Capítulo 1
Taylor Perry
— Você já trabalhou em alguma empresa antes? — O homem em minha frente olha para o meu currículo escasso de informações e logo desvia os seus olhos para os meus com análise.
Só com esse olhar já sei que não irei conseguir esse emprego. Os entrevistadores precisam de informações e nessa entrevista, considerando o meu estado atual, não posso dá muitas, passaria do limite de referências que a minha vida permite.
— S-sim, Senhor! — Gaguejo sentindo um pouco de nervosismo, isso por conta de tudo, principalmente por não conseguir mais um emprego.
Os olhos do homem tornam a voltar para os papéis em sua mão novamente, me avaliando rigorosamente.
— Pelo o que estou vendo você já terminou os estudos, fazia faculdade de Medicina há um tempo, mas parou neste ano. Por quê? Medicina é um área bem concorrida e difícil, creio eu que você não ia fazê-la por nada.
Merda! Merda! Merda!
Não posso simplesmente dizer a verdade, mesmo sabendo que isso que vai decidir o rumo dessa entrevista, mas na real, sempre soube o rumo que ela daria, pois em todas as outras foram assim.
— Meus pais não podem mais pagar a minha faculdade por motivos particulares e financeiros. — Minto tentando transmitir uma falsa verdade pelos olhos. Uma última tentativa antes de receber o baque.
No fundo sei que isso não vale de nada, essa mentira sem fundamento, eu poderia ser um bolsista já que não possuo dinheiro ou nem tentaria essa área. O homem em minha frente não é burro, deve saber.
— Hmm... Aqui não diz quem são seus pais? — Arquea uma sobrancelha, ainda de olhos fixos nos papéis. Ele só está me enrolando, conheço muito bem isso.
Seguro um suspiro de derrota. Não que eu não esteja acostumado à ir ao fracasso desde a minha ruína pessoal, porém é apenas frustação, muita frustação.
— Eu esqueci de colocar. — Minto novamente, dessa vez sem me atrever acoitar a mentira. Sei quando perco algo, por isso nesse momento me rendo.
Fico cabisbaixo. Também nunca criei expectativas altas mesmo, tendo em mente o meu histórico de entrevistas mal sucedidas. E a desilusão é apenas uma decorrência dos fatos.
— Espere que entraremos em contato com você. Obrigada, pode ir! — Me comunica secamente e vira de costas para mim sem nenhum resquício de interesse. Escuto o barulho do meu currículo caindo no lixo perto da janela enorme de vidro. Percebi a lixeira logo que entrei, havia outros currículos dentro dela.
E claro que não vão ligar!
Só se forem burros de fazerem isso.
As últimas três entrevistas foram desse jeito, sem nenhum retorno. Não os culpo, minha vida virou de cabeça para baixo de uma forma que nem mesmo eu imaginei.
Saio da sala com um peso infinito em minhas costas e ando devagar pelo corredor cheio de salas com as portas fechadas, isso parece enaltecer mais ainda o meu estado atual. Escuto duas vozes alteradas de dentro de uma sala próxima do elevador e isso aguça a minha curiosidade.
Tenho certeza que a minha vida não vai degenerar mais do que está, por ouvir uma conversa. Aproximo a minha orelha da porta e tento escutar o que estão falando do lado de dentro.
— Amor, eu não posso buscar as crianças na escola, temos que contratar um motorista urgentemente! — Escuto uma voz masculina exclamar com inquietação.
— Eu também não posso, tenho que ir na outra empresa. Contrata qualquer pessoa aí! — Outra voz, mas feminina, diz, e escuto seus passos próximos da porta.
Corro para o elevador antes que a porta da sala se abra.
Uma mulher com postura impecável, traços de modelo na face, corpo magro bem cuidado, sai da sala com os olhos focados em seu celular digitando algo e entra no elevador. Com certeza é podre de rica, nem reparou em minha presença ao seu lado.
Motorista não seria tão ruim. E eles estão precisando...
Mas e se...
Ora, não posso escolher em minhas condições, há pouco tempo estava me sentindo um fracassado, sem mais opções de emprego, não posso perder uma oportunidade como essa, mesmo que eu não saiba se vou conseguir.
— Hã... Dona? — Chamo receoso. Ela exala um pouco de intimidação com a feição tão séria.
A mesma me olha por um segundo com desgosto, mas logo volta o seu olhar para o celular.
Que sem educação!
Pelo visto o dinheiro dela não pôde ensinar isso. Só que infelizmente insistir não é uma escolha, é necessidade de alguém que precisa se sustentar de alguma forma.
— Eu sem querer escutei você e seu marido dizendo que precisam de um motorista e... — Tento novamente falar na cara e coragem que escutei eles conversando, porém sou interrompido bruscamente.
— Não é educado escutar atrás de portas, entretanto, pela sua aparência não parece ter tido educação mesmo! — De novo a madame me olha, dessa vez séria, mas logo volta a olhar para o celular.
Abro a boca para começar xingar sua reação arrogânte, no entanto, a mesma de supetão começa a falar.
— Pensando bem, está contratado, aqui está o endereço da minha casa. — Entrega um cartão personalizado com o endereço, como se já estivesse acostumada a fazer isso.
Boquiabro a minha boca exageradamente.
Tá que eu quero esse emprego, mas pensei que houvesse mais um pouco de relutância da parte dela, mais interrogações, até porque e se eu fosse um psicopata que queresse matar toda a família?
Mulher mais louca!
— E as outras informações? — Pergunto meio aéreo ainda, sem botar fé que consegui um emprego no mesmo dia que tive mais um fracasso em mais uma entrevista.
Perdi um, mais ganhei outro.
— Quando chegar lá você terá todas! Chegue antes de 11:30am! — O elevador se abre no mesmo momento e a mulher sai desfilando sem olhar para trás.
Saio do elevador. Que grande loucura! Continuo sem acreditar.
Melhor não pensar muito, mais apenas agir, careço desse serviço mais que tudo e se ela teve a confiança/loucura de me deixar ser o motorista deles, que eu faça jus.
Olho as horas em meu relógio de pulso, corro para pegar um táxi antes que eu me atrase. Milagrosamente um para ao meu sinal, entro no mesmo ansioso e dou o endereço ao motorista.
— Caraca, nunca pensei que viveria pra ir na mansão dos Philips! Você é um deles? — O motorista me olha surpreso pelo retrovisor.
Franzo as minhas sobrancelhas sem entender muito. Será que eles são famosos?
Mais eu os conheceria, ou não?
Bem que não assisto muito televisão, nem olho muito coisas sobre gente famosa. Acho um pouco perda de tempo, raramente ligo a televisão da minha casa, as vezes assisto o jornal, mas não tanto.
— Vou ser o novo motorista e não sei direito quem são eles. Poderia me dizer mais sobre? — Pergunto envergonhado por não saber para quem vou trabalhar.
Quem em sã consciência trabalha para uma pessoa sem saber quem ela é?! Ah é, eu mesmo!
A mulher também nem disse muita coisa, não tenho tanta culpa nisso. Pensando aqui, nem os nomes deles a madame me informou.
— Reyler e Kenny Philips, uns dos maiores empresários daqui. Como você não sabe disso, eles são muito reconhecidos, tem já uns sete a oito anos que eles foram identificados pelo trabalho e pela mansão bem feita, ganharam até o prêmio de ouro dos famosos da mansão mais linda e enorme do estado! — Diz meio indignado e prossegue a falar com encanto. — Mas não te culpo não saber, eles ocultam bastante falar sobre as empresas atualmente, só passam de vez enquando o comercial das empresas deles.
— Não sou fã de televisão e de ver coisas sobre jornais na internet. — Dou um meio sorriso.
— Pois você é um sortudo de poder trabalhar na mansão dos Philips. Ela foi tão elaborada, é enorme! — Diz impressionado olhando algo à frente.
Abro a minha boca escancaradamente. Uma mansão enorme, com um jardim sem fim, parecida com a casa do filme de "Alice nos país das maravilhas" fica a nossa vista. O táxi para em frente ao portão enorme da mansão, pago a corrida e saio do carro.
Fico olhando admirado para tudo. O taxista não fez propaganda a toa dos tais Philips.
Tudo da mansão parece ser descomunal. O portão e os muros são grades com estampa de corações. Acredito que nenhum ladrão seria capaz de entrar aqui, pelo menos não teriam êxito em pular o muro e o portão.
— Você é o novo motorista que a Senhora Philips mandou? — Escuto uma voz grossa e saio dos meus devaneios.
— Sou sim. — Digo para o homem de terno e cara fechada que apareceu sem eu perceber. Deve ser um dos seguranças da mansão.
O mesmo abre o portão para mim e entro. Ele começa a andar em direção a mansão, o sigo olhando a imensidão do jardim com perplexidade. Estamos andando por um corredor de muros feito de folhas com flores que dá até na porta da mansão. Dos lados dos muros é tudo jardim com alguns acessos que dão em partes divididas para lazer e outros afins.
É muito lindo e impressionante!
O segurança abre a porta da mansão e faz sinal para eu entrar. Adentro observando tudo descaradamente, é tudo tão caro e fino. Uma mulher de vestido vermelho formal para em minha frente atrapalhando o meu transe.
Ela é muito bonita e bastante séria, pelo menos a feição. Diria que se parece com uma mistura de Megan Fox com Naomi Scott.
— Me siga! — Ordena com autoridade e anda em direção a uma porta perto da escada.
A escada leva ao segundo andar, que com certeza deve ser muito maior do que o primeiro.
Sigo a mulher bonita sem questionar, olhando para tudo com admiração. A sala que entramos parece um tipo de escritório profissional bem feito e planejado. Tem tudo. A mulher se senta à mesa e olha alguns papéis.
Ela parece ser mais formal que a própria patroa. Será que é alguma assistente particular da família? Ou advogada?
Advogada não! Começo a suar às minhas mãos pensando nessa possibilidade.
— Assina aqui — coloca os papéis em minha frente de repente.
Leio todos eles com concentração antes, vai que é algo que comprometa minha vida de fachada, assino quando termino de ler tudo. Não há nada que vá me prejudicar.
— Bom, agora posso tirar algumas dúvidas? — Pergunto já com várias rodando a minha cabeça.
São muitas coisas para armazenar na mente de uma vez só.
— Primeiro, aqui está todas as informações sobre tudo, orientações, regras e outras coisas muito importantes. Segundo, leia primeiro e depois me procure para tirar suas dúvidas. Agora pode ir pegar as crianças! — Me entrega outros papéis organizados por etapas e horários.
Engulo seco. Espero dar conta desse emprego, sinto que vai me dá muita dor de cabeça no início.
A mulher levanta sem esboçar sorriso algum no rosto e abre a porta para eu sair.
— Hã… com qual carro? — Pergunto confuso com tanto papel para ler. Me sinto um patinho fora d'água.
E eu pensando que seria fácil.
— Leia o papel! — Bufa impacientemente, batendo um pé no chão.
Assinto e saio da sala sem perguntar mais nada. Você que lute Taylor, o trabalho é seu, não dela.
Falar comigo mesmo é uma grande terapia.
Pego os primeiros papéis que a mesma me deu e leio as informações das quais estou precisando.
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Informações Importantes Sobre a Família Phillips
· Nome da gorvenanta da casa: Alexandra Almeida.
· Pegar as crianças na escola ao meio dia.
· Pegar o carro preto blindado com a inicial (PL) na garagem no fundo da casa.
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E eu pensando que o difícil seria ler os papéis, achar os locais dessa mansão que vai ser o difícil. Pelo menos agora sei que a bonitona se chama Alexandra e não é advogada.
. . .
Por muito, muito pouco, quase ficava desnorteado na garagem da casa. A porta dos fundos já dava na garagem, só peguei o chaveiro com as inicias que tava no papel e localizei fácil o carro. Na hora de sair que foi o difícil, era quase um labirinto, tanto para sair da garagem quanto para sair da mansão, acho que demorei uns trinta minutos para sair de lá. Agora estou a caminho do endereço da primeira escola, que para minha sorte é um pouco perto da mansão.
Paro em frente ao portão que tem um interfone e o toco.
— Sim? — Atende uma voz dócil de mulher mais velha do outro lado.
Com certeza deve ser uma senhora.
— Sou o motorista dos alunos... — Procuro o nome deles no papel que a governanta me deu. — Sebastian e Lindsay Philips! — Anuncio.
— Espere no próximo portão que eles já irão sair. — Avisa.
Ótimo! Esperar sempre foi o meu "forte"!
Aproximo o carro no portão da frente já sentindo uma leve irritação. Aguardo alguns segundos, até que a porta da escola se abre com brutalidade. Tá faltando geladeira em casa hein. Uma garota loira com roupa de líder de torcida e um menino magro de cabelo estilo panelinha, saem discutindo da escola, vindo na direção do carro.
Estou vendo que são belos filhinhos de papai, não esperava menos depois de conhecer a mãe deles, que Deus me dê paciência para suportar essas crianças mimadas.
O dia me parece que vai ser longo, vendo dessa perspectiva.
Melhor parar de reclamar, pois é isso ou morar embaixo da ponte, sem dúvida prefiro suportar esse trabalho.
. . .
Sejam bem-vindos! Espero que gostem da minha história e se divirtam com as atrapalhadas desta família com esse motorista!❤🌻⭐
Como vejo a mansão dos Philips e os murinhos pequenos do corredor:
Como vejos os muros grandes de folhas:
Como vejo o carro dos Philips:
Como vejo o Jardim e a casa ao todo( lembrando que os muros são grandes):
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