2 - A garota da janela
A aula começou e ele foi para a última cadeira da sala, jogou os pés sobre a mesa e olhou ao redor com olhos de peixe morto.
Seus colegas entravam e o observavam, os cochichos começaram da maneira como ele esperava. Era óbvio que alguns dos novatos souberam que ele havia repetido de ano.
Um jovem de dezessete anos no primeiro ano do ensino médio, isso não passava desapercebido naquele lugar. A cada olhar que recebia, ele devolvia com uma encarada de pôr medo.
Por fim, achando que o trabalho estava feito, ele tirou uma light novel da mochila e começou a ler. Na capa, um jovem de olhos azuis brilhantes vestia um macacão e empunhava uma espada, o título dizia "A crônica de Eastar".
O professor ainda não havia chegado, além disso, ele já estivera no primeiro ano, não precisava prestar atenção naquilo tudo de novo.
Começou a ler, e já se via imerso na história quando o livro foi tomado de suas mãos.
— Que tal prestar atenção nessa aula?
Ele levantou os olhos e viu o Professor Yokoiama de braços cruzado, encarando-o.
— Eu já vi essa aula.
— E não prestou atenção da outra vez.
— Você não tem que dar avisos? É o primeiro horário.
O professor parou com a boca aberta.
— Minha nossa, esqueci disso! — Ele levantou as mãos. — Pessoal, preciso pegar os avisos na sala dos professores, por favor, me esperem.... — Foi até a porta, então parou e se voltou para a turma, apontando o dedo indicador. — E nada de bagunça.
Com isso, ele saiu correndo da sala e Ken suspirou, fez menção de voltar a ler quando percebeu algo importante.
O professor ficou com o livro.
— Aaaahhh... — ele deixou a cabeça encostar na carteira e ficou ali por alguns momentos.
As vozes começaram a se espalhar, os alunos aproveitavam a saída do professor e começavam a se conhecer.
Ele resolveu observar um pouco, aquele era um bom momento. Viu os grupinhos se formando, e percebeu aqueles que começavam a se isolar. Deu um pequeno sorriso, teria trabalho esse ano, mas parecia uma boa turma.
Uma garota lhe chamou a atenção, ela estava sentada perto da janela e olhava para fora. Era ruiva e, quando o vento açoitou seus cabelos, uma mecha entrou na boca dela. A jovem tentou tirá-lo, desajeitada, e o garoto riu. Ela nem notou, parecia alheia ao seu redor.
Outra garota se aproximou dela. Pela maneira como andava, Ken já podia perceber que seria uma das populares da turma. Era muito bonita, com seus cabelos negros e lisos indo até a cintura. Com toda certeza queria a garota da janela para o grupinho das populares.
As duas conversaram um pouco, mas logo depois a garota de cabelos negros saiu e a ruiva ficou olhando para baixo, envergonhada.
Ken levantou uma sobrancelha, jurava que a menina ruiva se juntaria a senhorita Popular e começariam a formar o grupinho, no entanto, lá estava ela, como se tivesse feito algo muito errado.
— Voltei, pessoal! — O Professor Yokoiama se escorou na porta, ofegando, a cabeça calva suada. — Por favor, sentem-se, vou começar a dar os avisos.
Ele foi até a carteira de Ken, enquanto os outros se sentavam.
— Isto é por ter me lembrado dos avisos.
Ele pôs a light novel do garoto em cima da mesa e sorriu, o jovem sorriu de volta e o professor foi para a frente da turma enquanto o aluno voltava a ler.
***
As aulas avançaram, Ken se manteve no fundo, prestando atenção em alguns momentos e, em outros, apenas observando os alunos. O primeiro dia era o dia de pesquisa.
Viu um gordinho que parecia se esforçar para interagir, rindo e fazendo piadas, e apesar de parecer se sair bem, Ken percebeu que ninguém ligava de verdade para ele, e o garoto pareceu perceber isso, já que ficou meio cabisbaixo depois de algum tempo.
Também avistou um jovem magricela que usava óculos, esse nem sequer tentava interagir, tremia sempre que alguém tentava falar com ele. O suposto delinquente suspirou, talvez aquele se tornasse o caso mais difícil, mas ainda não era sua vez.
O sinal para o almoço tocou, alguns se juntavam para comer o almoço que trouxeram de casa, outros se levantaram e seguiram juntos para a cantina.
Um garoto de cabelo castanho sair sozinho da sala com uma sacola na mão. Era o gordinho, andando encurvado, a coluna torta, sintomas gritantes de alguém que passou a vida na frente de um computador.
Ken suspirou e se levantou, teria que ir até a cantina torcendo para que o pão de yakisoba não acabasse.
O barulho lá era enorme, dezenas e dezenas de mesas lotadas. Uma fila se formava na frente do balcão, onde os retardatários tentavam conseguir algo.
Ele pôs as mãos nos bolsos e abaixou a cabeça resignado, não conseguiria nada de bom naquele dia. Contou o dinheiro que tinha e pensou se deixava de lanchar para comprar chocolate em uma das maquinas espalhadas no refeitório. É, sem dúvida aquela era uma ideia melhor.
Chegando lá, enfiou algumas moedas e pegou sua barra de chocolate, assim saiu do refeitório atrás de algum lugar quieto.
Passando pelos corredores ele sempre tentava ignorar os cochichos e comentários, fechava os punhos dentro dos bolsos e seguia de cabeça baixa. Até que ouviu alguém dizendo:
— Dizem que a mãe dele foi assassinada.
— É, fiquei sabendo que deram a sentença pro cara que matou ela.
— Ainda bem que ela morreu, devia sofrer muito com um filho desses.
— Não é? Ele repetiu o primeiro ano. Dizem que não estudava nem fazia nada na aula. Só lia aquelas light novels idiotas.
Ken respirou fundo e olhou na direção das vozes. Viu que eram três jovens do segundo ano que ele não conhecia, provavelmente alunos transferidos das escolas do interior.
Ele andou na direção deles com um sorriso selvagem no rosto. Sua altura era intimidante, e seu porte atlético fez os três alunos engolirem em seco quando o viram se aproximar.
— Que tipo de besteira está saindo da boca de vocês, hein? Os idiotas querem apanhar? Talvez precisem entender como as coisas funcionam aqui. — Ele os encarou, a raiva não era fingida.
Do alto de seus um metro e oitenta, poucos olhavam para ele sem precisar levantar os olhos.
Os três saíram apressados, sem dizer nada. Ken os observou até virarem o corredor. Então suspirou e pegou a barra de chocolate, percebeu que a tinha amassado, xingou e a abriu dando uma grande mordida. Era melhor voltar para sala e ler.
Prometeu que não esqueceria os fones de ouvido no dia seguinte.
Depois do almoço as aulas seguiram se arrastando, ele pegou um caderno e tentou desenhar o protagonista do livro, fez alguns testes e, por fim, desistiu, era horrível naquilo.
O sinal tocou e ele esperou, acompanhou todos que saiam, observando aqueles que iam sozinhos. O gordinho e o jovem de óculos. Gravou isso na cabeça e só depois se levantou para sair. Pegou sua mochila e olhou em volta, se assustando em ver a menina ruiva ainda ali.
Ela estava desenhando algo, ele franziu o cenho e foi até ela.
— Ei, a aula já acabou — disse, enquanto batia a mão com força na carteira dela.
A garota se assustou e se encolheu na cadeira.
Ele sentou no assento da frente, virado para ela, apoiou os braços no encosto e riu.
— A gatinha medrosa não tem medo de ficar na escola sozinha?
— Eu... eu nã-não percebi.
— Então é medrosa e sonsa? Que pena.
— Me-me desculpe.
O jovem suspirou e olhou para o desenho. Arregalou os olhos, perdendo a pose por completo. Percebeu que ela começava a encará-lo, então pigarreou e pegou o desenho, arrancando a folha do caderno.
— Até que você desenha bem.
— Nã-não, po-por favor, não deixo a-as pessoas ve-verem meus de-desenhos.
— O quê? Por que não? Você é idiota?
— Nã-não.
— Pois parece, deveria mostrar. Esse aqui está muito bom, inclusive, acho que vou levar comigo.
— Não, espe- espera, por favor.
— O quê? Não consigo te ouvir.
— Me-meu deeee-desenho.
— Seu não, agora é meu. Obrigado, até amanhã. — Se levantou. — Ah, e faça mais desses, se puder.
Saiu da sala, se perguntando se havia exagerado, aquele desenho o tirou um pouco do ritmo. Não esperava que fosse alguém tão talentosa. Olhou mais uma vez para a imagem e se impressionou. Aquilo era algo profissional.
Bem, essa parte não era importante agora, ia ter trabalho para fazer comaquela ali.
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Espero que tenham gostado.
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