Capítulo 1🍁
Quando nascemos, nascemos puros, inocentes e frágeis. Viemos para o amor, quando não somos feitos pelo amor dos nossos pais, somos feitos pelo amor de Deus. Dizem que o nosso destino já está traçado, pelo menos era o que o senhor João dizia, meu vizinho que morreu a anos, ele amava os gatos da minha vila, e tinha uns cinco gatos que ele cuidava em casa.
Nasci Cabo Verde na ilha de Santo Antão e fui criada na ilha do Sal.
Não sei como começo essa minha história que mudou de água para o vinho, foram tantas coisas que eu aprendi e vi. Navi, meu irmão mais novo tinha acabado de comer seu cuzcuz com leite e pela primeira vez ele estudava na escola primária, minha mãe estava tão feliz que ele já estava crescido, eu estudava segunda classe, não me lembro de colocar os pés no Jardim infantil, apenas de estar em casa pintando meu caderno, brincando com minhas bonecas e tentando aprender nos livros velhos dos vizinhos.
- Haily, se apresse porque estás atrasada- minha mãe me chamava enquanto ela preparava o lanche do meu irmão. Saímos de casa e fomos ao encontro da escola que não ficava tão longe, deixei meu irmão na sua sala e fui para o meu.
- olhem, é a Haily- algumas crianças apontavam pra mim, como se eu fosse um tipo de criatura estranha, e eu era mesmo, eu costumava estar sempre sozinha nos corredores da escola, ninguém brincava comigo.
- hoje vamos ter matéria nova e quero que todos aprendem rápido- a professora Iolanda gritava e batia com sua vara aos alunos, principalmente os que tinham dificuldades em aprender.
Eu era a que apanhava todos os dias, qualquer erro que cometesse, levava uma varada nas minhas pernas, ao chegar em casa eu tinha de esconder as marcas roxas com minha saia grande. Minha mãe não ligava pra essas coisas, eu tinha muito medo de contar que a professora me tinha marcado.
- senhorita White, me faça esta conta- me assustei ao ouvir meu nome, a professora pegou no giz e me ofereceu para escrever na lousa. Minhas pernas estavam trêmulas, porque eu nem sabia se tinha entendido a matéria. Não sabia porque motivo eramos mal tratados como se nascemos aprendidos. Fiz a conta com as mãos trêmulas, a professora olhou pra mim tocando na sua verruga.
- muito bem!- ela exclamou, me senti aliviada e fui me sentar no meu lugar, as meninas me olhavam com ciúmes, principalmente a Eliza. Ela era minha amiga logo no início cheguei a cidade, depois dela ter conhecido a Ivalize tudo mudou.
As três aulas se tinham acabado e bateu o sinal do recreio, todas as crianças saíram aos berros, arrumei meu livro na mochila que ganhei na escola e quando ia pegar meu caderno a Eliza jogou ela no chão. Eu nem disse nada, apenas a observei sair aos risos com sua nova amiga.
Deixei minha bolsa atrás da cadeira e sai, as crianças estavam todos se divertindo, menos eu, mas quando vi um grupo de meninas saltando corda fui até elas
- Olá meninas, posso saltar convosco?- perguntei toda inocente e ingênua
- já não há mais lugar, somos o suficiente- a menina respondeu sem colocar os olhos em mim. Meu sorriso saiu do rosto, mas eu não me desanimei, vi dois grupos jogando com uma bola e fui até eles
- Olá pessoal! Posso jogar?- perguntei sorrindo, uma menina que parecia ser da alta sociedade se colocou na frente das outras crianças e respondeu fria e cruel
- NÃO!- a menina me lançou um olhar de ódio, como se algum dia eu lhe tinha feito algum mal. Sai dali sem se sentir rebaixada porque tinha várias crianças ao redor, eles podiam me deixar brincar com eles. Vi a Eliza e Ivalize com mais duas meninas saltando malha
- Oi, posso brincar?- perguntei sorrindo outra vez, Eliza olhou pra mim debochada, suas amigas fingiram que eu nem existia
- já somos suficientes, vai lá brincar com aqueles pestes- Eliza respondeu apontando para um grupo de crianças que nem brincavam, eles eram os tipos rejeitados da escola. Desisti de procurar algo pra fazer, sentei-me ao lado das crianças que não faziam nada e esperei até o recreio acabar.
Ao meio dia as aulas acabavam e todos regressavam às suas casas.
Cheguei em casa e atirei minha bolsa em cima da cama, meu irmão já tinha chegado primeiro, era bem constrangedor ver minha mãe dar mais atenção a ele. Mas as vezes eu não ligava porque ele é meu irmão mais novo.
Minha mãe não é solteira, mas ela passa a maior parte do dia sozinha, meu padrasto só volta a noite do trabalho, quase que eu não o vejo, e ele é pai do meu irmão. Eu sou filha de um homem Norueguês e tenho mais uma irmã, ela é mais velha. Minha irmã e meu pai vivem em Santo Antão, eu nem os conhecia bem mas lembrava dos seus rostos.
Meu pai e minha irmã tem peles claras, olhos escuros e cabelos escuros da cor castanho.
Minha mãe sempre dizia mal do meu pai, mas eu não acreditava nela porque eu era apenas uma criança, eu amava alguém que nunca enviava uma carta quaisquer contando sobre sua vida ou pra saber de mim. Afinal, eu não entendia absolutamente o que se passava.
21/03/2021
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