• Capítulo 5 - A governanta
Evie Wright era ambiciosa, e uma verdade já enraizada no seu cerne é que estava farta daquela vida de pobreza que os seus pais levavam. Ela merecia mais, era demasiado inteligente para ser destinada a ficar atrás de um balcão de uma mercearia a cair aos poucos, casar com um pobre desgraçado e parir crianças a torto e a direito desfigurando o seu corpo a cada gravidez, vivendo às custas de uma ninharia. Não, esse não era o seu futuro, não ia tornar-se uma mulher amargurada como a sua mãe, era jovem, bonita e voluptuosa, e iria usufruir de todos os seus encantos. Poderia casar, mas seria com um homem rico e disposto a cobrir todas as duas despesas e gastos excêntricos.
Sentia que aquele emprego como governanta era um bom começo, e do modo como estão a precisar de uma, não se iriam dar ao luxo de a recusar e mandar embora. E isso é que a deixava satisfeita.
Não pôde deixar de ficar impressionada com magnificência da residência, nem como não pôde evitar uma pontada de inveja daquela gente que tinha a oportunidade de viver num palacete como aquele. Não era moça de berço e ressentia-se com o destino por não ter sido mais generoso com a sua sina, pois podia estar a usar vestidos de musselina, seda ou veludo, e não de tecido rude e grotesco como o que ela usava diariamente.
Aguardou pacientemente na sala de estar, que era maior que a sua casa, pela chegada da duquesa, que segundo a sua mãe, era uma mulher bonita, porém demasiado arrogante e indigna de ser a duquesa daquelas terras. A sua mãe não gostava de ninguém, essa era a verdade, mas se a duquesa era tal como a mãe a descreveu, ela iria descobrir não tarda.
Ouviu passos a aproximarem-se e aprumo a postura, vendo as portas abrirem e uma mulher lindíssima a aparecer entre elas em toda a sua figura majestática. Era possivelmente a mulher mais bela que já viu, e não foram precisos muitos neurónios para descobrir que aquela era a duquesa.
Ela aproximou-se com um sorriso no rosto perfeito e Evie retribuiu. Seria aquela mulher a fazê-la subir na vida.
— Deves ser a Evie. — disse Evangeline rompendo o silêncio.
— Sou sim Vossa Graça. — respondeu educadamente. — E desde já agradeço a oportunidade.
— Não agradeças minha querida, vamos sentar-nos para conversar. — retrucou Evangeline indicando o sofá.
A mulher era uma Deusa autêntica, tal e qual a Deusa Afrodite, uma constatação que Evie não conseguia parar de fazer mentalmente. Evangeline Cavendish era a personificação do ideal de beleza feminino, loura, pele pálida, olhos verdes e o corpo facilmente comparável à estátua Vénus de Milo. Não havia homem que não se rendesse aos seus encantos, e o duque também não escapou.
A duquesa fez-lhe várias questões e Evie respondeu confiante a todas elas. Não mentiu em nenhum momento quanto às suas habilitações, pois desde nova foi instruída a aprender um pouco de tudo, desde as tarefas domésticas até como se gere uma casa. Satisfeita com o que ouviu, Evangeline deu-lhe o emprego e Evie ficou exultante com a ideia de se mudar para Overdeen Hall.
A duquesa era uma mulher simpática, completamente o oposto da descrição dada pela progenitora, e sentiu-se satisfeita com as palavras trocadas com a mesma. Mas sabia que a relação entre elas seria meramente patroa e empregada, e isso não a afetava pois nunca quis fazer amizade com ela.
Chegaram ao vestíbulo, de onde já se tinha uma bela vista para o jardim da frente, quando passos foram ouvidos a descer a enorme escadaria rumo a onde elas estavam. Ao voltar-se para lá ao mesmo tempo que a duquesa, Evie viu algo que imediatamente a arrebatou: o homem mais belo que alguma vez já vira.
Era alto, corpulento e com belos cabelos negros que faziam sobressair a palidez da sua pele. Os músculos das coxas ficavam em evidência pelas calças justas e negras que ele envergava, e a masculinidade que ele exalava deixava qualquer mulher a suspirar. O sorriso que ele deu encantou-a, mas entristeceu-a pois ele não lhe era dirigido a si mas sim à mulher ao seu lado. Aquele era Dorian Cavendish, o duque apaixonado que sorria para a sua mulher.
O duque cumprimentou-a e foi apresentada como a nova governanta, porque era isso que ela era, uma mera criada que nunca seria notada por ele. Um duque era o melhor partido que uma mulher podia almejar, mas o primeiro que encontra é casado e nitidamente perdido de amores pela esposa. Nada podia fazer para mudar isso, era inegável. Ao invés de começar a afundar numa poça de amargura, iria apenas focar nos seus serviços e nas suas ambições.
A partir daí foi, na companhia do mordomo, conhecer os restantes funcionários, conhecer a residência e ficar a par de algumas informações básicas referentes ao seu serviço. Quando ia a passar numa das janelas viu os duques saírem a cavalo em direção à floresta a sul da mansão. Ignorou essa mesma imagem e foi organizar os seus parcos pertences no seu novo quarto, na ala dos funcionários.
Dorian havia a convidado para um passeio a cavalo pelo bosque da propriedade logo após a entrevista à nova governanta, o que explica o facto de se ter apresentado à mesma com trajes de montaria em azul e cabelos soltos. Quando ia cavalgar deixava sempre os cachos soltos, pouco se importando se alguém a ia censurar por isso.
Dorian usava um conjunto negro, uma das suas cores favoritas, e trotava calmamente ao seu lado num silêncio aprazível. Ele estava pensativo e ela julgava ser sobre o despedimento de Abigail, a governanta que o viu crescer e por quem tinha um visível carinho.
Também achava estranho o facto de Abigail ter largado o emprego tão abruptamente, mas conhecendo o marido tão bem quanto o conhecia, sabia que ele não iria descansar até descobrir o que se passou.
— Não sei se devo interpretar o teu silêncio como algo bom. — decidiu intervir para o findar daquele silêncio.
Dorian sorriu com a cabeça baixa e voltou os seus belos e brilhantes olhos castanhos para si.
— Se o meu silêncio reflexivo que incomodou, peço-te que me perdoes meu céu. — disse aproximando o garanhão do da esposa.
Evangeline sorriu com o apelido carinhoso que ele proferiu, a primeira vez que o ouviu da boca dele foi numa altura em que ainda não tinham noção da dimensão dos sentimentos um pelo outro, tudo isso numa tarde fria de dezembro na casa do tio dele, Ethan Cavendish. A partir daí passou a exigir, embora em pensamento, que ele lhe chamasse assim, e como se ele tivesse a capacidade de ler a sua mente, inconscientemente assim o fez.
Tudo começou a tomar uma dimensão mais intensa a partir do dia em que ele quase a beijou no meio do trilho de arvoredos no Hyde Park, e ainda mais no dia a seguir à festa de natal quando ele a beijou e fugiu — algo que ela a seguir percebeu ser totalmente planeado — quando veio a sua casa para se desculpar por a ter ignorado totalmente naquela noite. Nessa noite teve a ideia louca de o seguir e dar com ele no quarto de um bordel — com uma classe incomum para um sitio daqueles — no momento em que a mulher estava… bem… a acariciar o membro dele… mas com a língua.
Algo que pensando bem, já que pela expressão dele na altura ele pareceu gostar bastante, iria arriscar fazer. Só para ver como ele reage.
— Agora quem divagou foste tu. — retrucou o duque com uma risada.
Evangeline sorriu enquanto corava ligeiramente, não iria revelar os planos que estava a fazer para ele a serem executados num futuro próximo.
Dorian parou o cavalo e Evangeline aproximou-se dele imitando-lhe o gesto.
— Um beijo pelos teus pensamentos. — disse sorridente aproximando-se de Evangeline para a beijar.
Com um sorriso zombeteiro colocou o dedo indicador sobre os lábios dele, parando-o muito próximo do seu rosto.
— Desta vez não vai funcionar amorzinho. — retrucou rindo do ar emburrando dele.
— Bem sequer um beijinho boneca?
— Quando melhorares esses apelidos haverá beijo, até lá, não há nada para ninguém. — avisou Evangeline colocando o cavalo a trote com um sorriso vitorioso, imaginando a carranca com que Dorian estaria agora.
Rapidamente Dorian a alcança, trotando ao seu lado com a insinuação de um sorriso, pois adorava quando ela fazia-se de difícil. Ele gostava de desafios, mas a única pessoa que ele permitia que o desafiasse era a esposa, mais ninguém se atrevia a sequer pensar nisso.
— Que tal dar-mos um baile? — sugeriu repentinamente voltando-se para o marido.
— Mais cedo ou mais tarde acabaríamos por dar um, por mim tudo bem. — concordou e adorou ver o ar exultante e alegre impregnado no rosto da esposa.
Se assim fosse possível, faria de tudo para ver a esposa feliz. Ela era o seu anjo, porém pelo que conhecia dela, por vezes o seu lado mais selvagem prevalecia, sobretudo na alcova.
Anjo Selvagem, esta é a definição ideal para Evangeline. Uma mulher com aparência de anjo, porém com personalidade selvagem e impetuosa. E era toda sua.
Evangeline desafiou Dorian para uma corrida, e óbvio que ele não recusou o desafio. Dispararam os cavalos por meio aos trilhos e arvoredos dentro dos domínios de Overdeen Hall, e com a crescente adrenalina a duquesa não conseguiu segurar a gargalhada de alegria, que foi acompanhada pelo sorriso rasgado do duque. No final Dorian ganhou, mas nem isso foi capaz de tirar o sorriso do seu rosto, pois no fim de tudo perdeu por pouco.
De regresso ao palacete, Evangeline já estava a planear os detalhes do baile que dariam ali mesmo, já que a temporada social ainda não havia iniciado. Seria o seu baile de estreia como duquesa de Devonshire, e mal podia esperar por isso.
Após um relaxante banho e roupa mudada, caminhava pelos corredores até dar de caras com Erin. Começava a pensar que a mulher era uma assombração, já que ela aparecia de repente e sem querer dar por isso.
— Vi a nova governanta. Uma moça bem parecida. — disse Erin como quem não quer nada.
— E depois? — inquiriu Evangeline pouco interessada nas conceções daquela mulher.
— Não devias ter aceitado empregá-la, tens que demiti-la enquanto há tempo. — sugeriu a viúva com todo o seu descaramento.
— A senhora não é ninguém para me dar ordens, e não irei demitir a senhorita Wright só porque o está a exigir. — retrucou a duquesa com toda a sua postura superior.
Erin aproximou-se uns passos, mas ao ver o olhar cortante de Evangeline, parou a uma distância considerável da jovem.
— Jovens belas são um perigo para um casamento, isto se o homem em questão for um conhecido libertino.
Agora já sabia onde ela queria chegar, ou melhor, o que queria fazer. Provocar.
— O homem em questão já não é um libertino, e Dorian não cairá nesse tipo de tentações medíocres. Não me preocupo com algo que não chegará a ocorrer.
— A tua confiança é invejável milady, mas eu conheço o tipo de homem que é o meu enteado, libertinos uma vez, para sempre o serão.
Evangeline estava a ponto de acertar um estalo naquela fuça enrugada, mas não o fazia pois não tinha intenções de se render ao histerismo. Estava com a sua paciência inexistente por um fio.
— Se o meu marido permanecer com o seu comportamento libertino, então que o aplique no leito conjugal. Se o fizer, serei eternamente agradecida. — retrucou com um deliberado sorriso malicioso.
Erin soltou uma risada que lhe deu a volta às vísceras, de tal modo que a incomodava aquele som de ganso estrangulado.
— Achas que Dorian, como libertino, se limitará à cama da esposa?
— Se eu agir como uma libertina nos lençóis, Dorian não encontrará motivos para visitar outras camas e erguer outras saias. — explicou Evangeline sucintamente.
Erin ignorou a resposta da nova duquesa, pois no seu íntimo tinha a triste constatação de que Dorian nunca seria um homem infiel, e que jamais visitará outra cama que não a da esposa.
— Despede a governanta, é o conselho que te dou. — insistiu mais uma vez.
Mas algo que Erin nunca iria desfrutar ali, seria a vitória.
— Esse será um conselho que terei todo o gosto em ignorar. Com a sua licença. — respondeu Evangeline começando a caminhar.
— Aquela jovem claramente quer subir na vida. Irá trazer-te problemas no futuro.
Evangeline apenas a ignorou e continuou a caminhar, disposta a resolver o mais rápido possível o assunto da sua partida de Overdeen Hall para qualquer buraco naquele país.
Isaac regressava ao palacete, onde a mãe e ele eram indesejados, com uma postura descontraída. Precisou de se distanciar daquele local para desanuviar o pensamento, isso e concentrar-se em algo que não fosse Evangeline.
Ela preferiu casar com um duque do que aceitar o pedido do filho de um mero barão, isso já dizia um pouco sobre o caráter dela. Mas isso não o fazia a desejar menos, a querer menos. Sentiu-se infinitamente derrotado quando soube que Evangeline ia casar com o seu meio irmão, que nem irmão era sequer. Tinha que encontrar outras prioridades na vida, mas não conseguiria tirar a duquesa da mente tão cedo.
Avistou uma jovem de cabelos negros que ele nunca tinha visto por ali, e de repente exultou com a ideia de ser uma amante de Dorian que deixava a casa sorrateira, mas logo essa teoria caiu por terra quando ela o cumprimentou com formalidade.
— Quem é a senhorita? — deu voz aos seus pensamentos fitando a mulher.
— O meu nome é Evie Wright, sou a nova governanta. — respondeu a jovem com uma postura séria.
Pelos vistos perdeu algumas coisas na sua ausência.
— Perdão… Nova governanta? Mas eu pensei que Abigail Brown fosse a governanta de Overdeen Hall.
— Era milorde, já não é. Ela demitiu-se e a duquesa esteve à procura de uma substituta no vilarejo de manhã. Tomei posse das minhas funções há poucas horas. — retorquiu Evie e Isaac sorriu com a resposta e acidez da jovem.
Uma jovem incrivelmente bela, e formosa. Pensou para consigo.
— Interessante. E sabe o porquê de ela se ter demitido?
— Não sei senhor, mas creio que isso não seja nada da minha conta.
Não conseguiu evitar o sorriso com as respostas daquela jovem. O seu corpo reagia a cada uma delas com o mesmo estímulo, que se manifestava com pulsações vigorosas no seu membro.
Sim, definitivamente queria a senhorita Evie Wright na sua cama, e esperava ele brevemente. E se para isso tiver que a persuadir e seguir com insistência, que seja. Ele não é de desistir daquilo que quer, e queria muita coisa.
Ela era bela e tinha a perfeita noção disso, notava-se pela sua postura confiante, e isso só o fez desejar com mais ardor. Estava com o olhar focado nela, até este se desviar para a deslumbrante mulher que atravessava o vestíbulo, mas que não dera pela sua presença pois encaminhava-se sem vacilar para a sala de estar.
Evie percebeu a mudança de foco do homem e o brilho no olhar ao focar em Evangeline, e não foi preciso somar dois e dois para perceber tudo.
— Se fosse a si desistia, milady pertence ao duque, e pelo que já percebi dele, milorde é extremamente possessivo relativamente ao que lhe pertence.
Isaac focou novamente na governanta impávido.
— Creio que Lady Cavendish não aprecie ser tratada como um objeto. — retrucou Isaac com um sorriso de canto e mãos nos bolsos.
— Mas milorde não a trata assim, tem uma devoção por ela visível a quilómetros de distância, e ela por ele. — explicou Evie ainda com a expressão séria. — E ela parece-me o género de mulher que não se contenta com migalhas.
Apressou-se a abandonar a sala e a presença daquele homem de quem nem sequer sabia o nome, mas era algo que pouco lhe interessava. Já Isaac observou cada passo que ela deu com extrema atenção, isto enquanto pensava num modo de a encurralar e levar para a sua cama, tirando-lhe aquelas respostas impertinentes com uma boa dose de sexo.
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