A MENINA SEM NOME
Eu morri no dia 23 de junho de 1970. Meu túmulo é mais visitado no Cemitério de Santo Amaro, todos os anos, no Dia de Finados. Hoje sou considerada uma santa que realiza milagres, mas, nem sempre foi assim.
Tenho que ser sincera, o sabor da vingança é realmente doce e viciante. Sei que muitos dizem que a vingança não compensa, porém, não é esse tipo de sentimento que sentia no dia que matei meu assassino. Lembro da satisfação que inundava meu coração morto, enquanto olhava para o corpo dele pendurado sem vida.
O homem que matei chamava-se Geraldo, a propósito.
Não sei meu nome. Na verdade, não me lembro. Mas, o que recordo é que naquela noite estava com muita fome e com muito frio. Sou uma menina com 9 anos de idade que não conheceu pai ou mãe, mas, conheci a rua desde cedo.
O Geraldo me ofereceu comida, abrigo e para ser sincera nem me lembro do porquê começamos a brigar, mas, as suas mãos me segurando pela nuca enquanto me afogava, ainda é viva nas minhas poucas recordações.
E não me censure por estar sorrindo enquanto me lembro do rosto dele repuxado de dor, com sua língua roxa e pendula para fora da boca... para ser novamente sincera, não sabia que algo tão pequeno pudesse ser tão esticado.
Em meio a inúmeros sargaços meu corpo foi encontrado. O gingado das ondas me ninava como se estivesse numa rede.
Geraldo foi preso semanas depois. Não alegou inocência. Sei que muitos dirão que ele se suicidou na cela ou que foi morto pelos outros presos - e prefiro assim -, porém o último suspiro que ele deu fui eu quem estava lá tirando dele. Cada letra saiu com felicidade viva.
Geraldo se borrou todo quando me viu saindo da escuridão do canto da cela. Com meus cabelos ainda salgados pela água do mar, lacei seu pescoço e o suspendi com tamanha felicidade. Depois, plantei meus dois pés em seu peito e com minhas duas mãos comecei a puxar sua língua... esticando-a; o nervo embaixo dela, o que a prende a ligua na boca, rasgou-se sem dificuldades.
"Pague o que me deve seu 'fulero'! " Era o que dizia para Geraldo enquanto o matava e olhava bem dentro dos olhos dele. Quem sabe não tenha sido esse o motivo da minha morte? O assassino que me devia dinheiro e pagou-me tirando minha vida, recebera o troco no inferno.
Nota do autor: A história é baseada em fatos reais, embora a narrativa na 1ª. Pessoa seja ficção. De fato, o tumulo da Menina sem Nome existe no Cemitério de Santo Amaro e no Dia de Finados a quantidade de brinquedos que são deixados em cima do túmulo pelas graças alcançadas, é imensa. Se vierem a Recife, não deixem de visitar o túmulo da Menina sem Nome no Cemitério de Santo Amaro e façam um pedido.
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