Capitulo 09 - Maryon
Sorri para a interação entre Will e seus amigos, ele parecia mais relaxado na presença deles do que o vira em muito tempo. Não que fosse próxima o bastante de qualquer um dos filhos de John para saber a frequência com que estavam felizes.
- Como está se sentindo? - Perguntei tolamente para puxar assunto.
- Não é tão ruim - Ele respondeu se mexendo um pouco na cama. - Ficamos em silêncio por um tempo até que ele surpreendente o quebrou - Papai ainda está aqui?
- Sim - Respondi, eu realmente deveria esperar pela pergunta - Ele está lá fora tentando acalmar Jack. - Ele se mexeu um pouco mais, parecendo desconfortável - Eu posso perguntar o que aconteceu?
De todas as coisas que poderia esperar como resposta, nunca imaginei o que veio a seguir, lágrimas verteram dos olhos de Will e ele sussurrou em uma voz que eu mal podia ouvir:
- Me desculpe
Antes que pudesse perguntar exatamente pelo que estava se desculpando, ele começou a soluçar. Por um momento fui incapaz de fazer qualquer coisa que não fosse olhar para o garoto que tremia na minha frente com o rosto encharcado de lágrimas.
Parte de mim sabia que mudanças de humor e episódios depressivos estavam na lista de sintomas comuns para pacientes de câncer. A maior parte porém, estava apenas chocada por ver o garoto, que não me lembrava de já ter visto chorar, quebrar daquela maneira.
- Me desculpe - Repetiu ele, me tirando de meu transe momentâneo.
Sem saber o que fazer, me aproximei mais de sua cama e em um impulso o abracei, não esperava que o gesto fosse retribuído, mas, surpreendentemente, Will não só me abraçou de volta como encostou a cabeça em meu peito.
Por vários minutos fiquei ali, uma das minhas mãos fazendo círculos suaves em suas costas para acalma-lo enquanto a outra acariciava levemente seus cabelos, exatamente do jeito que costumava fazer com Jack até os seis anos, quando estava doente ou chateado.
Os soluços diminuíram depois de um tempo e o corpo de Will relaxou contra o meu. Demorei um pouco para perceber que ele havia adormecido. Com cuidado para não acorda-lo abaixei seu corpo de volta na cama, ajustei o travesseiro sob sua cabeça e o cobri com o cobertor fino que por algum motivo estava torcido e enrolado em sua perna.
Eu estava prestes a sair do quarto quando senti um leve aperto em meu braço. Olhei para trás e vi que Will havia segurado meu pulso, seus olhos estavam fechados, de forma que julguei que o movimento tinha sido um reflexo. Percebi que estava errada, no entanto, quando o ouvi dizer com a voz baixa e cansada que o fazia parecer uma criança vários anos mais nova:
- Você pode dizer ao Jack que eu sinto muito?
- Pelo que exatamente você sente muito? - Perguntei deixando a curiosidade levar a melhor
- Eu quebrei - Um bocejo escapou de seus lábios antes que ele completasse a frase - Uma promessa.
Estava pronta para perguntar qual promessa ele poderia ter quebrado para deixar Jack tão chateado, mas um novo olhar para Will me disse que ele estava adormecido, de verdade dessa vez. Saí do quarto em silêncio e fechei a porta atrás de mim. Andei pelo corredor tentando encontrar minha família.
Minha família. O pensamento me deu um nó no estômago. Meu pai sempre me ensinou a cuidar dos meus interesses antes dos de qualquer um, a sempre ser a pessoa mais importante para mim mesma. Talvez eu tenha levado isso a sério demais, mas de algum modo, ter me envolvido com um homem casado e destruir uma família para construir a minha não havia me causado remorso algum, não até aquele momento.
Olhei para John sentado no mesmo banco que estivera quando o deixei, Jack estava dormindo em seu colo agora. Eu ainda podia ver as marcas das lágrimas em seu rosto. Suspirando, dei um aceno silencioso a meu marido antes de passar por ele e ir até uma das máquinas de café.
Enchi um copo pela metade com a bebida escura e levei até os lábios, o gosto era horrível e amargo mas o fato de ser mais de meia-noite e eu ter que trabalhar no dia seguinte, tornava o líquido desagradável necessário. Estava prestes a voltar para o lado de John quando notei Zach encostado em uma das paredes do corredor à alguns metros de distância.
Lentamente me aproximei do rapaz, mesmo sentindo que era uma péssima ideia. Ao contrário de Will, que mesmo com seus comentários sarcásticos ainda falava de forma agradável e simpática comigo, Zach era apenas Zach. Ele era educado e nunca me desrespeitou de nenhuma forma, mas todas as palavras que dirigia a mim, eram frias. A única pessoa que o rapaz parecia desprezar mais que eu, era seu pai.
- Zach? - Chamei, fazendo-o olhar para mim - podemos conversar?
- Hum, okay - ele disse, olhei para meu marido à distância, ele acariciava os cabelos de Jack distraidamente.
- Talvez devêssemos ir para algum outro...
- Não - Ele me interrompeu - Meu irmão está em um quarto de hospital, minha está descansando na enfermaria depois de quase desmaiar de exaustão, o que quer que você queira me dizer, não vai me afastar da minha família para isso.
- OK, - eu disse resignada, lancei um novo olhar para meu marido e suspirei, eu sabia que o estaria traindo, mas desde o momento que entrei no quarto de Will, sabia que precisava fazer isso. - Olha, eu sei que você não gosta de mim, eu provavelmente me odiaria também se estivesse no seu lugar - Vi o garoto abrir a boca mas fiz um gesto para que me deixasse continuar enquanto tirava algo de meu bolso - Eu não posso consertar as coisas, e sinceramente, se pudesse, não sei se faria. Eu nunca abriria mão de Jack, por ninguém. Mas, eu não posso simplesmente assistir tudo o que está acontecendo, e é por isso que resolvi te dar isso.
- O que é isso? - Perguntou o rapaz olhando surpreso para o cartão de crédito que lhe estendi, sua surpresa se transformou em raiva quando ele rosnou - Não preciso do seu dinheiro - E tentou me forçar a pegá-lo de volta.
- Isso não é para você - respondi recusando-me aceitar o cartão - Isso é para Will. Para a viagem. - Ao ver o olhar confuso de Zach acrescentei - Eu sei o quanto Will quer ir naquele show, eu sei o quanto você quer levá-lo...
- Mamãe e Papai... - Disse ele balançando a cabeça.
- Karen ainda está no estágio da negação e John está com medo. Eles não vão dar permissão para isso, mas eu sei que Will precisa disso, e talvez, você também precise.
- Algo como um último desejo? - Ele disse amargamente, mexendo o cartão entre os dedos.
- Talvez, ou talvez um penúltimo desejo, ou um antepenúltimo. Eu realmente não sei.
- Não sei se posso fazer isso, se alguma coisa acontecer... Eu não sei o que eu faria se... - Ele sacudiu a cabeça tentando afastar qualquer que fosse a imagem que se formou em sua mente.
- Fique com o cartão - Disse dando de ombros - Pense sobre isso nos próximos dias, você vai tomar a decisão certa.
- Eu não... - Ele tentou recusar, mas fiz um gesto para ele parar - Obrigado - sorriu, o mesmo sorriso triste que não alcançava os olhos. Assenti com a cabeça e comecei a andar - Maryon - Olhei para trás quando me chamou - Eu não te odeio - Não pude manter a surpresa fora do meu rosto quando disse isso, mas então ele continuou - Você foi um fator para nosso pai ir embora, mas a escolha de nos deixar, foi dele e não sua.
Incapaz de formular qualquer resposta, acenei com a cabeça e voltei a andar lentamente pelo corredor, indo para onde meu marido e filho estavam. Sentei ao lado de John sem dizer uma palavra e comecei a acariciar os cabelos de Jack. Depois de alguns minutos de silêncio, ele finalmente falou.
- Como está Will?
- Dormindo - Respondi simplesmente, mas depois de alguns momentos acrescentei - Ele perguntou de você.
John não disse nada, mas seus ombros caíram com a informação. Eu sabia que ele estava com medo de ver Will em uma cama de hospital novamente. Isso vinha acontecendo cada vez com mais frequência nos últimos meses. Apertei seu ombro com algo que imaginei ser um toque reconfortante e ele retribuiu com um sorriso.
Alguns minutos depois, Zach passou por mim acompanhado por Karen, que parecia ter acabado de acordar, mas ainda parecia muito cansada. Eles entraram no quarto de Will e fecharam a porta atrás de si. Eu ainda podia sentir a umidade das lágrimas do rapaz em minha blusa e a lembrança da forma como ele havia quebrado, trazia um nó na minha garganta. Mas enquanto observava Jack dormir pacificamente, e por mais egoísta que fosse, não podia deixar de pensar que era mil vezes melhor Will naquele quarto que meu garotinho.
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