Capítulo 27
Charles recebeu a notícia na madrugada do dia seguinte. Um de seus camaradas entrou nos seus aposentos no meio da noite, com um olhar desesperado e as mãos trêmulas. Charles ainda estava sonolento, mas se pôs de pé, procurando uma camiseta para cobrir o peito nu deformado.
— Comandante, comandante! — Ele disse nervoso acendendo as lamparinas na parede, fazendo Charles quase ficar cego com a claridade por um momento.— É uma carta do parlamento, o senhor deve comparecer agora mesmo.
Charles ergueu a sobrancelha indo até o rapaz franzino e pegando o papel de carta em sua mão fria e suada.
— Mas o meu julgamento é daqui três dias, o que aconteceu? — Ele perguntou abaixando o papel e olhando para o rapaz.
Charles esperava uma resposta, mas tudo que teve foi um abaixar de ombros e uma negação com a cabeça.
O parlamento não funcionava naquele horário e ele sabia que se estava sendo requisitado no meio da noite, algo grave teria acontecido. Vestiu seu uniforme, calçou as botas e pegou uma cartola preta que estava no armário, um tanto empoeirada. Charles saiu pelo corredor, descendo as escadas. Lá fora uma carruagem já lhe aguardava e quando o cocheiro o viu se aproximar, prestou uma continência e abriu a porta pequena para que ele entrasse.
— Para o parlamento, Cassian.— Ordenou e o cocheiro pôs a carruagem em movimento.
Não demorou muito para que parasse de se movimentar e Charles desceu com a ajuda de sua bengala. O palácio estava iluminado e parecia movimentado. Ele nunca ficava nervoso ou ansioso, mas naquele momento um mal pressentimento lhe causava arrepios na nuca.
Ele entrou no palacete e foi recebido por um criado, que pegou o chapéu e seu casaco. Guiou Charles de maneira desnecessária até o gabinete, o que ele sabia fazer sozinho a bons longos quatro anos.
A sala estava lotada. Lordes aos montes e a presença de todos os Duques e quando ele pensou em procurar, encontrou Alexey no fundo da mesa. Até mesmo o pequeno conde Gabriel, vestido a caráter estava lá. Damian parecia um cão raivoso com uma cara tão contorcida que era como se alguém estivesse pisando em seu pé. O barulho cessou assim que Charles se juntou a mesa, fazendo uma reverência.
Domina foi o primeiro a se levantar , batendo na mesa e apontando o dedo para ele.
— Assassino! — Gritou.
Alexey se levantou imediatamente, e ao lado do colega ele era maior e mais forte.
— Sente-se, Damian.— Ele disse entre os dentes no ouvido do conde de Meanbling.
Os lordes voltaram a falar e o som se tornou alto demais para escutar o que Alexey havia dito na primeira vez, então ele gritou mais alto, batendo na mesa.
— Ordem! Ordem! São Lordes ou animais? — Disse fazendo todos calarem a boca.
O Lorde de Devesport se levantou. A pele negra brilhava a luz da lamparina amarela. Ele ajeitou o traje e se curvou diante dos condes, voltando o olhar para Charles que tinha uma expressão séria para todos.
— Dou início ao julgamento de Charles Yurian, comandante do exército real da Teslia. Capitão da guarda real e campeão do Conde.
Charles ergueu a sobrancelha se aproximando da mesa.
— Meu julgamento só é daqui três dias, o que está acontecendo?
— Comandante Yurian, você jura dizer a verdade, somente a verdade diante da bandeira de seu país e perante aos Condes, Duques e Lordes presentes neste parlamento?
Lorde Carlisle perguntou se voltando para Charles. Mesmo relutante, Charles levou a mão ao peito, do lado esquerdo olhou para Alexey e para a bandeira atrás dele
— Sim, eu juro.— Respondeu.
— Comandante, o senhor confessa que agrediu covardemente o Lorde Hastings?
Charles trincou o maxilar erguendo o queixo.
— Fiz isso em virtude de defesa.— Declarou.
— Defesa de quê, comandante? — O Lorde de Winston perguntou se voltando para ele.
— A rainha havia sido gravemente ofendida pelo Lorde, se estava em meu dever como protetor dela enquanto ela estivesse em solo Tesliano, fiz o que fiz pela sua honra.
— Diz as palavras fiz o que fiz para não proferir a palavra matar, comandante? — Lorde Carlisle perguntou.
Charles se virou para ele com as sobrancelhas juntas e a testa grunhida. Ele abriu a boca, mas antes que dissesse algo, Lorde Belinghton se levantou.
— Com que propósito o senhor pensou em conseguir algo matando o Lorde Hastings, Comandante?
— Eu não o matei! — Charles gritou apertando o punho.
— Pois ele está morto, comandante.— O Lorde Belinghton disse em voz alta.
Charles engoliu seco.
— Impossível...— Charles disse baixo.
— Impossível? — O Lorde de Hall-Grimmes se levantou, chamando a atenção dele.— O senhor quebrou suas duas costelas, e uma delas perfurou seu pulmão. Um braço quebrado, o maxilar fraturado e o ombro deslocado. Que homem aguentaria tal ato?
— Mas eu...— Charles tentou dizer desesperado.
— O senhor sabia que Lorde Hastings era um homem doente? — Lorde Carlisle disse.— O senhor agrediu um homem doente, Comandante.
— Eu...
— Sabe das leis que cumprem esse país, Comandante.— Belinghton disse.— O senhor como um homem que serviu a bandeira por tanto tempo, tem ciência de seus atos, não tem?
— Companheiros — O conde Alexey se levantou. Charles sabia que quando ele dava aquele sorriso, ele significava que estava nervoso. E isso não era algo bom.— Todos somos homens cientes da lei. Nós as fizemos e cumprimos, este caso o correto é dar aval a votação da sentença.
Charles estava arfando, o maxilar trincado e os olhos atentos. Alexey estava certo. A votação era sua única saída e sabia também, que era como se estivesse sendo jogado aos lobos. Os homens começaram a debater entre si e Alexey pareceu discutir com Damian que estava nervoso. Depois de longos minutos, Lorde Belinghton se levantou, ajeitando o colarinho.
— Por meio da votação, os lordes declaram o comandante Charles Yurian, culpado.— Charles respirou fundo fechando os olhos.— A votação por meio dos Duques declaram...culpado.— Charles abriu os olhos erguendo o queixo. O que pesava era o voto dos condes, se tivesse pelo menos isso, estaria a salvo. Lorde Belinghton continuou. — A votação por meio dos Condes, dois votos contra um, declaram Charles Yurian, Culpado. Com uma sentença à morte por crime de assassinato.
Charles suspirou, como se toda sua força estivesse indo embora naquele momento. Ele olhou nos olhos de Alexey e eles brilhavam. Os lábios finos contraídos enquanto ele engolia seco.
— Morte por fuzilamento.— Belinghton disse.— Guardas, levem o senhor Yurian.
Dois guardas pararam ao lado de Charles, segurando seu braço, enquanto ele se curvava. Foi levado para fora do gabinete. Alexey se levantou jogando a taça de vinho na parede e caminhando na direção da janela. Enquanto seguia pelo corredor, Charles tentou manter a calma. Sabia que iria ser julgado, mas não sabia que tinha matado o lorde. Uma culpa se instalou em seu 'peito, martelando até atrás da orelha. Ele havia espancado cruelmente um homem doente, se soubesse desse detalhe não haveria exagerado. Mas era tarde demais para arrependimentos. Nem ao menos tivera a possibilidade de agradecer Alexey por tudo que fizera por ele. Sabia que ele havia tentado e tudo que queria dizer era que ele não tinha culpa. Pior ainda era saber que isso iria chegar a Acsa e ele torceu para que demorasse o bastante para ela já está estabilizada em seu reino, reinando como a rainha que nasceu para ser.
Charles olhou para a porta da saída que levava para o campo de fuzilamento e fez uma expressão de confusa para os guardas, mas não disse nada. Eles continuaram seguindo até o fundo do corredor, subiram dois lances de andares até o terceiro, pararam em uma sala. Os guardas soltaram Charles, pararam em sua frente e prestaram uma continência. Charles respondeu e encarou a porta do consultório médico. Demorou alguns segundos, mas girou a maçaneta, entrando na sala e encarando Dr.Guts com as vestes e uma cadeira no centro. Ele parecia mexer em uma caixa com medicamentos. Charles entrou com cautela, ainda sem entender nada.
— Comandante.— Guts levou os dois dedos a testa e abaixou. Charles fez o mesmo.— Não poderia deixar que morresse daquela forma.
Charles fechou os olhos respirando fundo, depois abrindo e caminhando até ele, com um pequeno sorriso. Guts esticou a mão na direção dele e Charles apertou firme, se sentando na cadeira. Guts foi ao braço esquerdo dele, puxando a manga da camisa até o braço e pegando na mesa do lado uma seringa. Ele apertou ela na base e algumas gotas do líquido escaparam pela ponta fina da agulha. Guts se virou para Charles.
— Garanto que não sentirá dor.— Ele disse. Charles concordou com a cabeça, olhando Guts se posicionar para injetar a agulha em sua veia.— Foi uma honra servir com o senhor, Comandante.
— Obrigado, Guts.— Ele agradeceu e seu rosto realmente tinha uma expressão de gratidão.
A agulha foi injetada pela pele e Charles olhou para cima, encarando a lâmpada amarela. Ele fechou os olhos devagar, enquanto sentia o próprio coração para de bater aos poucos e no fundo dele, viu o sorriso dela por fim, morrendo.
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