Capítulo II

Eu vou passar a explicar: quando o cibermundo foi criado o Homem estava fatigado de várias guerras e o mundo encontrava-se completamente polarizado. Consequentemente foram criadas duas regiões no cibermundo completamente isoladas uma da outra para que a guerra não recomeçasse: a região do Norte e a região do Sul. No entanto, parecia que a região do Norte tinha decidido ignorar o tratado de paz.

No café havia pessoas que choravam, entravam em pânico e outras que tentavam em vão forçar as portas a abrirem-se. James começou a raciocinar, tinha de haver uma maneira de sair dali e expulsar o exército, mas qual? Concluiu que a solução para o problema era sem sombra de dúvida o Sistema. Ninguém conhecia ao certo o aspeto do Sistema, contudo era sabido que era ele que controlava tudo e protegia a cidade. Então porque estaria ele a falhar?

O primeiro passo era lá chegar. Jamesville era bastante acidentada, sendo composta por muitas colinas e diversas ruas a subir e a descer. De todas as colinas havia a mais alta apelidada de Torre, cuja superfície continha os edifícios do governo e cujo subterrâneo abrigava o Sistema. Eram vários os mitos sobre passagens secretas para o Sistema, mas eram exatamente isso: mitos.

Contudo James começou a puxar pela cabeça. Ir dali até à Torre era uma tarefa impossível, visto que as ruas estavam cheias de soldados e de tanques para além de que o café estava trancado. De certeza que havia um caminho até ao Sistema em casos de emergência como este... De repente, o rapaz teve uma epifania. O Sistema não era a única coisa que ocupava os subterrâneos da cidade havia também o metro! Ele tinha consciência de que a rede de túneis do metro era mais vasta do que aquela por onde o comboio passava, logo era perfeitamente possível que houvesse pelo menos um túnel que fosse dar à Torre.

Decidido a testar esta opção dirigiu-se à parte de trás do estabelecimento. No meio de várias estantes estava um espelho. James atravessou o espelho, primeiro a perna direita, a seguir o braço esquerdo e encontrava-se na praça central de Jamesville. «Não, não é isto!» - pensou James. Voltou a sair do espelho e após várias tentativas chegou ao destino pretendido: o metro.

O teto da estação era bastante alto devido às longas escadas que desciam em direção ao centro do cibermundo e as paredes continham um padrão de chips informáticos de variadas cores. James acedeu ao mapa eletrónico de toda a rede de metro e introduziu-o no relógio que trazia no pulso, podia estar errado todavia achava que tinha encontrado o caminho até à Torre.

Saltou para a linha do comboio e entrou numa porta do túnel. Mal dava para duas pessoas andarem ao lado uma da outra para além de que a humidade era sufocante. Enquanto andava olhava para o holograma que vinha do relógio para saber onde virar, achava que estava quase a chegar quando ouviu passos atrás de si e percebeu que estava a ser seguido. Depressa entendeu que aqueles eram os soldados que tentavam conquistar a cidade.

«Raios! Devem ter-me visto nas camaras de vigilância.» - pensou o rapaz.

Assim que James acelerou o passo os soldados aceleraram também. Em pânico, ele começou a correr em direção ao fim do túnel. Estava lá quase, todavia a humidade e o chão irregular dificultavam a corrida e o rapaz estava exausto. Corria e corria, fugindo dos soldados bem treinados até que chegou à porta que ditava a entrada nos domínios do Sistema. Deu um último sprint e quando lá chegou percebeu que a entrada só era permitida com a inserção de um certo código, mas tal como já foi referido, códigos era a "língua materna" de James. Sem dificuldade entrou no Sistema barrando a entrada aos soldados e ficou abismado com o que viu.

Aquele espaço era imenso sendo impossível ver os seus limites. Era de facto um cenário complexo e bizarro, como uma teia infindável de códigos e outras coisas que James ainda não tinha ouvido falar. A teia mexia-se, mudava de forma e oscilava, os seus "fios" mudavam de sítio e ligavam-se com outros "fios". Quando olhou para si, James ficou surpreendido ao ver que em vez de membros, roupa e cabelo, ele próprio era um conjunto de códigos sempre a transformar-se com uma pequena teia dentro da teia-mãe.

Assim que o choque passou, o rapaz percebeu que algo estava errado. O Sistema estava a trabalhar freneticamente havendo códigos perdidos e a colidirem uns com os outros. James adentrou-se no Sistema repleto de caos e há medida que o fazia sentia uma força que o repelia e a pressão há sua volta aumentava, como quando tentamos mergulhar muito fundo no oceano e nos sentimos comprimidos pela pressão do mar. Esta sensação claustrofóbica aumentava e quando chegou ao núcleo daquela célula irradiava de energia de dentro para fora e de fora para dentro. James nem sabia bem o que sentia, pois estava tão assoberbado ao olhar para aquele sol grandioso e poderoso, que era bastante belo e misterioso ao longe mas perigoso e letal tão de perto.

O rapaz fez mais um esforço e olhou para o centro e então percebeu que o caos tinha sido lançado por um código defeituoso. Sendo assim meteu o braço lá dentro com a intenção de destruí-lo. O seu corpo escaldava e tremia de frio, partes do corpo assumiam uma forma humana e voltavam a desmembrar-se em códigos, a pressão era tanta, a luz tão brilhante e estranhamente sentia o cheiro das flores que plantava no jardim de Miss Moore. Uma última recordação doce da sua vida pensou James. Ele era a única esperança do seu povo e da sua terra, contudo como podia ele, um mero rapaz de 16 anos igual a tantos outros, ser capaz de um feito tão grande?

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