PRÓLOGO プロローグ
Tudo aconteceu no dia em que eu estava fechando o meu armário escolar. Eu estava girando a chave quando percebi que uma folha de caderno, trazida pelo vento, bateu em meu pé. Isso foi na primeira semana aula do primeiro ano do ensino médio, e eu havia acabado de entrar em uma nova escola. Me abaixei e então, peguei aquela folha e percebi que haviam vários versos escritos nela. Versos com palavras que rimam, com analogias envolvendo coisas da natureza e o céu. Era um poema bem escrito, com palavras cuidadosamente bem escolhidas, e que logo no final, havia uma assinatura que dizia: "Tanaka".
***
Naquele dia, meu destino não foi a estação em que eu saltava para ir para casa, e sim, algumas estações antes. Enquanto andava pelas ruas, eu segurava um papel entre meus dedos contendo um endereço. O endereço de um prédio bem alto que continha vários apartamentos. Poderia ser fácil chegar até ele, mais fácil do que eu havia pensado, ou pelo menos era o que eu achava.
- Vai embora, moleque!
Quanto mais ele me mandava embora, mais eu batia na porta.
- Só quero conversar!
- Não me interessa! Vá embora agora!
- Não vou, não!
- Mas que inferno! - eu conseguia ouvir por trás da porta - Como esse garoto me encontrou?
- Não sei - dizia uma voz feminina.
- Eu vou dormir aqui, até que o senhor me atenda!
E naquele exato momento, me sentei de frente a porta, e ali mesmo, as horas foram passando lentamente, até eu pegar no sono. Fui acordado por ela me cutucando, dizendo:
- Ei, acho melhor ir embora se não eu chamo o porteiro.
- Mas... - tentei dizer, porém, fui interrompido por ela.
- Sem "mas", apenas vá embora.
Me levantei, ajeitei minhas roupas, peguei minha mochila que estava jogada sobre o chão, e dei as costas.
***
Nunca houve um tempo, em minha vida escolar, em que eu fui, realmente, uma pessoa interessante, digamos assim. Na verdade, tinha gente que nem me considerava uma pessoa, dá pra acreditar? Sempre estive isolado no meu pequeno infinito no canto da sala de aula, desenhando ou escrevendo alguma coisa no caderno. Minha carteira sempre ficava no lado da sala onde tinha a janela que ficava virada para o resto da cidade, porque por algum motivo, eu gostava de escrever coisas olhando a paisagem. Aquela composição formada pelos prédios, árvores, pessoas e carros, as vezes me davam ideias. Tinha vezes em que eu colava meus olhos em alguma pessoa, ou carro, e ia acompanhando para ver até onde eles iam, ou até onde minha vista conseguia alcançar.
Minha escola nova, logo no primeiro dia de ensino médio, era em um prédio, bem alto na cidade de Yokohama, e a turma do 2º grau, ficava na parte mais alta do edifício. Indo para a sala de aula, andando apenas sobre os pisos com cores mais escuras, eu ia observando o rosto dos alunos, e a partir disso, eu ia os julgando como eu quisesse. Minha mente dizia para mim mesmo o quanto uma garota era alta, ou como o cabelo de uma era curto, e que uma das pessoas que vi, provavelmente era estrangeiro pela feição.
Depois de entrar na sala de aula, ainda havia alguns lugares vagos no canto, onde estava a grande janela.
Ninguém se sentou ali. Por que? Porque deve bater muito sol... Ou talvez porque não seja um lugar apropriado.
Dei alguns passos da porta para dentro e comecei a me dirigir em direção ao lugar vago.
Ele está entre duas pessoas, aquela garota ali de cabelo roxo, aquele cara ali que parece amigável.
Me aproximei mais um pouquinho.
Espera um pouco... Cabelo roxo, por que ela tem cabelo roxo? Deve ser porque ela gosta dessa cor... Ou ela não gosta da cor original do cabelo? Ou não. Ela deve ter ido em alguma festa... Pintado o cabelo e...
- Ei! - uma garota em pé do meu lado me chamou.
- Ah, oi. Deseja alguma coisa? - perguntei na tentativa de ser educado.
- Eu te chamei umas duas vezes e você não me respondeu.
- Ah, me desculpe, eu não ouvi.
- Eu perguntei se tem alguém sentado aqui! - disse apontando para a carteira do meu lado.
- Não, não - respondi.
Como assim, me chamou duas vezes? Ah, ela pode ter falado baixo e você não ouviu...
- Ei... Garoto - me chamou novamente.
- Ah, oi!
Ela sorriu para mim e perguntou:
- Você está bem?
- Sim, sim... Claro.
- Porque toda vez que eu te chamo, você nunca olha de primeira!
- Ah, não é que... - me embolo um pouco nas palavras - É que... - e nesse momento minha mente desligou - É que... Sabe...
- Sabe o que? - ela continuou me questionando.
- Ahm... Nada.
Houve um silêncio um pouco constrangedor entre nós.
- Ah sim... Sei! - disse de sarcasmo. - Aliás, eu estava dizendo que meu nome é Tanaka.
TANAKA 田中
Origem japonesa - "Meio do arrozal"
日本の起源 - 「水田の真ん中」
- Ah, sim. É.. É... - eu estava começando a ficar tímido - É um nome bonito.
- Não acho tão bonito assim. E o seu?
- É... Meu... Meu nome...? É Hiroshi.
HIROSHI ひろし
Origem japonesa - "Próspero"
日本の起源 - 「繁栄」
- Ah... Esse sim é um nome bonito. Prazer em conhecê-lo, Hiroshi - e estendeu a mão para mim.
- Pra... Prazer! - e apertei a mão dela.
- Sua mão está suada.
- Ah, está? É... É... Eu limpo - e comecei a esfregar minhas mãos sobre a camisa.
Ela começou a sorrir, como se tivesse se divertindo com aquela situação.
Para de esfregar a mão na camisa, seu idiota. O que ela tá pensando? Que você é algum maluco. Caramba... Em seu primeiro dia de aula e você já começa assim? Olha pra rua, olha pra rua agora e tire seu foco dela.
Comecei a virar os olhos bem devagar para a janela, e tentei focar em alguém ou algo do lado de fora. Eu sempre fui bem experiente em prender minha atenção em algo bem trivial, mas naquele dia, meus olhos não conseguiram focar em um carro. Eu não consegui acompanhar uma pessoa. A única coisa em que minha mente estava focada, não estava do lado de fora, e sim do lado de dentro.
***
- Entenda, você não é esquisito - dizia Suzuki do lado de fora do banheiro.
- Como você tem tanta certeza? - eu estava sentado no chão do banheiro com as costas coladas na porta, com o rosto entre os joelhos.
- Já fui da sua idade, já passei pelas mesmas coisas. Inseguranças, incertezas...
Foi então que levantei minha cabeça, tirando-a dentre os joelhos, e me levantei bem devagar. Em seguida, abri uma brechinha entre a porta e a parede, e olhei diretamente nos olhos dela.
- Não passou, não... Suzuki.
Ela franziu as sobrancelhas, e aparentemente com raiva me respondeu:
- Não me chame de Suzuki!
***
Deitado sobre a cama do meu quarto, jogando uma bola de pano para o alto, minha mente viajava. Eu pensava em certas coisas que eu não costumava a pensar com muita frequência.
Oi. Tanaka, me desculpe por ontem. Eu sou meio desligado às vezes. Eu fui tão rude com você. Qual é seu nome?
E então parei de jogar a bola para o alto.
"Qual seu nome"? Como assim cara, o que você tem na cabeça? Você diz o nome da garota na frase depois pergunta qual o nome dela.
Enquanto eu estava lá, eu conseguia ouvir Suzuki da sala de estar, conversando com meu pai pelo telefone.
- Ele é um garoto estranho, Akira, você sabe disso! Você queria jogar ele nas minhas costas?
Pausa na voz para poder ouvir o que ele tinha a dizer.
- Não, eu sei que ele tem costumes diferentes, mas isso não faz ele normal. Ele só tá me dando trabalho.
Outra pausa.
- Sim. Em menos de um dia! Ele é mal educado, arrogante, grita com os outros... Igual ao pai!
Se eu não estivesse aqui, essa conversa não existiria. O que eu fiz de errado? Tem alguma forma de mudar o passado?
***
- Mudar o que? - Tanaka me questionou.
- O que? - perguntei não entendendo nada.
- "O que" o que?
- O que você tá falando?
- Não, o que você tá falando? Eu estava te perguntando sobre a tarefa de hoje e você começou a falar de passado do nada.
- Ah, me desculpe, eu estava pensando um pouco alto.
Ela sorriu levemente, com aquele sorriso lindo no canto da boca.
Cara, o sorriso dela é muito bonito, que garota tem um sorriso assim? Elogia ela! Elogia ela!
- Como eu tava dizendo, nesses cálculos aqui eu preciso calcular a média ou...
Vai!
- Tanaka...
Ela parou de falar e olhou para mim.
- Você tem uma garota muito bonita!
- Como disse?
Naquele momento a minha vontade era de enfiar a cara no chão e nunca mais tirar ela de lá.
- Não! Não era isso que eu queria dizer!
Ela colocou a mão sobre a boca e começou a rir bastante.
- Eu gostei de você! Você me faz rir... E seu jeito é... Bonitinho. O jeito como enrola as palavras finge que está prestando a atenção em uma outra coisa para desviar o foco do que está acontecendo.
Respirei fundo e entrei na piada.
- Ah é? - falei rindo também - Que legal que você pensa assim.
***
Aquele carro azul tá parado ali na esquina faz um tempão. Onde será que o proprietário dele se meteu? E aquele homem parado no poste, com boné... E roupa marrom, parece...
- Parece o meu pai!
Depois de falar isso, dei uma olhada em volta e estava todo mundo olhando para mim, incluindo a professora.
Droga, seu idiota! Falou alto de novo!
- Que bom - disse a professora. - Fico feliz pelo seu pai estar ali fora. Mas a questão é: O que eu falei a alguns segundos atrás?
Houve um silêncio na sala, e todos me encaravam, e naquele exato momento, o sinal para que marcava o término do dia de aula bateu.
***
- Uma história? - perguntei.
- Sim. Pessoas que viveram grandes períodos da história do país.
- Eu gosto de escrever histórias, mas, eu não sei sobre quem eu escrevo.
Houve um pequeno silêncio, até que ela continuou.
- Eu conheço um homem que pode te ajudar. Ele tem uma boa história pra te contar.
- E é boa mesmo? - questionei.
- Não - respondeu. - É magnífica!
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