Capítulo Dois
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boa leitura!
─ Você? ─ Eu digo incrédula e ao mesmo tempo com raiva por ela estar ali. Seus olhos pretos me analisam por um momento e me sinto envergonhada, ela é linda, (sei que nos odiamos, mas é difícil negar) seus cabelos eram tingidos de vermelho há uns quatro meses, mas agora está na sua tonalidade natural, são lisos e curtos na metade do ombro, sua pele é levemente bronzeada e sua estatura baixa, talvez uns oito centímetros a menos que eu.
─ Você o quê? Há algo de errado em andar pela floresta? ─ Ela me responde em um tom seco.
─ Eu não insinuei nada disso, não seja ridícula. ─ Minhas bochechas começam a esquentar e ela percebe isso.
─ O que está fazendo aqui? E quem pensa ser para me chamar assim?
─ Minha tia é vizinha dos seus avós, estou aqui, porque quero.
─ Quem você pensa que é? ─ Ela repete a pergunta e me encara nos olhos, sinto vontade de desviar ou de correr para bem longe. Como pode uma garota de 1,60 me causar tanto impacto?
─ Não te interessa. ─ Me viro de costas e começo a fazer o percurso de volta, mas paro, eu não sei como voltar, só percebi agora que eu não segui nenhuma trilha.
─ Tudo bem! Então vá embora. ─ Ela diz rudemente, mas seu tom de voz está mudando para um de divertimento. Ela sabe que eu estou perdida e adoraria me deixar por aqui sozinha enquanto vai embora sorrindo saltitante, como fez no dia do trote na escola.
Fico parada de costas para ela. Não vou dar meu braço a torcer, mas também não posso me arriscar a perder na floresta. A única coisa que possuo no momento é uma câmera, e se anoitecer? Como vou enxergar? E se eu gritar, será que alguém vai realmente me ouvir? Estou longe de mais da fazenda. Alguns pensamentos intrusos começam a bagunçar minha mente e conto minha respiração para a ansiedade não atacar.
─ Não vai ir? ─ Caroline sorri e eu me viro para a encarar. ─ É tão tola que se perdeu, como consegue ser a melhor aluna da escola? ─ Ela zomba e eu trinco meu maxilar como sempre faço quando estou com raiva.
─ Será que você não pode me deixar em paz! ─ Eu grito com a respiração acelerada, estou começando a ficar desesperada por estar tão longe. ─ Não está cansada de tornar a minha vida um maldito inferno?
Ela para de rir quando vê meus olhos marejados e minha respiração ofegante, então pega na minha mão e me guia para fora do bosque. Sua mão é pequena, eu noto e noto também que ela é a primeira pessoa da escola a fazer isso propositalmente.
Fazemos o percurso de volta em silêncio absoluto e quando vejo a casa da minha tia, aproveito para me desvencilhar dela e correr de volta, não olho para trás um segundo sequer e penso como as coisas podem piorar em minutos. Queria que essas férias fossem boas, que eu parasse de pensar em tanta coisa ao mesmo tempo, que eu olhasse mais para dentro de mim e soubesse quem sou. Mas ao ver Caroline, toda a minha motivação se esvaiu.
...
Meus tios chegam uma da tarde, saio do quarto para recebê-los. Passei o tempo todo desenhando, descobri que fazer o que eu gosto alivia o meu estresse.
─ Florzinha, demoramos? ─ Minha tia pergunta preocupada.
─ Não tanto, eu fiquei bem.
─ Por que está com essa carinha? ─ Ela me encara com mais atenção, meu rosto deve estar abatido, mas sorrio da melhor forma.
─ Eu só estou ainda um pouco cansada da viagem, não se preocupe.
─ Conversou com minha futura namorada? ─ Tom sai do carro carregando seu inseparável skate.
─ Hum não tive tempo, estava andando por aí.
─ Não força a barra, Tomas. ─ Tia Bete dá um beliscão na orelha de Tom, mas não parece doer.
─ Não estou forçando, mãe.
─ Por que você não vai lá conversar com ela? ─ Tio Diego diz e pega uma sacola de compras no porta-malas.
─ Não vou me inutilizar. ─ Ele diz e eu sorrio, ele parece a minha versão masculina, orgulhoso, inteligente e esforçado.
Já é quase noite quando eu e Tom acabamos de colher rabanetes na horta, trabalhamos duro hoje e não vejo a hora de deitar na cama e dormir. Claro que foi opcional ajudá-lo, mas é gostoso arrancar os legumes da terra e geralmente quando estou nervosa gosto de fazer movimentos repetitivos até meu cérebro parar de pensar no problema e focar na atividade diante dele.
─ Você está bem? ─ Tom pergunta e limpa as mãos de terra na calça jeans, eu me ergo para encará-lo.
─ Por que diz isso?
─ Porque toda vez que você está tensa você fica obcecada por algo e você está obcecada por colher rabanetes.
─ Pensei que não fosse notar. ─ Sorrio sem graça e me sento no chão. ─ Sabe a neta do José? Ela estuda comigo e não nos demos bem. Hoje eu acabei me encontrando com ela e fiquei muito tensa. ─ Não quero falar mais que isso, eu poderia muito bem manchar a imagem dela falando como ela arruinou a minha vida, mas eu também ia falar como fui tola de beijar o namorado dela, por mais que estivesse sobre o efeito de álcool, que seja, não quero que ninguém sinta pena de mim.
─ Poxa, Estela. Você deveria ter me dito isso a mais tempo. Ainda quer ficar aqui? ─ Tom parece meio abalado.
─ Vou, eu tenho que sair da zona de conforto. Preciso aprender a lidar com os problemas.
─ Eu entendo sua situação, mas tenho um pouco de pena dela. ─ Tom diz e eu o encaro incrédula.
─ Por quê? Primeiramente, por que ela está aqui?
─ Os avós dela se mudaram pra cá há uns dois anos, quero dizer, o terreno sempre foi deles, mas por causa de alguns problemas eles tiveram que ir para a cidade.
E recentemente aconteceu algo horrível na família deles, o pai da Catarina...
─ É Caroline o nome dela. - Eu o interrompo.
─ Então, o pai da Caroline sofreu um terrível acidente de carro, morreu antes mesmo de chegar no hospital. Isso deve ter uns dois meses.
─ Sério? ─ Encaro o chão, embora isso seja terrível ela nunca deixou sua tristeza transparecer. Se isso foi há dois meses, o ocorrido foi em outubro, lembro-me bem que ela faltou uma semana inteira na escola, mas nunca soube o motivo.
─ Como eu não soube disso? E como você soube?
─ Digamos que eu ouvi uma conversa entre a avó dela e a minha mãe. Pelo que escutei, o Luís era um cara muito rico, mas levava uma vida privada e acho que por isso não saiu nos noticiários, embora tenha alguns boatos.
─ Nossa, eu realmente não esperava por isso.
─ Tom! Estela! Já está tarde demais para ficar aí fora! ─ Minha tia grita da janela e nos levantamos.
─ Já vamos! ─ Tom grita de volta. ─ Não comenta a ninguém que eu lhe disse isso, ok?
─ Ok, capitão.
Limpamos mais ou menos nossas roupas e entramos dentro de casa.
Subo as escadas, pego alguns itens de higiene no quarto e vou tomar banho. Visto um pijaminha que ganhei de aniversário da minha irmã mais velha, ele é todo branquinho com várias cerejinhas. Sento na cama e começo a pentear os cabelos, mas sou interrompida quando alguém bate na porta.
─ Entra. ─ Digo e a pessoa abre a porta, meu coração acelera quando vejo Caroline do outro lado.
─ Com licença. ─ Ela diz e entra no quarto com cautela, como se eu estivesse à espreita pronta para atacá-la.
─ A que devo a honra? ─ Digo ironicamente e me sento no parapeito da janela com os cabelos já penteados, ela fica parada no meio do quarto.
─ Não venha de brincadeira, Estela Torres ─ Ela diz séria e eu quase sorrio. Não porque ela sabe o meu nome, mas porque ela o pronunciou.
─ Não estou, diz logo o que quer. ─ Eu digo asperamente.
─ Você é muito difícil de lidar. ─ Ela bufa e senta na beirada da cama.
─ Então vai embora. ─ Digo imitando sua voz, como hoje mais cedo.
─ Será que não consegue agir como uma adulta pelo menos uma vez na vida?
─ Eu deveria agir? Que eu saiba não sou eu quem fico planejando trotes que nem uma criança de dez anos.
─ Eu sabia que você ia jogar isso na minha cara. ─ Ela suspira e olha para o teto. ─ Você sabe que errou.
─ Olha, Caroline. Eu não estou no melhor momento para ter um debate. Então se dizer que eu errei vai fazer com que você me deixe em paz, eu errei. Ok?
─ Nós erramos, Estela. Como qualquer um e eu vim aqui pra te pedir desculpas. É isso.
─ É sério? ─ Pergunto incrédula.
─ Eu refleti sobre isso nos últimos dias e percebi que isso era o certo a fazer. Não tem porque continuar alimentando esse ódio. ─ Ela olha nos meus olhos com sinceridade.
─ Eu nunca quis te prejudicar. Você sabia disso, eu acho. ─ Digo, mas ela não responde. Então continuo. ─ Interessante que você tenha esperado o ano letivo inteiro para pensar sobre isso, não é? Mas concordo, essa rixa não nos levará a lugar nenhum.
Isso realmente me pegou de surpresa, nunca pensei que Caroline poderia me pedir desculpas. Ainda mais depois do ocorrido na floresta, no entanto, ela está diferente. Não só na aparência ─ durante o ano letivo ela estava com os cabelos avermelhados e usava roupas curtas (era até um visão bonita), agora ela está usando roupas comuns até demais ─ mas também no modo de falar, parece menos sarcástica.
─ Que bom que também pensa dessa forma. ─ Ela diz constrangida e se levanta. ─ Já vou ir, boa noite.
─ Boa noite. ─ Respondo e ela sai do quarto sem me encarar.
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