Capítulo 22
Eric assumiu a postura de macho alfa e não se intimidou com a imagem descontraída, mas também ameaçadora, do dono do morro. James tinha uma das mãos na cadeira vazia em nossa mesa e me olhava fixamente.
— Desculpe, mas nós queremos ficar sozinhos — declarei encarando-o tentando fazer ele entender que já estava passando dos limites com aquela perseguição.
— Você ouviu a garota — Eric declarou com um sorriso vitorioso. — Acho que você está atrapalhando algo aqui. — Apontou para nós dois.
Fechei os olhos e soltei o ar, lamentando minha posição desagradável naquele momento.
— Eu vim em paz — James disse erguendo as duas mãos no ar. — Mas sei interpretar bem quando não sou bem vindo. Nós conversamos depois, Amber.
Céu acenou e sem esperar resposta, virou-se e se retirou do estabelecimento. Eric, muito satisfeito por ganhar a luta, que segundo ele valia meu coração, inflou o peito e depois de fazermos os pedidos, ousou tocar minha mão em cima da mesa.
— Você é ainda mais linda assim, sabia?
— Assim como? — indaguei e retirei a mão pensando na enrascada que eu tinha me colocado.
— Com essa expressão séria. — Ele estava mesmo usando suas armas de conquista mais baixas para cima de mim? — Tão linda como um botão de rosa intocado.
Eu estava mesmo ouvindo aquilo?
— Amber, preciso te fazer uma pergunta. Você aceita ficar comigo?
Horrorizada com aquela proposta, cruzei os braços e o encarei.
— De jeito nenhum!
— Mas por que? — ele indagou fingindo estar confuso.
— E eu lá sou menina de ficar? — perguntei indignada por ele realmente pensar que eu aceitaria uma proposta daquela.
— Você curte namorar? — ele questionou com um sorriso maroto e só então entendi onde ele queria chegar com aquela conversa fiada, tentando me levar ao ponto chave de suas cantadas.
— Não, eu curto comer — respondi observando a garçonete trazendo nossos sorvetes.
Eric riu abertamente e eu tive que abandonar a postura séria e rir com ele. Tentei relaxar enquanto tomava o sorvete de chocolate, contudo, alertava a todo momento que não poderíamos demorar, que as tias da cozinha dependiam de nós.
Com Eric visivelmente frustrado, saímos da sorveteria, contudo, o rapaz ainda não tinha desistido de tentar me ganhar e demonstrou isso tentando usar sua última carta na manga.
Quando nos aproximamos do carro, em um movimento rápido ele me puxou, me encostou na lataria, se aproximou exatamente igual aos atores de filmes costumam fazer e umedecendo os próprios lábios olhou para os meus.
— Eu daria tudo para provar um beijo seu, Amber.
Minha respiração ficou ofegante, porque apesar de tudo, Eric era um homem muito bonito que etava próximo demais. Porém, além da beleza, nada dele me tentava. Coloquei a mão no peito dele buscando o afastar, mas ele pareceu estremecer com meu toque. Como se estivesse sob o efeito de algum feitiço, os olhos dele encontraram os meus.
— Namora comigo, Amber. Meu pai aprovaria com muito gosto nosso relacionamento.
Eu tive vontade de rir por um momento, realmente achava que ele estava brincando. Porém, ao ver a expressão séria, não tive outra saída a não ser fazer ele enxergar a real.
— Olha, Eric, você interpretou as coisas erradas. Eu não tenho nenhuma vontade de ter algo além da amizade — se é que queria a amizade dele — com você.
Consegui me livrar dele e me afastei, porém, ele segurou meu braço.
— Por que? — indagou e eu comecei a suspeitar que ele agia assim com todas as mulheres que ele tinha oportunidade.
— Para seu azar, eu penso exatamente igual minha irmã. E, bem, você deixou claro que homem nenhum aceitaria se submeter a algo assim.
Para meu completo horror, ele desatou a rir.
— Você também? Vocês são muito iludidas! Não percebe o que estão perdendo — com um gesto ele deixou claro que era ele o prêmio.
— Eric, podemos ir embora? Por favor...
— Calma aí, vamos conversar sobre isso primeiro! — Eu percebi claramente a zombaria em seu tom de voz.
— Eu não quero conversar nada, Eric — respondi sentindo a ira, a vergonha, a humilhação, tudo se misturando dentro de mim. — Você pode abrir a porta do carro?
Ele não se moveu. Indignada, dei as costas e sai pisando firme.
— Amber! Calma, eu estou brincando — Eric gritou e veio correndo em minha direção. — Vem, entra no carro!
— Eu não vou a lugar nenhum com você, Eric!
Eu estava cansada de tudo aquilo. Porque as coisas precisavam ser tão difíceis? Eu era só uma garota que desejava fazer as coisas corretas, encontrar o cara certo para me casar e de repente meu mundo estava de cabeça para baixo.
E para provar isso, James se materializou na minha frente.
— O que ele te fez? — questionou ao notar meu olhar perdido. — Me fala, Amber, o que ele fez?
— Ele não fez nada, James.
Eric àquela altura, tinha arrancado com o carro e parou ao lado de onde eu estava.
— Qual é, Amber? Eu estava brincando!
— Me deixa, Eric! Deus, eu prefiro andar até a igreja a pé a ter que ouvir você falando um 'A' a mais sobre você ou sua bateria!
Céu não escondeu o riso, muito pelo contrário.
— Você ouviu a garota — ele disse. — Acho melhor você partir! — E deu um passo para o lado, dando passagem para o carro.
— Amber... — Eric tentou, em vão, mais uma vez me persuadir.
— Por favor, Eric, me dá um tempo!
Eric entendeu que tinha levado um fora e partiu. Céu me encarou triunfante, mas eu não estava nenhum pouco afim de precisar interagir com ele.
— Isso é culpa sua — declarei apontando o dedo para o peito dele.
— Minha?
— Se não tivesse me perseguido eu não precisaria lidar com nada disso! Olha, por favor, me deixa em paz!
Contornei o rapaz e andei em direção à Igreja.
— Ei, eu te levo! — Ouvi a voz dele do meu lado.
— Não quero, obrigada. Aliás — parei e o encarei —, por que você está me perseguindo? Por que foi até a igreja? Por que não desiste de mim e também me deixa em paz?
O rapaz alisou os cabelos muitas vezes antes de segurar meu braço e me puxar em direção ao carro dele. Cansada demais para tentar lutar contra, deixei ele me guiar e me enfiar no banco do passageiro.
As mãos de James foram parar no volante. Ele as apertava com tanta força, que os nós de seus dedos estavam brancos. Meu coração estava disparado, mas sentia que também, de certa forma, despedaçado por ver o quanto ele estava se tornando importante para mim e o quanto sustentar o sentimento era impossível.
— Respondendo a sua pergunta — por fim ele disse, olhando para um ponto a frente. — Eu estou apaixonando por você — ele declarou e me olhou, encontrando uma garota pálida e surpresa com a declaração — e sou experimente o bastante para perceber que você sente o mesmo por mim.
Pude jurar que o carro estava mais abafado e o ar faltava dentro do veículo de janelas fechadas. Por um momento eu temi o que ele faria com aquela revelação e com a descoberta dos meus sentimentos.
— Posso te fazer uma pergunta? — ele voltou-se a mim e me encarou. Seus olhos pareciam revelar uma luta interna. Eu consenti com a cabeça, sem conseguir abrir a boca para falar. — Quando disse que só vai beijar seu marido, você estava falando sério? Isso quer dizer que você nunca beijou, nunca teve outro cara em sua vida?
Fechei os olhos e murmurei um sim, esperando outra onda de ataque contra minha decisão. Mas Céu buscou minha mão, a segurou com ternura e beijou meus dedos.
— Eu não entendo, Amber! Porque o destino colocou você em minha vida? — ele disse ainda de posse de minha mão. — Você é tão perfeita, tão certinha e eu... Eu...
Ele se calou, os olhos voltaram a brilhar denunciando uma ira contida. Apertei a mão dele, tentando trazê-lo de volta a mim. Talvez aquela fosse a oportunidade que Deus estava me dando.
— Não foi o destino, foi Deus, James. E eu também não entendo o motivo de tudo isso, mas talvez Ele queira te mostrar que há esperança para você.
Céu negou com a cabeça violentamente e largou minha mão, visivelmente incomodado com minhas palavras.
— Não, não dá. Eu fiz coisas, Amber.... Coisas terríveis! Não, não dá.
Ele socou o volante e reclinou o corpo, abaixando a cabeça, escondendo seus reais sentimentos. Eu me compadeci dele. Um sentimento puro invadiu meu coração e repousei minha mão nas costas dele. Ele se ergueu novamente ao sentir o meu toque, segurou minha mão entre as suas e seus olhos profundos percustavam com intensidade meu rosto em busca de qualquer esperança.
Porém, como se voltasse a si novamente, ele se afastou.
— Acho melhor você não subir mais o morro.
— Que? Mas por quê? — questionei sem compreender o motivo de tão drástica mudança.
— Eu não posso, Amber. Não posso ser o que você quer e não suporto ver você todos os dias e não poder tê-la em meus braços.
Senti a pancada pela qual não estava preparada para receber. E, pior, eu sabia que de certa forma ele estava certo. Eu não poderia estar em seus braços, não naquele momento, com ele vivendo a vida que vivia.
Apertei o olhos com força, buscando alguma palavra que pudesse atingi-lo de alguma forma. Céu deu partida no carro, mas não acelerou.
— Não é bem assim, James. Você conhece a Palavra, sabe o que o Senhor fez para que pudesse resgatar os perdidos. Sabe que toda a Bíblia fala de redenção, e o Senhor oferece perdão para qualquer pecado, James. Olhe, o ladrão na cruz. Nada está perdido. Você pode orar... Nós podemos orar...
— Não, Amber. Nenhuma oração será suficiente para quebrar o que eu tenho aqui dentro — ele disse e bateu com força no peito. — Nenhuma oração.
Sem mais nenhuma palavra, Céu nos tirou daquele estacionamento. Senti todo o baque de tudo acontecendo rápido e de maneira tão dolorosa para mim. Tentei, por várias vezes, encará-lo, fazer ele se abrir, mas em vão. James manteve-se frio, evitando me olhar a todo o custo.
Quando parou na porta da igreja, inclinou-se sobre mim, abriu a porta do carro mas antes de se afastar ele segurou minha mão com ternura, encostou a testa dele na minha e num murmúrio pediu.
— Por favor, Amber, fique longe de mim...
.....
Alguém me socorre? O que foi isso?
J.P.
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