Oráculo
Alice se remexia no chão daquele quarto totalmente branco, suas pálpebras começaram a tremer até se abrirem totalmente.
Ela se levantou do chão frio e abraçou o próprio corpo na tentativa de se esquentar, mesmo que minimamente.
Andou até a porta e tentou abri-la novamente, sem êxito. "Por favor" - pensou, "alguém me ajude" sussurrou em sua própria mente na esperança de que alguém a ouvisse.
**
"Show your secrets, oh, Queen of the Maltas and bless me with the power of vision." - Leonard murmurava com os olhos fechados, em frente a uma estátua dourada no formato de olho gigante.
Logo, uma forte luz iluminou todo o lugar.
Leonard ajoelhou-se no chão e toda a luz fora absorvida para dentro de seu corpo, devolvendo o lugar à escuridão.
Ao abrir os olhos, ele avistou a entrada do santuário coberto por folhas secas, aproximou-se cuidadosamente e antes de adentrar no templo retirou os sapatos e o sobretudo substituindo-o por uma camiseta branca e uma calça de algodão.
Ao passar pela entrada de galhos tortos, um vento forte o atingiu sinalizando que seu subconsciente deveria estar preparado para o receptáculo, ou seja, livre de más vibrações.
Leonard expulsou toda a energia ruim de seu corpo usando a oração dos oráculos, e então sentiu-se pronto para entrar.
Na sala do oráculo, ele se ajoelhou em frente ao altar e iniciou o ritual para recebê-lo.
Deitado no chão do templo, recitou algumas palavras em grego com os olhos fechados e depois ficou em silêncio durante alguns minutos até ser tomado pela escuridão dos sonhos.
Demorou alguns segundos para que ele retomasse a consciência, era assim que os oráculos se comunicavam com os receptores, através de seus sonhos.
Leonard andou até a mesa feita de troncos grossos de árvores e sentou-se em um banco feito de pedra. Logo, o oráculo surgiu em sua frente.
"Olá, Moira." - Leonard a cumprimentou com uma reverência. A mulher a sua frente mantinha a expressão séria e misteriosa.
"Olá de novo, frágil gatinho. Já é sua quinta visita consecutiva, se não me engano. Devo me preocupar?" - A voz da mulher preencheu toda a mente de Leonard, e ele quase não conseguiu suportar a potência de sua voz.
"Não, senhora. Estou aqui porque necessito de uma visão superior." - Ele respondeu firme sem olhar diretamente em seus olhos de vidros.
Moira sorriu, pois sabia exatamente o que ele procurava, mas não podia ajudá-lo sem modificar a ordem natural das coisas.
Portanto, resolveu apenas o aconselhar como uma velha amiga.
"Ouça com atenção, jovem.
O que você procura está bem a sua frente, coberta pelo invisível e presa com correntes. Sozinho você não conseguirá êxito, ajuda é um mérito, aceite sem medo.
O relógio está correndo e contra o tempo ninguém é capaz, mas enquanto você pensa no que fazer, o coelho negro se aproxima cada vez mais."
Ela entoou como uma canção enigmática, mas Leonard já havia entendido. Se ele quisesse salvar Alice, ele precisaria de ajuda o quanto antes.
Ele sabia que o coelho negro e seus seguidores não desistiriam até levá-la ao Mundo dos Esquecidos.
E se eles conseguissem, seria o fim de todo o País das Maravilhas.
*
Leonard preferiu usar seu teletransporte ao invés de caminhar, pois não queria perder mais tempo.
Em um minuto, ele estava parado em frente a uma cabana.
Era a única cabana da floresta e no escuro da noite, com árvores frutíferas em volta, ficava ainda mais extraordinária.
Leonard escalou até a janela do segundo andar e deu duas batidas suavemente.
Segundos depois, a janela se abriu e uma jovem de cabelos ruivos bagunçados o encarou, sonolenta e levemente irritada.
"Você me acordou." - disse o óbvio dando espaço para ele entrar.
"Desculpe." - ele disse simplesmente após fechar a janela.
"Você sabe que horas são?" - ela o repreendeu coçando os olhos para espantar o sono.
"Estou sem meu relógio no momento." - ele deu deu ombros, dando um sorriso de lado, pois sabia o quanto ela odiava ironias.
"O que você quer, Chad?" - A ruiva indagou sentando-se na cama e indicando o lugar para ele se sentar também.
"Eu preciso da sua ajuda." - ele disse, dessa vez com o semblante sério. Ela se ajeitou na cama e o fitou, esperando ele continuar.
"Ele está vindo atrás de Alice, e se não formos rápidos, ele conseguirá levá-la de volta ao lugar onde tudo aconteceu. Ela se lembrará, e então, será o fim. O fim de todos nós."
Leonard explicou com os olhos fixos nos da garota a sua frente, que sustentava um olhar cansado. Sentia-se culpado por acordá-la, já fazia um bom tempo que ela não dormia direito. Que todos não dormiam direito esperando que a qualquer momento a guerra acontecesse novamente.
Eles queriam estar preparados dessa vez, por isso, sacrificavam o sono para treinarem e melhorarem suas habilidades.
"Isso não pode acontecer." - ela murmurou. "Você sabe o que precisamos fazer.." - Foxy disse, mesmo sabendo que ele não iria gostar da ideia. Leonard negou com a cabeça.
"Podemos fazer isso sozinhos." - ele afirmou, porém sem convicção.
"Você também achou que conseguiria sozinho, e agora está aqui admitindo que precisa da minha ajuda." - ela argumentou, cruzando os braços.
"Eu sei o que você está pensando, Foxy. E eu acho que é uma péssima ideia." - ele afirmou, mas ela sorriu em resposta.
"Não custa nada tentar, senhor-do-contra. Além do mais, vocês já foram amigos." - Leonard franziu o cenho e riu com ironia.
"Ele nunca foi amigo de ninguém. Você sabe disso." - disse com desgosto.
"Ele fez escolhas ruins, Chad, mas ele não é uma pessoa ruim. Você sabe disso." - ela retrucou enquanto puxava Leonard em direção a janela.
"Vá para casa e descanse. Amanhã nós iremos resolver tudo, mas você precisa estar forte." - ela disse, abrindo a janela.
"Não posso ficar?" - ele pediu, com um sorriso de lado.
"É uma proposta tentadora, mas não." - A ruiva sorriu. Ele pulou pela janela e aterrissou no chão, mas antes que ela fechasse a janela completamente, ele a chamou.
"Ei" - Ela voltou e o encarou pronta para mandá-lo ir embora de uma vez, mas antes que pudesse dizer alguma coisa ele continuou. "Boa noite, ruivinha." - ele sorriu e desapareceu.
"Boa noite, Chad." - ela sussurrou para si com um sorriso bobo no rosto, e voltou para a cama.
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