Confronto
Quando Alice veio nos chamar, eu havia caído no sono com a cabeça no peito de Art. Tinha dormido com ele fazendo cafuné em meus cabelos, estava um tanto sonolenta quando me aconselharam a colocar os sapatos que apenas desconsiderei o conselho. Melissa veio para o meu lado, ela tinha colocado havaianas que seus pais haviam trazido. Parecia que eles haviam se entendido.
Estava meio sonolenta ainda, Art me apoiou de um lado do corpo e eu desci os elevadores até a garagem apoiada em seu ombro. Ninguém falava nada para nós, acho que estavam todos exaustos para falarem alguma coisa, mas eu podia ver o sorriso de aprovação de Melissa, o que me deixou um tanto quanto inquieta. Depois teria que conversar com ela, e com todos os outros, por que Dani e Sabrina pareciam não conseguir se conter de felicidade. Eu não queria era exatamente o que estava acontecendo: pressão.
Chegamos a garagem e Art beijou levemente o topo de minha cabeça, virando-se para mim, sorriu.
- Consegue ir até o carro sozinha? – Sussurrou, ri para ele e fiz um sim com a cabeça, ele concordou. – Passo na sua casa amanhã para pegar Melissa...
- Vem pra almoçar... E ver filme com a gente... – Falei sonolenta, ele sorriu e fez um não.
- Você tem que resolver muita coisa amanhã, Ady, e nem tente se livrar delas. – Me deu um leve abraço que retribuí com uma cara de aborrecida, mas ele apenas riu. – A gente combina algo domingo. Todos nós. – indicou os outros acabei concordando. Seria bom, fazia tempo que não saímos todo mundo, para um cinema ou algo assim, normalmente só nós juntávamos por conta de missões ou aniversários.
Comecei a me distanciar dele, Melissa veio para o meu lado e me deu um leve abraço. Retribuí, lhe lançando um sorriso de desculpas. Estávamos andando em direção ao carro quando Alice parou de repete e virou-se para trás.
- Todos a postos! – Gritou, imediatamente paramos de fazer o que estávamos fazendo, larguei minhas sandálias ali mesmo no chão e puxei Melissa para trás de meu corpo.
Alguns vultos se movimentarem mais à frente e os meninos se movimentarem tão rápido quanto, logo estavam cada um em um lado de meu corpo. Guilherme na frente, Diego de um lado e Art do outro.
Ivan e Dani faziam a barreira para Sabrina, um pouco longe da gente, Alice estava parada à frente, olhando fixamente para um ponto ao longe da garagem, virei o rosto e vi Sabrina aflita, respirei fundo, Melissa começou a perguntar o que estava acontecendo, mas fiz um gesto para ela não falar nada naquele momento.
- São muitos. – Disse Alice, em bom som e ficou em posição de luta.
Olhei para o lado e vi Dani, Caio e Ivan também ficarem em posição, aos poucos senti que minha mente era invadida, Guilherme e os meninos haviam se transformado em lobos.
Melissa soltou um gritinho e se aproximou mais de mim. Mas eu estava tentando me acalmar com a invasão da minha mente para perceber o movimento dela, sempre ficava um tanto confusa com a os pensamentos dos meninos. A abracei meio desajeitadamente, tentando acalmá-la.
- Sá... – Começou Alice.
- Estou vendo todos, Lil's, não tem o que se preocupar com eles, deixe-os comigo, estou indo para o plano deles. – Sabrina respondeu com eficiência, não tive tempo de prestar muita atenção no que disse, e quando olhei novamente para o lado, ela já tinha descolado.
Sabrina é deslocadora. Todos sabemos lutar bem, até por que, ser guardião requer esse tipo de treinamento. Mas o caso é que Sabrina sempre desaparecia, ela ia para o plano espiritual lutar com os espíritos, normalmente ela conseguia manipulá-los para o nosso lado, mas às vezes tinha que chutar a bunda de uns. Acredite é horrível lutar quando tem espíritos fazendo coisas aparecerem do nada na sua frente e te atrapalhando.
"Ady já se acostumou?" Ouvi Guilherme perguntar em minha mente, eles conseguiam falar entre si, mas eu precisava ficar atenta para o caso de perdessem o controle do espírito humano e ficassem selvagens. Eu era responsável por eles ali, se algo desse errado, deveria tomar a mente deles e acertar as coisas.
"Estou pronta!" Falei, ouvi-o uivar, e ri levemente, no final de tudo, era divertido sair com eles e lutar aos seus lados.
"Ótimo, tome conta da Melissa." Comandou Guilherme, fiquei meio estática, e olhei para o lobo preto a minha frente com cara de 'como assim?' "Não discute, ela não é uma de nós!" Foi quando ouvi um leve gritinho e olhei para o lado de Mel. Das da garota saíam bolas de fogo, arregalei os olhos, sem conseguir conter o riso.
- O que você dizia mesmo, Gui? – Perguntei, o ouvi bufar em meus pensamentos.
- O que é isso, Ady? O que está acontecendo comigo? - Me perguntou uma Melissa desesperada.
Arregalei os olhos, normalmente acalmar os outros sobre seus novos poderes era coisa da Sabrina e Alice. Vi Art se transformar de volta e ouvi Diego e Guilherme o xingarem em minha mente, olhei-o correr em direção de Melissa que se assustou e foi para trás de mim.
- Calma, Melissa, sou só eu! – Falou, olhei-o irritada.
- Art, por favor, volta a sua forma, vou sair daqui com ela. – Coloquei meu corpo à frente do de Mel, por mais que fosse o irmão dela, a garota parecia assustada.
- Nem sonhando, Ady, vou ficar do lado da minha irmã!
"UMA OVA QUE VAI!" gritou Guilherme na minha cabeça, virou-se para Art e rosnou, levantei a sobrancelha sem saber bem o que fazer, até que Alice e Caio apareceram ao meu lado.
- Oh droga, era o que eu temia... – Falou Alice olhando-a fixamente e de olhos arregalados.
- Como eu disse, Lil's, Melissa não é só uma de nós... É Eva. – Concordou Caio preocupado, Alice mandou as chaves do carro para ele que correu em direção ao New Beattle preto estacionado há alguns metros de distância de nós.
- Como é que é? – Perguntamos eu e Art ao mesmo tempo. Os dois lobos fizeram barulhos estranhos e estavam discutindo freneticamente em minha cabeça sobre o que Alice e Caio acabaram de falar.
Alice puxou Melissa para perto de si, segurou seu rosto levemente fazendo-a olhar em seus olhos, para depois fazer um sim com a cabeça. Mel estava simplesmente apavorada para perguntar ou fazer alguma coisa.
- Ou, acabem a reuniãozinha logo ai, por que os caras estão avançando... Porcaria! Curupira e os javalis! – Ouvi Ivan e Dani xingarem e correrem para nossa direção.
Alice virou-se para ver até que ponto os míticos haviam avançado, deixando Melissa atrás de si, protegendo-a com seu corpo. Posicionei-me ao lado delas, pelo o que eu havia entendido tínhamos que proteger Melissa, e eu sabia que não adiantava pedir explicação nenhuma agora. Além de estressar Alice, ela falaria tudo pela metade e não iríamos entender nada. Arthur veio para o nosso lado, mas Alice ficou extremamente irritada ao vê-lo na forma humana.
- Arthur, pelos Deuses, larga de ser infantil e volta logo pra sua forma de lobo! – Explodiu Alice, ele arregalou os olhos e olhou para Melissa, sem vontade de ficar longe da irmã. – Eu vou cuidar dela. Vou levá-la lá para casa, os distraiam e me deem cobertura! – Falou para a matilha.
Caio parara o carro fazendo os pneus cantarem, Alice abriu a porta do passageiro e colocou Melissa no banco de trás, sentando-se no lado do passageiro, mal havia fechado a porta e Caio já arrancara com o carro. A contragosto Arthur se transformou em lobo para receber xingamentos de Diego e Guilherme, suspirei me posicionando perto deles.
Estava preocupada, não haviam chances de Alice ir sozinha para casa com Melissa pelas ruas ás quatro e meia da manhã. Era fato que os meninos teriam que acompanhar o carro na forma de lobo, então seriamos só Dani, Ivan, eu e Sabrina para lutar. Uma droga, por que éramos os mais fracos, mas não havia outra escolha.
"Bem, não vejo outra alternativa, Ady. Acha que consegue nos manter humanos mesmo nessa distância?" Assenti para eles, não era algo difícil e já havíamos treinado isso antes. "Então, segurem as pontas ai, já voltamos" Falou Guilherme e os três saíram correndo atrás do carro.
Dani e Ivan correram na minha direção e nós paramos em um pequeno triangulo com Ivan na frente. Meu vestido iria atrapalhar e estávamos com muita desvantagem. Seria ótimo ter alguém que poderia fazer magia direito ali, por mais que Ivan fosse um summoner, ainda estava aprendendo a controlar seus poderes. Pedi para que Sabrina voltasse logo do plano espiritual com alguma ajuda.
- Detesto lutar sem armas! – Rugiu Dani. – Minhas 38, aqui fariam uma diferença tremenda. – Reclamou, me fazendo rir de nervoso. Sem dúvidas que com nossas armas seria mais fácil.
- Certo. – Falei e olhei para os seres que se aproximavam da metade do estacionamento, não eram muitos, talvez os espíritos que acompanharam o Curupira fossem muitos, mas no caso, ali na nossa frente estava o Curupira e quatro javalis. – Eu pego o Curupira. – Decidi, pensando em o que fazer para distraí-lo Dani virou-se para Ivan e sorriu.
- Os javalis da esquerda são meus! – Falou, e correu em direção a eles, virei para Ivan que deu de ombros.
- Se precisar de ajuda, grita... – Ri com o comentário e corri para perto do Curupira.
Parei na frente do dele e sorri. Percebi que me olhava de cima a baixo.
- Não viemos atacar... – Disse simplesmente, cruzei os braços na frente do corpo e levantei a sobrancelha, me forcei a colocar um leve sorriso no rosto para mostrar que não tinha medo. Seria ótimo que Sabrina aparecesse com algum espírito para ajudar, poderiam distrair o Curupira para darmos o fora dali. – Olha, a situação é simples, queremos Eva.
- Hum hum, você e todos os seres míticos. – Falei, ele revirou os olhos e me lançou um olhar carrancudo.
- Sabe que se eu atacar vocês morrem? – Perguntou rabugento, o que me fez rir. Balancei a cabeça negativamente mostrando descrença. O pior é que eu sabia que ele dizia a verdade, se ele quisesse atacar, estávamos mortos, sem sombra de dúvidas.
Era difícil manter o treinamento na cabeça num momento desses, quer dizer, fingir para um místico que tudo está sobre controle e que, na verdade, eu seria capaz mata-lo quando bem entendesse, sendo que a realidade era completamente diferente, não é absolutamente nada fácil.
- Você disse isso da última vez, e pelo que eu lembro foi você quem saiu correndo e prometendo não encher mais o saco. – Respondi, ele balançou a cabeça e sorriu.
- Eram nove contra um, agora são três, e vocês estão desarmados. – Observou, dei de ombros ainda tentando manter o sorriso confiante.
- O que não quer dizer que somos menos fortes... – Falei prontamente, a última coisa que vi foi o sorriso verde do Curupira antes de conseguir me defender de suas mãos que tentavam socar minha barriga. – Será que não poderíamos negociar? – Perguntei, me abaixando rapidamente para desviar de um chute.
O problema era que o Curupira é um ser extremamente rápido e ágil, sem dúvida se os meninos estivessem ali, na forma de lobos eles conseguiram vencer ele rapidinho, mas sozinha, sem armas e na forma humana? Eu já estava impressionada de ter escapado dos dois primeiros golpes.
- Talvez. – Falou, e me deu um soco no rosto, consegui ser rápida o bastante para desviá-lo para o ombro, mas cambaleei um metro para trás e cai sentada no chão, respirei fundo tentando sentir o braço. Respirei fundo. Havia descolado o ombro.
"ADY! VOCÊ TÁ BEM?" Era Art, respirei fundo mais uma vez, tentando ignorar a dor.
"Tô ótima, onde vocês estão?" Deuses, eles já podiam estar voltando! Vi na cabeça de Diego o hall de casa, eles já haviam deixado Melissa com meus pais. Me senti aliviada.
"Diego, Caio e Alice já estão voltando." Disse Guilherme, respirei fundo mais uma vez, peguei impulso e levantei. "Encontro vocês na central, eu e Arthur vamos voltar a forma humana, Diego vai manter contato com vocês."
"Andem logo!" Pensei, nervosa.
- Ady! – Era Dani, ela havia se livrado de um dos javalis e estava com um pedaço de vassoura na mão, jogou-o para mim enquanto o Curupira se distraia com o fato de que um dos seus havia sido eliminado.
Ele deu um de seus assobios, com raiva, abaixei-me um pouco e coloquei as mãos no ouvido, deixando o cabo da vassoura cair, olhe-o com os olhos semi-abertos, para não perdê-lo de vista, se Sabrina não chegasse logo estaríamos mortos, sem dúvida.
- SEM NEGOCIAÇÕES! – Gritou o Curupira e avançou em minha direção, meu tempo foi curto para recuperar a vassoura, mas consegui colocar a o cabo a minha frente, evitando um chute dele.
- ADY, CUIDADO! – Ouvi Ivan gritar, os três javalis restantes haviam convergido em minha direção, eu não tinha muito o que fazer, não iria conseguir escapar de todos. Mordi levemente meu lábio superior e pulei no capô de um carro para ficar mais alta que os javalis.
Dani veio em meu socorro, deu uma voadora que fez o Curupira cair alguns metros de distancia. Mas ele se levantou e começou a rir. Olhei para Ivan, ele estava invocando esferas de luz para tentar ajudar. Não que as esferas não conseguissem fazer estragos, mas aquele não era o momento dele usá-las. Ivan era iniciante e summonar as esferas e lutando sem o uso da magia nos ajudaria mais.
"Será que dá pra andar logo, Diego? A coisa tá mais que feia aqui!" gritei em pensamento, Diego respondeu um tanto exasperado.
"Encontramos quatro chupa-cabras no caminho! Já estamos indo! Agüenta ai mais um pouquinho!"
"É fácil falar!" Pensei revoltada, olhei para Dani ao meu lado.
- Porra! Vamos morrer se os outros não chegarem logo! – Ela estava tão ansiosa quanto eu. Revirei os olhos, não adiantaria "passar o recado" de Diego. Se o fizesse, os dois iriam querer se render.
- Eles já estão vindo! Você tem outro bastão? – Perguntei, ela fez um não e passei o que eu tinha para ela. – Você é melhor do que eu, acaba logo com essas porcariazinhas de javalis. – Falei, ela assentiu e olhou meu ombro.
- Pelos Deuses, Ady, isso ai tá feio!
- Preocupa depois? – Falei e pulei do capô do carro correndo na direção do Curupira para investir contra ele enquanto ainda estava se recuperando.
Dessa vez Ivan parou ao meu lado e lançou duas bolas de Luz em seus olhos, enquanto eu dei um soco em seu abdômen. Pareceu que havíamos conseguido atordoá-lo quando ele caiu. Pensei em investir em cima dele, mas Dani gritou novamente, os javalis vinham em nossa direção. Ela tinha conseguido acabar com mais um, Ivan mandou uma esfera em cada um dos javalis, os bichos rodaram no chão e bateram com a cabeça na parede, inconscientes.
- TAPEM OS OUVIDOS! – Era a voz de Sabrina, ela estava atrás do Curupira e tentou golpeá-lo, mas foi mandada para longe com um soco no abdômen, ele ia começar a assobiar. Coloquei as mãos no ouvido o mais rápido que pude, vi Ivan e Dani fazerem o mesmo.
Não que o gesto ajudasse alguma coisa. Quando o Curupira começou a assobiar senti minhas pernas se dobrarem e meu corpo se contorcer, era ensurdecedor. Se os outros não chegassem logo, nós quatro iríamos enlouquecer.
Senti sangue em minha boca, eu havia mordido meu lábio, forte, desta vez. Tentei respirar fundo para me acalmar, mas o barulho era insuportável, até que ele parou. Olhei para cima ofegante e sorri aliviada ao ver Alice com uma arma, não era nenhuma das que eu reconhecesse. Tentei me levantar, meu ombro latejava e não conseguia mexer direito o braço esquerdo.
O Curupira estava caído no chão. Que os Deuses permitissem que estivesse morto, mas não, não era permitido matar os seres míticos, por mais que para eles fossem permitido nos matar.
Meu vestido estava completamente sujo e rasgado na saia, teria que ser descartado. Bufei nervosa, como eu desejava matar aquele demoniozinho! Ivan veio me ajudar a levantar, tinha rasgos na roupa e machucados, mas de nós três era o que estava melhor. Lancei um olhar raivoso para ele. O menino lutava bem, mas foi tentar usar as esferas de luz e gastou mais tempo com isso do que ajudando de verdade. Ele sorriu de lado, arrependido, mas eu estava nervosa de mais para perdoá-lo de imediato. Revirei os olhos, que se sentisse culpado por um tempo.
- Valeu. – Falei friamente quando Ivan já estava perto de mim o suficiente para ouvir.
Dei as costas para ele, indo em direção à Dani. Ela havia torcido o tornozelo, mas conseguiu se levantar. Trocamos um sorriso cansado, cúmplice, e deixei que ela se apoiasse em meu ombro bom.
Corri os olhos pelo estacionamento em busca de Sabrina. Ela estava caída do lado oposto ao que estávamos. Senti minha pele gelar, ao ver o monte que parecia ser seu corpo. Meu coração disparou. Sabrina havia batido em um carro e caído. Fechei os olhos e sussurrei para que os Deuses ajudassem que ela não estivesse morta.
O carro de Diego estacionou perto de onde estávamos e ele saiu correndo do lado do motorista e ir de encontro ao corpo dela.
Ivan e Alice foram ver o que havia acontecido também. Ele se abaixou e olhou para nós, aliviado. Sabrina estava apenas desacordada. Respirei fundo sentindo que Dani relaxara, apoiando mais o corpo ao meu para se manter em pé. Caio veio em nossa direção e pegou Dani no colo. Quando seus olhos baterem em mim não conseguiu reter a carete.
- Ady... Seu ombro está horrível. – Falou, eu nem queria olhar. Sentia muito bem que a coisa ali não era nada bonita. Fiz que ia dar de ombros, como se não me importasse, mas a dor foi tão grande que gritei um palavrão, Caio riu balançando a cabeça. – Vocês sempre tentam não passar a fraqueza. Não seja indiferente, Ady. Você está machucada. - Colocou Dani em pé e abriu a porta do New Beattle para que eu pudesse entrar.
Agradeci e entrei no carro. Ivan correu para perto de nós e entrou ao meu lado. Revirei os olhos para ele, estava com raiva, não queria falar nada naquele momento. Observei os outros irem para os outros carros. Diego foi para o seu com Sabrina e Alice conseguiu colocar o Curupira no porta-malas do carro de Caio, entrou e deu partida. Art e Guilherme haviam vindo para a festa com Diego e não trouxeram o carro, então não precisávamos nos preocupar em levar o de ninguém de volta.
Dani entrou no carona e Caio deu partida. Íamos para a central primeiro.
- O que vão fazer com o capetinha? – Dani estava irritada, pude notar pelo tom de voz. Não que eu também não estivesse, mas ela ficar assim era raro.
Caio a olhou rapidamente, normalmente ele era brincalhão, mas naquele momento parecia não achar graça de nada. Ainda bem, por que se eu visse alguém rir de alguma coisa daquela noite, juro que pularia no pescoço dele e o mataria. Meu instinto era assassino no momento.
- Alice vai dar um jeito nele. – Falou, olhei-o pelo retrovisor do carro e fiz um sim com a cabeça. Alice era a pessoa certa para lidar com o Curupira, justamente pela experiência que tinha, apesar do bicho estar dopado.
- Vamos ter reunião agora? – Perguntei, Caio me olhou pelo retrovisor.
- Não vamos curar essas feridas ai e vocês vão dormir. A reunião vai ser hoje às duas horas na central. Acabei as armas, vou levá-las, e vamos descobri o que o mundo mítico quer com Melissa. – Levantei a sobrancelha, queria perguntar muitas coisas, mas no momento estava sentindo muita dor, raiva e falta de paciência para esse tipo de assunto, então apenas concordei.
Ivan parecia chateado, olhei para ele e senti compaixão. Sabia como era aprender coisas novas, você fica com vontade de usá-las, estendi o braço e segurei a mão dele dando um leve sorriso.
- Desculpa. – Sussurrou, fiz um não com a cabeça e ele sorriu de leve.
- Só não faz mais isso, você sabe lutar muito bem, agüenta mais o tranco que eu e Dani, deixa pra experimentar as Luzes quando tiver 100% de certeza que vão resolver. – Ele fez um sim com a cabeça e olhou para fora. Vi Dani bufar no banco da frente, ela não o havia perdoado tão rápido assim, mas era só raiva de véspera, logo passaria.
Fomos para a central e eles nos curaram sem demorar muito. Essa era a vantagem de ter gente especializada em magia, muitas das vezes nossas feridas de luta eram curadas em segundos, claro que isso não mudava o fato delas doerem muito até alguém fazer alguma coisa, mas depois era questão de tempo. Ninguém queria comentar nada naquele momento. Apenas confirmamos a reunião com Guilherme e os nossos superiores para as duas horas de hoje e fomos embora.
Caio e Dani se despediram e destrocaram o carro com Alice. Dani ainda estava com raiva de Ivan e nem queria olhar para a cara dele. Dei uma leve batidinha em seu ombro para que ele não se chateasse, mas não adiantou muito. Deixamos Ivan em casa e fomos para nossa.
Quando chegamos o sol estava começando a nascer. Papai e mamãe me esperavam na sala e me abraçaram aliviados quando me viram chegar. Me deixei cair no sofá ao lado de meu pai. Minha mãe foi até a cozinha prepara alguma coisa quente para que pudesse beber antes de dormir.
- Cadê a Mel? – Questionei. Minha prioridade era ela naquele momento.
- Está bem, está dormindo em seu quarto. Demos um calmante pare ela. Apagou rápido. – Meu pai sorriu, me fazendo retribuir. – Estava preocupado com você, filha. Queria ir atrás de vocês para ajudar, mas Alice avisou na central para não fazermos alarde, então...
- Tudo bem papai, a gente deu conta. – falei confortando-o. Ele riu nervosamente.
- Hoje entendo a preocupação da sua avó quando pegamos as primeiras missões... Minha filhinha está crescendo... – Me abraçou de novo me fazendo rir um pouco. Retribui o abraço e só sai dele para aceitar o chá de camomila que minha mãe havia preparado.
Quando acabei de beber, dei boa noite para eles e subi para meu quarto. Alice me esperava na porta beijou levemente minha testa e me mandou descansar.
- Você foi ótima hoje, fadinha, estou orgulhosa.
- Obrigada, Lil's... – Sussurrei, mordi levemente o lábio e olhei para dentro do quarto. – Mel vai ficar bem não vai? – A testa de Alice vincou, mas ela assentiu.
- Estamos bem preparados para protegê-la, Ady, e tenho certeza que tomarão mais medidas para isso. Não se preocupe agora. Apenas tente descansar tá? – Assenti, sabia que não adiantaria discutir nada agora. Também estava cansada de mais para qualquer tipo de discussão.
Alice já estava abrindo a porta do quarto quando a parei:
- O que você fez com o Curupira? – Perguntei, com a mão na maçaneta do meu quarto. Ela deu um sorriso discreto para mim.
- Levei ele no Parque das Mangabeiras e fizemos um acordo, quando ele acordou. – Franzi o cenho com isso, pareceu simples demais.
- E vai funcionar? – Perguntei indecisa, ela deu de ombros e me deu um sorriso malicioso.
- Sempre funciona, Ady. – Retribuí o sorriso balançando a cabeça e entrei no quarto.
Tentei fazer menos barulho possível. Melissa já estava dormindo, no colchão ao lado da cama. Fui direito para o banheiro e tomei uma ducha. Olhei para meu vestido todo rasgado, chateada. Era o que eu mais gostava. Iria pedir para mamãe mandar fazer outro igual.
Sai do banho e coloquei a primeira camisola que vi na frente. O quarto estava escuro, apesar do sol. Minha mãe colocara uma cortina de black out na porta da varanda para não me acordar, eu acordava fácil com luz.
Deitei na cama e senti meu corpo todo relaxar. Meu ombro fora colocado no lugar, mas ainda doía. iria incomodar por um tempo ainda. Respirei fundo. Melissa se mexeu ao meu lado, devia estar sonhando. Sorri levemente. Em minha cabeça estava a maior confusão que qualquer um poderia imaginar! Mas eu não queria pensar em nada, afinal era algo para eu me preocupar depois. Virei para o lado e em poucos minutos cai no sono.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top