Capítulo 25🍁

Às vezes eu tento chegar á perfeição, desejo ser esculpida pelo escultor, mas sei que a perfeição não existe. Vejo que não sou tão bonita, não chego no padrão de beleza das muitas raparigas da minha idade. Sempre me vi fora desses padrões, eu não faço parte das escolhas da sociedade, pra mim padrão de beleza é ser uma pessoa humilde e de bom coração.
A luz que temos por dentro é a melhor que podemos oferecer, ela brilha como as estrelas, mesmo que os olhos não consigam enxergar. A beleza vai além da superfície, não temos que mudar nada, somos lindas por dentro e é isso que sempre importa.
Para além que as pessoas não conseguem enxergar isto, temos de ser diferentes deles, para ver as coisas mais belas ao redor.
- Haily, és lindo do seu jeito e se Carlitos não consegue ver isso ele é que está perdendo- Amy segurou minha mão, era aquilo que eu precisava naquele momento, em vez de um ombro amigo, uma mão amiga.
- obrigada Amy!- agradeçi

Depois que tomamos nossos sorvetes voltamos pra casa, quando chegamos a família Bettencourt já não estava mais ali, fiquei feliz.
- os Bettencourts já foram embora?- Amy perguntou

- sim, parece que aconteceu alguma coisa na empresa do senhor Bettencourt, eles tiveram que voltar mais cedo- Bento respondeu, eu estava desejando que eles não voltassem pra casa nunca mais, só pra não ver o Carlitos.

- vocês demoraram, onde estavam?- Charlene perguntou

- aproveitamos pra tomar um sorvete ao lado do correio- Amy respondeu deixando sua bolsa em cima do sofá.
Tínhamos chegado mesmo na hora em que o almoço já estava pronto, a governanta nos avisou que a mesa já estava posta e fomos todos matar nossa fome, mas tinha uma pessoa que tinha algum problema, Beto parecia perturbado com algo.
- Beto, está tudo bem?- perguntei arqueando uma sombrancelha

- está...está tudo bem- ele respondeu fraco, deu pra perceber que ele estava mentindo

- o senhor Bettencourt te disse algo de ruim?- Amy perguntou

- não, o senhor Bettencourt não tem nada haver, eu estou bem- Bento continuava mentindo, depois que almoçamos a mesa estava sendo esvaziada, Bento saiu da sala primeiro que todos e eu fui atrás dele saber o que estava acontecendo.

- pra quê ficar pensando nisto irmão, deixa nosso pai estar- Beto disse, agora eu já estava bem curiosa pra saber o que se estava acontecendo
- depois de tudo o que ele fez agora ele aparece mudado? Ele nos abandonou, e me tratou mal- parecia que havia algum problema familiar no meio, eu fiquei com pena do Bento.

Bento era uma pessoa com tão bom coração pra sofrer, dizem que as pessoas mais humildes são os que mais sofrem, pelo menos era o que dizia minha vizinha e minha mãe.
Às vezes temos de ser pedra o suficiente para aguentar a vida e a humanidade. Não adianta chorar mil vezes pela mesma coisa, isto é perda desnecessário de lágrimas e mais um buraco dentro de si. Afinal nem todas as coisas merecem nossas lágrimas. Nem tudo é eterno, a dor e a tristeza um dia acabe, só não te esqueças de ser o mesmo de sempre.

Se pegarmos cada coisa ruim das nossas vidas e lhes transformar em algo bom, veremos que valeu a pena. Não precisamos nos transformar em museus, cada coisa negativa será ignorada e veremos o lado bom das coisas.
- Haily, o que fazes aqui espreitando os outros?- Charlene mais uma vez me assustou como todas as vezes
- meu Deus, eu pensei que era a senhora Antoniette, só quero saber o que o Bento tem- respondi com a voz baixo

- porque ele está triste?- Charlene perguntou

- ele teve algum problema com o pai, nada mais, agora vamos sair daqui antes que sejamos vistas- saimos debaixo da escada e caminhamos normalmente até Bento e Beto

- está tudo bem Bento?- Charlene perguntou toda cínica, eu quase caí na gargalhada

- está tudo bem Charlene, obrigada por perguntar- Bento respondeu com um sorriso sem mostrar os dentes, Charlene sorriu pra ele e foi até mim

- Haily, vamos para o meu quarto, tenho umas coisas para te mostar- Charlene me arrastou pela escada nunca correria até chegar no seu quarto, ela pegou uma caixa debaixo da sua cama e me entregou

- o que é isto?- perguntei franzindo o cenho

- abre e vais ver!- quando abri a caixa, eu vi os sapatos que a minha mãe me tinha oferecido no meu aniversário, naquele dia todo mundo da escola estava rindo de mim, me chamando de mata baratas e entre outros, mas eu nunca tinha abandonado aquele sapato, ele tinha um significado importante pra mim
- o meu sapato- digo o abraçando

- eu guardei pra ti, me disseste que foi presente da sua mãe, então o guardei como se fosse você- Charlene disse e eu lhe dei um abraço apertado

- obrigada Charlene, eu tinha esquecido da sua existência, sabe o que eu vou fazer?- perguntei

- o que?- perguntou Charlene

- passar este sapato para a minha primeira filha- respondi

- me conta, como você vivia em Cabo Verde antes de ir á Santo Antão?- Charlene me sentou na cama e ficou do meu lado. Eu queria não lembrar e nem falar daquelas minhas malditas lembranças, mas eu tinha de dizer algo porque aquilo já não tinha efeito sobre mim.

Algumas pessoas que entrem nas nossas vidas tem o dom de nos mostrar o quanto bom o ser humano pode ser, outros nos mostrem o quanto ruim pode ser alguém. Ficamos tristes, com cicatrizes difíceis de curar, o ódio, a amargura e o rancor. Mas isso só trás infelicidade pra nós, enquanto vivendo lamentando e remoendo cada lembrança ruim, os outros não estão nem aí pra nossa existência.

As lembranças ruins nunca devem ser guardadas no coração, porque é ali que sentes o efeito das coisas impalpáveis, elas devem ser trancadas no nosso cérebro, a onde só podes o ver como um capítulo sem importância que não tem efeito em ti.

Para as nossas lembranças ruins não existe um milagre que apague elas do nosso cérebro, mas existe o caminho e a verdade que apague elas dos nossos corações.

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