Capítulo 20

Toda minha igreja se reuniu no sábado de manhã para organizar o bazar, algo que sempre fazíamos para arrecadar dinheiro a fim de auxiliar os irmãos mais carentes. 

— Você ainda vai precisar de mim? — Hanna me perguntou, enquanto eu retirava a última caixa com roupas do banco de trás do carro.

— Não, eu consigo — respondi.

— Então, eu vou procurar quem precisa de alguma ajuda — ela disse. — Eu já achei. — E partiu.

Eu curiosa para saber a quem ela prestaria seu auxílio, saí de dentro do veículo e a enxerguei se aproximando de Noah.

— Você quer uma ajuda? — ela perguntou ao meu amigo.

Ele segurava uma larga caixa, que parecia pesada. Procrastinei um pouco em meu serviço para observar a interação entre eles.

— Oi, Hanna! — Noah respondeu. — Só tem coisas pesadas para carregar, não vou lhe dar esse trabalho.

— Mas posso lhe ajudar com uma coisa — ela disse.

— O que seria?

— Seus óculos estão escorregando. — Hanna, com sua costumeira gentileza, recolocou os óculos de meu amigo na posição certa.

— Nossa! Agora eu realmente posso ver. — Noah brincou e, ambos trocaram uma harmoniosa risada.

— E veja só, tem um caixa de ursos de pelúcia aqui. — Ela puxou um dos caixotes cheio de brinquedos. — Eles nem pesam tanto.

Noah sorriu.

— Esses ursos vieram da casa da senhora Maria, minha vizinha — ele proferiu. — Infelizmente, a filhinha dela faleceu e ela resolveu doar. Na hora não soube o que fazer com essa quantidade de ursos. Então resolvi trazer para as vendas da igreja.

— As crianças do hospital ficariam felizes em receber esses presentes. — Minha irmã falou, enquanto avaliava a qualidade dos bichinhos de pelúcia. — Eles estão ótimas condições.

— Crianças? — Noah indagou, largando a caixa que segurava no chão.

— Sim, umas das minhas professoras de faculdade me falou sobre uma a ação de capelania que tem no hospital da criança — ela contou se sentando na traseira aberta do carro e percebi Noah muito atento àquela conversa.

— Você já os visitou? — Ele quis saber mais

— Comecei há duas semanas. Você precisa ver como as crianças são amáveis e os pais tão acessíveis. — Hanna suspirou. — Acho que estou me encontrando na área da medicina.

— Eu percebia sua interação com as crianças aqui na igreja. Elas amam muito você. — Os dois sorriram um para o outro. E eu não soube decifrar o que senti naquele momento.

— Amber, por que está demorando tanto? — Minha mãe gritou de dentro da igreja, o que fez Hanna e Noah olharem para mim.

Droga! Agora ia ser conhecida como a menina abelhuda!

— Vamos, filha, precisamos terminar de arrumar tudo, pois logo abriremos o bazar.

Sem demora, eu segurei minha caixa e parti rumo à igreja.

*

Kim e eu estávamos arduamente trabalhando na barraca de roupas usadas. Eu estava debaixo da mesa organizando algumas das peças que haviam caído, por causa do mexe e remexe dos compradores, quando reconheci uma voz:

— Acho que você fica bonita de rosa.

Não, não podia ser. Eu levantei a cabeça e acabei batendo na mesa, aquela dor foi agoniante. Ainda massageando o local do machucado, perguntei:

— Pão, o que faz aqui?

— Nós soubemos que havia umas vendas na igreja local hoje, resolvemos ver se tinha algo legal pra comprar. — Mostrou aquele sorrisinho cínico dele.

— Nós? — Arqueei a sobrancelha e, ele apontou para o lado.

Quase infartei ao ver Céu com as mãos no bolso da calça totalmente alinhado de bom moço novamente. Percebi que a atenção de Pão tinha se voltado para Kimberly, que estava com um sorriso no rosto ao conversar com o braço direito do dono do morro. Misericórdia!

— O que você faz aqui, James? — perguntei com o coração aflito. — Sabe que tem gente que pode te reconhecer. Vai embora!

— É um prazer te rever também — ele ignorou por completo meu aviso.

Percebi ainda a sua frieza em relação a mim, mas captei que ele também não conseguia mais se manter longe. Meu coração queria saltar de felicidade, porém a desconfiança ainda falava. O que Céu tinha na cabeça? Ele estava se enfiando em todas as áreas da minha vida e sem pedir permissão. Não sabia muito bem como processar essas informações.

— Amber, meu amor — Eric chegou na maior intimidade, levando Céu a franzir o cenho ao olhar para ele e depois para mim de novo.

Eu estou perdida, meu Deus!

— Oi, Eric — disse simplesmente.

— Você vai comigo até o centro — ele comunicou.

— Fazer o quê? — perguntei, sentindo minhas orelhas pegar fogo em nervosismo ao ver o olhar faiscando de Céu em nossa direção.

— Vamos ao supermercado comprar alguns suprimentos para as tias da cozinha, e sua mãe convocou você para me acompanhar.

— Hoje tem o jantar, não é? — perguntei retoricamente. 

Nossa igreja uma vez por mês organizava um jantar entre os membros, nosso pastor dizia que era um meio de trabalharmos a comunhão e, de fato, crescemos bastante na irmandade.

— É isso, e precisamos ir rápido — Eric observou o relógio de pulso. — Se der tempo dá até para tomarmos um sorvete juntos.

Eu ouvi o bufar de James ao meu lado, ele se achava cada vez mais irritado com a presença de Eric. O filho do pastor não sabia quem estava ao lado dele e nem que aquela era a pior hora para ficar com graça. E para completar o desastre da situação Noah chegou.

— O que vocês estão fazendo aqui? — indagou ao ver Pão e Céu.

Pronto era o momento da minha enrascada final. Eu percebi Pão acenar para Kimberly, que pareceu entender o recado.

— Eric, me ajuda a levar essas roupas lá pra trás. — Ela colocou no braço do menino as mudas e o tirou de lá quase arrastado.

— Oi, Noah, tudo bem? — O olhar de Céu para o meu amigo não era tão amigável, e a ira em relação ao Eric ainda não tinha cessado, então era como uma bomba prestes a explodir sobre minha cabeça.

— Como vieram para aqui? — Noah questionou. 

— Olha aqui, o que eu faço ou deixo de fazer... — Céu vociferou.

— Noah, vem comigo! — Eu segurei meu amigo pelo braço e o puxei para o pátio da igreja.

— O que o dono do morro está fazendo aqui, Amber? — Ele foi logo disparando.

— Ele está apenas ajudando nossa igreja ao comprar algumas das coisas que temos. — Eu precisei arrumar uma desculpa urgente.

— Como é?

— Alguns dos meus meninos estão precisando de umas roupas e eu fiquei sabendo que a igreja estava fazendo o bazar — James respondeu se aproximando de nós sem ser chamado. — Ou seja, eu ajudo a igreja e minha comunidade ao mesmo tempo. — Deu um sorriso seco.

Noah estreitou o olhar.

—  Vocês usaram o dinheiro do concurso para a compra de cestas básicas para as famílias carentes da comunidade e agora é necessário roupas — Céu explicou.

— Ora, Noah, larga de ser chato! — eu exclamei. — Não estamos fazendo nada ilícito e o Céu é livre para andar por onde quiser — eu semicerrei o olhar para ele — até mesmo vir à igreja.

Meu amigo cruzou o braço e franziu o cenho. Ele não parecia estar muito convencido das minhas palavras.

— Amber? — A voz do pastor ressoou por trás, tirando-nos daquela pequena discussão.

— Sim? — Eu virei para ele.

— Você vai acompanhar o Eric nas compras? — ele indagou se aproximando. — Mas parece que está ocupada. — Olhou para nós três.

— Eu irei sim, pastor. Só estava conversando com o Noah e — prendi um pouco fala, mas tive coragem para continuar — James, um novo colega.

— Olá, tudo bem? — Céu estendeu a mão para o pastor Sérgio, que retribuiu o gesto com grande educação.

— Eu vou pegar minhas coisas para ir — falei.

De repente, ouvi Céu declarar:

— Eu ia precisar de sua ajuda, Amber.

— Para fazer o quê? — perguntei.

— Se lembra que tínhamos um assunto para resolver? — ele disse entre os dentes.

— Não lembro. — Dei de ombros, pois sabia muito bem que o seu desejo era manter Eric longe de mim. No entanto, eu estava chateada com toda a ignorância dele nos últimos dias. — E quem sabe podemos falar depois. — Não podia negar meu desejo de vingança. E ao ver o sorrisinho dele morrer no rosto me trouxe uma estranha satisfação.

— Estou pronto. — Eric apareceu balançando a chave do carro. — Vamos, benzinho.

Céu cerrou o maxilar para o menino.

— Eric, cuide bem da Amber — pastor Sérgio instruiu o filho. — E tomem cuidado.

— Ficaremos bem, pai!

— Vou pegar minha bolsa.

Corri para a barraca em que eu estava trabalhando e peguei minha bolsinha com o celular. Voltei e aceitei a oferta de Eric ao segurar o braço dele. O pastor, Noah e Céu observaram minha interação com o belo rapaz da igreja. Após um tempinho, Eric todo sorridente falou:

— Quem diria eu e Amber juntos. — Ele parecia contente por estarmos sozinhos no veículo.

— O que você quer dizer com isso? — Estreitei o olhar para ele. 

— Eu...

Não prestei atenção em mais nada, pois quando reparei no retrovisor reconheci o carro de Céu bem atrás de nós.

***

O que estão achando do livro até aqui? Sua opinião é muito importante para essas escritoras.

P.W.

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