Epílogo
Dez anos depois:
Era natal! O dia tinha sido bastante agitado, Miriana, Osvald, Serena e eu tínhamos passado a manhã e à tarde preparando o banquete de natal, afinal, éramos muitos e não podia faltar comida para ninguém.
Miriana e Osvald fizeram suas famosas tortas de maçã de casal — era uma tradição deles prepararem essa receita juntos. Além disso, prepararam também os deliciosos bolinhos de morango de Miriana, que as crianças tanto adoravam. Serena e eu preparamos arroz com passas, farofa, salada com mel, mousse com chocolate, patê de azeitonas pretas e muito mais. Comida não faltaria!
— Nem acredito que conseguimos preparar tudo isso a tempo da ceia de natal — comentou Miriana, respirando aliviada.
— Ainda bem que preparamos guloseimas — disse Serena, com uma gargalhada. — Charles e Zoé vão chegar já procurando por elas!
— Falando nisso, onde é que eles estão? — perguntei, olhando para o relógio. — Já está anoitecendo!
Enquanto organizávamos os pratos na cozinha, Osvald forrava a larga mesa no lado de fora, em frente à nossa casa, decorando-a com flores e talheres de ouro. Celina ainda precisava criar os pinheiros para que Rúbia decorasse-os com os enfeites de natal e principalmente a estrela dourada no topo.
Miriana, Serena e eu, pouco a pouco, levamos os pratos até a mesa, onde comeríamos todos juntos à meia-noite. Ainda precisávamos vigiar a mesa após montá-la para que as criaturas mágicas não pegassem nossas comidas — eles eram mágicos, mas seus instintos selvagens ainda falavam mais alto de vez em quando.
Nossa, só notei agora que esqueci de contar o que aconteceu com a vida das minhas filhas ao longo desses dez anos, que cabeça a minha! Bom, vamos lá.
Celina e Magnólia se casaram alguns anos após a maldição ser quebrada no penhasco aqui da dimensão. Juntas, elas viajaram o mundo em lua de mel, conhecendo os inúmeros penhascos ao longo da terra.
Há três anos, elas voltaram ao Orfanato dos Brotinhos, local onde viviam quando Serena e eu estávamos impossibilitados de criá-las, para adotar uma criança. Coincidentemente, quem estava lá era a diretora Matilda, que ficou deverás surpresa ao vê-las.
As meninas acabaram contando toda a verdade a ela, que, embora tenha demorado a acreditar, ficou feliz de vê-las bem, juntas e felizes. Elas adotaram um garotinho a quem chamaram de Charles Feliallo Valente que, meses mais tarde, começou a desenvolver o poder de mudar sua forma física.
Hélio e Rúbia também se casaram alguns anos após a quebra da maldição, porém, diferente de Celina e Magnólia, eles não quiseram sair da dimensão — pelo menos não por muito tempo. Pelo contrário, eles decidiram construir uma fazenda, aqui na dimensão Casa mesmo, onde passaram a cuidar das criaturas mágicas, expandindo o Dia da Escovação para todos os seres, não apenas os unicórnios.
Eles tiveram uma filha chamada Zoé Feliallo Valente que, logo ao nascer, já demonstrou sua extraordinária capacidade de ficar invisível — e sim, Hélio queria nomear a filha com o nome de algum alimento. Graças aos beija-flores, Rúbia não permitiu que isso acontecesse.
Devo dizer que sim, os boatos são verdadeiros, avós adoram passar a maior parte do tempo mimando seu netos e Miriana, Osvald, Serena e eu somos a prova disso. Cozinhávamos doces para eles o tempo todo, além de passearmos juntos pela dimensão explorando tudo de bom que ela tinha a nos oferecer.
Olga, que já estava com dezenove anos, havia feito um novo amigo, que acabou ocupando o lugar do Alfajor, substitui-lo jamais, afinal, eu sou único. Mirtilo, um gaio-azul, se tornou seu novo parceiro de aventuras pela terra, por Casa ou por qualquer outra dimensão que ela e sua fluorita encantada quisessem ir — fluorita era a pedra protetora de Olga, que Celina enfeitiçou para funcionar como uma chave de portal.
Enquanto conversava com vocês, escutei o som característico dos portais ao serem abertos (é semelhante ao som de uma fogueira). Eram eles, estavam de volta! Tinham ido para a terra comprar alguns presentes — é óbvio que Rúbia poderia ter desenhado todos, mas eles queriam apresentar a euforia natalina às crianças.
— Demoramos mais do que o esperado porque as filas estavam enormes — comentou Celina, tirando seu casaco. — Precisamos convencer a Olga a usar seus poderes para convencer a fila inteira a nos deixar passar na frente.
— Quero esclarecer que só aceitei compactuar com isso porque eu estava com muita fome — disse Olga, tentando pegar um dos bolinhos postos à mesa, que estavam sendo protegidos veementemente por Serena.
— Crianças, vão lavar as mãos, já está quase na hora de comer — vociferou Magnólia, também pendurando seu casaco ao cabideiro. — Filho, não esqueça de enxugar as mãos após lavar!
Serena e Miriana, que costumavam levar o natal muito a sério, agarraram Celina e Rúbia pelo braço, arrastando-as até o local em que almejavam que as árvores de natal fossem montadas e enfeitadas.
— Olga, nem ouse mandar o Mirtilo roubar bolinhos para você — gritou Serena, do outro lado do jardim. — Estou ocupada, mas estou atenta!
— Zoé, você já lavou as mãos? — gritou Hélio em meio ao mundaréu de vozes. — Não vai comer se não lavá-las.
A casa estava agitada e eu com certeza estava amando. Tenho certeza que Serena também. Nada mais revigorante do que ver a casa cheia daqueles que amamos.
Não demorou muito até que todos estivessem juntos à mesa. As crianças eram sempre as mais inquietas, mas nós, os avós, resolvíamos isso permitindo que eles pegassem algum doce antes da hora — lembra? Nós gostamos de mimá-los. Quando finalmente os ponteiros do relógio marcaram meia-noite, agradecemos por mais um ano de paz juntos e iniciamos nosso banquete. Estávamos famintos após um longo dia de organização.
— Tia Celina, você pode contar sobre aquele dia em que você virou um monstro roxo descontrolado e arrancou o olho do papai? — disse Zoé, enquanto mordiscava um pedaço de torta de maçã.
— Por que você foi contar justo essa história a ela, Rúbia? — perguntou Celina, revirando os olhos, enquanto colocava mais salada no prato que estava sendo preparado para Charles.
— Mas não fui eu, foi o Hélio que contou essa história a ela — retrucou Rúbia rapidamente, lançando um olhar de repreensão ao marido.
— Por que fez isso, Hélio? — exclamou Celina, furiosa, entregando o prato a Charles, que fingia não ver, pois estava inteiramente focado no bolo de morango.
— Ela queria uma história para dormir, ué — respondeu Hélio, agarrado ao prato de patê.
— E tinha que contar justo essa? — exclamou Olga, com uma gargalhada. — Já que você sabe sobre esse dia, vou te contar minha versão da história, Zoé, é mil vezes mais assustadora.
— Vocês vão acabar traumatizando essas crianças — comentei, com uma risada. — Além do mais, todo mundo sabe que os meus pontos de vista são sempre os melhores e os mais assustadores!
Todos riram. É, pelo visto eu ainda continuo com o meu dom natural de entreter as pessoas. Acho que é o meu lado Alfajor falando.
Seguimos comendo e rindo juntos pelo resto da noite. Pequenos flocos de neve caiam, vindo ao nosso encontro, enquanto nossos corações ferviam de amor uns pelos outros. Tinha sido assim nos últimos dez anos, estávamos bem.
FIM
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