Tudo que eu quis são coisas que eu já tive antes
Tudo que eu precisei, eu nunca precisei tanto quanto preciso agora
Todas as minhas perguntas são respostas para os meus pecados
Todos meus finais estão esperando para começar
(Circle - Slipknot)

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Ao receber a notícia de que enfim tudo havia acabado, corri para a delegacia, mas o que eu não imaginava era que as coisas por lá não estavam nada fáceis. O plano havia funcionado, mas fazer o cúmplice de Shane falar não seria tarefa das mais fáceis.

Eu estava completamente atordoada. Saí de casa vestindo meu surrado conjunto de moletom, tênis de corrida, com os cabelos desgrenhados e cara lavada. Tudo o que eu queria era saber de uma vez por todas onde estava Sarah, mas antes que eu pudesse confrontar uma das pessoas por trás do sumiço dela, Scott veio até mim, acompanhado do coronel Donald's e eu soube que algo de muito errado estava por vir.

- Sente-se aqui, minha querida - o homem mais velho me indicou uma cadeira em sua sala - Rebeca, traga água pra senhorita McKay, por favor! - pediu ele a secretária, voltando sua atenção novamente para mim - Você tem que se acalmar.

- Eu não quero sentar, não quero água e nem me acalmar - retruquei - Cadê o maldito? Vocês já o interrogaram? Será que dá pra me explicar o que aconteceu na entrega do dinheiro?

Eles trocaram um breve olhar e o coronel assentiu, nos deixando à sós em sua sala. Scott soltou um pigarro, limpando a garganta, enquanto escolhia as palavras certas para enfim me pôr à par dos acontecimentos.

- Acho que o adjetivo correto é "maldita" - iniciou ele - Já que quem está atrás daquela porta, sendo interrogada e se negando a abrir o bico a quase três horas se trata de Natasha Sommers.

- Aquela vadia, líder de torcida, que tentou separar vocês na escola?

- Em pessoa... ou demônio se preferir - ironizou, enquanto puxava uma cadeira para sentar-se junto a mim - Não sabemos como ela chegou até o Shane, ou se foi ele que a procurou e isso é uma coisa que só ela pode nos esclarecer.

Eu estava chocada. Jamais imaginaria que quem havia ajudado Shane com toda aquela psicopatia havia sido uma mulher e pior, uma mulher rica e poderosa como Natasha. Por vezes Sarah me dissera que ela andava viajando o mundo, trabalhando como modelo e se divertindo horrores com o então companheiro, o modelo Nathan Forbes.

- Assim que soube que existia alguém por trás de Shane, tinha quase certeza de que era ela - confidenciou Scott, me tirando do flashback compilar de conversas com Sarah - Quando cheguei no parque, procurei pelo lugar que havíamos combinado, deixei o dinheiro e saí, como Anthony havia me orientado, mas a maluca correu em minha direção, armada e não fosse a ação rápida de alguns policiais em desarmá-la, eu estaria morto.

Eu sempre soube que Sarah e Natasha não se entendiam bem e que a causa disso era o namoro de minha irmã com Scott, mas será que apenas dor de cotovelo fariam uma mulher agir dessa forma?

- Não acredito que ela foi capaz de um ato criminoso como esse - eu tentava assimilar tudo o que ele havia me contado - Ela já tem grana, Scott. Qual a necessidade de se envolver nisso?

- Aí que você se engana - ele me lançou um sorriso torto - Eu descobri que a "madame glamour" está falida. Depois que o marido resolveu se divorciar dela, Natasha perdeu quase todos os contatos mais influentes no mundo da moda e como Nathan engatou um novo romance com outra modelo, os holofotes que antes pertenciam a Natasha, se voltaram todos pra atual namorada.

- Quer dizer que foi ela quem armou tudo isso?

- Não posso afirmar - admitiu - Mas a forma como ela agiu leva a crer que sim. Natasha sempre gostou de ser o centro das atenções e pelo tanto que a conheço, sei que ela faria qualquer coisa pra manter as aparências.

Aquela reviravolta era quase que inacreditável. Eu custava a acreditar que uma mulher desceria a um nível tão baixo apenas para manter um estilo de vida confortável aos olhos de quem a observava.

- Isso não vai ser nada fácil - a porta se abriu e Anthony adentrou a sala do coronel - Ela não quer falar. Disse que o advogado está vindo de Londres e ela só falará na presença dele.

- Mas não temos todo esse tempo - rebati indignada.

- Eu sei, Emma - ele me abraçou e não pude repelí-lo, precisava daquilo - Mas parece que é isso mesmo que ela quer, que percamos tempo.

- Você não disse que ela está falida? - indaguei Scott.

E está - disse ele, com convicção - Deixa eu falar com ela - pediu - Acho que estou começando a decifrar o real motivo dela ter entrado nessa e se eu estiver certo, sei que posso fazê-la admitir.

Anthony fez um gesto afirmativo e se desprendeu de meu abraço - Mas vou levá-la para uma sala de vidro espelho, com gravadores, assim Emma, o coronel e eu poderemos ouvir o que ela diz, sem sermos notados.

Scott concordou e seguimos Anthony ao encontro do coronel Donald's, para lhe fazer o pedido de transferência de sala. Em poucos minutos Natasha foi levada até outro local e Scott liberado para vê-la.

Ficamos observando sua entrada do lado de fora. A sala era quase escura, para que a luz batesse no espelho e nada passesse pelo vidro, impedindo que fossemos vistos por Natasha.

Assim que adentrou, os olhos de Scott cruzaram com os dela e devido a maneira tensional de seu corpo agir, tive a sensação de que ele estava se segurando muito para não avançar sobre ela. Anthony e o Coronel Donald's observavam tudo atentamente, prontos para intervir, caso fosse necessário.

- Então esse foi o retorno da puta rejeitada? - foram as palavras dele, assim que o policial o deixou à sós com ela - Bem medíocre, até mesmo pra você, Sommers.

A afronta pareceu incomodá-la logo de cara, já que se ajeitou de maneira inquietante sobre a cadeira.

- A única pessoa medíocre aqui é você, King - ela cruzou os braços, tentando manter a compostura e o ar de superioridade - Ou devo chamá-lo de servo, já que vive se ajoelhando aos pés da caipira?

- Você que é a pobre coitada aqui, Natasha - ele revidou - E é a única que não vê isso. Está trabalhando pro Rhee, isso é sério? - gargalhou forçadamente, apenas com o intuito de provocá-la.

Ela ergueu-se, demostrando muita irritação e um certo inconformismo. As palavras de Scott a abalaram, então comecei a ver onde ele estava tentando chegar com tudo aquilo. Sua jogada era boa e eu torcia para funcionar.

- Eu não trabalho pra ninguém - ela cuspiu as palavras com desprezo - Usei o idiota pra conseguir o que eu queria, mas já devia saber que era impossível confiar em um maluco obcecado por uma sonsa como a Sarah.

- Do que está falando? - Scott dava corda e eu desejava do fundo da alma que por fim ela acabasse se enforcando, com sua própria arrogância.

Natasha fez um pausa e meu coração saltava no peito, com medo de que ela recuasse, mas enfim prosseguiu - Eu encontrei com o infeliz em uma de minhas visitas corriqueiras pela cidade e ele estava completamente transtornado - riu friamente - Disse que havia encontrado com Sarah e que agora que finalmente eles poderiam ficar juntos, ela parecia estar se reaproximando de você. Como das outras vezes, ele seria visto apenas como um irmãozinho.

- Isso foi após o divórcio? - questionou Scott.

Por sorte ela assentiu e continuou - Não demorou muito pra que eu conseguisse convencê-lo de que a melhor maneira de reconquistar a boba da Mckay era trazendo-a pra perto e que eu ajudaria.

- Você é uma vadia! - temi que Scott não conseguisse se controlar dessa vez, ele parecia totalmente revoltado com o relato dela - Como soube da festa? Como ele fez pra roubar o celular da Sarah sem que ela ou Ricci vissem?

Ela soltou uma risada quase gutural e voltou para a cadeia destinada a ela - Fácil como tirar doce de criança - passou a língua entre os lábios - Emma enviou convites da festa pra quase todos os antigos colegas da irmã, já que ela não parece ter muitos amigos e um desses colegas fui eu.

Eu mal podia crer no que meus ouvidos haviam escutado. Eu já achava que a maior culpada por tudo isso estar acontecendo era eu, por ter praticamente obrigado Sarah a ir até a boate, agora a certeza de que trouxe a desgraça para junto de minha família era fundamentada no que aquela mulher atrás do vidro confessava.

- Só não entendo o porquê dela não ter chamado Shane - Natasha deu continuidade ao seu sarcasmo - Ele seria o único à comparecer.

- Foi ele quem matou o Tyler Armstrong? - outra pergunta e a torcida para que ela prosseguisse com o relato se amplificada.

Ela anuiu - Mas fui eu quem o atraiu até o parque - confessou - Não foi nada difícil, o nojento já tinha o hábito de se envolver com prostitutas, imagina se negaria uma boceta grátis - riu como se houvesse contado uma piada extraordinária - Shane fez o resto do trabalho de maneira exemplar, não acha? Fiquei orgulhosa do meu pupilo - levou a mão ao queixo, fingindo pensar - Embora tenha achado o lance de enviar as partes do defunto pra Sarah um tanto quanto dramática.

- Que Tyler não valia nada eu concordo, mas esse desgraçado matou o pai da Sarah e levou Lizzie sabe-se lá pra onde - Scott ficava cada vez mais nervoso - Ela é apenas uma criança, não sente nenhum um pouco de remorso por tê-lo incentivado a isso? - bateu as mãos com força sobre a pequena mesa que os separava - Você é um demônio, Natasha!

- Eu a odeio com todas as minhas forças - ela deixou a cadeira novamente e enfurecida gritou a plenos pulmões - E não me importo com quem quer que seja, criança ou velho, quero que todos que a rodeiam morram, inclusive você, seu merda - o ódio que sentia aos poucos ia tomando forma - Preferiu a sem sal à mim e vai pagar caro por isso!

- Diga onde ela está? - esbravejou Scott, perdendo o resto da sanidade que ainda lhe restava - Ou vai se arrepender de ter nascido.

- Não! - ela partiu para cima dele - Se depender de mim, você nunca mais verá aquela morta de fome na vida!

Anthony e o coronel adentraram a sala em tempo de evitar uma desgraça, pois Scott já fechava seus dedos em torno do pescoço da mulher. Não o recrimino, se estivesse lá dentro, ouvindo ela falar tudo aquilo em minha cara, teria feito pior.

- Fala logo, sua perua - Gritei ao adentrar a sala, logo atrás dos homens da lei - Para aonde o maldito Rhee levou minha irmã?

- O que foi, se desiludiu com ele, foi? - debochou - Eu podia jurar que vocês tinham se divertido bastante juntos!

Como ela sabia? Shane desceria tão baixo ao ponto de contar sobre o abuso que cometera contra mim e pior, agiria como se não tivesse destruído com meu psicológico por todos esses anos? Ele era mesmo um monstro, no mais genuíno sentido da palavra.

- Do que ela está falando, Emma? - Scott tentava se desvencilhar dois policiais.

- Isso não vem ao caso agora - Anthony interferiu e pude sentir que fazia aquilo unicamente para me proteger de ter que explicar a Scott minha tormentosa história.

O coronel Donald's tomou a palavra para sí, atenuando um pouco a situação - Senhorita Sommers, sugiro que nos conte tudo que sabe sobre o sequestrado, ou as coisas podem se complicar bastante daqui pra frente.

Natasha sentou-se, mas mantinha o queixo erguido e a pose confiante - Já disse que meu advogado está vindo da Inglaterra e eu só falo se for na presença dele.

- Corta esse papo furado, sua vagabunda! - Scott berrou indignado.

- Por favor, senhor King - o coronel repreendeu-o - Mantenha a compostura e deixe que façamos nosso trabalho.

Natasha sorriu, jogando os pés sobre a mesa à sua frente, exibindo um belo e extremamente caro par de botas Gucci - Alguém pode, por favor, me trazer um copo de água? Estou com a garganta seca, por conta de todo esse falatório.

- Pode parar com essa pompa de modelo famosa e rica, senhorita Sommers - Anthony apoiou as palmas de suas mãos sobre a mesa - Sabemos que está falida - cuspiu a verdade com sarcasmo - Se não nos contar o que queremos saber, vou me certificar de que apodreça em uma cela suja e com amigas que nunca desejou ter na vida.

Estava claro que a forma com que Anthony falava havia lhe causado um certo desconforto, mas a mulher era osso duro de roer e não se deu por vencida - Quem você pensa que é para falar assim comigo? Quando meu advogado chegar...

Anthony a cortou, com uma risada desdenhosa - Não se dê ao trabalho de inventar mais mentiras, acabamos de telefonar pro seu ex marido e ele deixou claro que não irá ajudá-la - blefou - E com o dinheiro que a senhorita tem, não poderá pagar sequer um advogado de porta de cadeia, quanto mais um vindo de Londres.

Natasha engoliu em seco. A artimanha de Anthony tinha funcionado e ela agora encolhia-se feito um animal encurralado. Não havia para onde correr, seu olhar rendido anunciava que o fim da linha chegara.

- Estrada Carson 1050, Apple Hill. Acho melhor irem rápido, nunca se sabe do que um louco é capaz.