• Capítulo 12 - Grace

       
       Grace foi o melhor presente que Evangeline lhe podia ter dado.

       Os dias passavam e o seu amor pela filha só aumentava. Se fosse o seu pai, estaria infinitamente desgostoso por ter nascido menina, mas Dorian não era como ele, e sentia-se abençoado pela bela menina que tinha nos braços.

      Embora estivessem em Devonshire, a notícia do nascimento da primogénita dos duques Cavendish já corria os jornais de Londres, como a notícia do momento que era intrinsecamente comentada nos salões de baile e casas e chá. O mexerico do momento, relatado pelos amigos através de correspondência, era se a menina era parecida com a mãe ou com o pai.

       As apostas estavam numa luta renhida, mas com o passar dos dias era visível uma mistura dos traços tanto do pai como da mãe. Os cabelos eram tão escuros quanto os do pai, os olhos eram verdes como os da mãe e o mesmo formato dos lábios, uma adorável forma de coração. 

       Era absolutamente linda.

       Dois meses se passaram desde o nascimento de Grace, um mês depois dela nascer os convidados foram embora, claro que durante esse tempo ela foi mimada ao extremo por todos. As obrigações na capital foram o motivo que levou a que eles deixassem Devon, pois por eles permaneceriam ali à volta da bebé.

       Debaixo da copa de uma árvore da larga propriedade, com o sol da tarde a incidir sobre eles, Dorian observava embevecido a filha a dormir no colo da mãe, com um pequeno sorriso no rosto. Lembrava-se de uma altura da sua infância, no tempo em que ele era alheio à infelicidade que pairava ao seu redor e vivia ali no palacete somente com a mãe, em que a mesma lhe disse que quando um bebé sorria, fazia-o para os anjos. E começava a acreditar nisso analisando a serenidade da sua pequena filha.

       Evangeline estava com os cabelos soltos e um sorriso fechado no rosto iluminado, tanto pelo sol como pelo brilho maternal que ela adquiriu após dar à luz. Seria possível um homem apaixonar-se ainda mais pela mulher pela qual é completamente louco de amores? A resposta é: sim, é possível. E ele é a prova viva disso.

       — Não olhes assim para mim, que me atormentas. — retrucou Evangeline com um pequeno e discreto sorriso no rosto.

       Dorian teve vontade de rir alto, mas conteve o volume por causa de Grace que dormia serena, agora comodamente deitada na manta, em cima de alguns cobertores trazidos por eles.

       Mas era difícil para ele não admirar o ar radiante que se apossou da esposa após o nascimento da filha, embora ainda com algum peso que adquiriu na gestação. Aos seus olhos continuava a ser a mulher mais bela de todas, se bem que a maternidade a favoreceu nos traços físicos, como por exemplo os seios, que já eram generosamente cheios, agora estavam ainda mais irresistíveis, ou até as ancas, que estavam ainda mais demarcadas, embora ela não usasse o corpete por baixo do vestido. Recomendações de Portia.

       Com os seus pontos fracos ainda mais evidentes, estava cada vez mais difícil resistir à tentação que era Evangeline, mas como ela ainda estava em fase de resguardo, não iria colocar a saúde dela em risco só porque não soube frear os seus desejos.

       — Estou apenas a admirar as mulheres da minha vida. Posso fazê-lo, ou é proibido? — provocou observando a esposa, que o fitou de volta com os seus olhos de um verde intenso, ainda mais demarcado pela luz solar do verão de Julho.

       Quando ela mordeu o lábio inferior com um brilho matreiro no olhar, teve de apelar a todo o seu autocontrolo para não a atirar já sobre a manta e dizer adeus ao celibato. Mas com a ajuda do Senhor, foi capaz de ficar quieto. Exceto algumas partes.

       — Se continuares a babar feito um cão para cima da nossa filha, serás proibido com toda a certeza. — disse com um sorriso maligno, que se ampliou perante a carranca forçada do duque. 

       Que mulher demoníaca!

       — Nunca ouviste a expressão "pai babado"? — perguntou com uma sobrancelha erguida.

       Como resposta, recebeu um riso quase inaudível e um beijo demorado, com traços de lascívia.

       Ai mulher, que não sabes o que me fazes!

       Ele quis prolongar o momento, ou até levar aquilo a vias de facto, mas logo o rosto de Portia apareceu na sua mente a exclamar com veemência: "nada de fornicar nos próximos três meses. Ouviste Dorian?!"

       Para ele três meses era muito tempo, para além de que achava desnecessário todo esse tempo, mas Portia afirmou que era melhor jogar pelo seguro pois o parto foi difícil e deixou Evangeline bastante fraca, então Dorian acabou por concordar em respeitar os três meses. 

       Para ele, mais três meses sem sexo era equivalente a uma longa e dolorosa tortura medieval.

       Por vezes chegou a pensar seriamente em aliviar-se com o cinco contra um, mas logo essa ideia saiu da sua cabeça, pois se iria aliviar-se, seria na sua esposa. Podia sair outro filho dali, mas era um risco que ele adoraria correr.

       — Vou pedir um pano ou algo assim a uma das empregadas da limpeza. — comentou Evangeline e Dorian fitou-a curioso.

       — Para quê?

       — Par limpar essa tua mente suja! — respondeu mordaz, porém em vez de a fitar ofendido, Dorian gargalhou.

       Era por isso que a amava. O seu humor não tinha limites. 

       — Não negues que adoras a minha mente suja. — provocou mordendo a orelha dela. — Aliás, também a tens.

       — Não me difames Dorian Cavendish, eu não te admito! — reclamou com falsa indignação, porém com o corpo aceso com a carícia do marido.

       Sentia a falta do contacto físico e do prazer que somente ele sabia e podia lhe proporcionar.

       Não sabemos o quão o nosso corpo passa a ser dependente de outro até este deixar de nos pertencer. Desde que casou com Dorian, há quase um ano, que não imaginava outro local para se aliviar e perder que não fossem os braços do seu marido. O seu corpo já não pertencia somente a si, e com essa realidade conviva bem.

       Aquilo que acalmava um pouco essa falta, é o facto de o período de resguardo estar a acabar, e sabia que o seu marido seria excecional a suprir a falta que ambos sentiam um do outro. Porém ao fitar Grace a dormir serena ao seu lado, sabia que essa falta foi necessária, e valeu a pena. 

       — Acho melhor regressarmos, está muito calor para Grace estar assim aqui fora. — sugeriu Evangeline e Dorian assentiu em concordância, pois de facto estava muito quente. 

       Evangeline pegou na menina ao colo e Dorian recolheu os itens que haviam trazido, encaminhando-se em seguida para o palacete.

       Ao chegarem ao vestíbulo encontraram-se com Evie, e a duquesa notou o seu ar abatido já presente nas suas feições há algum tempo. Embora não soubesse o motivo exato da sua tristeza, fazia uma pequena ideia, e acreditava que fosse Isaac Moore, o filho de Erin, o motivo dessa tristeza. Não sabia sequer se eles eram chegados, mas o que sabia é que desde que eles partiram, o brilho de tristeza no olhar da governanta nunca mais se desvaneceu. Não possuía intimidade com ela o suficiente para a questionar, portanto decidiu não a importunar com esse assunto.

       Colocou Grace no berço e deixou-a sobre a vigilância da ama, e antes de sair do quarto beijou-lhe a testa com carinho.

       Dorian havia ido para o escritório quando ela foi deixar Grace com a ama, e agora que ela estava no berço ainda a dormir profundamente – nisso era igual ao pai – decidiu ir ao escritório do marido para o importunar um pouco.

       Bateu à porta e ouviu a voz grave do duque autorizar a entrada, e quando entrou na divisão encontrou-o sentado numa poltrona perto da janela a analisar minuciosamente um documento que tinha em mãos. O ar de concentração dele deixava-o bastante atraente, era uma característica dele que não se cansava de salientar.

       Caminhou serenamente até ele, e ouvindo os passos Dorian levantou o olhar e focou em si, sorrindo para a esposa e observando-a sentar-se no braço da sua poltrona. Pousou a folha na mesa de centro redonda disposta diante de si, sabendo que com a esposa por perto, não conseguiria trabalhar.

       — Interrompo algo importante? — perguntou fingindo ingenuidade, sabendo bem a resposta.

       Claro que Dorian nunca lhe diria isso na cara.

       — Não, nada é mais importante do que a minha linda esposa, e, claro, a nossa linda filha. — retrucou puxando a esposa para o seu colo.

       Evangeline acomodou-se no colo do marido e rodeou o pescoço dele com os braços, sentindo os braços fortes dele rodearem a sua cintura ainda com alguns vestígios da gravidez, mas que já iam desaparecendo gradativamente. Capturou os lábios de Dorian num beijo lento, sem pressa, mas com a habitual luxúria que corria entre eles. Algo inevitável quando se tem um marido com um enorme apetite sexual e um sex appeal gritante.

       As carícias que foram trocando no silêncio do escritório eram o máximo que podiam fazer, mas a realidade é que a paciência é uma virtude. E neste caso, iriam necessitar dela, e muito. 

       A luxuosa carruagem parou em frente ao casarão pouco modesto, que ela pouco conhecia e apreciava ainda menos.

       A lady observou a paisagem em volta com bastante minúcia, constatando que ali era um local onde decididamente não iria viver, fossem os motivos quais fossem. 

       Encaminhou-se até ao avantajado alpendre e tocou na aldraba da porta, aguardando que alguém a viesse abrir. De facto, aquela residência era sinistra, exatamente de acordo com o espírito e personalidade do proprietário.

       O mordomo abriu a porta e cumprimentou a lady, informando que já a aguardavam na sala de estar.

      Após se fazer anunciar e ser servida de uma dose de chá, observou a figura sentada à sua frente com uma postura serena, aguardando pelas novidades.

       — Já nasceu. — disse com voz monótona, mas a mulher esboçou um esgar desgostoso.

       — E isso significa que...

       — Que aqueles dois estão mais unidos do que nunca. E pelo que soube, ambos são bastante apegados à filha.

       — É uma menina?

       — Exatamente. Grace Anne Borton Cavendish. É o que dizem os jornais.

      Ficaram em silêncio durante alguns minutos, um silêncio reflexivo onde pensamentos diversos passavam pela mente de cada um ali presente.

       — Ainda desconfio que o duque ame a esposa, assim como desconfio de que esteja desiludido por ter nascido menina.

       — Podes explicar? — solicitou o anfitrião.

       — Libertinos nunca ficam com a mesma mulher durante muito tempo, ele já deve ter arranjado pelo menos meia dúzia de amantes neste último ano. — explicou com absoluta certeza do que dizia. — Aliás, sabemos bem como era o falecido duque.

       Silêncio se fez novamente, dando à lady a indicação de que devia prosseguir.

       — Quanto à criança, é inerente que um homem preza pela sua linhagem masculina e por um herdeiro, e acredito piamente que Sua Graça deve estar a amaldiçoar a sua esposa pela incapacidade de lhe dar um filho homem.

       — Acredita mesmo nisso, não é milady?

       — Não é nítido? Todos os homens são assim!

       — Estereótipos Vossa Graça, não devemos generalizar. — disse com uma serenidade invejável, que contrastava com a inquietude da convidada.

       — Eu prezo pela separação deles, e sei que não sou a única.

       O anfitrião fitou a convidada com um sorriso ardiloso, sabendo naquele instante que já tinha encontrado o aliado perfeito para realizar os seus intentos. 

       — Aquilo com que podemos contar é que entre eles se plante a semente da discórdia, a partir daí é só aproveitar a oportunidade e mantê-los separados.

       Observou com atenção a sua convidada, e naquele exato instante soube que estava disposta a tudo para prestar o seu auxílio.

       E como que para confirmar a sua certeza, com um brilho ardiloso no olhar, a lady deu um sorriso perverso para a pessoa sentada á sua frente.  

       Antes de abandonarem o escritório, Dorian confidenciou-lhe que planeava ir a Londres, e logo Evangeline prontificou-se para ir com ele. Teria a oportunidade de poder comprar novas roupas e encomendar roupas para Grace numa das inúmeras costureiras da capital. Roupas estas desenhadas por si.

       Também teria a oportunidade de tentar encontrar uma costureira que concordasse trabalhar para si de acordo com as suas condições, pois não conseguiu encontrar nenhuma em Devonshire, levando a que fosse adiando o seu projeto além do que ela gostaria de admitir.

       Os vestidos desenhados por si possuíam decotes generosos e cinturas acentuadas, que evidenciavam com maestria os atributos femininos que mais eram observados pelos homens. A ideia não era provocar o contingente masculino, mas sim chamar a atenção, escandalizar e ousar, deixando para trás, nem que por uma ou duas noites de longe a longe, o conservadorismo e pudor.

       Estes também refletiam os seus gostos pessoais, que nitidamente demonstravam o seu gosto pela ousadia e inovação. Com esses vestidos Evangeline começará por usar penteados elaborados e presos para cima com ganchos com plumas condizentes com a cor do vestido. Eram traços da moda francesa que ela apreciava e iria usar, pouco lhe importa se será motivo de falatório por esse mesmo motivo. 

       Achava até engraçado existirem pessoas, mulheres na sua maioria, que adoravam cochichar sobre a vida alheia. Mas uma realidade é que bastava Evangeline abrir a boca, e muitas dessas mulheres acabavam por serem colocadas na rua pelos próprios maridos sem um mísero xelim no bolso, isso e adquirindo o descaso dos seus pares nos círculos sociais.

       Claro que Evangeline não era mesquinha a ponto de o fazer apenas por malvadez, era integrante da minoria que não o fazia.

       Os baús com as suas roupas e restantes itens estavam dispostos no saguão do palacete, prontos para serem colocados na carruagem. Evangeline estava ao lado de Maisie que segurava Grace no colo enquanto brincava com ela, porém Dorian disse que ia conversar com o mordomo e ainda não voltou.

       — Vou procurar o duque, volto já. — disse voltando-se para a dama de companhia e subiu para o piso superior.

       Percorreu o corredor até à biblioteca, mas o local estava vazio, e com essa constatação fechou a porta e afastou-se dali. Caminhou até ao escritório, pensando que talvez ele lá estivesse.

       A porta estava fechada, não havia barulho nenhum que se fizesse ouvir de lá de dentro.

       Abriu a porta e constatou que tudo estava vazio, e ia a sair quando notou alguns papéis caídos ao lado da secretária. Revirou os olhos após fitar a papelada desorganizada em cima da mesa, e aproximou-se para apanhar os papeis do chão.

       — A preguiça de apanhar os papéis falou mais alto, não é Dorian Cavendish? — disse para si mesma baixando-se e começando a apanhar a papelada.

       Não eram muitos papéis, alguns eram anotações dele e outros eram documentos de contabilidade.

       Levantou-se e abriu a gaveta onde sabia que Dorian guardava os documentos, e ao abri-la ficou curiosa ao fitar o papel que estava no topo de uma pilha diminuta ali guardada.

       Sabia eu não devia mexer nas coisas do marido assim sem mais nem menos, inclusive ele nunca deixou que ela abrisse aquela gaveta, mas a curiosidade falou mais alto, logo pousou os papéis em mão em cima da secretária e pegou no papel, que, tal como ela suspeitou assim que o viu, tratava-se do testamento elaborado por Harry Cavendish.

       Pessoalmente sabia de quase tudo o que constava ali, que lhe foi confidenciado por Dorian num momento de desabafo. Porém decidiu ler na mesma, apenas para saciar a sua curiosidade.

       Na sua maioria constava a confirmação e garantia de que Dorian herdava o título, dinheiro e terras pertencentes à família Cavendish, assim como se esperava dele como o único herdeiro, porém mais para o fim, um dos itens é que prendeu a sua atenção.

       Ao ler sentiu as mãos tremerem e o coração a parar, assim como uma expressão estupefacta que se apoderava do seu rosto.

       Naquele excerto dizia "Se no prazo de um ano Dorian não casar, o palacete de Devon, Overdeen Hall, e todos os pertences lá dispostos, inclusive os da falecida duquesa Liz Cavendish, passam para a total e permanente tutela da atual duquesa viúva, sendo proibido de lá por os pés após esse período, perdendo o acesso a seja o que for que lá esteja. E, para além disto, perde o direito a um terço da fortuna que lhe estava destinada por direito de nascimento."

       Se no prazo de um ano após a morte do duque Dorian não casasse, perdia o controlo de Overdeen Hall, é isso mesmo? Assim como perdia um terço da fortuna da família?

       Foi por isto que Dorian casou com ela? Por um simples palacete? E por dinheiro?

       Porque será que ele nunca lhe falou desta cláusula do testamento, se lhe falou de tudo o resto que ali estava escrito?

       Provavelmente foi para que não soubesse das suas reais intenções por detrás do seu pedido de casamento.

       Desgraçado!

       Por isso é que ultimamente ele andava enfiado durante muito tempo no escritório, envolto em papéis que ela não sabia o que continham, mas que sempre que o inquiria, ele desviava o assunto.

       Assim como nunca lhe mostrou o testamento, mesmo quando estavam os dois naquele mesmo escritório e o assunto era mencionado.

       Durante quase um ano de casamento ela pensou haver amor verdadeiro envolvido de ambas as partes, mas afinal só ela foi a única a ser verdadeira ali.

       Podia ser uma interpretação errónea, mas vendo a data da morte do pai de Dorian e a altura em que ele lhe propôs em casamento, tudo se encaixava. Ele pediu-a em casamento seis meses após a morte do pai, e acreditava ter deixado passar esse tempo para não levantar suspeitas quanto às suas verdadeiras intenções.

       Não duvidava da sua afinidade e carinho por si, mas perante aquela realidade isso de nada valia. Dorian mentiu-lhe, enganou-a, e isso jamais iria perdoar.

       Ele nunca a amou, e agora sentia que cada declaração feita por ele não passava de um conjunto de palavras vazias proferidas para a envolver na sua teia de mentiras gananciosas, de modo a fazer com que ela jamais desconfiasse de segundas intenções ocultas.

       Sentia as lágrimas inundarem a sua visão, mas proibiu-se a si mesma de as largar. Não iria chorar por quem não a merecia.

       Ouviu passos no corredor e uma voz distante a chamá-la, mas não ergueu o olhar um só momento daquelas palavras condenatórias.

       — Evangeline? O que fazes aqui? Estava à tua procura.

       Aquela voz fez uma onda de fúria tangível apoderar-se de cada fibra do seu corpo, e lentamente dirigiu a Dorian o seu melhor olhar raivoso e magoado.

       Ele franziu a testa perante a sua expressão, mas a expressão acirrada dele suavizou ao ver o papel na sua mão, não o reconhecendo de imediato.

       — O que se passa querida? Aconteceu algo? — perguntou ele suavemente, mas aos ouvidos de Evangeline soou como uma sinfonia do demónio. 

       — A verdade vem sempre ao de cima. Nunca ouviste esta expressão? — inquiriu, prestes a ficar vermelha de fúria. 

       — O que é que queres dizer?

       Dorian incitou o passo até si, mas Evangeline ergueu a mão que não segurava o papel com uma expressão cortante. Ele estacou na hora, com uma expressão confusa e uma pergunta silenciosa estampada no rosto.

       Evangeline respirou fundo, tentando adquirir uma calma que estava longe de sentir.

       — Eu valho menos do que um palacete para ti Dorian? — perguntou de modo afiado, e pelo olhar que Dorian dirigiu ao papel, ele logo soube do que ela estava a falar.

       E o suspiro dele foi a sua única resposta.

       — Evangeline...

       — Valeu a pena? — prosseguiu a duquesa, interrompendo o apelo do marido. — Mentires-me, fazeres com que eu acreditasse que querias casar comigo porque me amavas, tal como havias dito na altura, enganares-me e fazeres de mim o teu peão neste jogo dissimulado para conseguires o controlo total deste palacete e de tudo o que ele contém! Valeu a pena!?

       Dorian abriu e fechou a boca como um peixe fora de água, sem saber o que dizer. Ele queria responder, queria explicar e deixar tudo em pratos limpos, mas o desprezo, raiva e mágoa presentes no olhar da sua esposa, foram suficientes para o calar.

       — Tu és um dissimulado miserável Dorian Cavendish! — berrou Evangeline atirando o papel ao chão com fúria.

       — Evangeline, deixa-me explicar de uma vez! — reiterou Dorian tentando parecer calmo.

       Mas aquele apelo só serviu para alimentar a fúria que queimava dentro de si.

       — Quem mente uma vez, mente até à hora da morte. Não estou disposta a ouvir as tuas explicações porque desta vez, não vou permitir que me mintas novamente! Não vou ser estúpida a ponto de acreditar nas palavras que saem da boca de um homem dissimulado e inescrupuloso! 

       — Já chega Evangeline! Chega destes gritos histéricos, eu devo-te uma explicação e irei dar-ta! — vociferou Dorian, fitando a esposa com firmeza.

       Não iria permitir que ela continuasse a tirar conclusões precipitadas.

       — Gritos histéricos? Achas que a minha raiva por ter descoberto que fui usada como moeda de troca para garantires o teu precioso palacete não passa de histeria?

       — Não foi isso que eu quis dizer. — Dorian tentou defender-se. — Apenas queria pedir-te um minuto de silêncio para eu poder explicar tudo isto, apenas isso!

       — Não quero as tuas explicações para nada! Já sei aquilo que precisava, e isto já basta para mim. — retrucou virando-lhe costas e dirigindo-se para fora do escritório, porém voltou-se assim que alcançou a ombreira da porta. — Grace não merecia uma coisa destas vinda do próprio pai.

       — Nem vás por aí Evangeline! — vociferou o duque. — Eu não te admito que duvides do meu amor pela nossa filha! E muito menos que a metas na nossa discussão!

       Evangeline apenas deu um sorriso descrente, desprovido de qualquer emoção.

       — Tarde demais Dorian, vindo de ti, desconfio de absolutamente tudo.

       Virando-lhe as costas, caminhou a passos rápidos para longe dele, indo trancar-se no quarto para chorar toda a sua raiva, dor e sentimento de traição.

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