o rapaz sofreu tanto em sua mão, foi taxado de mentiroso, aguentou indelicadezas e grosserias, foi incompreendido e mesmo assim, depois de tudo, estava de braços abertos para Jungkook, um ingrato que o fizera sofrer incessantemente para depois chupá-lo no banheiro de uma fraternidade como se não tivesse feito nada, como se não tivesse acontecido nada.

Como se não tivesse uma parcela de culpa.

Quando Jungkook abriu os olhos novamente, já sem ar e quase desmaiando de novo, seus olhos estavam molhados e seus lábios tremiam, o cara havia saído de cima de seu corpo pequeno e agora frágil após ver que ele havia apagado.

Se não fosse pela voz de Yoongi, Jungkook não teria levantado daquele chão, as pessoas ao seu redor apenas o observando, sem fazer absolutamente nada para ajudá-lo a levantar ou se preocupar com suas lágrimas e desespero aparente.

Se Jungkook estivesse no lugar deles também não se ajudaria.

- Tira as mãos dela, seu desgraçado.

E Yoongi novamente puxou Jungkook do fundo do poço aonde se encontrava afogado. Erguendo-se da melhor forma que podia, cambaleando e apoiando uma mão no estômago em uma falha tentativa de conter as ânsias que tomavam seu corpo.

Ele viu, turvamente, Yoongi e a garota loira à frente do brutamontes, eles discutiam mas as mãos de ambos os rapazes estavam preparadas para disferir socos, a garota, aparentemente, tentando apartar a briga.

E foi aí que Jungkook ouviu.

- Solta ele, filho da puta.

A voz de Taehyung nunca havia soado tão brava assim. Era longe, Jungkook não sabia identificar de onde ela estava vindo, mas ecoava em sua mente, a rouquidão eminente demonstrando o quão irado ele estava.

E em seguida, a roda abriu. E Jungkook pôde ver.

Os jogadores dos Wolves estavam brigando – entre si? Jungkook não conseguiria dizer.

Taehyung estava apartando dois jogadores, nas quais Jungkook não reconhecia, e Namjoon estava lá também, assim como Seokjin, ambos afastando caras altos e fortes, provavelmente bêbados, uns dos outros.

Completamente atordoado, Jungkook focou o olhar no rosto em movimento de Taehyung, com certa dificuldade por sua tontura forte, e ele viu que seus lábios sangravam, assim como sua testa, acima da sobrancelha.

Namjoon aparentava mancar e Seokjin estava muito longe do alcance do olhar do menor.

Jungkook sentiu seu mundo desabando.

Ele pensava que estava tudo bem, que tudo daria certo e que ele e Taehyung seriam felizes sem Ryan em sua vida – ele quase suspirou aliviado aos céus quando percebeu que Ryan não estava lá, porque se ele estivesse, Jungkook já estaria morto no chão.

Seria demais pra ele.

Yoongi estava errado – ele e Taehyung não havia suprido suas necessidades e começado a fazer o que desejavam.

Jungkook ainda estava precisando ser suprido.

Taehyung fazia um ótimo trabalho nisso mas... olhando seus quatro amigos apanhando ali, sem saber exatamente o motivo, Jungkook não conseguiu evitar em pensar que talvez fosse sua culpa.

Sempre era, não é mesmo?

Ele forçou seus pés a andarem, se arrastando pelo chão até chegar em Yoongi – com uma força que ele não reconhecia dentro de si naquele momento, ele se enfiou entre o loiro e o brutamontes e sem pensar duas vezes, desferiu um soco, mas um soco tão forte que doeu as juntas de seus dedos, exatamente na mandíbula do cara.

Jungkook podia estar quebrado.

Mas ele não iria permitir que quebrassem seus amigos.

O cara ficou irado – ainda mais, e irritado, Jungkook virou-se para a mini plateia se formando ao redor do que parecia ser um "show" para eles, esbravejando com lágrimas caindo dos olhos.

- Façam alguma coisa, porra, vão ficar só olhando enquanto dois alunos se matam? Saiam da porra do celular e ajudem ele, caralho.

Jungkook pensou estar se contrariando – afinal, ele mesmo havia socado o cara apenas segundos atrás. Mas que se foda, eles estavam vendo e incentivando sem fazer nada para parar, era culpa deles também.

De primeira nada aconteceu mas conforme o cara avançava em Yoongi novamente, as pessoas mais próximas começaram a apartar a briga. Jungkook apenas encarou o loiro significativamente enquanto se distanciava.

Seokjin estava em seu foco de visão – e ele também estava machucado. Puxando o ombro, o moreno fez uma careta ao empurrar um jogador dos Wolves para longe de Namjoon. E foi pra lá que Jungkook se dirigiu, lenta e dolorosamente, a costela ardendo conforme ele era empurrado por pessoas, ora indo embora ora indo apartar Yoongi e o outro cara.

Pelo menos isso.

Jungkook não soube como, mas ele apenas puxou o jogador dos Wolves levemente – ele fizera muita força mas como os jogadores eram enormes e extremamente pesados, o rapaz apenas deu alguns passos, mas foi o suficiente para chamar sua atenção.

Jungkook chutou-o na coxa, consequentemente fazendo-o cair no chão – novamente, de forma não tão dolorosa, Jungkook não tinha essa força toda. Seokjin o encarou confuso e antes de fazer algo a respeito das lágrimas que caíam de seus olhos, observou enquanto o menor caminhava até Taehyung, apartando Namjoon e outro jogador no meio do caminho.

Ninguém iria machucar seus amigos.

Ele já fizera isso antes – e não iria permitir.

Algumas pessoas já apartavam essa briga também, os gritos de Yoongi sendo cessados quase que por completo e muitos estudantes já haviam ido embora – para o alivio do de olhos claros.

Taehyung havia acabado de levar um soco no peito quando Jungkook chegou, entrando em sua frente e erguendo as mãozinhas em uma tentativa de não ser atingido pelo soco do cara à sua frente – provavelmente mirando em Kim mas que acertou Jungkook de qualquer jeito, fazendo o menor ofegar em dor.

- Jungkook! – Taehyung grunhiu, pegando o menor e pressionando-o em seu peito enquanto chutava o cara à sua frente. – Porra, Lance, olha o que você fez, caralho, tudo isso por causa de uma merda de vaga!

Jungkook estava errado.

Aquele era o nível mais irritado que Taehyung podia ficar. Apertando-o tão forte em seu peito, o cacheado dirigiu um olhar tão mortal pra Lance que até o calou.

Mas Jungkook não iria conseguir ouvi-lo de qualquer maneira.

Ele havia desmaiado.

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Primeiro veio a dor excruciante na cabeça, em seguida, ao que tentava respirar fundo, sentiu uma pontada aguda no peito que descia até suas costelas, estalando seus ossos no caminho, calafrios percorrendo seu corpo e fazendo com que um gemido doloroso deixasse sua garganta.

Somente aí, Jungkook percebeu que não havia morrido.

Droga.

Ele primeiro conseguiu ouvir as vozes conhecidas no que parecia ser um quarto – ele se sentia deitado em uma cama macia e coberto por um edredom sedoso e quente. Reconheceu Namjoon.

- Ele começou a gritar com o Carter e você sabe como ele fica quando gritam com ele, e então, quando eu estava indo separar Yoongi do outro cara, o Lance simplesmente me puxou e começou a discutir comigo, e ai—

- E o Carter ficou irritado porque ele pensou que Namjoon estava do lado dele e aí eles começaram a se socar e—e—eu fiquei desesperado porque o Greg voou em cima do Namjoon do nada e derrubou ele no chão!

Era Seokjin.

Jungkook franziu o cenho, seus olhos se recusando a abrir pelo excesso de dor – ele se sentia quente, e suado, e ofegante, provavelmente ainda nas roupas da festa. E então, Yoongi começou a falar.

- Eu estava com a Barbara e do nada alguém bate na bunda dela—olha, eu podia estar procurando por uma mina pra ficar, mas desrespeitar alguém daquele jeito? Não, eu não podia permitir, eu—eu cheguei na educação com a Barbara, conversando e respeitando o espaço pessoal dela, porra, por que o grandalhão lá não podia fazer o mesmo? E eu acho que eles se conheciam porque ele chamou ela de vadia e disse que ela sentava mal—quem fala isso pra uma mulher? Ou pra qualquer pessoa? Ele—ele merecia levar.

- Filho da puta. – a voz de Namjoon soou, confundindo a cabeça de Jungkook, muitas vozes vindos de muitos lugares diferentes e ele mal podia se concentrar em abrir os olhos. E então, Yoongi voltou a falar, mais baixo dessa vez.

- Mas se eu soubesse que o Kook ia entrar no meio eu—eu pensei que vocês estavam ocupados se comendo ou sei lá e—e eu não pensei que o cara fosse partir pra agressão com vontade sabe, eu—hm, eu pensei que ele só fosse discutir e ir embora e—e—isso é tudo culpa minha. Todos vocês estarem machucados é culpa minha.

Não, é minha.

Jungkook queria gritar mas não tinha forças, ele queria chorar e queria se arranhar, tentar tirar sua dor junto com o sangue que sairia de seus braços – ele queria fazer aquilo parar. Ele aguentava o sofrimento mas seus amigos? Eles não mereciam sofrer.

E era tudo culpa dele.

Conforme os meninos iam consolando Yoongi, Jungkook prendeu o fôlego ao perceber suaves dedos passando em seus cabelos, tirando-os para longe de sua testa suada e afagando-os em suas têmporas.

Taehyung.

O único que não se pronunciara durante a conversa – Jungkook não sentia sua presença mas sentia seu toque, delicado, como se ele fosse quebrar a qualquer momento – mas Jungkook já estava despedaçado no chão antes mesmo de tudo aquilo começar.

Talvez ele tenha desmaiado de novo ou vai ver foi só o cansaço do apagando por alguns minutos em um cochilo, mas quando ele finalmente conseguiu abrir os olhos, se arrependeu.

A cena era ainda pior.

Namjoon estava sentado em sua cama – eles estavam no dormitório dele e de Taehyung – as pernas estiradas para frente enquanto gelo estava repousado sobre seus tornozelos; Seokjin estava ao seu lado, um quadrado branco cobrindo seu ombro esquerdo enquanto ele descansava a cabeça no colo de Namjoon, deitado; Yoongi na ponta da cama, o peito nu e com hematomas.

E Taehyung.

Jungkook virou a cabeça lentamente para o lado, encontrando um par de olhos escuros focados em si – o cacheado estava sentado no chão, do lado da cama, a mão fazendo carinho no cabelo de Jungkook, sem parar em um segundo sequer.

Seus olhos estavam baixos e a linha de seu sorriso estava hesitante – Jungkook podia ver o alívio e a preocupação estampando seu rosto conforme ele analisava as expressões do menor.

- Oi.

Jungkook murmurou baixinho, quase que inaudível, enquanto observava o curativo acima da sobrancelha de Taehyung, ainda vermelho e inchado, assim como o em seu lábio inferior, ele vestia as mesmas roupas da festa, ou seja, apenas seu jeans – eles provavelmente haviam esquecido de pegar sua blusa de flanela do chão do banheiro no meio de toda a confusão;

Taehyung deu um sorriso de lado pequeno, quase mínimo e bem rápido, o que fez Jungkook se afundar ainda mais. O maior desceu sua mão para as bochechas do menor e acariciando-as por algum tempo, se pegou encarando as olheiras profundas e inchadas sob os olhos de Jungkook – como se ele não tivesse ficado todo esse tempo o observando dormir.

- Kook. – foi Yoongi, ofegante e desesperado. Com dificuldade e relutante em deixar o olhar intenso de Taehyung, Jungkook o encarou, piscando lentamente. – Kook, me desculpa, eu—eu não devia ter colocado a gente nessa situação por causa de uma mina e—

- Você foi um cavalheiro. – o menor murmurou, os olhos caindo lentamente conforme o esforço de falar o pegava. O loiro franziu o cenho. – Respeitoso. Um cavalheiro respeitoso. Fez o certo.

- Mas por uma mina que conheci horas antes e por isso prejudiquei vocês, meus amigos e—e foi idiotice e—

- Nunca é idiotice defender uma mulher.

- Mas eu conhecia ela há algumas horas e—

- Ela é mulher a vida inteira e não podia ser desrespeitada em momento algum, mesmo assim ela foi e você a defendeu.

- Mas você está machucado por isso e—

- Eu ando machucando vocês há semanas.

E houve-se uma pausa.

Silêncio desconfortável e incômodo, o olhar de Jungkook no teto e o de Taehyung queimando em seu rosto. Sem saber o que falar ou o que pensar, os meninos apenas se calaram e Jungkook prosseguiu, tentando de alguma forma expressar sua dor e arrependimento por meio de palavras.

- Eu trouxe vocês pro fundo do poço comigo, eu afundei vocês enquanto tudo que tentavam fazer era me salvar da água, eu escolhi permanecer e sofrer, e no fim, acabei espalhando o sofrimento pra vocês, que não tem nada a ver com a situação toda, eu causei dor desnecessária, preocupação inútil e confusão generalizada, e ainda causo. Me desculpem, eu sou o errado aqui, desde o começo, e se a culpa tem que ser posta nas costas de alguém aqui, sou eu.

Com uma calmaria assustadora, Jungkook murmurou, lenta e claramente enquanto seus olhos ficavam ainda mais turvos ao encarar o teto, seus dedinhos coçando embaixo do edredom no ímpeto de se arranhar, se punir.

Ele estava cansado. Cansado de se sentir para baixo. Cansado de sentir dor. Cansado de sentir pena de si mesmo. Jungkook só queria ser o antigo Jungkook, queria sua vida antiga de volta. Sem Ryan. Com Taehyung.

Era pedir demais?

O silêncio permaneceu, cada vez mais pesado e desconcertante e tudo que os rapazes conseguiam fazer era respirar – o que quase não se aplicava a Taehyung, ele estava desmoronando, o olhar fixo em Jungkook e em sua expressão de tristeza, culpa e aborrecimento.

Ele pensou que o menor havia melhorado e que ele estava ajudando no processo – vai ver ele só tapou os ferimentos com curativos não à prova d'água.

Desde o começo ele havia feito de tudo para manter a sanidade física e mental de Jungkook intacta – ele estava falhando em sua missão, mas não iria desistir. Ele sabia que era verdade, que ele gostava de Jungkook desde o começo e que se importava com o menor antes mesmo de Ryan ir embora, e esses últimos dias com o menor só provaram isso.

Ele não iria desistir.

Taehyung não iria desistir de Jungkook.

Mas pra isso, ele precisava que Jungkook não desistisse de si mesmo.

- Não.

Foi Namjoon quem falou.

Todos o encararam com surpresa – menos Taehyung, ele só enxergava Jungkook, mal ouvindo que os outros falavam. E Namjoon continuou.

- Não temos que ficar colocando a culpa em ninguém, temos que ficar juntos e nos fortalecer juntos, se olhar detalhe por detalhe, todos temos culpa de algo e ficar remoendo essa culpa não vai adiantar em nada, Ryan fez as coisas e as cicatrizes são difíceis de curar mas—mas—Jungkook, você precisa querer, sim? Precisa querer melhorar e, porra, eu quero que você melhor mais que tudo no mund—

- Eu também quero. – Seokjin cortou, a cabeça ainda deitada no colo de Namjoon.

- E eu? – Yoongi disse, a voz embargada. Jungkook o fitou com culpa, como se as palavras deles não o afetasse. – Eu estava do seu lado o tempo todo e não percebi e, caralho Kook, eu me arrependo disso do momento em que eu deito a cabeça no travesseiro até quando eu levanto no outro dia, mas eu posso te ajudar agora e—Namjoon está certo, só você pode melhorar de verdade, você pode querer e você vai mudar, mas tudo parte de você. Por favor, nos ajude a te ajudar.

Jungkook não respondeu. Ele apenas encarou cada um de seus amigos e em seguida fechou os olhos, incapaz de encarar aquela culpa por mais tempo – ele estava sofrendo, sofrendo tanto que queria gritar e chorar e rasgar sua pele ao mesmo tempo.

Ao invés disso, ele apenas murmurou.

- Eu amo vocês.

E ele nunca havia dito algo com tanta sinceridade no mundo.

Jungkook sempre foi emotivo, sempre foi carinhoso e afetivo, se apegando às pessoas e acolhendo-as consigo, em sua vida, e ele sempre sofria em despedidas, chorando antecipadamente, durante e depois. Vai ver por isso era tão difícil superar Ryan – não a sua ausência, ele queria isso, mas sua partida em si. Jungkook perdeu parte de sua vida quando ele foi embora – mesmo que uma parte ruim.

E o que aconteceu depois foi confuso.

:)