Capítulo 32

— Anda, Amber! O almoço está pronto! — ouvi a voz estridente de Hanna soando do andar inferior pela terceira ou quarta vez.

— Já vou! Eu só preciso de um minutinho para... — Nesse momento meu celular notificou com um barulho a chegada de mais uma mensagem.

James: “Também não consigo parar de pensar em você, linda. Até mesmo quando leio a bíblia, fico imaginando o dia em que vou até seu pai pedir autorização para começar nossa história de amor. Mas para tudo há seu tempo, não é assim que diz Salomão?”.

Senti o coração aquecido quando li aquelas palavras. James estava mudando tanto. Nós ficávamos horas a fio conversando sobre a Bíblia, nossas vidas e lutas em várias áreas. Eu saía diariamente para os meus cursos e quando voltava não perdia tempo e contava tudo a ele. A saudade era crescente e esmagadora, mas só nos víamos pontualmente aos domingos. Conforme combinamos, não passamos tempo sozinhos e mesmo após os cultos, apenas trocávamos poucas palavras e ele logo seguia dedicando sua atenção a alguns membros da igreja com quem já havia se familiarizado, principalmente papai. Com isso só nos restavam apenas nossas mensagens.

Amber: “Sim! Fico tão feliz de ler isso e não vejo a hora! Tenho orado muito por nós dois e já imagino o choque no rosto do meu pai quando você vir”.
James: “Bem, não é querendo me gabar, mas pela nossa última conversa, seu pai pareceu gostar muito de mim. No último domingo mesmo marcou pra jogarmos uma partida de futebol. Prometi não deixá-lo ganhar e ainda farei um gol em sua homenagem”.

Foi inevitável rir prevendo aquela cena.

Amber: “Quero só ver, hein, Sr. James Bond. Promessa é divida”.

James: “Se é assim, eu prometo em breve fazê-la feliz cada dia da minha vida. Não vai demorar. Espere só mais um pouquinho”.

Amber: “Você já faz e...”.

— Amber da Silva, você não escutou? Estamos te esperando — Hanna veio me chamar pessoalmente. — A visita misteriosa do papai está prestes a chegar.

A menção da prometida visita de quem Sr. José da Silva falou a semana toda, me fez considerar se a tal pessoa misteriosa não seria o próprio James. Pensar naquilo me deu ânimo redobrado para seguir Hanna que já estava um pouco irritada com minha demora.

— Você tem estado no mundo da lua, sabia disso? — ela falou em tom de repreensão. — Não quero ser chata, mas, por favor, deixe esse celular aqui no quarto pelo menos durante o almoço, tá bom? Nós duas nem conseguimos mais conversar direito porque sua vida agora gira em torno da sua rotina.

— Oh, Hanna. Eu só tenho estado muito ocupada. — Suspirei e afaguei o cabelo dela. — Mesmo assim, perdão. Prometo não ficar no celular durante o almoço e dar toda atenção a nossa família e ao convidado surpresa.

Hanna sorriu e não demorou em me abraçar.

— Claro que eu a perdoo. Mas só se você me prometer fazer aquele brigadeiro delicioso e me contar detalhes de quem tem provocado suas risadas ás duas horas da manhã. — Ela apertou minha bochecha. — Combinado?

— Bem, é...

— Hanna e Amber! Venham! Ele já chegou — mamãe gritou nos apressando.

Minha irmã e eu compartilhamos do mesmo olhar desconfiado.

— Ele? — questionei franzindo o cenho, já sentindo e certa expectativa tomar conta de mim.

— Deve ser o tio Adalberto — Hanna supôs e me puxou pelo braço.

Nós duas então seguimos apressadas até área externa nos fundos da casa onde mamãe havia preparado uma mesa bem caprichada com direito a muitas de suas receitas deliciosas. Logo concluí que nosso convidado certamente deveria ser alguém muito importante e especial. Diante disso, meu coração tolo nutriu mais ainda a esperanças de ser James a razão por trás de todo aquele capricho.

Quem sabe ele não teria vindo me fazer uma surpresa e adiantado seu planejamento de fazer o tão estimado pedido a meu pai?

Não, ele teria me falado, não teria?

Ah! Eu não sossegaria enquanto não confirmasse minhas suspeitas!

— E então, mamãe quem chegou? — Hanna quis saber e já foi tomando um lugar a mesa. Eu também a acompanhei e me mantive atenta, esperando uma resposta de mamãe, é claro.

— Ah, vocês verão! Ele chegou apressado e foi logo com o pai de vocês para o escritório, sob o pretexto de precisar tratar algo urgente sobre uma de suas filhas — mamãe contou sem conter o sorriso. — Em breve teremos noticias. Boas, eu espero.

Senti o corpo todo estremecer e mordi o lábio, me esforçando para suprimir minhas expectativas. Como me manteria calma quando tudo apontava exatamente para aquilo que eu imaginava?

— Quanto mistério — expressei minha aflição e Hanna deu risada. — E você, criatura? Não está curiosa?

Ela deu de ombros e suspirou.

— Estou com fome — ela gracejou e já estava prestes a roubar algumas batatas fritas do prato, quando mamãe bateu em sua mão. — Ai!

— Comporte-se, lá vem eles! — anunciou dona Maria e rapidamente nossa atenção se voltou para a porta da sala de onde vinha papai ao lado de um rapaz.

— Meu Senhor Jesus! — exclamei assim que o vi claramente e fiquei sem entender aquela visita repentina. — Noah!

Meu grande amigo que até então estava em missões de repente retornou sem mais nem menos e eu mal soube como reagir. Ele, por sua vez, não demorou em vir nos cumprimentar com um abraço rápido.

— O-o que faz aqui? Você não deveria supostamente estar muito, muito longe daqui? — questionei quando foi minha vez de cumprimentá-lo.

— É uma visita rápida. Eu tinha assuntos pendentes aqui e com a aprovação do Senhor, vim resolvê-los — informou alegre e olhou de relance para o meu pai.

Foi então que uma questão me passou pela cabeça. Lembrei-me de James deixando claro que Noah nutria sentimentos românticos por mim e isso me apavorou. Fiquei estática diante daquela possibilidade. Eu nem mesmo saberia como responder se aquele fosse o caso de um pedido de casamento.

— Quais assuntos? — quis saber ansiosa.

— Amber! Isso são modos? Deixe Noah respirar — mamãe repreendeu e segurou-se ao braço do rapaz, conduzindo-o até uma das cadeiras. — Fez boa viagem, querido?

— Ótima, dona Maria — ele contou e umedeceu os lábios. — Na verdade, foi um pouco longa, mas pareceram minutos diante da minha ansiedade de chegar logo.

— Imagino — papai concordou e esboçou um largo sorriso. — Qualquer um ficaria em pânico se precisasse encarar a mim e a minha fúria de pai com objetivo de pedir a mão de um dos meus dois bens mais preciosos.

— O quê? — Hanna e eu exclamamos ao mesmo tempo.

Noah sorriu um pouco constrangido, mas assentiu aquela afirmação. Meu coração saltava como louco no peito e eu senti minhas estranhas todas se revirando.

Não! Não podia ser! Eu não seria capaz de magoar Noah se precisasse negar seu pedido e ainda explicar que outro possuía meu coração.

— Bem, acredito que essa é a hora que eu tanto temia. — Ele soltou o ar devagar e num movimento rápido virou-se na direção da minha irmã, que assim como eu, lutava vorazmente para compreender aquilo tudo. — Bem, eu nem sei por onde começar.

— Comece de uma vez! — mamãe pediu sendo a mais eufórica de todas.

— Hanna — ele segurou a mão dela e nesse momento eu suspirei aliviada. Graças a Deus ele veio pedir a mão de Hanna. Espere! O quê? Como assim ele veio pedir a mão de Hanna? — Sei como nos conhecemos a um tempo considerável e confesso que demorei a enxergar a mulher incrível que você se tornou. Quando parti, porém, e pedi seu celular para trocarmos algumas fotos das obras missionárias, eu não imaginei que o Senhor me daria uma amiga e conselheira que mesmo longe, se tornaria tão importante para mim.

Então Hanna e Noah conversavam e eram amigos?

Meu Deus! Quantas perguntas sem resposta se passavam em minha mente naquele momento.

Foco, Amber da Silva, foco!

Meus olhos se voltaram para minha irmã e eu notei as lágrimas transbordando de seus olhos. Será que seriam de constrangimento? Será que Hanna o correspondia? Ela nunca demonstrou interesse por rapaz algum em todos aqueles anos e então, de repente, estava sendo pedida em casamento?

— Levei algum tempo para tomar uma decisão, eu sei — Noah continuou e sorriu para sua amada. — Mas esse tempo longe, onde, curiosamente, tivemos a chance de nos aproximar e crescer juntos no conhecimento do Senhor, cheguei a conclusão de que eu te amo e não poderia desejar outra se não você, Hanna da Silva, para ser minha auxiliadora, carne da minha carne e o maior tesouro que um homem pecador como eu poderia ter. — Ele fez uma pausa e, com gentileza, secou uma lágrima escorrendo dos olhos da minha irmã. — Sim, eu já enfrentei seu pai e nós tivemos a oportunidade de conversar muito durante essa semana e hoje eu vim fazer o pedido oficial. — Sorriu abertamente. — Você aceita ser minha esposa?

Encaramos minha irmã gêmea no mesmo instante e certo medo tomou conta de mim. Depois de todas aquelas palavras incríveis, Hanna seria mesmo capaz de negar? O silêncio de alguns segundos foi terrível, mas logo a tortura acabou.

— Eu também amo você, Noah. — Ela o abraçou com força. — E claro que aceito ser sua esposa.

Toda aquela cena foi muito emocionante, mas também deu um nó nos meus miolos. De uma hora para outra minha irmã se tornou noiva e não de qualquer um, mas do meu melhor amigo!

Minha irmã gêmea e meu melhor amigo?
Eu não podia acreditar!

Como tudo podia mudar assim tão drasticamente?

Ainda confusa, eu me juntei aos meus pais para orar e parabenizar os noivos. A esfera de alegria contagiante nos acompanhou durante todo o almoço, mas um sentimento estranho tomou conta do meu peito. Uma tristeza, talvez. Não era inveja, que fique claro, afinal eu me sentia muito feliz por ver minha irmã toda apaixonada. Contudo, minhas expectativas foram, de certo modo, frustradas. Eu vinha orando tanto por mim e James, mas parecia que o Senhor também preferiu ouvir as orações de Hanna primeiro ao invés das minhas.

“Quando será minha vez, Senhor?” orei em pensamento enquanto observava todos radiantes almoçando felizes e me esforçava para mostrar a mesma alegria.

— E quanto a você, Amber? — eu ouvi a voz de Hanna soando em meus pensamentos e eu a olhei erguendo as sobrancelhas. Quando dei por mim, todos já haviam acabado suas refeições e eu perdi a fome.  — Com certeza estava aliada com o Noah para me surpreender desse jeito, não é?

— Não, Hanna. Eu não contei para ninguém só para o seu pai e sua mãe e o pastor Sérgio, é claro — Noah explicou por mim. — Não foi por mal, viu Amber? Eu precisava agir com cautela.

— Sei, você é um péssimo melhor amigo, ouviu, seu Noah? Primeiro vai embora e deixa a mim e Kim com aquele Edgar que mais parece um saco de batatas, depois me esconde que pretendia pedir a minha irmã em casamento. — Fingi grande tristeza. — É, já não se fazem mais amigos como antigamente.

— E você me conta tudo? Seu pai me falou de um rapaz que tem estado interessado em você — ele rebateu cruzando os braços e eu engoli em seco. Se Noah soubesse quem estava interessado em mim, ficaria bastante preocupado.

— É só uma amizade, garanto. Estamos orando e buscando direção — expliquei um pouco envergonhada e agradeci porque papai e mamãe haviam ido buscar as sobremesas na cozinha, do contrário estariam enaltecendo as qualidades de James.

— Entendo e você o conheceu onde? — meu amigo perguntou com seu usual tom de cuidado.

— Missões — respondi rápido, temendo o rumo daquela conversa.

— Já o vi na igreja algumas vezes, mas ele é um pouco tímido, nem fica muito no momento social depois do culto. Acho que em breve vamos conhecê-lo melhor — Hanna insinuou animada. — Não é, Amber?

— Ah, então ele é um novo membro? Desde quando? Aliás, qual o nome dele? — Noah continuou investigando.

— Sabe de uma coisa? Vou ao mercadinho da esquina comprar os ingredientes do nosso brigadeiro mais tarde, Hanna. — Levantei-me da cadeira apressada. — Estou muito feliz por vocês, muito mesmo e quero saber toda a história, hein? Até mais!

Sem esperar a aprovação deles, eu saí do local apressada e depois de pegar algum dinheiro com papai, deixei a casa. Só pude respirar aliviada quando alcancei a rua e me vi longe de todas aquelas perguntas. Mesmo assim minha cabeça latejava e um pressentimento ruim atormentava minha alma.

Fiz o possível para me acalmar e até orei no caminho da mercearia. Já a alguns passos longe de casa, tudo começou a ficar estranho e eu tive a ligeira impressão de estar sendo seguida. Olhei para trás com temor, mas não vi nada, nem mesmo uma alma perdida, por isso segui adiante pensando que meus medos deviam ser apenas coisa da minha cabeça, afinal ainda era dia e meu bairro era muito conhecido pela segurança. Ainda assim, apressei o passo e clamei a proteção de Deus.

Já virava na esquina quando fui repentinamente abordada por um homem alto, loiro e todo tatuado que parou em minha frente.

— Desculpe! Eu não queria assustá-la, mas você, por acaso, poderia me dizer que horas são? — ele perguntou e parecia estar com pressa.

— Oh, desculpe, não trouxe meu celular e estou sem relógio — declarei e seguindo as regras de ouro do meu pai, pedi licença e segui meu caminho.

— Você, por acaso, se chama Amber da Silva? Tenho a impressão que já a vi em algum lugar — o homem questionou e me surpreendeu por saber quem eu era.

— Quem quer saber? — eu virei-me rápida e levei um susto quando vi um carro parando ao lado do homem. Ele veio para cima de mim, sem me dar tempo de correr ou fugir. Com agressividade, aquele brutamontes segurou em meu braço e colocou um pano úmido com clorofórmio sobre o meu rosto. Tudo foi ficando escuro rapidamente e a última coisa que ouvi foi uma voz masculina afirmando:

— Alguém que deseja vingança quer saber.

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VOLTAMOS COM TUDO!

C.H.S

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