Capítulo 22

O parlamento dos lordes é um corpo legislativo supremo dos condados e de todo território da Teslia. A Teslia por si só tem soberania parlamentar, o que lhe confere poder soberano sobre todos os outros corpos políticos dos três condados e seus territórios. É encabeçado pelo poder supremo dos três Condes, sendo eles os senhores de Meanbling, Sardia e Gasblury.  O parlamento é composto por duas câmaras, sendo a câmara alta denominada por Câmara suprema da Teslia, e a câmara baixa, onde quem tem poder parlamentar é o exército da Teslia. As duas câmaras se reúnem geralmente no grande palácio de Niepa. Por ato constitucional todos os lordes e duques do reino, incluindo os três condes, são membros da Câmara. E assim também fazem parte do corpo legislativo. O Parlamento foi formado em 391 depois de Barkov, e após a ratificação do tratado de paz entre os cinco reinos, quando o Parlamento de Gasblury, Sardia e Meanbling passaram a ser um único parlamento.  O corpo de Lordes era dividido em dois, entre eles os Lordes do povo, que não são da classe nobre nem de alta classe, geralmente senhores trabalhadores de terras que estão mais em contato com o povo, lhe dando emprego nos campos, fábricas ou nas ferrovias. E os Lordes Temporais, estes, pelo contrário, eram todos membros da nobreza e eram de poder hereditários. Os direitos de lugares hereditários no parlamento vinham de suas famílias ou pela indicação de um dos condes que lhe sedia esse poder. As leis sancionadas pelo parlamento Tesliano são válidas em todo o país, porém algumas leis não são no território de Meanbling, por conta de um acordo político ratificado em 403, no qual é bem claro que o condado de Meanbling possui uma legislatura particular, mas isso só inibe algumas leis, entre ela referente a escravidão, que por mais que seja baixa referente ao ano de 495, ainda existe naquele condado.

Os Condes estavam sentados ao meio da mesa, incluindo o pequeno Conde Gabriel de apenas sete anos. O conde Damian, com seu olhar frio e o conde Alexey. Os lordes, classe mais baixa e os Duques. Os comandantes do exército e capitães também estavam presentes representando a câmara baixa. Charles estava no fundo, não na mesa com o conselho, e sim afastado. Em seu uniforme vermelho, ele não retirou as luvas pretas de couro e se sentou apoiando o braço na bengala.  O olhar analisando enquanto os Lordes falavam e os Duques observavam calados até seu momento de falar e tudo isso era referente a uma descoberta feita sobre o reino de Fihel. Charles escutou calado até que foi a vez do exército dar sua voz, mas Charles não foi levado em consideração, já que seus superiores tomaram a voz. Ao fim, depois de longas três horas, quando estava quase agradecendo aos céus, a Duskin e Barkov, ele se levantou pegando seu chapéu para se retirar junto de seus camaradas e companheiros, quando um informante entrou na sala para entregar aos condes uma carta enviada de Ilya, Charles parou no meio do caminho e se virou aguardando enquanto Alexey lia a carta em voz alta.

Aquilo não era uma boa notícia e depois da reunião toda ser baseado em um detalhe em específico, aquela informação chegada de ultima hora, desmoronou um muro de organização de meses. Os lordes andavam de um lado para o outro, enquanto os duques pensavam em algo. Mas a única pessoa quieta naquela sala, com um olhar gélido na direção da janela, encarando o jardim lá fora, era Alexey e Charles não sabia se aquilo era algo bom, ou ruim.

Era um baile, por mais que Katlin dissesse que não era. Se havia membros da nobreza e do conselho bebendo e dançando, para Acsa, era um baile. Ela estava com seu vestido vermelho, trabalhado somente em brilhantes e renda. Estava parecendo o cabelo de Katlin, brilhante e fogoso, como a chama de uma vela. As luvas pretas iam até os cotovelos, e não havia joia lhe rodeando o pescoço aquela noite, lhe deixando totalmente nu. A melhor notícia daquela semana que passara a cirurgia, foi que ela não havia ficado cega. E isso, já era um detalhe em ser levado em consideração.

Considerou também o conselho da amiga de não ingerir nem uma gota de álcool enquanto estivesse tomando a medicação para as dores de cabeça, deste modo, se contentou com sua xícara de chá de limão rosa, enquanto estava sentada no fundo se perguntando o que todos aqueles homens de terno estavam tramando em suas línguas perigosas e olhares traiçoeiros. Charles esteve em seu cômodo todas as noites após aquela noite, lendo para ela ou contando como havia sido seu dia e como estava melhorando do joelho aos poucos. Depois de combinarem com Katlin um limite de horário estabelecido pela própria amiga, para que os dois se encontrassem sem chamar atenção de todos do palácio, Acsa tentou não buscar a presença do comandante naquele salão, pois sabia que se o encontrasse, correria até ele.

— Então essa beleza exótica de olhos azuis é a própria princesa de Ilya em pessoa.— A voz atrás de Acsa fez ela se virar para encontrar o homem bem vestido em branco e gravata cor de champanhe. O bigode era predominante apenas na parte de cima, lhe cobrindo boa parte dos lábios, deixando o queixo e o maxilar nus. As sobrancelhas grossas negras tentavam compensar a falta de cabelo na cabeça, já que o homem, mesmo que fosse tão novo quanto Acsa, estava com entradas de calvície nas duas laterais da cabeça.— Devo dizer que estou encantado.

Ele segurou a mão de Acsa em uma altura para que seus lábios tocassem o tecido de sua luva. Ela lhe deu um sorriso tímido puxando a mão novamente para o colo, onde a xícara de chá estava.

— Não conheço o senhor, conheço?

— De forma alguma. — Respondeu se sentando ao lado dela.— Nunca fomos apresentados, mileide.

— Alteza.— Ela disse olhando para o lado.— Não sou uma lady, nem duquesa, sou uma regente.

— Ah, sim, claro.— Ele pareceu envergonhado bebendo o próprio whisky.— Alteza. Sou o Lorde Hastings, ao seu dispor.— Houve um silêncio entre eles e Acsa se sentiu incomodada com os olhos possessivos em cima dela o tempo todo.— Gostaria de dançar, alteza?

— Não, mas obrigada pela companhia, milorde.— Disse se levantando e pondo a xícara sobre a mesa, se curvando com um aceno para o lorde.— Mas me sinto bastante indisposta essa noite, deste modo, peço sua licença. Vou me deitar.

Ela saiu dando as costas, enquanto subia as escadas para o segundo andar, sentiu a presença ainda atrás de si, olhando a figura por trás do ombro, ela respirou fundo revirando os olhos.

— Mas já? Ainda é cedo, alteza.— Hastings disse quando chegaram ao corredor dos aposentos e Acsa pensou em avisar a um guarda para que levassem o lorde embora, pois ele não tinha o direito de segui-la quando já havia dispensando sua presença. Isso era inaceitável. Por isso Acsa ignorou a pergunta dele e continuou andando, até que ele segurou seu pulso, de modo que Acsa foi freada e se virou para ele, que veio em certa velocidade em sua direção, fazendo com que ela desviasse dele com os olhos arregalados. Ela se soltou voltando a andar mais rápido.— Você... — Chamou passando por ela mais rápido e parando em sua frente, barrando o caminho que ela levaria para chegar ao quarto.— Você aí, coisinha vulgar e empinada.

— Como disse?

Acsa poderia aceitar todo tipo de ofensa proferida dos lábios do Lorde, mas empinada foi uma que ela não soube administrar muito bem. Ela olhou bem para ele, de cima a baixo, com a sobrancelha erguida.

— Acho que me deve o mínimo de respeito, considerando que está em minha terra.— Hastings disse indo em sua direção.

— Sou uma princesa, quem me deve respeito aqui, milorde, é o senhor.— Respondeu erguendo o queixo.

— Acho que não me ouviu bem.— Disse sorrindo.—  Permita-me repetir. Disse que não está em sua terra. Aqui sou um Lorde, um dos mais renomados.

— Ficaria envergonhada de me dar ao luxo de conhecer o pior de vocês, neste caso.

Hastings bufou de raiva, apertando o punho onde o couro das luvas instalara enquanto ele apertava.

— Ah, sua puritana insolente, deveria arrancar sua língua fora por tamanha ultraje neste linguajar.

— Uma hora sou vulgar, na outra, puritana— Acsa pôs as mãos na cintura abaixando os ombros.—  Decida-se, milorde.

— Vou me decidir esbofeteando essa sua face, para lhe ensinar como respeitar um homem.

Hastings ergueu o braço para ameaçá-la com um tapa. Katlin parou na frente de Hastings ficando entre ele e Acsa, apenas para segurar a mão do Lorde no ar.

— Toque um só dedo em vossa alteza, e eu mesma estapeio o senhor aqui mesmo.— Ela disse entre os dentes.

— Criada, se ponha no seu lugar!— Hastings gritou se soltando da mão de Katlin e indo dois passos para trás, falando alto.— Essa princesa, nem para cuidar da escrava consegue?

— A escravidão acabou a cem anos, seu homem estúpido.— Katlin continuava na frente de Acsa como um escudo vivo.—  Agora abaixe a mão, pode ser um Lorde ou até mesmo um duque, mas está diante de uma princesa, sua classe está tão baixa a dela quanto a minha está a sua e eu, milorde, não tenho nada a perder. E se você encostar um só dedo nela, não irei hesitar.

Hastings levou o olhar a Acsa, depois a Katlin. Depois olhou pelo corredor vazio se havia alguém, mas estavam sozinhos. Ele sorriu frustrado, dando de ombros.

— Quer saber? Pouco me importa as duas. Você, terá o que merece e se durar pouco mais de dois dias neste castelo depois de sua insolência, será de muita sorte — Sorriu apontando para Acsa.— Quanto a você, espero que aprenda a pelo menos se defender sozinha agora que será uma rainha.

— O que quis dizer? — Acsa saiu de trás de Katlin, indo na direção dele.

— Você entendeu o que eu disse.— Hastings ameaçou dar as costas para sair, mas Acsa o impediu, segurando ele pelo colarinho.

— Não, não entendi — Gritou.—  Diga-me em voz alta.

— Nesta madrugada o rei de Ilya se matou.— Hastings falou alto.—  Talvez o desgosto de ter uma filha tão fraca como você, o levou a se jogar do quinto andar.

Acsa ficou parada, paralisada. Os olhos azuis arregalados na direção de Hastings quando ele se soltou dela e se afastou, passando a mão nos cabelos bagunçados.

— Está mentindo, porco imundo.— Gritou indo na direção dele, que ficou preso na parede e encurralado por ela.

— Me chame de porco novamente e a faço engolir os próprios dentes, para que não sobre nem um em sua boca!

— Sugiro que saia agora.— Katlin segurou Acsa pelos ombros a puxando para trás.

— E eu sugiro que...—  Hastings ia completar quando um soldado se juntou a eles no corredor.

— Milorde...— Disse.— Perdoe-me a intromissão, mas o senhor é requisitado no salão pelo conde Damian.

Hastings respirou fundo como quem acaba de ser salvo e arrumou o paletó amarrotado, se curvando para Acsa que estava em choque nos braços de Katlin, tremendo.

— Sim, Francis, Claro — Disse.—  Com licença, Vossa alteza.

— Saía.— Katlin quase rugiu para ele.

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