c a p í t u l o - 🇻 🇮 🇮
Leia ouvindo Warpath: Tim Halperin (se você gosta, juro que será bom) e depois I Wanna Be Your Slave: Maneskin (música do Bucky)
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As coisas poderiam ser mais simples. É claro que poderiam. Mas para mim, não.
Aquele dia em específico até começou bem. Acordei, me espreguiçando. Levantei e percebi que Bucky não estava mais no apartamento, entretanto, havia deixado um pequeno bilhete em cima da mesa que dizia:
"Obrigado pela noite, J.B.B."
Em uma caligrafia de dar inveja. Agora entendi porque ele riu da minha letra. Toquei o papel sentindo sua textura, feliz pela diversão da noite passada, mas horrível com a dor de cabeça que ela trouxe. Então as coisas começaram a desandar um pouco: estava atrasada para o trabalho, o elevador pifou e tive que descer sete andares de escada correndo. Nenhum táxi parava para mim e no ódio, decidi correr até o museu.
Cheguei me sentindo um lixo, mas tudo bem. E você pode pensar: oh, sim, esse foi o seu grande problema do dia? Se atrasar? Ah, por favor, achei que tivesse aprendido um pouco mais sobre a minha vida.
Não. As coisas só estavam piorando.
Vanessa não estava nas mesas de atendimento, porém imaginei que ela estivesse entre as estantes ajudando algum soldado musculoso a encontrar alguma coisa embaixo da sua saia. Mas como eu estava atrasada, ignorei completamente algumas pessoas que rondavam a mesa de atendimento e fui para o subsolo.
Desci cada degrau da escadaria com um mau pressentimento. Diferente daquele que eu falei anteriormente, esse não era só uma decepção do dia a dia. Era aquele sentimento que fazia os pelos do braço e da nuca arrepiarem em um aviso de perigo. Alguma coisa ou algo estava acontecendo. Apenas não sabia o que era.
Entrei na sala, colocando minha digital na porta para liberar. Liguei as luzes brancas suaves, iluminando todo o espaço silencioso. Tudo parecia normal. Gelado e quieto. Os documentos estavam trancados a senha dentro do cofre de vidro e as outras folhas estavam sobre a mesa central.
Silêncio.
Esse era um dos problemas. O local estava silencioso demais. Não ouvia ninguém falando, nem passos, nem vibrações para lá e para cá. Absolutamente ninguém. Aquilo era estranho demais, mas eu não pude deixar de imaginar a possibilidade de haver um feriado do qual eu não sabia ou um treinamento que eu desconhecia. Seja lá qual fosse o ponto, eu estava fora da jogada.
Caminhei até ela e confirmei se todas as folhas estavam lá. Por um desencargo de consciência, tirei novas fotos de todas, rapidamente, colocando-as na nuvem do meu celular. Já tínhamos encontrado pelo menos 50 nomes, todos mortos com o passar dos anos e, segundo a história, todos pareciam ser cidadãos comuns. Mas eu não acreditava nisso. Sabia que havia algo por trás.
Então, fiz uma coisa. Ah, Deus. Talvez eu pudesse ser demitida, expulsa, presa ou até morta, mas depois de tudo o que aconteceu e do que eu sabia, aquele caderno não podia cair nas mãos erradas. Realmente não era uma simples restauração e eu imaginava que a minha vida pudesse estar no meio. Terminei o processo e joguei algumas folhas antigas em cima da mesa.
O pressentimento, o aperto no peito, ainda continuava. Eu não estava gostando daquilo e, por um segundo, me perguntei se era um pressentimento ou eu estava enfartando ou algo assim. Sei lá. Não sabia muito bem o que estava acontecendo com meu corpo aquela manhã. Mas então, tudo se comprovou com o som que veio nos segundos seguintes: uma explosão contra a porta de vidro de entrada.
Não foi simplesmente uma batida, a porta quebrando ou algo assim. Foi o som de uma bomba que estilhaçou o vidro da porta em uma onda de luzes e pressão, lançando milhares de partículas para todos os lados e as folhas do arquivo e a mim contra o chão. Aquilo doeu.
Cada pedaço do meu corpo ardeu quando senti o impacto gelado e duro com o chão. Fiquei tonta por alguns segundos, com a cabeça latejando. Soltei um gemido de dor.
Que porra era aquela? O que aconteceu?
Pisquei lentamente, inspirando profundamente para meus pulmões voltarem a funcionar. Quando consegui focar novamente, vi a forma de um homem, alto e magro, envolto em um uniforme vermelho sangue de couro. Não era possível reconhecê-lo pois usava uma máscara sobre o rosto, mas pela forma como ele mexeu a cabeça, estalando o pescoço, sabia que não estava ali por um bom motivo.
Ele caminhou devagar sobre os cacos, segurando uma arma poderosa: grande e silenciosa. Não tão silenciosa como a sua entrada, obviamente, mas aquilo ali... Sabia que não era rastreável e não dava pra comprar em qualquer loja de armamento de esquina.
Sua posição era de plena atenção e, quando me viu, mirou a arma em mim.
Ah, droga. Ergui as mãos e me levantei devagar, descalça, me preparando.
Eu não gostava dessas situações e com certeza as achava desconfortáveis, mas talvez eu tenha esquecido de falar que meu pai havia sido um soldado. Um grande soldado.
Esse era o segundo motivo pelo qual eu trabalhava aqui, dentro de uma instituição militar. Eu estava completamente enferrujada, mas sempre mantinha uma pistola dentro da sala e recebia treinamento mensal. O que aconteceu com meus pais foi só um incentivo maior para que eu aprendesse a me defender. E parece que aquele momento chegou. Eu só precisava chegar até a arma.
— Sou Samantha Prigget! — me anunciei, fazendo o cara dar outro passo silencioso, quebrando pequenos cacos de vidro abaixo de seus pés. — O que você quer?
— Você, morta — reverberou com uma voz estrondosa.
Ele engatilhou a arma. Sabia que iria me matar e senti aquele arrepio na nuca. Então, me joguei para trás de um dos balcões de concreto bem a tempo de desviar da chuva de balas que veio sobre mim. Eu só precisava chegar até o outro balcão para pegar minha arma. Ouvi vidro quebrando, metal estalando e o concreto se soltando. O maldito soldado vermelho continuava a atirar, quase atravessando aquele bloco de concreto.
Quando fiquei fora do seu campo de visão, ele correu até o local onde eu estava em uma velocidade surpreendente.
Me levantei e com um grito, peguei impulso em cima do balcão e me joguei em cima do soldado, chutando ao lado do seu rosto com um giro e batendo na arma enorme, fazendo ele soltar. Mas apesar disso, sabia que ele era forte. Ele nem tremeu com o meu chute, enquanto minha perna ardia com o calor e a dor que surgiu. Ele jogou a arma no chão e tentou me acertar golpes, rápidos, ágeis. Seja lá onde tivesse treinado, era bom.
Mirou os dedos em pontos estratégicos do meu corpo, aqueles que eu sabia que doeriam, mas eu já havia sentido essa dor antes. Enquanto meu pai me ensinava a lutar. Desviei seus ataques enquanto usava dos meus pontos fortes, cotovelo, antebraço e velocidade. Entre socos giratórios, joelhadas e chutes de muay thai, ele me atacou por cima, então puxou um canivete, afiadíssimo como uma navalha.
Senti o fio da lâmina passar por perto da minha pele, cortando alguns pelos, enquanto eu me defendia de suas mãos rápidas. Me apoiei no balcão e num impulso empurrei ele, chutando cruzado a mão com o canivete e fazendo a ferramenta voar longe. Tentei usar da minha força e o jeito para aplicar uma guilhotina, passando as pernas em volta do seu tronco, apertando os braços em volta de sua cabeça com toda a força que eu tinha. Ele se debateu, se aproximando de algumas estantes, então senti o impacto de uma das paredes, me fazendo soltá-lo o suficiente para que ele me segurasse pela cintura e me jogasse para o alto, descendo com um soco diretamente em minhas costelas com um estalo.
Ah, naquela hora, eu tive certeza que alguma coisa havia quebrado ali.
AU! A dor se espalhou pelo meu peito me fazendo perder todo o ar. Fui lançada para trás e caí como uma maçã podre no chão. Então, ele me pegou pelo pé e me lançou para o outro lado da sala, voando. Caí em cima de uma das mesas de metal, derrubando-a, sentindo meu corpo inteiro arder de dor. Mas apesar da dor imensa, estava mais próxima do balcão novamente. Me arrastei pelo chão até encontrar a pistola silenciosa que meu pai havia me dado.
Deitada, me preparei para a chegada do assassino. Virei de costas para o chão tentando respirar conforme a dor atacava cada pedaço do meu corpo. Ouvi seus pés próximos, lentos, como se estivesse aproveitando a caçada. Ele era um leão selvagem e perigoso, eu, apenas um antílope, prestes a ser devorado.
Eu não queria morrer. Não queria. Não podia. Não. Não. Não.
Quando seu corpo apareceu em cima do balcão, atirei várias vezes, fazendo ele pular e desviar. Então, ouvi ele sacar outra arma e engatilhar. Estava ferrada. Morta.
Merda! Merda! Merda!
Por que as coisas tinham que acabar assim?
— Samantha! — ouvi um grito desesperado de uma voz conhecida.
Então, o som de uma arma sendo sacada e engatilhada. Me arrastei para tentar ver o que acontecia, mas eu me sentia perdendo a consciência por conta da dor. Vi Bucky atirar com uma pistola em direção ao atirador para chamar sua atenção, o que ele conseguiu. Junto com a raiva do homem de vermelho.
— Sabe, talvez isso não tenha sido uma boa ideia, Elmo — disse Bucky jogando o casaco de lado, com fúria nos olhos, fazendo referência ao personagem de Vila Sésamo.
No segundo seguinte, vi apenas raiva e ódio nos olhos de Bucky. De um jeito assustador, ele balançou o braço biônico, como se o preparasse, fazendo um suave barulho mecânico. E então, ambos correram um em direção do outro e começaram uma luta rápida demais para meus olhos acompanharem.
Bucky tinha talento nas artes marciais. E não estou falando apenas de um cara que era faixa preta em karatê ou algo assim. Ele era a própria luta, bruto, gigante, mas leve como uma pena. O seu oponente parecia mais preparado com a força. Eles lutavam entre socos, chutes, giros e gritos, sacando armas e desarmando, com facas e qualquer outra coisa à vista ou nos bolsos que pudesse ser usada como arma. Primeiro, Bucky foi com um soco direto, que o soldado vermelho desviou sem dificuldade, tentando acertá-lo no estômago, mas interceptado pelo braço esquerdo.
O soldado vermelho sacou uma pistola e tentou acertá-lo, mas Bucky se defendeu erguendo o braço biônico e com um chute giratório fez a arma voar longe. Naquele momento, o vi como o soldado que ele era e o que ele foi na guerra. Os olhos semicerrados, os punhos altos segurando afiadas e pequenas facas, em uma posição intensa. Ele era rebelde, destruidor, preparado para matar, mais do que qualquer um.
Ele parecia assombrado, cruel, furioso.
Ele desferiu uma sequência de ataques em cima do atirador vermelho com rapidez, precisão e força. O atirador foi jogado contra a parede, quebrando-a em milhares de pedaços, fazendo a luz da sala piscar. Então, o maldito se levantou dos escombros lentamente, como se aquilo não fosse nada. Ele havia atravessado uma parede de concreto e estava inteiro, com alguns arranhões e sem a máscara. Agora, mostrava um belo rosto branco e cruel, com grandes olhos escuros e cabelo louro, acompanhado de uma grande cicatriz na bochecha.
A dor ainda se espalhava pelo meu corpo, mas me obriguei a ignorá-la. Me sentei, respirando e analisando meus estragos. Tinha certeza que uma ou duas costelas estavam quebradas. Estava toda cortada do vidro e minha mão ardia. Minha perna e meus braços queimavam devido ao impacto que haviam recebido de seus ataques.
Então, o soldado gritou e correu em direção de Bucky, continuando a luta. Ali, não havia vitorioso. Ali, haveria um único sobrevivente no final.
Me levantei devagar, deixando meu corpo se acostumar com a dor, enquanto os dois homens lutavam perto de mim. A cada soco, a cada impacto, o som se espalhava pela sala com um eco profundo. Os dois estavam com as respirações entrecortadas, porém extremamente focados. Concentrados em matar.
Então, em um descuido, uma pequena olhada rápida para mim, Bucky levou uma rasteira que o fez cair no chão. O vermelho subiu nele e apertou seu pescoço. Ele tentou lutar contra. Sabia que poderia sair, mas também sabia que aquilo acabaria com alguém morto.
E eu não queria que fosse James. Não poderia vê-lo morrer. Naquele momento, eu precisava de toda a minha força e tudo o que eu tinha para evitar que aquilo acontecesse. Eu precisava das sombras.
— NÃO! — gritei, sofridamente.
Então, apesar da dor, corri até eles e pulei nas costas do soldado vermelho, a dor se espalhando pelo meu corpo. Ele pareceu surpreso, mas não deu tempo de agir antes que eu colocasse minhas duas mãos em seu rosto, pedindo às sombras que me ajudassem com aquilo. Tentando controlá-las. Senti-o me segurar, mas sem força, enquanto as sombras nos abraçavam e nos acariciavam.
Fechei os olhos e apenas absorvi.
Vi o soldado vermelho lutar em guerras, fardado em uniforme americano.
Havia o rosto de uma mulher, uma loira com olhos angelicais, sorriso fofo e tímido. Linda, vestia um longo vestido rosa. Parecia vinda diretamente dos meus arquivos antigos. Bela e fofa, ela dava os braços para o soldado.
Vi também uma emboscada em meio a guerra. Muitos homens e soldados sendo mortos a tiros e explosões destruidoras. Ele caiu, ferido, semimorto, quando um grupo de homens apareceu sobre ele. Com um símbolo sobre o casaco, igual ao do caderno que tínhamos, era aquela cobra, novamente.
— Wir haben unsere erste — disse o homem em alemão. "Temos o nosso primeiro".
Vi mais morte e destruição pelo seu caminho. Dor. Sofrimento. Tiros precisos em cima de diversas pessoas. Mortes. Gritos. Tiros. Mortes. Missões nas quais ele era ordenado a matar sem questionar.
Senti as veias queimando, a mesma sensação que Bucky tinha. Era como se estivesse sendo queimada viva e aquilo era terrível. Novamente, aquela sensação torturosa estava fazendo parte da minha vida e estava odiando, implorando para que acabasse. Que me matasse logo ou me deixasse ir.
— HAIL PHYTON! — o ouvi gritar junto a outras dezenas de pessoas vestindo o mesmo tom de cor de roupa que ele enquanto marchavam.
Deixei cada uma das sensações fazer parte de mim em uma onde cruel de dor. Senti as sombras saindo dos meus olhos e dos meus dedos. Mas agora, não me sentia sem controle. Pela primeira vez, as sombras não eram minhas inimigas. Vi o soldado vermelho levantar, comigo nos ombros, soltando o pescoço de Bucky, que se levantou rapidamente. E então, o atirador caiu de joelhos, desfalecendo com o rosto no chão, apagado. Se estava morto ou não, eu não saberia.
Soltei minhas mãos e fiquei em pé apesar da dor. Senti todas as sombras à minha volta, percebendo que as controlava. Quando Bucky precisou de mim, eu as controlei. Ele me observava com surpresa e medo. Enquanto isso, senti cada pedaço de mim tremer e arder. Então, pedi às sombras que desaparecessem e todas as partículas que rodavam ao meu redor voltaram para mim, para os meus dedos.
— Sam, você está bem? — Bucky falou comigo.
Eu não consegui responder. Não consegui prestar atenção. Ouvia o som irritante de um alarme e dezenas de passos rápidos em cima do andar. Meu corpo estava dolorido e a minha alma... perdida. Caí de joelhos também e Bucky se aproximou de mim com rapidez, me pegando pelos braços.
— Sam! — me chamou ele. — SAM!
Seus gritos foram as últimas coisas que ouvi antes do meu mundo se apagar e eu me deixar levar por um sono leve, indolor. Ali era tão aconchegante e obscuro, tão confortável. Que não resisti e deixei as ondas me levarem.
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