Capítulo 5
2015
Verona, Itália
A missa estava rolando e eu percebi que Maximiliano parecia abatido, como se não tivesse conseguido dormir direito. Bocejava e coçava os olhos.
— Você não dormiu? — perguntei.
— O mascarado voltou e me assustou novamente — suspirou — Estou realmente ficando assustado.
— Você precisa dizer a diretora, tá ficando sério — retruquei.
— Silêncio vocês dois — a freira nos repreendeu.
Nos calamos e seguimos a missa em dizer uma única palavra. Depois seguimos para o refeitório. Vi Perseus em sua mesa de costume, em uma conversa com Xavier. Eles dois sorriam um para o outro. Sorrir ao lembrar que roubamos o sorvete de ontem.
— Tá sorrindo assim por quê? — Sam perguntou curiosa.
— Tão curiosa — retruquei e ela riu
— Sou! — disse empolgada.
— Gente, acreditam que alguém roubou o sorvete da cozinha? — Lodovica disse ao chegar.
— Que? — Max perguntou incrédulo.
— Ouvi uma das freiras comentando, roubaram um pote de sorvete. Elas sempre contam parece — fez careta.
Bebi meu suco sem dizer nada.
— Temos um ladrãozinho de sorvete no nosso meio, que hilário — Raphael riu.
— Quem roubaria sorvete, gente? — Sam fez careta.
Perseus e eu — pensei.
— Alguém que estava com vontade? Só sei que se pegarem o culpado ou culpada, será castigado — Lodovica respondeu.
Meu corpo tremeu. E se descobrissem que fomos nos? Seríamos castigados? Perseus me garantiu que ninguém descobriria, então confiarei na palavra dele.
Estava na biblioteca estudando com Maximiliano, que resolveu ir até o banheiro e estava demorando a voltar. Se passou dez minutos e nada de Maximiliano, invés disso uma movimentação estranha começou a surgir, em seguida Sam entra pela porta e vem até mim.
— Giu, você não sabe o que aconteceu com Maximiliano — disse e meus olhos se arregalaram.
— O que? — me levantei rapidamente.
— Ele foi encontrado desmaiado no banheiro — disse e eu a olhei espantada.
— Ele está machucado?
— Aparentemente não, pelo que eu sei — disse rápido e assustado — Ele foi para enfermaria, vamos lá vê-lo.
Assenti e sai apressada com ela. Seguimos para onde ficava a enfermeira e entramos, vendo que Maximiliano estava sobre uma maca desmaiado.
— Meninas não deveriam estar aqui — Sra. Smiths disse.
— Somos amigas dele, Sra. Smiths. Podemos ficar? — Sam perguntou.
— O médico irá examiná-lo e depois podem vim, agora vão — ordenou e concordamos.
Saímos da sala e a mesma foi fechada. Vimos Hazel vir junto com Raphael.
— Ficamos sabendo o que aconteceu com o Max, ele está bem? — Raphael perguntou.
— Não sabemos, a diretora não deixou que ficassemos. Precisamos esperar o médico examiná-lo — falei e ele suspirou.
— Espero que ele esteja bem — Hazel disse.
Concordamos e ficamos esperando. Estava demorando mais que o previsto. Todos nós esperávamos que Maximiliano estivesse bem. Foi algo tão repentino, não tínhamos explicação para nada.
Depois de algum tempo, podíamos ver ele. Segundo o médico, Max sofreu um ataque de pânico, algo que o assustou ou coisa parecida. O que gerou em uma baixa pressão que o fez desmaiar, mas não sabem como isso surgiu.
Por causa do ataque de pânico, ele estava dormindo profundamente e talvez acordaria depois de algumas horas.
— É tão estranho o que aconteceu com o Max. O que será que o assustou tanto, para ter um ataque de pânico? — Sam disse pensativa.
— Talvez pensou em algum trauma — falei.
— É, não o conhecemos muito bem, para saber mais dele — completou.
— Quando ele acordar perguntamos a ele — Raphael sugeriu.
— Melhor darmos um tempo a ele, antes de enche-lo de perguntas — Hazel disse e concordamos.
Íamos esperar ele se recuperar direitinho, para sabermos o que aconteceu.
No dia seguinte meus pensamentos me rodavam sem parar. Sobre o que aconteceu com o Max, estávamos ansiosos e preocupados com isso. Apesar de tudo, eu era amiga dele e queria que ele estivesse bem.
— Ainda bem que a diretora permitiu que viessemos ver Max — Raphael comentou.
— Sim, ele já acordou, graças a Deus — Sam retrucou.
— Você tá bem Giu? Tá tão calada — Hazel questionou.
— Só estou preocupada com ele — suspirei
— Entendo — Raphael pousou a mão no meu ombro.
Chegamos na enfermaria e entramos. Maximiliano estava sentado com o médico vendo seus olhos, com uma mini lanterna. Assim que terminou Max nos olhou e sorriu.
— Que bom ver vocês.
— Você quase nos matou de susto — Sam o repreendeu.
— O amiguinho de vocês está bem agora — o médico sorriu — Mas não vão estressa-lo muito.
— Pode deixar doutor — Raphael disse.
— Seus pais não vieram te ver? — perguntei.
— Eles vem, porém moram Nova Iorque. Hora dessa devem estar perto — sorriu levemente.
Assim que o doutor saiu da sala, Raphael foi rápido em perguntar.
— Max o que aconteceu? — perguntou sério — O médico disse que você sofreu um ataque de pânico.
Max passou as mãos no rosto e suspirou.
— A um tempo algo estranho está acontecendo. Minhas coisas aparecendo quebradas e rasgadas, não contei nada a diretora, porque eu não tenho provas contra ninguém. Depois acordei umas noite e tinha alguém com uma máscara sinistra no meu quarto e aconteceu mais uma noite— parou e ficou pensativo — E ontem, eu fui no banheiro e tinha alguém lá, eu senti alguém me observando.
Seus olhos começaram se encher de lágrimas.
— Alguém com a mesma máscara sinistra de caveira. Toda desenhada com traços vermelhos parecendo sangue, um sorriso enorme, com dentes afiados, uma coisa horrível. Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ele agarrou meu pescoço e começou me sufocar de frente ao espelho — suas lágrimas desceram — Eu não conseguia gritar, só me debater, não conseguia ver seus olhos, estavam tampados, mas era como se eu podia vê-lo, como se tivesse satisfeito com aquilo.
Passou as mãos pelas bochechas.
— Então tudo apagou e aqui estamos — suspirou.
Ficamos em silêncio encarando ele com choque.
— Você falou isso para o doutor? Para a diretora? Isso é muito sério Max! — Hazel alterou a voz aterrorizada.
— Eu... Não, estou morrendo de medo — disse em pânico — Alguém está me perseguindo e não está para brincadeira, eu poderia ter morrido, ele ou ela quem seja, não me matou porquê não quis! Está brincando comigo — disse rápido demais, parecendo prestes a explodir.
— Meu Deus calma, Max! Respira! — Raphael segurou seus ombros.
— Precisa contar isso a diretora, isso é muito sério! — avisei.
— E se eu contar e a pessoa souber e vier atrás e me matar? — arregalou os olhos.
O medo. E algo que destrói as pessoas. Max está aterrorizado, ofegante.
— Se for necessário, você irá embora daqui — Sam disse.
— O que fizeram com ele? — a diretora entrou, seguida do médico — Saiam de perto! — gritou.
Saímos de perto e Max estava tremendo, com as lágrimas descendo pelo seu rosto.
— Diretora sabemos o que aconteceu...
— Não, por favor — Max implorou.
O médico foi até ele e a diretora nos encarou séria.
— Do que estão falando? — cruzou os braços.
— Alguém tem perseguido ele. Quebraram suas coisas, rasgaram algumas coisas também. Invadiram o quarto onde ele dorme com uma máscara. E essa mesma pessoa mascarada o atacou no banheiro — Raphael disse rápido e ofegante.
— Isso é ridículo! — ela esbravejou — Não toleramos esse tipo de comportamento aqui...
— Vocês não sabiam que o amigo de vocês é esquizofrênico? — o médico tomou a frente e e eu olhamos confuso.
— Esquizofrênico? — repeti.
— Sim, fiz mais alguns exames. E ele foi diagnosticado com esquizofrenia. Ele ver coisas que não existem, tem ataques de pânico. Essa pessoa que ele viu, não existe — completou.
— Eu não sou, eu vi! — insistiu nervoso — Diretora, por favor...
— Maximiliano, por favor. O doutor sabe o que diz — voltou seu olhar para nós — E vocês, fracamente! Acreditarem numa coisa sem cabimento como essa! Aqui não toleramos essas coisas, aqui é um centro religioso, ninguém ataca ninguém — disse visivelmente irritada.
Olhei para Sam, que fez o mesmo de um jeito desconfiado.
— Esquizofrenia é coisa maligna e vamos tratar do Maximiliano. Ele ficará melhor com nossas missas, orações, devoções ao Senhor — disse — Agora saiam, ele precisa descansar.
Apontou para porta e seguimos para ela, e a porta foi fechada na nossa cara.
— Gente, o Max esquizofrênico? Nunca percebi isso nele — Hazel disse desconfiada.
— Nenhum de nós — Raphael completou.
— Mas se ele realmente for? Faz sentido o que ele passou, o ataque de pânico. Quem no seu juízo perfeito faria isso com ele, justo aqui? Conhecendo às regras? — Sam disse.
É, fazia sentido.
— Tem sentido — Raphael suspirou — Melhor irmos, vamos acabar sendo castigados se insistimos.
Concordamos e saímos dali.
A freira cantava uma música religiosa e os alunos a acompanhavam. Estávamos no nosso horário de adoração ao senhor e todos nós tínhamos que participar. Olhei para meu lado onde Maximiliano senta e está vazio. Me sinto preocupada com ele, mesmo que ele não seja minha pessoa favorita — ainda sim — é um amigo.
Olhei para frente vendo o padre Bernardo acompanhar a freira na música, uma das freiras de ontem. Cantando em harmonia. Não consigo olha-los da mesma forma parece estranhos para mim. O que eles fizeram com aquelas garotas? E ninguém notou o sumiço delas?.
Senti minha nuca queimar sentindo que estava sendo observada e me mexi no banco. Olhei para trás vendo Perseus, seu olhar se cruzou com o meu. Aquele olhar neutro. Desviei o olhar e suspirei.
Mas alguns minutos se passaram e voltamos as atividades normais. Eu ainda estava pensativa sobre tudo que estava acontecendo.
— Giulia — uma das freiras me parou — A diretora quer falar com você, venha comigo.
Assim ela disse sem me dar tempo de pronunciar alguma coisa. Meu coração acelerou, o que ela queria? As imagens daquela noite passavam pela minha mente.
Calma Giulia, fica calma!.
Chegamos na porta que foi aberta, e a freira fez sinal para que eu entrasse. Assim fiz e a porta foi fechada atrás de mim.
— Por favor Giulia, sente-se — apontou para a cadeira a sua frente.
Caminhei até ela relutante e me sentei desconfiada. Seus olhos me fitavam intensos e sérios.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei receosa.
— Apenas quero conversar com você, sobre Maximiliano — cruzou as mãos sobre a mesa — Ele disse que você foi a primeira pessoa que ele citou sobre os eventos estranhos que aconteceram com ele. Acredito que sejam bem próximos, para ele ter dito.
— Acho que sim, ele estava com medo de falar para mais alguém — minha voz saiu baixa.
— Você com certeza nem desconfiava da condição dele, presumo — retrucou e eu neguei com a cabeça — Maximiliano estava com você quando decidiu ir no banheiro e sofreu o ataque de pânico, certo?.
— Estávamos na biblioteca, quando ele decidiu ir no banheiro. Depois de uns dez minutos, eu soube do ocorrido — tremi os dedos.
Onde ela queria chegar?.
— Você não percebeu nada de estranho nele? — perguntou e eu neguei — Certo, falei com seus outros amigos. E me certifiquei que essa história maluca de perseguição, não fosse espalhada pelo internato. A última coisa que eu quero é que isso gere repercussão e medo entre os alunos.
Inclinou-se mais sobre a mesa, me olhando nos olhos.
— Espero que você fique de boca fechada também, já que é amiga mais próxima dele. Esse assunto morre aqui, fui clara Giulia? — sua voz era ameaçadora.
— Sim... — controlei minha voz.
— Ótimo — sorriu — Pode ir querida.
Me levantei rapidamente saindo daquela sala como um foguete. Com o coração na mão. Eu não gostava dela, tinha algo nela que me assustava e depois de ontem então, eu queria distância dessa sala.
Corri para onde eu queria paz. O jardim em ruínas, o lugar que Perseus me apresentou. Entrei pelo mesmo lugar e respirei se puro, quando senti o cheiro das flores. Meus sapatos faziam barulhos nas folhas secas, mas não liguei. Eu gostava desse lugar, era tão lindo e puro.
Balancei meu corpo de um lado para o outro, assim como o vento. Fazendo meus cabelos voarem. Retirei o suéter e a gravada ficando mais a vontade. Passeei pelo local tocando as estátuas com ternura, analisando cada detalhes delas. Lionel certamente amaria esse lugar.
Girei no centro de maneira leve me sentindo livre. Minha mãe não gostava quando eu dançava, dizia que era indecente, nojento e que uma futura freira, jamais faria isso. Mas eu estava só girando e me movimentando, que mal teria?
Observo um beijaflor se alimentar das flores ali e me sento no chão o observando, seguida chega outro, para acompanhá-lo. Me deitei no chão, encarando o céu. Sentindo a paz, o silêncio, apenas os pássaros cantando. Era isso que eu queria, liberdade.
Fechei os olhos apreciando o ambiente, só não esperava que fosse cair no sono. Fui acordada por uma voz distante e mais me chacoalhando levemente.
— Giulia — a voz perto e rouca de Perseus me despertou — Coelhinha, acorda.
Pisquei meus olhos várias vezes, antes de abri-lo por completo.
— Perseus...? O que? — me sentei desorientada — O que aconteceu? — bocejei.
— Você dormiu aparentemente — disse agachado na altura do meu corpo — A quanto tempo está aqui?.
— Não sei... Vim aqui um pouco e dormir — me levantei um pouco sonolenta.
E ele me segurou quando desequilibrei.
— Meu Deus deve ser tão tarde... — me desespero pegando a gravata e o suéter.
— Calma — segurou meus ombros — Se as freiras não vieram atrás de você, quer dizer que não deram da sua falta. Ainda.
— Precisamos ir — vesti meu suéter.
Ele acenou e saímos dali. Já estava quase anoitecendo, os pequenos raios de sol estavam se pondo.
— Soube o que aconteceu com seu amigo — quebrou o silêncio — Ele está bem?.
— Acho que está — dou de ombros.
— O que aconteceu exatamente? — me encarou enquanto caminhavamos.
— O que eu te falar, fica entre nós — digo séria e ele acenou — Maximiliano disse que tinha alguém o perseguindo, alguém que tinha quebrado suas coisas, invadido o quarto de noite com máscara. E também alguém o tinha atacado no banheiro, com a mesma máscara.
Eu disse e Perseus ouvia atentamente.
— Porém o médico fez alguns exames, e disse que ele é esquizofrênico.
— Esquizofrênico? — arqueou as sobrancelhas — Isso é uma surpresa.
— Sim, mas ele parecia tão convicto no que disse. Mas o médico disse que tudo era imagens falsas e por isso teve o ataque de pânico — suspirei — Ainda tenho minhas dúvidas.
— Você não o conhece cem por cento. Para pessoas esquizofrênicas tudo que vêem são reais, mesmo sendo projetadas por sua mente perturbada — disse com a voz neutra — Espero que ele vá para casa.
Completou e eu levantei meus olhos para ele.
— Aqui não é um lugar apropriado para ele, cuidar dessa condição. Não acha? — me encarou fixamente.
— É, talvez — voltei a olhar para frente.
Voltamos para estrutura e vi um carro estacionado, talvez seriam os pais de Maximiliano? Entramos e Perseus se afastou de mim, indo para o lado oposto.
Vi Maximiliano andar pelo corredor, acompanhado de um casal. Ele parecia melhor e sorria para eles. Seu olhar se encontrou na minha direção e ele sorriu ainda mais.
— Pequena — disse e eu parei sentindo minhas bochechas corarem.
Quando o casal me olhou.
— Oi Max, vejo que está melhor — sorrir timidamente.
— Sim estou — veio para meu lado, e passou o braço por meus ombros — Pai, mãe, essa é minha amiga, Giulia — nos apresentou.
Senti tão perto me deixava desconfortável. Mas não fiz nada, afinal ele estava sendo um doce em me apresentar para os pais. Que sorriram para mim gentis.
— Muito prazer minha querida. Sou Josephine e esse é meu marido Marco — ela me cumprimentou com a mão.
— Prazer em te conhecer — Marco também me cumprimentou — Fico feliz que Max, esteja fazendo amizades. Encontramos mais alguns dos seus amiguinhos.
— Ah, que bom — sorrir levemente.
Eu não sabia conversar com adultos. Tirando Lionel.
— Você é muito linda, assim como Max disse — Josephine disse e meu rosto corou.
Olhei para Maximiliano de olhos arregalados e ele sorriu.
— Bom, ele exagerou — cocei a nuca, querendo sair dali.
Mamãe me disse que elogios assim, não era para ser concebidos. As pessoas não deveriam ver minha aparência, por isso eu não deveria me maquiar, andar extravagante. Ninguém tinha que me achar linda, apenas Deus.
— Vejo que não — completou.
Deus, eu queria sair essa situação.
— Obrigada — falei sem jeito — Se me derem licença, eu preciso ir — me afastei lentamente do braço de Maximiliano.
— Claro querida — sorriu e passei por eles.
Olhei para trás e eles cochicharam com Maximiliano e sorriram. Virei minha visão para frente, andando com pressa.
∆
Demorei mais soltei, o trabalho tem ocupado meu tempo, por isso demorei
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top