Confinados

— Ela nos cercou — disse Patrick olhando para Alexis. Todos estavam reunidos na cozinha pois ali podiam conversar normalmente.
— E agora? — perguntou Catia, Ben estava em seu colo.
— Eu não sei, ela não fez nada, apenas ficou lá parada me olhando. Ela quer que saibamos que estamos nas mãos dela, tinha muitos infectados mas por sorte nenhum deles me viu.
— Ela vai tentar entrar? — perguntou Tom.
— Eu não sei, talvez.
— Temos que pensar em alguma coisa e rápido — Alexis pegou uma das facas que seu pai havia separado.
— Nem pense, não podemos enfrentar aquela horda lá fora — Patrick fuzilou Alexis com o olhar.
— E pretende deixar que ela nos mate sem lutar? Não sabemos quando ela vai decidir entrar então temos que atacar agora.
— Se fizermos isso vamos todos morrer.
— É mesmo Patrick? Pois adivinha, nós vamos todos morrer de qualquer jeito.
— Tem que haver uma saída — Tom se pôs a pensar.

Do lado de fora, Ester espalhava o sangue em volta da casa numa tentativa de fazer com que as centenas de infectados não se afastassem do local. O plano havia saído como ela havia planejado e agora seu único objetivo era brincar com suas presas a ponto de as deixar loucas.

— Vamos abrir a porta — sugeriu Alexis.
— Pirou de vez? — Patrick tentava entender o raciocínio louco de sua esposa.
— Se fizemos isso vamos poder matar um infectado de cada vez.
— São muitos, centenas, isso nunca funcionaria. E Ester não é idiota, assim que fizermos isso ela vai arrumar uma maneira de atrapalhar.
— Quando foi que você se tornou tão frouxo? — Alexis se irritou.
— Quando percebi que a vida das pessoas que eu amo corre perigo. Diga o que quiser, não irei tomar  decisões precipitadas e não deixarei que ninguém tome.

Aquelas palavras causaram um forte impacto em todos.

— Ele tem razão — Tom suspirou — mas minha filha também tem. Não podemos ficar esperando aquela mulher decidir qual a hora certa de nos matar.
— E não vamos, primeiro quero que me ajudem a barrar as entradas desta casa, menos a porta dos fundos. Vamos colocar moveis e objetos na frente de cada porta e janela mas sem fazer barulho.
— E depois ficamos confinados aqui? — perguntou Alexis balançando a faca.
— Depois pensamos em algo com mais cautela.
— Eu gosto desse plano, mas por que não iremos bloquear a porta dos fundos?
— Você saberá.

Patrick, Alexis e Tom começaram a por o plano em pratica enquanto Catia distraia Ben. Eles usaram todos os móveis disponíveis para bloquear a porta e as janelas. Usaram cômodas, sofás e até mesmo um criado mudo. Patrick percorreu toda a casa a procura de qualquer brecha que pudesse os colocar em perigo mas nada achou, estavam seguros por hora.
Alexis foi ao seu encontro após decidir de vez que aquele momento era a hora certa para lhe contar o que havia acontecido quando ainda estava sobre a posse de Ester.

— Patrick — ela o chamou enquanto aproximava-se. Ambos estavam no corredor onde ficava o banheiro e alguns outros cômodos onde guardavam as velharias.
— Oi — respondeu enquanto fechava uma das portas.
— Preciso te contar uma coisa.
— O que? Ben não é meu filho? Eu sabia — ele riu.
— Eu me deixei seduzir, você me perdoa? Vai cuidar dele como se fosse seu? Como descobriu? Meu Deus, como eu pude ser tão puta — Alexis entrou no joguinho de seu marido enquanto ele a encostava na parede.
— Como pôde me trair? Eu não faço do jeito que você gosta? Eu devia ser mais violento?
— Sim, devia me amarrar, me bater e puxar meu cabelo enquanto eu me arrasto tentando fugir de seus braços.
— Caramba, foi isso que ele fez com você?
— Sim, no início eu resisti mas depois fui tomada pelo prazer — ela sorriu.
— Infiel.
— Idiota — Alexis colocou sua mão direita no rosto do marido.
— Esse rosto — ele retribuiu — esses olhos, esse cabelo. Meu Deus, como você é feia.
— Seu cu.

— Eu vou te amar até o último dia do apocalipse, sabia?
— Talvez o último dia não esteja tão longe assim — ela abaixou a cabeça e começou a fitar o chão.
— Não seja idiota, vamos conseguir passar por tudo isso.
— Não me refiro a isso.
— Me explique então.
— Eu não tenho muito tempo de vida, Patrick.
— Que diabos está falando? Claro que tem.
— Eu estou infectada.

Patrick foi bombardeado por aquelas palavras e por alguns segundos foi como se o mundo parasse a sua volta. Não podia acreditar no que havia acabado de ouvir, seus olhos percorreram todo o corpo de Alexis a procura de alguma mordida, arranhão ou escoriação que justificasse o que ela havia dito.

— Está intacta, não fale besteiras.
— Peço que não conte isso para os meus pais.
— Eu já disse que está intacta — ela levantou a blusa branca que ela usava mas também não viu nenhum machucado.
— Eu não fui mordida. Ester me infectou.
— É mentira.
— Ela me forçou a comer carne infectada, eu não pude fazer nada...
— É mentira. Tem que ser — Patrick deu um soco na parede. Tudo havia sido em vão se aquilo fosse realmente verdade.
— Eu não sei quanto tempo ainda tenho, talvez um ou dois meses. Não sei... Ester vem se alimentando a um bom tempo e ainda não se transformou por completo. Mas não vamos nos preocupar com isso agora, primeiro temos que pensar em uma maneira de sair vivos daqui.

— Então foi por isso...
— O que — Alexis o encarou mas Patrick a evitou olhar diretamente.
— Por isso não me beijou naquela hora.
— Estou evitando ao maximo ter contatos físicos com vocês. Não sabemos quais são todos as maneiras de se infectar então não quero correr o risco de acabar prejudicando alguém aqui, eu não me perdoaria nunca se isso acontecesse.
— Entendo.

Essa foi a última palavra de Patrick antes de deixar o corredor e ir em direção a sala. Tom e Catia estavam na cozinha e o silêncio que antes reinava no quarteirão agora era substituído por vários urros e grunhidos de criaturas que caçavam algo para comer. Patrick sentou-se no sofá e deixou que seus pensamentos tomassem conta de sua mente, os últimos meses haviam sido uma catástrofe completa.
Recordava-se perfeitamente do maldito dia em que tudo mudou, estava sentado no sofá de sua casa ao lado de sua esposa grávida planejando dezenas de coisas para o futuro quando a TV noticiou o desastre aéreo em Englewood e era ali que tudo começaria a dar errado. Agora se via sem rumo novamente pois saindo vivo ou não ele sabia que teria que suportar a perda de sua esposa e só o fato de pensar isso já era suficiente para o destruir por dentro.

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