Capítulo 04

Kim e Noah estavam tão preocupados que quase não me permitiam falar, envolvendo-me com uma infinidade de perguntas. Depois de certificar para eles que estava bem, só consegui uma trégua quando os convenci a irem para minha humilde casa, onde Maria Josefa, Laura ou América, uma das nossas queridas mãos de fadas assalariadas, prepararia um lanchinho para nós, e no caminho esclareceria todas as dúvidas deles.

Durante o trajeto narrei tudo que aconteceu, quer dizer, quase tudo. Bem, eu não falei sobre ter abraçado o Céu e como isso me deixou constrangida, nem sobre a quantidade de músculos existentes naquele homem. Também não contei sobre aquele momento em que ele ficou tão perto de mim, tão próximo que pensei que seria beijada contra minha vontade.

Jesus, Maria e José, misericórdia! "Amber, pare já com esses pensamentos!" - me recriminei.

- Poxa vida! - choraminguei ao chegar no portão. - Perdi minha chave durante o tiroteio e nem vi. Agora vou ter que incomodar o senhor Lucas ou o Pedro.

- É o papel deles, Amber - Kim me consolou. - Agora basta tocar a campainha e amanhã poderemos procurar sua chave.

Seu Pedro nos atendeu e já foi logo agradecendo a Deus porque eu tinha chegado sã em casa. Alertou que meus pais estavam desesperados e me mandou entrar logo. Eu, logicamente, não estava entendendo nada, até que escutei a televisão - e pela altura parecia estar transmitindo a final da copa do Brasil e Argentina. - Para meu desespero era o Datena falando.

Jesus, será que fui filmada andando na garupa de um marginal?

Quando entrei na sala vi a manchete e de certo modo fiquei até aliviada.

"URGENTE: últimas notícias sobre a rivalidade entre o morro da Luz e o morro das Trevas. Um tiroteio acabou de ocorrer no morro da Luz, e fez uma vítima. Ainda não sabemos qual o estado de saúde do homem de 65 anos que foi baleado. A qualquer momento voltamos com mais informações."

- AMBER DA SILVA! - minha mãe, Maria da Silva, me chamou em desespero quando me avistou. - Graças a Deus você chegou, minha bebezinha!

- Filha, você está bem? - Foi a vez do seu José, meu pai, preocupado, se aproximar. - E vocês, meninos, ninguém se feriu?

Sério, gente, às vezes sou um pouquinho exagerada e dramática, mas vocês precisam ver minha família quando estão preocupados. São excessivos! Gastamos ao menos 30 minutos para os convencer que estávamos bem. Por fim, depois de muito falar e reclamar da nossa fome, nos reunimos à mesa para uma refeição.

- Amber, você não volta mais a este morro!

- Concordo com seu pai, querida - mamãe afirmou. - Este lugar é muito perigoso para três jovens bem educados passarem seus dias.

Ao escutar aquela frase meu chão ruiu. Lágrimas grossas e intensas saíram dos meus olhos. Como eles poderiam pensar em querer impedir minha missão? Eu sabia que a pessoa a quem Deus queria que eu falasse do seu amor estava no morro da Luz. Enquanto pensava nessas coisas, me levantei e me pus a correr o mais rápido que pude, rumo ao meu lugar de refúgio, no quintal da casa.

- Amber, querida, podemos entrar? - meus pais pediram.

- Como me acharam tão rápido?

- Ah! Meu bem - minha mãe que já havia entrado me abraçou -, desde pequena, sempre que algo te atormenta, você vem para a casa na árvore.

- Minha princesinha, conta pra gente porque toda essa sua revolta - pediu papai após sentar ao nosso lado no sofá.

- Existem pessoas inocentes naquele morro, pai. Cidadãos que precisam ouvir sobre Jesus. Sei que vocês se preocupam com minha segurança, mas, se eu não for lá pregar, quem irá? Estava lendo em atos, 2:47 que diz: "louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." Como eles poderão ouvir do evangelho se não há quem pregue? Aquele povo, o dono do morro, eles precisam de Jesus.

- Mas, querida...

- Não, mãe, não tem mas. - Eu não conseguia controlar minhas lágrimas - Mãe, Paulo foi derrubado do cavalo quando estava indo perseguir o povo de Deus, quer dizer, embora ele não tenha de fato caído do cavalo - consertei ao me lembrar que Hanna havia me corrigido recentemente de algo que acreditei a vida toda -, mas após ele se converter, passou a pregar a todos os povos. Eu quero isso, preciso pregar a todos os povos! No momento o lugar para onde Deus me mandou foi o morro da Luz. Vocês entendem? É de extrema importância cumprir a missão para qual fui chamada.

- Licença, família - Hanna veio se juntar ao time - Acabei de chegar e fiquei sabendo o que aconteceu. Aliás, o Noah e a Kimberley estão lá na sala sem saber o que fazer.

- Sim, Hanna, uma fatalidade. E mesmo depois de tudo isso, sua irmã ainda quer voltar àquele lugar - papai foi logo respondendo.

- Sim pai, eu quero voltar. - Levantei num rompante - EU PRECISO VOLTAR! Necessito levar o evangelho àquelas pessoas.

- Pai, mãe, me deixa conversar com meu perfume? - Hanna usou meu apelido, que nada mais era do que o significado do meu nome. Eu não era gêmea da Hanna atoa, ela sabia bem como me acalmar.

Com relutância meus pais nos deixaram a sós e Hanna também me perguntou o que de fato estava acontecendo. Mas o que eu poderia dizer? Contar para minha irmã, sempre tão certinha, como quase fui beijada pelo dono do morro? Que fui levada pelo próprio, o Céu, ao lugar onde todos nos alertaram ser proibido?

Nenhuma dessas coisas me ajudariam a convencê-los. Entretanto, eu sei, em meu coração, que o Céu precisa de mim! Preciso ajudá-lo! Ele me pareceu bem possessivo naquela hora quando me mandou subir na moto, ou quando estávamos no topo do morro, mas tenho certeza que isso apenas significa o quanto ele precisa de ajuda.

- Irmã, você sabe que tenho chamado para fazer missão. Preciso ir aos lugares mais escuros, perigosos, em busca das almas perdidas. Eu encontrei essas almas, agora preciso conduzi-las a Cristo.

- Mas, Amber, tem que ser no morro?

- Sim, Hanna, é essencial, pois foi lá onde Jesus me levou.

Ao dizer aquelas palavras tão sinceras para minha irmã, dois pensamentos invadiram minha mente. O primeiro, foi aquele sonho, em que soube que o amor da minha vida estava pronto para ouvir da minha boca sobre o amor dos amores, algo que eu guardava apenas para mim e nunca tinha ousado contar a ninguém, nem mesmo a Hanna. O segundo, foram as palavras do Céu, quando disse "Eu não preciso de mais um motivo para ser condenado por Deus." O avô dele era pastor, ele falou sobre isso. Céu possui temor a Deus, ele precisa de alguém que tenha coragem de falar do amor. Ele é inocente nesse mundo de corrupção, só não teve as oportunidades certas nessa vida. As circunstâncias o tornaram o que ele é, só que não precisa ser assim. Eu creio, eu sou a pessoa que levará o Céu até Jesus, tenho certeza disso.

- Existe alguma coisa que eu possa fazer pra mudar seus pensamentos? - minha querida irmã perguntou

- Não. - Balancei minha cabeça negativamente para afirmar aquilo que falava. - Minha decisão já foi tomada, e meu lugar é lá, pregando o evangelho.

- Então - Hanna estendeu a mão para mim - vamos lá falar isso para nossos pais.

Ao entrar na sala eu não quis saber de nada, estava completamente cega pela necessidade de voltar ao morro da Luz. Jesus precisava de mim e eu daria o meu sangue, se fosse necessário, para convencer meus pais.

- Jesus morreu por mim e eu preciso fazer algo por Ele. Somos salvos pela cruz, mas também é necessário termos obras e, se for inevitável, morrerei para que vidas sejam salvas. As pessoas precisam ouvir do impressionante e ousado amor de Cristo. Tenho certeza que o Senhor agirá naquele lugar. E por algum motivo Ele escolheu a mim. - Quando terminei pude soltar todo o ar preso em meus pulmões

Olhei para Hanna. Minha irmã abriu a boca para falar e a conhecendo bem, diria algo sábio que, com certeza seria de grande valia, contudo, mamãe foi mais rápida.

- Eu não sou a favor disso - ela começou a falar, mas papai a interrompeu.

- Amber, você sabe nossa opinião, porém, quem organiza o seminário de missões é o pastor Sérgio. Liguei para ele e neste momento ele está a caminho. Creio que ele é um homem de Deus sábio, e nos dará uma direção.

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Olá, meus xuxuzinhos!

Estão gostando das aventuras de nossa querida missionária Cristã?

Nós da gangue pão com Nescau estamos amando vê a interação de vocês por aqui.

Beijocas, miguxas e miguxos!

E.G.

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